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quarta-feira, 7 de julho de 2021

Me Indica um Filme: Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento

Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento. Reprodução: Netflix. 


    Você certamente lembra do rompimento da barragem em Brumadinho, Minas Gerais, acontecido em 2019. Já em fevereiro de 2021, a mineradora Vale, responsável pela tragédia, assinou um contrato de reparação de danos no valor de R$37,68 bilhões. A irresponsabilidade ambiental da Vale ficou famosa mundialmente e fez lembrar de quando, em 1996, a empresa PG&E, que fornecia gás e eletricidade, teve que pagar US$333 milhões em indenizações após contaminar a água que abastecia a cidade de Hinkley, na Califórnia. O acontecimento inspirou o filme “Erin Brockovich”, que rendeu o Oscar de melhor atriz para Julia Roberts. 
    O drama apresenta a história baseada nos fatos reais da vida de Erin Brockovich, mãe solteira e desempregada que consegue emprego no escritório do advogado Ed Masry. Enquanto organizava os arquivos de um caso judicial antigo, Erin encontra dados médicos dos moradores de Hinkley em meio à uma tentativa de compra de suas casas pela empresa PG&E. Mesmo sem experiência com advocacia, ela decide investigar entrevistando os moradores da região, e percebe que a maioria relata portar problemas graves de saúde. Erin acaba descobrindo que durante 14 anos a companhia de gás despejou cromo-6 no subsolo de Hinkley, afetando a água consumida pela população. O que Erin busca provar durante a trama é que a substância, altamente tóxica, teria sido a principal causa das doenças com as quais sofrem os moradores. O caso vai sendo dificultado pela PG&E, que conta com um bom time de advogados em sua defesa, mas Erin se dedica em conseguir o maior número de provas e vai ganhando confiança dos moradores, que formam um grupo cada vez maior de prestadores de queixa contra a empresa de gás. 
    O filme engloba um tema discutido mundialmente pelos ambientalistas: o impacto das grandes indústrias na natureza e na vida humana. As empresas são as principais causadoras da poluição das águas em rios e mares, devido ao despejo de dejetos tóxicos e acidentes como o rompimento de oleodutos, que aconteceu no Golfo do México, na última sexta-feira (2/7). Além da poluição hídrica, as multinacionais são encarregadas pela maior parte da poluição por plástico no planeta. O ranking formado pela “Break Free from Plastic”, em 2020, indica a Coca Cola, a PepsiCo e a Nestlé como as maiores responsáveis pelo descarte de lixo plástico mundialmente.

Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento. Reprodução: Netflix. 

    Acidentes no funcionamento das empresas também são grandes poluidores: o rompimento das barragens em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), vazamento de óleo da Baía de Guanabara (2000), e alguns casos historicamente famosos, como Chernobyl e Big Smoke.
    Em 1972 a Organização das Nações Unidas convocou a Conferência da ONU sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo (Suécia). O evento é um marco para a história por abordar preocupações com o bem-estar do meio-ambiente. A partir dele, a pauta foi colocada oficialmente na agenda pública, resultando nos encontros “Rio 92” em 1992, “Rio+10” em 2002, “Rio+20” em 2012, e a mais recente, em 2015, chamada Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, definiu metas para redução de emissão de poluentes pelos membros com prazo para 2030 (Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável).Muitas empresas tem aderido à uma relação mais sustentável com a maneira com a qual produzem e comercializam seus produtos, buscando utilizar materiais renováveis, criando soluções para o consumo de energia elétrica e diminuindo o descarte de dejetos gerados durante a produção. Entretanto, para que tenhamos uma mudança expressiva no impacto gerado na natureza, ainda é necessário que as grandes multinacionais se juntem à causa, tomando responsabilidade pelo dano que geram ambientalmente. Empresas brasileiras como a Natura, Cemig e Ekofootprint são exemplos de indústrias voltadas à sustentabilidade. Já a Petrobras foi listada entre as 20 maiores poluidoras do mundo pela “Climate Accountability Institute”.
    Muitas empresas tem aderido à uma relação mais sustentável com a maneira com a qual produzem e comercializam seus produtos, buscando utilizar materiais renováveis, criando soluções para o consumo de energia elétrica e diminuindo o descarte de dejetos gerados durante a produção. Entretanto, para que tenhamos uma mudança expressiva no impacto gerado na natureza, ainda é necessário que as grandes multinacionais se juntem à causa, tomando responsabilidade pelo dano que geram ambientalmente. Empresas brasileiras como a Natura, Cemig e Ekofootprint são exemplos de indústrias voltadas à sustentabilidade. Já a Petrobras foi listada entre as 20 maiores poluidoras do mundo pela “Climate Accountability Institute”.
    O filme “Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento”, está disponível atualmente no catálogo da Netflix, não perca!
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quinta-feira, 27 de maio de 2021

Me Indica um Filme: A Incrível História da Ilha das Rosas


    A máxima “O Estado sou eu” de Henrique VIII nunca foi tão verdadeira em tempos modernos quanto na criação da chamada Ilha das Rosas, na década de 60, pelo engenheiro italiano Giorgio Rosa. O filme “A incrível história da Ilha das Rosas” retrata justamente a história do engenheiro e sua empreitada para construir seu próprio país.
    Seguindo sua ambição de obter maiores liberdades e se ver livre das regras do Estado italiano, Giorgio, juntamente com outro colega engenheiro, inicia a construção de uma espécie de uma ilha – em realidade, uma plataforma. De modo a de fato constituir uma nação independente, a construção foi realizada há alguns metros do mar territorial da Itália, já em águas internacionais.
    Assim, com a construção de seu Estado finalizada, Giorgio começa a receber os primeiros moradores do país, um apátrida e um naufrago, que juntamente à ele próprio, seu colega engenheiro e uma jovem italiana, constituem a população do país. Não só isso, o quinteto divide entre eles as atribuições de cargos estatais, como por exemplo, Ministérios de Turismo e Economia. Não surpreendentemente, Giorgio assume a Chefia do Executivo, tornando-se o Presidente da Ilha das Rosas.
    Mas a Ilha não cumpriu exclusivamente ao propósito de servir de residência à seus ilustres moradores. Figurando como destino e local inusitado, logo o país começou a receber visitantes e a arrecadar lucros com o turismo. Por se tratar, a princípio, de uma nação independente, a Ilha recebia seus lucros sem realizar o pagamento de impostos a qualquer governo. Da mesma forma, a inexistência de leis e burocracia foi fator de atração para que diversas pessoas ingressassem com pedidos formais de cidadania. O crescimento do país e os constantes atritos com a Itália, sua vizinha de fronteira marítima, fez com que o novo Presidente, Giorgio, buscasse o reconhecimento oficial da ONU.
    Em suma, o que Giorgio buscava era a criação de um país que seguisse seus moldes. Levando em consideração os requisitos básicos para a constituição de um Estado -povo, território e governo-, há de se afirmar que, de fato, a Ilha das Rosas deveria ser enquadrada como nação soberana. Afinal, a Ilha contava com povo, mesmo que formado por 5 pessoas, território e com o governo do engenheiro que a construiu. Para além, até mesmo foram emitidos passaportes, criado um hino nacional e estabelecido um idioma oficial, o esperanto.
    Não obstante, estes fatores não foram suficientes para que a Ilha fosse reconhecida por outros países como Estado soberano, já que haviam quesitos políticos e diplomáticos intrínsecos a este reconhecimento. Além da existência de um Estado -com o devido cumprimento dos requisitos formais- não constituir automaticamente seu reconhecimento pela comunidade internacional, no caso específico da Ilha das Rosas, o reconhecimento como nação implicaria a abertura de precedente jurídico internacional para que outras pessoas seguissem o exemplo de Giorgio. Assim, fosse permitida a existência de um Estado da Ilha das Rosas, estariam sendo permitidas explorações e usos das águas internacionais para criação de Estados com o objetivo de ignorar leis nacionais. Mais que isso, seria certa a instauração de diversos conflitos diplomáticos entre as nações.
    De fato, a ambição de Giorgio, embora visionária à época, suscita diversas questões ainda não pacificadas em matéria de Direito Internacional e o filme é claro ao mostrar os problemas que existiram, e os que ainda poderiam advir, com a construção da Ilha. Contudo, vale destacar que muito embora seja baseado majoritariamente em eventos verídicos, a liberdade criativa cinemática romantizou muitos dos detalhes intrínsecos ao desenvolvimento do projeto de Rosa. A construção da estrutura da Ilha, por exemplo, diferentemente do que se retrata, demorou 10 anos para ser totalmente construída. Além disso, não tardou para que o eminente fim da “nova” nação fosse alcançado, já que foi durante o processo de construção que tiveram início os conflitos com a Itália.
    A história de Giorgio Rosa e seu projeto de Estado ilustram muito bem a importância de normas consolidadas de Direito Internacional que evitem disrupturas jurisprudenciais e entre as nações, além de destacar a necessidade de parâmetros jurídicos para a definição de um Estado.

Referências
Filme – A Incrível História da Ilha das Rosas
SOUZA, Jorge. O que há de real na história do homem que construiu uma ilha e virou filme. Histórias do Mar. 19 dez. 2020. Disponível em: < https://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2020/12/19/o-que-ha-de-real-na-historia-do-homem-que-construiu-uma-ilha-e-virou-filme/



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quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Me indica um filme? - Absorvendo o Tabu


    O que era pra ser somente um processo biológico natural, torna-se um fator determinante de vida. É esta a mensagem central do documentário “Absorvendo o tabu” (em inglês, Period. End of sentence), que retrata a relação de uma comunidade remota da Índia com a menstruação.

    Desde seu início, o documentário retrata a desinformação que paira naquela comunidade em específico- diversos homens foram questionados quanto ao que seria menstruação, mas quase nenhum soube dar explicações. Quando não existente, a desinformação dava lugar ao tabu circundando o tema: meninas que não conseguiam explicar sem cair aos risos embaraçadas e mulheres que afirmavam que era um assunto não mencionado.

    O que se nota é que a questão menstrual, além de levantar debates a respeito de saúde pública, tem relação direta com a forma com que as mulheres conduzem suas vidas nesta pequena comunidade indiana. Lá, o início do período menstrual enseja o ceifamento dos estudos, na reclusão feminina à casa e na exclusão da vida social e religiosa. O documentário expõe a visão preponderante de que durante este período, a mulher seria uma pessoa “suja”, não merecedora da participação na vida da sociedade.

    Não só isso, o retrato que se tem é de uma realidade em que não somente não há o acesso da população feminina aos itens básicos de higiene intrínsecos ao período menstrual, como também esta falta de acessibilidade acarreta diversos problemas sociais.

   Mas se a menstruação pode definir negativamente a vida de uma mulher, pode também influenciar positivamente. A mensagem do curta passa a ser modificada quando a comunidade em foco recebe uma máquina de fabricação de absorventes higiênicos à baixo custo. Com o novo maquinário, as mulheres locais passam a aprender a utilizar e ter acesso à absorventes. Além disso, por não mais estarem presas a métodos pouco efetivos de higiene, começam a ganhar segurança para buscarem empregos que antes não buscavam. Em especial, a fabricação e comercialização dos absorventes se torna a maior fonte de renda para a maioria das mulheres daquele povo.

    Como mensagem final, o documentário retrata a história de diversas mulheres que, com os ganhos obtidos da produção de absorventes, começam a realizar sonhos -uma delas consegue bancar seus estudos para realizar um concurso de ingresso à polícia de Nova Déli.

    A iniciativa de levar a máquina para a comunidade em questão parte de uma mobilização intitulada “The Pad Project”, um projeto que teve início com um grupo de estudantes de ensino médio. Agora, como uma organização de alcance global, continuam com a missão principal de criar e cultivar parcerias globais, para por fim aos estigmas relacionados ao período menstrual e levantar conscientização.

    O documentário “Absorvendo o tabu”, contempla apenas uma realidade microscópica daquilo que é um problema macroscópico relacionado à falta de educação e acesso sanitário básico. Não são somente comunidades remotas em países distantes que sofrem com o problema retratado pelo documentário. São também diversas cidades em áreas rurais mundo a fora; bairros periféricos em grandes cidades; mulheres em situação de rua; e a população carcerária feminina. De fato, como espelha o título original da obra, para muitas mulheres, um período marca o fim da vida, e não o fim de uma frase.

    O que acima de tudo pode-se notar a partir desta retratação documenta da realidade, é que a luta por Direitos Humanos Femininos passa longe de ser homogênea em todas as comunidades. Enquanto em algumas há a luta pela maior equidade política, em outras a busca pela equidade advém da superação como tabu daquilo que nada mais é do que um processo natural. Mas, apesar dos pontos focais de luta serem divergentes, o objetivo final converge em um só: emancipar meninas e mulheres de entraves à uma vida digna. 

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terça-feira, 16 de junho de 2020

Me indica um filme: "Sérgio"




   Lançado no início de 2020, “Sérgio” retrata os últimos momentos e feitos mais importantes da vida e carreira do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Melo. 
Dirigido por Greg Baker, o filme mostra os últimos dias de vida do diplomata em sua missão representando a ONU em Bagdá e, também, apresenta a missão que levou à Indonésia a reconhecer a independência do Timor-Leste.

      A trama gira em torno de seus atos diplomáticos e sua morte que foi ocasionada por um atentado terrorista à sede da ONU na capital do Iraque, Bagdá. 

     Mesmo misturando ficção com realidade, o filme teve representações fiéis à realidade, principalmente em relação à questão Indonésia x Timor Leste. Após anos de sua independência, representantes da Indonésia não aceitavam a realidade do novo país. Então, em uma missão considerada “impossível”, o diplomata fez com que o presidente da Indonésia, Abdurrahman Wahid, fosse até a capital do Timor Leste e pedisse desculpas por anos de ocupação (que gerou a morte de mais de 100.000 pessoas) e reconheceu a realidade independente do país.

    Ao mesmo tempo em que o filme retrata cenas da vida profissional de Sérgio, há também a inserção de um romance, que realmente aconteceu, com a economista, funcionária da ONU, Carolina Larriera. 

     O filme consegue mostrar a trajetória de um homem que fez história ao redor do mundo, considerado um dos agentes mais importantes da ONU. E representar, com fidelidade, atos que mudaram o rumo da politico e social de vários países.
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terça-feira, 3 de março de 2020

Me indica um livro: O Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago





Por Manuela Paola



Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago,  pode ser considerado um dos livros mais conhecidos do mundo, assim como Cem anos de solidão e Anna Karenina. No entanto, sua história e a forma como ela é contada está bem longe de ser ordinária. Os personagens não têm nome e sua descrição se resume a apenas um fato: o médico, a mulher do médico, o primeiro cego, e por aí vai. No começo, pode parecer um pouco confuso, mas conforme a leitura anda, nota-se que essa lacuna é essencial para o desenvolvimento da história. Esta autora, particularmente, sempre gostou de saber o nome dos personagens, mas surpreendeu-se quando apreciou a falta deles. Sinceramente, deixar esse mistério foi uma jogada surpreendente de Saramago - com certeza, é um dos fatores que prende o leitor ao livro.

A cegueira mencionada no título da obra é a base do enredo. O primeiro cego, um dos personagens, encontra-se de repente numa total branquitude - diferente da escuridão que imaginamos ao falar de cegueira. A partir dele, outras pessoas são “contaminadas” e também param de enxergar, como o homem que ajudou o primeiro cego e o médico que o atendeu. Quando uma quantidade considerável de pessoas não mais enxerga, o governo fica alarmado e decide colocá-las em quarentena, assim como aquelas que entraram em contato com os cegos. Mais preocupados em parar a disseminação da “doença” do que em descobrir a causa, as autoridades isolam os infectados em um manicômio abandonado, sem nenhum auxílio médico, contando apenas com a própria noção de sobrevivência. Curiosamente, uma das personagens escapou do destino que assolou a todas as outras: a mulher do médico é a única que enxerga. Para não se separar do marido, ela deixou que todos os outros acreditassem que também tinha perdido sua visão. Dessa forma, ela foi uma personagem essencial na sobrevivência de tantos outros.

Em todos os capítulos, José Saramago mostra como o egoísmo e a maldade podem aflorar em uma situação única, assim como o instinto de sobrevivência e proteção de outros seres humanos. A selvageria é uma constante em determinados personagens e nos lembra de que nunca conhecemos alguém verdadeiramente. Mas mais importante que isso, a situação em Saramago colocou seus personagens principais fez com que a união em prol do bem de todos prevalecesse, causando a sua sobrevivência.

A vida imita a arte é uma frase comumente usada para designar uma situação real que já foi descrita anteriormente em algum livro, filme ou até mesmo pintura. O paralelo com a realidade e a obra de José Saramago é bem clara. No começo do ano, o ressurgimento de um conhecido vírus chamado coronavírus fez com que o governo chinês isolasse uma cidade inteira - Wuhan - em quarentena. Tem-se pouca informação da quarentena, logo, é interessante observar o modo como as notícias sobre a doença atingiram as pessoas. Algumas entraram em pânico, comprando máscaras e álcool em gel; outras deixaram aflorar o mais puro racismo que existe dentro de si. Pelo simples fato de que o vírus se originou na China, pessoas desta nação passaram a ser alvo de xenofobia em tantos outros países. Como na famosa obra, o pânico transformou e aflorou nas pessoas o que nelas há de pior. 
O brilhantismo com o qual José Saramago escreveu Ensaio sobre a cegueira se estenderá por inúmeras gerações. Mesmo escrito em 1995, a obra permanece atual, nos permitindo fazer diversos paralelos com o contemporâneo. Esta autora espera poder fazer, também, um paralelo com o final do livro. Boa leitura!
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terça-feira, 26 de novembro de 2019

Me indica um filme: Sob a névoa da Guerra


Por JESSICA DE LIMA WHITTLE e SABRINA HATSCHBACH MACIEL*



Onze lições são comentadas no documentário ‘Sob a névoa da guerra”, e quem as discute é a controversa figura de Robert S. McNamara. Secretário de Defesa do governo dos Estados Unidos entre os anos de 1961 e 1968, sob as administrações de John F. Kennedy e Lyndon Johnson, McNamara foi profundamente envolvido na Guerra no Vietnã, tendo sido descrito como seu “arquiteto”. O documentário relembra a vida, as conquistas e derrotas de McNamara, retomando fatos sobre a segunda guerra mundial, mas especialmente sobre a guerra no Vietnã. Enquanto aos, então, 85 anos de idade, McNmara reflete, no documentário, sobre suas ações - e as ações de seu país - durante os conflitos por ele vivenciados, e, em meio a esta análise, é introduzido estas 11 “lições”, e algumas serão analisadas neste trabalho.
A primeira lição declara “Tenha empatia com seu inimigo”; e a segunda “Racionalidade não nos salvará”, sendo estas mais exploradas aqui devido sua relação com as ideias de Thomas Schelling sobre o Realismo Estratégico.
A primeira lição dita por McNamara foi pormenorizada pela sentença: “Devemos nos colocar na pele deles, e olhar para nós com os olhos deles, para entender a ideia por trás das decisões e dos atos”. McNamara propõe estas conclusões após anos de observação frente as estratégias, as quais ele foi partícipe, durante as guerras. Ao voltar esta dedução aos olhos do Realismo estratégico de Thomas Schelling, é possível assimilar sua compatibilidade. Schelling foi um economista norte americano, era também professor de política externa e estrategista, discutindo sobre a problemática nuclear, sendo muito influenciado pelo seu contexto de vivência, a Guerra Fria.
Entre os estudos de Schelling, este discorre sobre diplomacia/barganha. O que seria uma diplomacia que pode vir a ter uma aspecto de “suja” – podendo se fazer pela ameaça e coerção - na qual não se trate sobre o ideal para as duas partes, mas sim o melhor para ambas. Para ter este poder de barganha, o autor afirma que é preciso conhecer o seu adversário, o que ele aprecia e o que o assusta. A conclusão de McNamara sobre, de fato, a importância do conhecimento do interesse do outro, para que o Estado realize esta diplomacia, é exemplificada com o sucesso do conhecimento que Thompson tinha sobre Krushchev na crise do mísseis. Por outro lado, o antigo secretário de defesa afirma que, durante a Guerra no Vietnã, os americanos não conheciam os Vietnamitas o suficiente para se colocar na pele deles e compreender suas verdadeiras intenções, gerando mal-entendidos que, possivelmente, estenderam a guerra e trouxeram malefícios para ambas nações.
Sob outra perspectiva, frente a crise dos mísseis em Cuba, analisa-se a segunda lição proposta por McNamara: “A racionalidade não nos salvará”. Nesta perspectiva, o Americano discorre sobre como, em realidade, foi sorte que preveniu uma guerra nuclear. Mesmo tendo líderes racionais, que possuíam a consciência que um conflito com ogivas nucleares causaria destruição total de suas sociedades, no contexto de extrema pressão e antagonismo competitivo, a experiência de um conflito não foi prevenido exclusivamente pela racionalidade daqueles que tinham poder de decisão. O realismo estratégico de Schelling não coaduna com esta conclusão de McNamara.
Thomas Scehlling, ao destacar a importância da tomada de decisões na política externa, ensina que as funções diplomáticas tem de ser efetivadas por meio de atividades racionais e instrumentais – estratégia. McNamara afirma a valia da diplomacia feita para evitar a crise dos mísseis, mas conclui que, em realidade, foi a sorte que preveniu um destino que teria sido desastroso para todos. Esta visão está em desacordo com o que conclui-se de Schelling, mas também com a maioria da Teoria Realista das Relações Internacionais, que dispõe sobre o âmago da intenção Estatal é o interesse próprio, o qual deveria ser baseado em uma racionalidade, que pressuporia um cálculo de vantagens e custos. O custo da aniquilação de sociedades não foi considerado quando a racionalidade – quase – não preveniu uma guerra nuclear.
Ademais, entre outras lições de McNamara que intentamos destacar nesta analise está o terceiro ponto, “existe algo além você mesmo”. Nações possuem seus próprios interesses - e neste momento do documentário McNamara cita as visões militares Norte-americanas, que não consideravam perspectivas de outros Estados. Como exemplo, entre estes interesses nacionais estariam, como um dos casos apresentado no documentário, os EUA invadir o Vietnã e entrar em guerra, isso iria se concretizar, mesmo que a atendando contra a soberania do outro, ou atingindo a população, logo que, como citado por Edward Carr (autor de Relações Internacionais que debate o Idealismo moderno), onde não há uma anarquia internacional atuando acima da soberania dos Estados, o que os guia é a busca pelo poder.
          Por fim, vale brevemente citar as demais lições descritas por Robert McNamara. O quarto ponto “maximize a eficiência”, e o quinto, “proporcionalidade dever ser uma orientação da guerra”, McNamara nos remete aos bombardeios, durante a segunda guerra mundial, dos EUA as ilhas japonesas. Pela desnecessária morte de pessoas, tanto civis quanto militares atacando, é importante equilibrar o desejo de eficiência com as necessidades e objetivos. McNamara sugere que os danos causados em uma guerra devem ser proporcionais aos objetivos de cada um, a proporcionalidade é um conceito crítico.
          No sexto ponto, “obtenha os dados”, fica explícito que para tomar boas decisões, não podemos simplesmente depender da racionalidade ou de nossos dons intelectuais. McNamara afirma que, para tomar boas decisões, é necessário obter dados. Afirmando isso, o sétimo argumento, “acreditar e ver, os dois podem falhar”. O incidente do Golfo de Tonkin, apresentado no documentário, em que, os EUA foram para a guerra fundamentado em informações errôneas, deixa claro que é imprescindível um estudo cauteloso sobre o caso.
          O oitavo ponto, “esteja preparado para reanalisar seu pensamento”, surge em complemento ao anterior, alegando que cometemos erros, e consequentemente temos que estar preparados para reanalisar o nosso raciocínio. Não podemos considerar os princípios morais de um Estado princípios universais, pois essa atitude instigaria novos conflitos. Continuamente, “Para fazer o bem, você pode ter que se envolver com o mal”, o nono ponto nos mostra que, McNamara sabia a crueldade que circunda violência, e não nega a existência de crueldade em um contexto de Guerra. Impõe a pergunta, “quanto mal tem de ser feito para que possa ser feito o bem?”. Reconhece ser este um posicionamento extremamente difícil ao ser humanos, e afirma que a violência deveria ser levada ao seu grau mínimo.
O décimo argumento, “nunca diga nunca”, relata que, a névoa da guerra, combinada com a imprevisibilidade humana, pode criar resultados ou apresentar oportunidades que ninguém poderia prever. Se esta lição é útil na guerra, é ainda mais útil para preveni-la. Durante a crise dos mísseis de Cuba, a maior parte do gabinete, incluindo o próprio Presidente Kennedy, não acreditava que a União Soviética removeria seus mísseis sem o uso da força militar. Thompson discordou e, Kennedy confiou em seu julgamento. Como resultado, as superpotências evitaram a guerra nuclear. Seria sábio recordar que a melhor maneira de ganhar uma guerra é evitá-la, buscando uma solução diplomática.
          Por fim, a décima primeira lição, “você não pode mudar a natureza humana”, exprime o pensamento de que, os Estados são guiados pelo darwinismo político, onde o estado de natureza do sistema internacional seria um estado de guerra contra todos e contra tudo, sendo a motivação a busca pelo poder. Seguindo esta linha de pensamento, para garantir a estabilidade no sistema internacional, seria de extrema importância o procedimento de equilíbrio do poder, primordial para corrente realista das relações internacionais.
Robert McNamara ficou conhecido por muitos como o “Arquiteto” da Guerra do Vietnã. Foi estrategista em duas guerras, tendo trabalhado ao lado do General Curtis LeMay, um dos principais dirigentes dos atrozes bombardeios a Tóquio na segunda grande guerra, e tendo sido secretário de defesa dos Estados Unidos durante parte de outro conflito. Ou seja, é possível concluir que McNamara vivenciou inteiramente a realidade estratégica e política do que é uma guerra. Ao analisar suas lições comentadas no documentário, é possível concluir apenas a incerteza da guerra. Sendo uma realidade muito complexa, mesmo com planejamentos, dados e estratégias, as vezes nem mesmo a racionalidade humana pode prevenir as barbáries de um conflito, e uma vez este instaurado, seu direcionamento também pode ser incerto, sempre coberto pelo que McNamara chama de “a névoa da guerra”. 

*Acadêmicas do segundo período de Relações Internacionais, em trabalho orientado pela Professora Janiffer Zarpelon. 








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sábado, 5 de outubro de 2019

Me indica um filme: HANNAH ARENDT – DE MARGARETHE VON TROTTA


A análise do filme “Hannah Arendt” fez parte da avaliação do Primeiro bimestre da disciplina de Introdução ao Estudo do Direito, ministrado pela Prof. Michele Hastreiter. O texto abaixo foi escolhido pela professora, dentre mais de 50 trabalhos  recebidos, para a publicação no Blog. 

Por Fernando A. Yazbek - acadêmico do Primeiro Período de Relações Internacionais 
 A ótima interpretação do ator Ben Kingsley no filme “A Operação Final“, dirigido por Chris Weitz, serve muito bem como prólogo para o filme quase biográfico de Hannah Arendt. O nazista Adolf Eichmann, trazido a forma por Kingslay, tem na Argentina o Mossad – serviço secreto israelense – na sua cola. O longa trata de todo o processo da captura do alemão pelos agentes secretos, entre eles Peter Malkin, interpretado pelo ator Oscar Isaac, famoso pela filmografia de temática judaica. “Operação final” já traz – de maneira mais velada que o filme sobre Arendt – certo debate sobre a legitimidade do seqüestro e julgamento de Eichmann por Israel.
“Hannah Arendt” começa com a detenção de Eichmann em Buenos Aires e se desenrola pela intenção de Arendt, àquela altura uma intelectual consagrada, de cobrir – para o jornal New Yorker – o julgamento em Jerusalém, para onde o Mossad levara Eichmann.
Apesar de não empolgar pelos diálogos ora despretensiosos, ora desgastantes e pela paleta de cores exageradamente desbotada, o filme é equilibrado quando pretende não ser necessariamente uma biografia – uma vez que trata de um período curto da vida da filósofa – nem um documentário. Mesmo com imagens reais do julgamento de Eichmann, Margarethe Von Trotta toma cuidados no enredo para não torná-lo uma peça fundamentalmente jornalística.

Se em “Operação Final” pode-se destacar a caracterização perfeita de Kingsley como Eichmann, a recíproca é verdadeira quanto à semelhança que o filme de Arendt a retratou quando jovem no papel de Freiderike Becht. Ela aparece em “flashbacks” no decorrer do filme quando a judia Hannah tivera um caso acadêmico e amoroso com seu professor (bem mais velho) e filósofo Martin Heidegger, que viria a se juntar ao nacional-socialismo alemão.

A trama pode ser analisada à luz do Direito pelo “quadrado amoroso” que se desenvolve nos personagens de iniciais H: Hannah; Henrich (seu marido); Hans (um judeu amigo de longa data) e Heidegger.

Na comemoração de sua viagem ao Oriente Médio, Hannah e Henrich recebem uma porção de amigos para celebrar o encargo que Arendt recebera do periódico nova-iorquino. Entre eles estava Hans Jonas, judeu que fora soldado na Segunda Guerra. E é aí que a introdução ao estudo do Direito tira uns “frames” para si.

Henrich contesta veementemente o julgamento de Eichmann por Israel. Sua frase mais marcante é de que não se pode julgar a história, mas apenas um homem. Israel não era nem um Estado formalizado e reconhecido quando Eichmann teria cometidos seus crimes. O marido de Arendt se mostra, portanto, um discípulo do ramo positivista do Direito. Henrich fala da “mutabilidade” da legislação, isto é, que Eichmann seguia a ordem estabelecida para determinados tempo e sociedade. Ele exemplifica utilizando-se dos 10 mandamentos, em específico o quinto: o original “não matarás” fora alterado para “matarás”.

Hans, por outro lado, se mostra um verdadeiro jusnaturalista quando diz em todas as letras que Israel tem o direito divino de julgar o nazista, uma vez que o jus naturalismo se caracteriza por fundamentos religiosos de ordem universal e imutável.

Além dos embates filosóficos e teóricos, Henrich certa vez pessoaliza a discussão com Hans – que odeia Heidegger – ao dizer que o asco do judeu pelo nazista se devia mais em função do professor ter seduzido e namorado Hannah do que por suas tendências fascistas.

Hannah se estabelecera nos Estados Unidos quando ainda jovem e nunca tinha visto um nazista de perto – que foi inclusive uma motivação para sua vontade de ir a Jerusalém. Quando finalmente na Terra Santa, Arendt se espanta com a simplicidade de Eichmann em seu modo de falar, de agir e de pensar. Era um burocrata que, apesar de enviar um número enorme – embora incerto – de pessoas para o abate, não via mal maior em suas ações: apenas cumpria ordens.  Por nunca ter matado nenhum judeu diretamente e por ter tido relações amorosas com uma judia, Eichmann se sentia isento de qualquer punição. E Arendt, ao não retratá-lo como um monstro sanguinário bem como a propaganda e o senso-comum o imaginavam, foi humilhada por parentes, colegas acadêmicos e amigos.

Muito embora houvesse espaço para um drama pessoal, o filme mostra uma Hannah determinada e combativa de suas idéias que chocaram a comunidade judaica – a qual pertencia – e que a escorraçou.

Hannah Arendt foi uma mulher inteligentíssima, mas acima de tudo corajosa. E isto está posto tanto na História quanto no filme.  Foi preciso muito peito para afirmar – ainda mais no contexto de recém superação no nazismo – que líderes judeus não foram exatamente resistentes ao extermínio de seu povo. Ficaram, segundo ela, numa linha entre a resistência e a cooperação. De mais bravura que dizê-lo foi publicá-lo na mídia e academia liberais, burguesas e de grande presença judia de Nova Iorque.

Do julgamento de Eichmann, Arendt escreveu seu livro “A Banalidade do Mal”, que postula juntamente com “Origens do Totalitarismo” na mesma alta prateleira de obras para se entender o século vinte e um. Por ir de encontro com o pensamento “mainstream” da propaganda sionista e ocidental, o livro foi ameaçado de censura em Israel. 

Censura por si só não configura um estado de exceção, ou totalitário ou quiçá fascista. Mas em nada contribui para o processo civilizatório.

 O filme que não tem lá suas atrações cinematográficas se justifica pela importância histórica de Arendt, da superação do positivismo jurídico pelo nazismo e da obsolescência histórica e racional do jusnaturalismo. Não é o filme ideal para uma sessão da tarde, mas não deixa de ser importante acadêmica e pessoalmente.



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domingo, 28 de julho de 2019

Me indica um filme: O Pianista e sua importância no tempo presente








Por Manuella Paola




“Se nos espetardes, não sangramos?
Se nos fizerdes cócegas, não rimos?
Se nos derdes veneno, não morremos?
E se nos ofenderdes, não devemos vingar-nos?”

            O trecho da obra O Mercador de Veneza, de Shakespeare, citado por Henryk, o irmão do protagonista, relaciona-se com todo o sofrimento pelo qual a família Spilzsman passou na Polônia da Segunda Guerra Mundial. O filme nos mostra que a intolerância para com os judeus começou de forma não tão sutil: primeiro, cada família só poderia possuir 2.000 zlotys, a moeda local; o que sobrasse deveria ser entregue aos alemães. Depois, eles eram obrigados a usar uma faixa ao redor do braço, com a estrela de Davi costurada. Os que a portavam e não comprimentavam oficiais nazistas nas ruas da Varsóvia, eram espancados abertamente - e ninguém movia um dedo para impedir. Em seguida, as violações contra a vida dessas pessoas foram ficando cada vez mais à vista: os judeus foram forçados a se mudarem para uma área delimitada pelos alemães, que logo após construíram um muro ao redor dos apartamentos, dando início aos guetos. Eles podiam sair dali e andar livremente por sua cidade? De forma alguma. Quem saísse sofreria graves consequências.

            Durante todo o filme, Adrien Brody interpreta o pianista Wladyslaw Szpilman com tanta sinceridade e emoção que é impossível não ficar tocado. Sua solitária jornada é angustiante e deixa o espectador com o coração na mão, esperando que a qualquer momento ele seja capturado e enviado para um dos temidos campos de concentração - que eram vendidos como campos de trabalho, onde as pessoas teriam uma vida melhor. A situação do pianista melhora (aliás, não piora, pois é difícil ver alguma positividade num momento como o dele) pois ainda havia boas pessoas em Varsóvia. Alguns amigos o ajudaram a se esconder, em diferentes localizações, para que os nazistas não o encontrassem. Depois de um tempo, Wladyslaw passou a se esconder em prédios destruídos pela guerra.

            Varsóvia já não era a mesma, e nem o pianista era o mesmo homem alegre de antes da guerra. Sozinho e com fome, a força que Wladyslaw deve ter tido para passar por toda aquela provação é inimaginável e nos faz pensar que nenhum ser humano deveria sofrer dessa maneira. Baseado em fatos reais, a mensagem de O Pianista é clara: não devemos nunca nos esquecer das atrocidades que foram cometidas contra um grupo de pessoas apenas pela escolha da sua religião. Sabe-se que ainda há muito preconceito contra diversos grupos - raça, orientação sexual, nacionalidade. Mas o que deve permanecer em nossas mentes é que não foram apenas monstros que permitiram que o Holocausto acontecesse. Foram, também, pessoas normais, que simplesmente escutaram o que um louco disse e não fizeram nada a respeito. Esse erro não pode se repetir.

            O Pianista é baseado na autobiografia homônima de Wladyslaw Spilzman e dirigido por Roman Polanski, que teve os pais mandados para campos de concentração. É um filme que toca nossos corações, através da música e do sofrimento. É um filme que nos faz perceber a força das pessoas que passaram por essa angustiante e triste situação e deixa uma pergunta em aberto: onde elas encontraram essa determinação para viver? Talvez a centelha de esperança em seus corações de que o mundo melhorasse um dia nunca tenha se apagado. E não deve se apagar nos nossos.

            Bom filme!
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