segunda-feira, 11 de maio de 2020

Redação Internacional: especial América Latina na semana de 03/05 a 10/05





          Na medida em que o Brasil escala em número de casos e de mortes pela covid-19, raramente o nome do país repercute na mídia internacional que não seja versando das políticas públicas atrapalhadas e das crises institucionais. São 10 mil brasileiros mortos e incontáveis desordens no poder. Nos últimos dois meses, esta coluna trouxe semanalmente as manchetes de dezenas de jornais pelo mundo afora. Com línguas e vertentes ideológicas distintas, não parece haver voz dissonante que ainda veja o governo brasileiro com bons olhos na imprensa estrangeira. O maior país da América Latina é, também, o que mais se afeta pela pandemia no continente. O Brasil só não faz fronteira terrestre com Chile e Equador na América do Sul e, doente, preocupa seus vizinhos. Por suas dimensões continentais e por sua economia mais robusta que a média latina, o país está no pódio dos parceiros comerciais dos demais estados americanos. A situação moribunda do Brasil, portanto, arregala os olhos dos nossos povos irmãos. O que foi notícia na América Latina foge da monotonia das manchetes sobre o Brasil.
            Na Argentina, que contabiliza um total 300 mortos (metade do que o Brasil enterra por dia), o El Clarínclassificou a marca das três centenas como a “transposição de uma nova barreira”. Enquanto a pandemia se interioriza e avança nas classes pobre pelo Brasil, 40% dos argentinos mortos residiam na província de Buenos Aires. Segundo o jornal, a Argentina chegou a 100 mortos em 38 dias, mas levou apenas 25 dias para atingir os 300, o que indica um aumento no ritmo da epidemia. O argentino mais jovem a morrer tinha 33 anos e a média etária de fatalidades é de 73 anos, considerada relativamente alta. Em comparação com o Brasil, os hermanosostentam números de razoável sucesso na contenção da covid-19. Em outra matéria, o Clarínalerta, contudo, que as vitórias do isolamento social faz com que alguns cidadãos o diminuam. Com o tempo, é cada vez mais difícil que a população “renove o pacto social” de permanecer em quarentena. 

        No Uruguai, cientistas da Universidad de la República e do Instituto Pasteur trabalham para facilitar a testagem para o novo coronavírus. Como reportou o El País, os estudiosos pretendem desenvolver um teste rápido feito através da coleta de sangue que consiga distinguir com clareza os diferentes anticorpos contra distintas partes do coronavírus presentes no organismo. Dependendo do resultado, o teste pode ajudar a identificar quais pacientes assintomáticos que portaram o vírus e apontar o motivo da falta dos sintomas. 

     O presidente norte-americano, Donald Trump, telefonou nesta semana ao colega chileno Sebastián Piñera para oferecer ajuda na luta contra o novo coronavírus.  A Casa Branca tem elogiado a postura “proativa” do governo andino tanto na saúde quanto na economia. Piñera, que viu sua popularidade despencar nos protestos do ano passado, vem gozando de crescente apreço dos chilenos. O presidente afirmou que, uma vez havendo a vacina, o Chile estará na “pole posicion”, isto é, na vanguarda mundial. O Palácio de la Moneda contabiliza cerca de 300 mortos pela covid-19. Enquanto Washington manifesta solidariedade a Santiago, mercenários estadunidenses foram presos na costa da Venezuela. As informações são de que os ex-militares foram pagos para capturar o presidente Nicolás Maduro, num conluio entre a oposição venezuelana e forças dos EUA (https://internacionalizese.blogspot.com/2020/05/opiniao-mercenaria-politica-externa.html). 
     O presidente paraguaio Mario Abdo Benítez afirmou que o Brasil é “uma grande ameaça” à segurança sanitária de Assunção. Os países fazem fronteira por mais de 700 quilômetros, fechada desde março. Com “apenas” 10 mortes pelo coronavírus, os paraguaios podem comemorar projeções otimistas de crescimento econômico mesmo com a pandemia. Detido no começo de março ao tentar entrar no país com documentos falsos, Ronaldinho Gaúcho é o menor dos problemas que o Paraguai tem com o Brasil. No entanto, reportagem do Jornal de Brasília trouxe novos desdobramentos ao caso. A suspeita de que Ronaldinho e Assis, seu irmão, estariam envolvidos em jogos ilegais de cassinos fez com que o Ministério Público do Paraguai entrasse em contato com as autoridades brasileiras para obter mais informações sobre os novos fatos. 

     País gravemente impactado pela epidemia, o Equador vê sua capital econômica, Guayaquil, com um terço dos 2,7 milhões de habitantes contaminados pela covid-19. Afundado na crise sanitária, o país também tem de se preocupar com a crise financeira que há de vir. Segundo a agência francesa RFI, a economia equatoriana depende fortemente da exportação de petróleo, que está em enorme baixa. O PIB deve recuar 4% neste ano, mesmo com as ajudas emergenciais liberadas pelo FMI a Quito. 
            A notícia inusitada que vem do Equador é a de um golpe de estado. Não na política formal, mas na Federação Equatoriana de Futebol. O presidente Francisco Egas foi tirado à força do cargo por má-gestão de recursos. O cartola contratou o brasileiro Marcos Motta, advogado de Neymar, para defendê-lo junto a Conmebol e a FIFA.
        O futebol segue parado no mundo todo. Mesmo com a disputa de bastidores no Equador, a bola não rola em campo. Em contra-ataque sobre o bom-senso, o campeonato nicaraguense continuou suas atividades. Em plena pandemia de um vírus espalhado pela respiração e pelos fluídos, Managua e Real Estelí disputaram o título do Nicaraguão e se enfrentaram na sexta-feira (09/05). Depois de empatarem em 1x1 no jogo de ida, o Estelí foi até a capital e aplicou 3x1 sobre os mandantes, sagrando-se campeão.

          Em Cuba, que registrou menor número de novos casos de covid-19 desde 26 de março,  o escritor Leonardo Padura disse que “o Homem é o coronavírus do mundo”. Autor do sucesso de vendas “O Homem que Amava os Cachorros”, o cubano anticastrista deu entrevista (07/05), a agência de notícias francesa AFP, em que alerta para a falta de comida que espreita a ilha. 
            Já a mídia oficial insular denunciou as agressões sofridas pela embaixada de Cuba em Washington. O chanceler cubano, Bruno Parilla, denunciou a gravidade dos fatos ocorridos no fim de abril. Classificando como um ato de terrorismo, o ministro pediu investigações por parte das autoridades estadunidenses sobre os disparos de fuzil contra o edifício da missão diplomática.

          O Brasil tem pior taxa de crescimento da letalidade por covid-19 da América do Sul e está longe de conter a dimensão do desastre. A inércia e a passividade nas quais o país se encontra podem, muito brevemente, transbordar para a vizinhança. O entendimento da conjuntura continental tem a mesma importância que o da nacional para a superação harmoniosa da crise sanitária.


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