Mostrando postagens com marcador Protestos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Protestos. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Volta ao Mundo em 7 Dias - Notícias de 25/04 a 02/05

Por Manuela Paola

  • Reino Unido
    Ex-número 1 do mundo do tênis, Boris Becker foi condenado a dois anos e meio de prisão por fraude, na última sexta-feira (29). Becker declarou falência em 2017 a partir de uma dívida com um banco privado do Reino Unido. De acordo com as leis do país, o ex-tenista deveria ter seguido uma série de regras, como por exemplo declarar bens de sua propriedade. Além disso, Becker escondeu que possuía centenas de milhares de libras após declarar falência. 
    Ainda no começo do mês, o alemão havia sido condenado por outros crimes, como a Lei de Insolvência do Reino Unido, incluindo a não divulgação, o disfarce e a remoção de bens significativos após um processo judicial de falência. O ex-atleta irá cumprir apenas metade da pena prevista. 

  • França
    No 1º dia de maio, protestos tomaram diversas cidades francesas. O dia que marca o Dia Internacional do Trabalhador levou os franceses às ruas para se manifestar contra as políticas de Emmanuel Macron, que foi reeleito em abril, além de pedir aumentos salariais. 
    Os atos aconteceram em 250 cidades e a maioria deles foi pacífico. No entanto, na capital francesa, a polícia disparou gás lacrimogêneo contra pessoas que saquearam comércios em Paris. Agências imobiliárias também foram destruídas, além das lixeiras que foram incendiadas. 
  • Argentina
    Uma nova espécie de dinossauro, o maior da família megaraptors, foi descoberta na Patagônia por paleontólogos argentinos e japoneses, através dos restos fossilizados do animal. Os cientistas o encontraram em março de 2019, logo antes do início da pandemia do Covid-19 e de todas as restrições sanitárias. Por conta disso, os paleontólogos dividiram entre si todos os fósseis para que o estudo fosse feito em casa. No dia 28 de abril, os pesquisadores revelaram que a espécie encontrada, Maip macrothorax, tinha de 9 a 10 metros de comprimento e pesava aproximadamente cinco toneladas. 
    A descoberta de tantas informações novas foi possível por causa da grande quantidade de ossos fossilizados que foi encontrada na província de Santa Cruz. De acordo com os estudos, o animal habitava o que é hoje o extremo sul da Argentina, há 70 milhões de anos, durante o período Cretáceo. 
Foto: Reuters

  • Ucrânia
    Neste domingo (1º), a Organização das Nações Unidas, juntamente com a Cruz Vermelha Internacional, promoveu um resgate de 40 ucranianos que estavam escondidos em um bunker na cidade de Mariupol para se proteger dos bombardeios. O orta-voz da ONU, Saviano Abreu, informou que não vai compartilhar detalhes do resgate para não comprometer a segurança das famílias. 
  • Rússia
    O teatro Bolshoi, famoso pelas peças de ópera e balé, cancelou uma série de atrações nesta primeira semana de maio. O teatro não apresentou motivos para o cancelamento, mas os diretores das peças falaram abertamente em suas redes sociais contra a guerra que está assolando a Ucrânia. 
    Timofey Kuliabin, produtor da ópera “Don Pasquale”, publicou em sua conta do Instagram palavras de solidariedade para a Ucrânia, além de postar uma imagem ridicularizando a Rússia pelas suas ações. O diretor do balé Nureyev, Kirill Serebrennikov, disse em uma entrevista que “está bem óbvio que foi a Rússia quem começou a guerra.” 
    Bolshoi foi altamente criticado na internet por quem havia comprado os ingressos pelas atrações originais, que foram substituídas por “The Barber of Seville” e “Spartacus”. 

Referências
BORIS Becker, ex-tenista campeão mundial, é condenado à prisão por fraude no Reino Unido. G1. 29 abr. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/04/29/boris-becker-ex-tenista-campeao-mundi al-e-condenado-a-prisao-por-fraude-no-reino-unido.ghtml.
VIOLÊNCIA toma conta de protestos do dia 1o de maio em Paris; manifestantes criticam Macron. G1. 01 mai, 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/05/01/violencia-toma-conta-de-protestos-do-dia-1o-de-maio-em-paris-manifestantes-criticam-reeleicao-de-macron.ghtml.
VIOLENCE erupts in May Day protests in Paris, marchers criticize Macron. Reuters. 01 mai. 2022. Disponível em: https://www.reuters.com/world/europe/may-day-marchers-france-put-pressure-re-electe d-macron-2022-05-01/.
CIVIS escondidos em bunkers de siderúrgica na Ucrânia conseguem escapar em operação liderada pela ONU. G1. 01 MAI. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/05/01/civis-escondidos-em-bunkers-de-siderur gica-na-ucrania-conseguem-escapar-em-operacao-liderada-pela-onu.ghtml.
PESQUISADORES descobrem maior fóssil de dinossauro da família dos ‘megaraptors’. G1. 28 abr. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2022/04/28/pesquisadores-descobrem-maior-fossil-de-dinossauro-da-familia-dos-megaraptors.ghtml
ARGENTINE scientists discover fossil largest raptor dinosaur. Reuters. 28 abr. 2022. Disponível em: https://www.reuters.com/world/americas/argentine-scientists-discover-fossil-largest-raptor-dinosaur-2022-04-28/
UKRAINE warns talks with Russia may collapse battles rage east. Reuters. 30 abr. 2022. Disponível em: https://www.reuters.com/world/europe/ukraine-warns-talks-with-russia-may-collapse-battles-rage-east-2022-04-30/
RUSSIA’S Bolshoi drops shows by two directors who spoke out against war. Reuters. 02 mai. 2022. Disponível em: https://www.reuters.com/world/europe/russias-bolshoi-drops-shows-by-two-directors-wh o-spoke-out-against-war-2022-05-02/
Leia Mais ››

quinta-feira, 6 de maio de 2021

O que está acontecendo em Mianmar?


    Localizada no Sudeste Asiático, a República de Mianmar, também conhecida como Burma, conta com uma população de aproximadamente 54 milhões de habitantes cuja diversidade étnica é uma das maiores do mundo. A República, que se tornou independente do Reino Unido há pouco tempo, em 1948, tem a parte majoritária de sua história política sob regimes militares. De 1962 até 2011 foi governada pelas forças armadas, passando por cinco mandatos democráticos interrompidos. Infelizmente, independente da forma de governo, os direitos da população não são respeitados. A população de Mianmar sofre com conflitos étnicos, violência política, falta de direitos democráticos e humanos e de liberdades políticas.
    No dia 1 de Fevereiro de 2021, num ato que transparece a perpetuação da privação de direitos da população e a constante obstrução da democracia por parte das forças armadas, chamadas de Tatmadaw, o poder do Estado é tomado, sob a liderança do comandante militar Min Aung Hlaing, através de um golpe de estado e é declarado estado de emergência com duração de pelo menos um ano.
    Até o momento do golpe, o país era governado pelo partido NLD (Liga Nacional para a Democracia) e sua líder Suu Kyi. A líder é reconhecida internacionalmente pela sua luta a favor da democracia na República de Mianmar. É também ganhadora do prêmio Nobel da paz em 1991 e a maior figura de liderança da nação. Importante notar que Suu Kyi, apesar de ser considerada líder do governo, não era de fato a presidenta. O cargo era reservado a Win Myint pois a constituição de Mianmar proibia-a de ser presidenta por conta de seus filhos, que são estrangeiros.
    No mesmo dia da intervenção militar, Suu Kyi e o NLD deveriam iniciar seu segundo mandato seguido após vencer o Partido da Solidariedade e Desenvolvimento da União (USPD), partido apoiado pelos militares, em uma eleição democrática. Logo após o golpe, alegando fraude nas eleições, Suu e outros líderes políticos de oposição ao USPD foram presos. Acusações ainda foram feitas contra a líder por conta da posse e uso ilegal de equipamentos de comunicação, walkie-talkies.
    O cenário em Mianmar está caótico. O golpe e a repressão do tatmadaw desencadearam uma reação pesada da parte ativista da população, a favor da democracia. Muitos foram para as ruas reivindicando sua liberdade. Desde o golpe, grandes protestos vêm ocorrendo e estão sendo reprimidos com muita violência pelas forças armadas. Do dia 1 de Fevereiro até hoje (3 de maio), mais de 750 civis foram mortos durante protestos, incluindo 50 crianças. Além disso, centenas de pessoas foram feridas e muitos, incluindo famosos, artistas e influenciadores foram presos e detidos arbitrariamente. Cerca de um terço do território de Mianmar está sendo controlado por uma aliança de grupos étnicos rebeldes. Esses grupos vêm travando confrontos com o exército, principalmente em regiões de fronteira, os quais forçaram mais de 24.000 civis a deixar suas aldeias.
    De acordo com Tom Andrews, relator especial para os direitos humanos em Mianmar, em carta dirigida ao general Min Aung Hlaing: “A cessação imediata da violência em Mianmar é um primeiro passo imperativo para resolver uma crise que já custou mais de 750 vidas, incluindo a de crianças, nas mãos das forças de segurança." Andrew também fez pedido ao Tatmadaw de libertação de todos os presos políticos desde o golpe. A Alta comissária da ONU para os Direitos Humanos Michelle Bachelet ao se pronunciar sobre o conflito afirmou que teme que a situação esteja se dirigindo para um conflito generalizado, assim como na Síria devido ao crescente aumento da repressão e de violência pelos militares contra o movimento pró-democracia.
    A ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) realizou no sábado (24) uma cúpula para discussão da crise em Mianmar, em Jacarta, contando com representantes dos 10 Estados membros da ASEAN e também o chefe da junta militar de Mianmar. A discussão envolveu pontos como cessação imediata da violência, diálogo entre as partes e mediação de um enviado da organização regional, porém a junta se recusou a aceitar propostas e a organização não tem poder ou autoridade para impedir as ações de um Estado membro.

REFERÊNCIAS:
Em quase 3 meses de protestos, mortos em Mianmar chegam a 750. Vatican News. 28 de abril de 2021. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2021-04/mianmar-tensao-tres-meses-protestos-contra-golpe-militar.html.
“ONU adverte que Mianmar pode ser a próxima Síria”. G1, https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/04/13/onu-adverte-que-mianmar-pode-ser-a-proxima-siria.ghtml. Acessado 3 de maio de 2021.
“Rebeldes tomam base militar em Mianmar perto da fronteira”. G1, https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/04/27/rebeldes-tomam-base-militar-em-mianmar-perto-da-fronteira.ghtml. Acessado 3 de maio de 2021.
“Myanmar Coup: What Is Happening and Why?” BBC News. 1o de abril de 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/news/world-asia-55902070.
“Aung San Suu Kyi: Myanmar Democracy Icon Who Fell from Grace”. BBC News. 5 de março de 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/news/world-asia-pacific-11685977.
“History Repeated: Another Roadblock to Political Change in Myanmar”. Transnational Institute. 12 de fevereiro de 2021. Disponível em: https://www.tni.org/en/article/history-repeated-another-roadblock-to-political-change-in-myanmar.
“Repressão a protestos contra golpe em Mianmar deixa mortos; regime militar impõe lei marcial na maior cidade do país”. G1. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/03/15/repressao-a-protestos-contra-golpe-em-mianmar-deixa-mortos-regime-militar-impoe-lei-marcial-na-maior-cidade-do-pais.ghtml. Acesso em 3 de maio de 2021.
Goldman, Russell. “Myanmar’s Coup and Violence, Explained”. The New York Times, 24 de abril de 2021. NEW YORK TIMEMS. Disponível em: https://www.nytimes.com/article/myanmar-news-protests-coup.html
Leia Mais ››

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

#ENDSARS - os protestos na Nigéria contra a violência policial

 



No mês de outubro, a Nigéria presenciou uma série de protestos em seu território, pedindo o fim da SARS - Special Anti-Robbery Squad, uma unidade especial da polícia nigeriana para combater roubos e assaltos, como o próprio nome sugere, que existe desde 1992. Os protestos que demandam o fim dessa unidade têm como base múltiplas denúncias: detenções arbitrárias, extorsões e até mesmo assassinatos. A ONG Anistia Internacional, já em 2016, alertava para os métodos brutos que a SARS utilizava como meio de obter informações. Em junho, a organização lançou outro relatório, que continha 82 casos de tortura e execuções extra-judiciais e aconteceram entre janeiro de 2017 e maio de 2020. Em 11 de outubro deste ano, o presidente nigeriano Muhammadu Buhari anunciou a dissolução da SARS, prometendo reformar a unidade. Os membros serão realocados e uma nova legislação para investigar os crimes cometidos será promulgada, de acordo com uma diretiva presidencial.

No entanto, a situação política e econômica da Nigéria fez com que os protestantes continuassem nas ruas. Além disso, a SARS já passou por algumas reformas, com promessas de melhorias, mas para os nigerianos, a unidade policial não se alterou. Por isso, as manifestações pedem a reforma de toda a força policial. A Nigéria, sendo a maior economia da África, ainda depende enormemente da produção de petróleo. No entanto, o país está a beira de enfrentar a pior recessão em 30 anos, com a inflação em 13%. A pandemia, a economia precarizada e o setor petrolífero em crise são combustíveis para as manifestações nas ruas nigerianas. Os protestos que resultaram na paralisação da capital da Nigéria, Abuja, e em sua maior cidade, Lagos, certamente influenciaram na piora da economia, mesmo que em menor escala.

Em 2017, uma campanha no twitter com a #EndSARS fez efeito para que as autoridades policiais aceitassem reorganizar a unidade policial. Em 2020, o movimento voltou com força depois da divulgação de um vídeo em que os policiais da SARS atiraram em um nigeriano no estado de Delta. O movimento novamente tomou as redes sociais, atraindo a atenção de celebridades, como John Boyega, Beyoncé, Kanye West e o fundador do Twitter Jack Dorsey. As manifestações pacíficas foram recebidas com violência pela polícia, e de acordo com a Anistia Internacional, 10 pessoas morreram, além de milhares de feridos. Além dos protestos na própria Nigéria, manifestações por parte de nigerianos aconteceram no Canadá, Alemanha, EUA e Inglaterra, em solidariedade a seus conterrâneos. 

Internacionalize-se conversou com Samuel Glorious Akhabue, um nigeriano de 24 anos que mora em São Paulo. Samuel é jogador de futebol e faz parte do time J. Malucelli. 

Como era o sentimento de estar na rua e ver algo relacionado ao SARS?

Ver ou vivenciar uma situação relacionada à SARS é assustador, é uma situação que não se pode controlar por mais educado que seja a pessoa. Esses oficiais da SARS oprimem e extorquem dinheiro de cidadãos inocentes; imagine ser preso porque você tem um iPhone ou um bom carro. Eles intimidam as pessoas a abrirem seus celulares para que possam acessar aplicativos e conversas no WhatsApp sem mandado de busca e apreensão. Ouvimos e vimos casos em vídeos de oficiais da SARS extorquindo dinheiro de cidadãos inocentes com máquinas POS, às vezes eles os levam ao caixa eletrônico do banco para que a vítima retire dinheiro para eles. Em novembro do ano passado, meu irmão, que mora no estado do Delta de Ughelli, Nigéria, foi pego em uma noite de domingo por oficiais da SARS sem uniforme e com um ônibus sem placa. Eles o seguraram por horas porque ele não poderia dar-lhes dinheiro, até que eles concordaram em receber o depósito de minha mãe em outra cidade próxima na conta de outra pessoa que também o segurou naquela noite, então não pode ser rastreado até eles. Então imagine o nível de corrupção e opressão que o povo da Nigéria está sofrendo diariamente por tantos anos."

 

Quais resultados você acha que as manifestações podem trazer?

O governo é tão corrupto e eles se preocupam menos com o bem-estar dos cidadãos, então a manifestação foi uma demonstração da frustração de todos, especialmente dos jovens, que são caçados por esses oficiais da SARS, que querem viver e não serem mortos e detidos diariamente por este setor da polícia. Basicamente, o movimento #EndSARS começou online por jovens nigerianos antes de se tornar um protesto pacífico em quase todas as cidades em todos os estados da Nigéria. Foi enorme a paz no início, até que a polícia e os militares começaram a usar força como gás lacrimogêneo e canhões de água contra os pacíficos manifestantes e, em seguida, algumas pessoas no governo começaram a contratar bandidos para atrapalhar o protesto pacífico. O único resultado que posso dizer que conseguimos agora será a consciência que nós, os jovens nigerianos, criamos para que a comunidade internacional saiba o que estamos passando, pelo menos organizações como Anistia Internacional e outros organismos agora estão cientes do crime de violação dos direitos humanos do povo da Nigéria pela administração Buhari (atual presidente da Nigéria).

 

O que você acha do engajamento dos famosos na situação da Nigéria?

Esta foi uma das poucas vezes na história da Nigéria em que vimos o famoso e o nigeriano médio marcharem solidariamente lado a lado, sem ninguém ter sido tão elevado, foi uma visão gloriosa e um momento muito compatriota em nossa história, nós teve a famosa caminhada sem guarda-costas na rua de lagos lado a lado com os pobres e médios nigerianos na luta pelo direito e liberdade do povo. Muitas pessoas estavam doando alimentos, água, cuidados médicos, segurança e muito mais para os manifestantes dispostos sem que fossem solicitados a fazê-lo. O protesto #EndSARS foi uma demonstração também de unidade na diversidade.

 

O que você sugere que as pessoas aqui no Brasil façam para ajudar a conscientizar sobre o assunto?

Nós, nigerianos, aqui em São Paulo, já realizamos duas manifestações pacíficas no centro da cidade, conscientizando a comunidade brasileira sobre a luta do nosso povo na Nigéria. No dia 20 de outubro o governo nigeriano enviou o exército para atirar em manifestantes pacíficos na praça de pedágio de Lekki, muitas pessoas foram mortas e muitas outras ficaram feridas com tiros, foi um massacre de nigerianos agitando bandeiras da Nigéria e cantando o hino nacional enquanto era tocado pelos militares da Nigéria que supostamente os protegiam. Chorei sem parar ao vê-lo ao vivo no Instagram. Foi uma visão desumana. Acredito que o governo brasileiro tem laços culturais e econômicos com a Nigéria, eles poderiam ajudar, envolvendo por meio de perguntas o atual governo sobre essas mortes sem sentido e violações dos direitos humanos do governo nigeriano contra seu povo.

            Samuel concedeu ao Internacionalize-se fotos do protesto feito em São Paulo por parte da população nigeriana.




O depoimento de Samuel deixa muito claro que a situação na Nigéria não pode ser ignorada, especialmente pela comunidade internacional. Nas palavras do jovem nigeriano sobre a matéria no nosso blog, "isso ajudará a criar mais consciência para a comunidade internacional em relação à nossa luta". 

 

 

END SARS: Why Nigeria's anti-police brutality protests have gone global. Sky News. 21 out. 2020. Disponível em: https://news.sky.com/story/end-sars-why-nigerias-anti-police-brutality-protests-have-gone-global-12107555.

NIGÉRIA dissolve unidade de elite da polícia acusada de torturas. Mundo ao Minuto. 11 out. 2020. Disponível em: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/1602243/nigeria-dissolve-unidade-de-elite-da-policia-acusada-de-torturas.

AS Nigeria’s SARS protests swell, its economic recovery hangs in the balance. CNBC. 2 nov. 2020. Dusponível em: https://www.cnbc.com/2020/11/02/as-nigerias-sars-protests-swell-its-economic-recovery-hangs-in-the-balance.html.

CENTENAS protestam contra violência policial na Nigéria; polícia dispersa  manifestantes a tiros, diz agência. G1. 20 out 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/10/20/centenas-protestam-contra-violencia-policial-na-nigeria-policia-dispersa-manifestantes-a-tiros-diz-agencia.ghtml.

KANYE West and other stars join global protests over police brutality in Nigeria. CNN. 13 out. 2020. Disponível em: https://edition.cnn.com/2020/10/13/africa/global-end-sars-protests-nigeria-intl/index.html.

TIROS contra manifestantes geram onda de indignação na Nigéria. Deutsche Welle. 21 out. 2020. Disponível em: https://www.dw.com/pt-002/tiros-contra-manifestantes-geram-onda-de-indigna%C3%A7%C3%A3o-na-nig%C3%A9ria/a-55346120.

 

Leia Mais ››

terça-feira, 15 de setembro de 2020

#BoycottMulan

 


        O lançamento do live action do clássico filme Mulan da Disney tem causado grande comoção entre os fãs da animação de 1998, mas também tem deixado outras pessoas curiosas sobre o resultado do remake. A estreia do filme estava marcada para o mês de março deste ano, mas com os acontecimentos advindos da pandemia do novo coronavírus, o evento foi cancelado e o filme foi lançado no começo deste mês, na plataforma de streaming da Disney, a Disney Plus. No Brasil, o filme deve ser disponibilizado ainda este ano. 

Contudo, além das mudanças técnicas e do impacto da pandemia na sétima arte, o lançamento do filme tem chamado atenção em razão do movimento de boicote que tem ganhado espaço nas diferentes redes sociais nos últimos dias. O movimento já havia começado antes mesmo do lançamento do filme, motivado pelo pronunciamento de Liu Yifei, atriz da personagem Mulan. A atriz se manifestou em favor das forças policiais em Hong Kong, quando os protestos no país estavam em seu ápice — devido às mudanças nas políticas de extradição de cidadãos para a China. Na internet, a declaração de Liu Yifei levantou a hashtag MilkTeaAlliance (Aliança do chá com leite), onde ativistas pró Hong Kong e Taiwan, e simpatizantes do movimento defendiam o boicote ao filme, acusando a Disney de se ajoelhar perante Pequim, e Yifei de suportar a violência policial. 

Neste mês, o movimento pelo boicote foi reavivado após a liberação do filme na plataforma de streaming, isso porque nos créditos do filme há agradecimentos a oito autoridades governamentais da região de Xinjiang, no noroeste da China, inclusive à agência responsável pela segurança pública de Turpan, na qual associações de direitos humanos denunciam a existência de campos de reeducação política de uigures. Os uigures são uma minoria muçulmana que vivem na região próxima de Xinjiang, e, segundo a AP News, essa e outras minorias muçulmanas têm sido mantidas trancadas em “campos de reeducação”, onde são expostos à um “programa de assimilação” por parte do governo chinês, em resposta a décadas de resistência ao controle chinês. De acordo com o The Guardian, estima-se que ao menos 1 milhão de pessoas foram detidas nesses campos, onde muitas das mulheres presas foram submetidas a esterilizações e abortos forçados.

As autoridades chinesas defendem os campos como centros de treinamento. Nesse sentido, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Zhao Lijian, recentemente declarou que não há campos de reeducação em Xinjiang, e que “o estabelecimento de centros de educação e treinamento vocacional em Xinjiang é uma tentativa positiva e uma exploração ativa do contraterrorismo preventivo e da desradicalização. (...) Não houve ataques terroristas violentos em Xinjiang por mais de três anos.” (em tradução livre do inglês). Apesar disso, diversas agências de notícia têm divulgado reportagens denunciando as transgressões aos direitos humanos na região, e ainda em 2018 (quando as filmagens para o filme iniciaram), um estudo da ABC já indicava a existência desses campos. Espera-se que a Walt Disney ainda se posicione sobre a questão (ainda que a postura da empresa esteja amparada pela sua política de lucros), mas fica claro que o conhecimento dos campos por parte da companhia é quase que indiscutível, já que a região na qual o filme foi gravado possui diversos desses campos. 

De forma geral, podemos destacar o papel dos ativistas e simpatizantes na divulgação da situação, tendo as hashtags BoycottMulan e MilkTeaAlliance como foco da disseminação dos acontecimentos. Além disso, o movimento tem crescido rapidamente não somente entre os ativistas asiáticos, mas também entre a comunidade das redes sociais, chamando atenção dos espectadores sobre a brutalidade policial em Hong Kong, a encarceração em massa, o desrespeito aos Direitos Humanos na China Continental e a passividade de grandes empresas nessas situações.

 

Referências

Calls to boycott Mulan rise after Disney release. The verge, 07 de setembro de 2020. Disponível em: <https://www.theverge.com/2020/9/7/21426274/mulan-disney-boycott-hong-kong-china-liu-yifei-protests-xinjiang-streaming>.

Disney+ indica que 'Mulan' será lançado no Brasil custando R$ 112,90. Olhar Digital, 17 de agosto de 2020. Disponível em: <https://olhardigital.com.br/cinema-e-streaming/noticia/disney-indica-que-mulan-sera-lancado-no-brasil-custando-r-112-90/105312>.

DOMAN, Mark, et al. China’s frontier of fear. ABC News, 31 de outubro de 2018. Disponível em: <https://www.abc.net.au/news/2018-11-01/satellite-images-expose-chinas-network-of-re-education-camps/10432924?nw=0>.

KUO, Lily. Disney remake of Mulan criticised for filming in Xinjiang. The Guardian, 07 de setembro de 2020. Disponível em: <https://www.theguardian.com/film/2020/sep/07/disney-remake-of-mulan-criticised-for-filming-in-xinjiang>.

Na China, militantes pró-democracia pedem boicote ao filme da Disney 'Mulan'. Entretenimento UOL, 04 de setembro de 2020. Disponível em: <https://entretenimento.uol.com.br/noticias/rfi/2020/09/04/na-china-militantes-pro-democracia-pedem-boicote-ao-filme-da-disney-mulan.htm>.

Produção da Disney, “Mulan” é alvo de boicote por cenas filmadas na China. Isto é, 09 de setembro de 2020. Disponível em: <https://istoe.com.br/campanha-de-boicote-a-mulan-aumenta-por-cenas-filmadas-em-xinjiang/>.


Leia Mais ››

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Opinião: Protestos no Equador








“De ambas as partes tanto del gobierno como los indígenas se les fue de las manos, se han presentado incendios, saqueos, gente a muerto y aún no existe un acuerdo entre ambas partes que presente un tipo de solución, la situación que se está viviendo dentro del país es terrorífica pues la verdad no sentimos seguridad ante toda la violencia que existe”.

- relato de estudante equatoriano

O Equador está vivendo uma crise sem proporções: com a população na rua, protestos, aulas suspensas, estradas fechadas, um verdadeiro caos. A cidade de Quito deixou, dia 08 de outubro, o seu posto de capital, para ceder lugar a Guayaquil, cidade costeira e portuária. Mas o que realmente acontece?

A situação política, como a brasileira, se deu entre a troca de um governo mais voltado à esquerda, de Rafael Correa, para um novo governo muito mais voltado à direita, de Lenin Moreno. Sua presidência é apoiada pelos países latinos: Peru, Argentina, Brasil, Colômbia, El Salvador, Guatemala e Paraguai, que manifestaram firme apoio às suas medidas.

Empresários e bancários equatorianos tinham dívidas que foram silenciadas pelo governo, mais tarde, o mesmo se envolveu num empréstimo com o Fundo Monetário Internacional. O fundo, ao conceder os empréstimos, também orienta medidas a serem tomadas para controle da situação fiscal. À realidade equatoriana, orientou o fim dos subsídios ao petróleo, que mantém seu preço há décadas. Foi a partir do decreto 883, chamado de “pacotaço”, que o Estado se comprometeu com essas medidas, e é esse o decreto que a população pretende reverter.

Por conta da situação crítica, o governo implementou o estado de exceção; essa medida faz ser possível suspender alguns direitos constitucionais, como o direito de ir e vir, resultando no “toque de recolher”, que permite o emprego de militarização para conter as revoltas.

Aqui no Brasil, a última paralisação dos caminhoneiros nos permitiu ver, na prática, as consequências que o aumento do preço do petróleo pode causar: o transporte se relaciona diretamente com todos os preços finais dos produtos e, por isso, tanta mobilização popular. A Confederação das Nacionalidades Indígenas (CONAIE), que nasceu para firmar a luta da população indígena no Equador, contabiliza 6 mil índios envolvidos no conflito e lançou diversas notas orientando a situação, pedindo fim à repressão e reversão das decisões do pacotaço.

O atual presidente entende que os índios do país se envolveram na manifestação denunciando o que veem como um estado de ditadura, sendo levados pela opinião pública que estaria, por sua vez, contaminada com a ideologia de seu antecessor. Na prática, seu governo está em jogo, e a população está pedindo sua saída. Nos últimos dias, Lenin Moreno convidou as lideranças indígenas para conversar.

No twitter, entretanto, o presidente mostrou outro posicionamento. Apesar de mencionar novo projeto de lei a ser enviado à Assembleia para reduzir salários e cortar férias de funcionários públicos, também propõe, em contrapartida, imposto à grandes empresas, “aquellos que más ganan serán quienes más contribuyan al país. #LaPazSeRecupera”.

Até hoje, de acordo com a Instituição Governamental Defensoria do Povo, 7 pessoas morreram, 1152 foram presas, inclusive policiais e jornalistas, 1340 foram feridas, muitas vítimas de violência desmedida. A população também está respondendo de forma incisiva.

Lenin Moreno afirmava que não voltaria atrás com suas decisões, apesar disso, na noite do último domingo, o presidente concordou com a revogação do decreto, que será substituído por novo escrito pela CONAIE com mediação das Nações Unidas e da Conferência Episcopal do Equador. Com essa nova perspectiva e atitude do governo, se espera restabelecer a tranquilidade.

“Una solución para la paz: el Gobierno sustituirá el decreto 883 por uno nuevo que contenga mecanismos para focalizar los recursos en quienes más los necesitan.”  - postou Moreno nas suas redes sociais.


* O texto acima reflete a opinião de sua autora - e não necessariamente condiz com a opinião do UNICURITIBA. 
Leia Mais ››

terça-feira, 12 de abril de 2016

Redes e Poder no Sistema Internacional: Protestos globais em rede e a internacionalização de uma ideia


A seção Redes e Poder no Sistema Internacional é produzida por integrantes do Grupo de Pesquisa “Redes e Poder no Sistema Internacional”, que desenvolve no ano de 2016 o projeto “Controle, governamentalidade e conflitos em novas territorialidades” no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca promover o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a inter-relação entre redes e poder no SI. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.

Protestos globais em rede e a internacionalização de uma ideia

Gustavo Queiroz*

Em 17 de dezembro de 2010, o vendedor ambulante de frutas Mouhamed Bouazizi colocou fogo no próprio corpo em protesto, cansado de ter que pagar propina a autoridades do governo tunisiano que frequentemente confiscavam suas mercadorias. Um vídeo de sua autoimolação foi postado no Youtube minutos depois. No dia seguinte, 5 mil pessoas compareceram ao seu enterro. Em um mês, milhares tomaram as ruas de Túnis em protesto contra o regime político vigente, alterando o lema religioso “O islã é a solução” pelo grito “A Tunísia é a solução”.
A revolta iniciada no país deu margem à eclosão de protestos no mundo árabe, identificados como Primavera Árabe (JOFFÉ, 2011) – em especial Líbia, Síria, Iêmen e Egito. As manifestações foram também à Europa, através de ocupações e greves gerais na Islândia, Espanha, Turquia, Ucrânia, Rússia e Inglaterra. Eclodiu no Chile, no Brasil e no México (CARNEIRO, 2012). Ainda os Estados Unidos foram diretamente influenciados pela Revolução Tunisiana e, em especial, pela ocupação da praça Tahrir, no Egito.
Entretanto, como as Relações Internacionais conseguem explicar a coincidência temporal destes protestos? Se os gritos individuais entoavam virtudes e valores próprios de cada país, o que faz destes movimentos mundiais? Como explicar que em julho de 2013, no momento em que brasileiros invadem as ruas de São Paulo, dois perfis turcos estiveram entre os dez mais influentes e ativos nos protestos via Twitter (Direm Gezi Parki e Recep Tayyip Erdoğam)?

Lutas locais, mas globais em sua natureza: o virtual e o urbano em espaços de autonomia

Segundo David Harvey (2012), isto ocorre em razão do fato de estas lutas serem locais, mas também globais em sua natureza. O compartilhamento de significados pela troca de informações – característica do processo de comunicação através das redes digitais – promoveu a construção conjunta de sentidos manifestados em sociedades culturalmente distintas (CASTELLS, 2012). É disseminando informações através das “redes autônomas de comunicação” que os atores influenciam os mecanismos de construção do poder e elaboram projetos pessoais através do compartilhamento de experiências. Isto significa que, ainda que em cada país os movimentos de protesto tenham assumido uma pauta específica, o ativismo nas redes promoveu uma sinergia de discursos, levando para as ruas a voz das redes sociais.
O fato é que as redes ampliam a área de intervenção territorial, o que faz dos movimentos, híbridos (CASTELLS, 2012). Esta cultura digital, liga o espaço virtual ao urbano por meio da comunicação. Para Manuel Castells (2012), os ocupantes usavam o espaço autônomo dos fluxos nas redes da internet para tornar simbólico o espaço dos lugares. Isto pois os ativistas digitais possuem autonomia, característica que importam ao espaço ocupado na rua. Esta é a nova roupagem dos movimentos sociais internacionais contemporâneos (RODRIGUES, 2013): “o espaço da autonomia é a nova forma espacial dos movimentos sociais em rede” (CASTELLS, 2012, p. 165).

A consciência coletiva como ferramenta intangível nas Relações Internacionais: sociedades distintas, discursos comuns
     De acordo com Rogério Haesbaert (2007, p. 32), as territorializações (a exemplo das ocupações de rua) manifestadas a partir da presença de redes podem se assumir em “territórios-rede multifuncionais, multi-gestionários e multi-identitários”. Segundo Doreen Massey (2000[1991], p. 184) a existência de diversas identidades compartilhadas em um território, permite um sentido extrovertido de lugar, “que inclui uma consciência de suas ligações com o mundo mais amplo, que integra de forma positiva o global e o local”.
É nessa relação em que as redes internacionais informais de comunicação promovem manifestações territoriais radicais: as ocupações. É o que Henrique Carneiro (2012, p.7) chama de “uma eclosão simultânea e contagiosa de movimentos sociais de protestos com reivindicações peculiares em cada região, mas com formas de luta muito assemelhadas e consciência de solidariedade mútua”. Estes manifestantes se reconhecem pois compartilham uma consciência coletiva que não nega identidades individuais, mas que produzem símbolos comuns.
Deste modo, discursos e ações se aproximaram em todo o mundo. O slogan americano “Occupy all streets” (“Ocupe todas as ruas”, uma brincadeira com o lema anterior, “Occupy Wall Street” e que fazia referência ao centro financeiro de Nova York) era próximo do brasileiro “Vem pra rua”. Wall Street era a materialização de um signo que tratava da “ganância coorporativa”; ao mesmo tempo, no caso brasileiro em 2013, foi a “FIFA” assumiu este papel. Estas manifestações discursivas promovidas pelas redes aconteceram em todo o mundo. A exemplo dos cartazes dispostos na língua inglesa em países não falantes do idioma: a esperança era a de mandar uma mensagem não apenas para os nacionais, mas para o globo.
            A potência das redes permitiu ainda a criação de um movimento mundial intitulado “Unidos Pela Mudança Global”. Nos Estados Unidos, os acampamentos traziam nomes que remetiam aos protestos egípcio e espanhol. As cidades ao redor do mundo que acompanharam e promoveram o Occupy em lugares que nem mesmo existia uma rua chamada Wall Street é outro exemplo desta relação. O sujeito se percebe presente em uma realidade que extrapola seus limites nacionais (ZIZEK, 2012), ainda que manifeste em seu grito o nome do próprio país e demandas locais. É este sentimento que faz o manifestante manifestar pelo mundo, não somente pelo seu país.

A internacionalização de uma ideia
Estas “falas” são fruto do que Vladimir Safatle (2012, p. 45) chama de “internacionalização de uma ideia”. Por isso os espanhóis “indignados” que acamparam em Madri em 2011 cantavam “vamos fazer como em Tahrir”; os brasileiros diziam que “Acabou a mordomia, o Rio vai virar outra Turquia” (GUTIERREZ, 2014) e a hashtag #TomaLaCalle, dos espanhóis foi reutilizada no Peru, dois anos depois.
Nas palavras de Castells (2012, p. 11), “[n]inguém esperava. Num mundo turvado por aflição econômica, cinismo político, vazio cultural e desesperança pessoal, aquilo apenas aconteceu”. Assim, estes espaços ocupados, aliados ao uso das redes sociais (entendidos como espaços de autonomia), produziram movimentos híbridos que se afirmavam em si mesmos. As redes possuem importante papel na disseminação informal de informação. Manifestam-se, aqui, novos recursos disponíveis aos atores das Relações Internacionais. A potência latente das redes digitais é ferramenta de empoderamento à população, que pode promover encontro, conhecimento, acesso e também securitização. Por fim, as redes possuem importante papel na promoção da transformação social.

REFERÊNCIAS
ALVES, Giovanni. Ocupar Wall Street... e depois? In JINKINGS, Ivana (coord.). Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2012.
CARNEIRO, Henrique. Apresentação – Rebeliões e ocupações de 2011. In JINKINGS, Ivana (coord.). Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2012.
CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança. Movimentos sociais na era da internet. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
______.. The Rise of the Network Society. 2. ed. Chichester: Wiley-Blackwell, 2010. Disponível em: <https://deterritorialinvestigations.files.wordpress.com/2015/03/manuel_castells_the_rise_of_the_network_societybookfi-org.pdf>. Acesso em: 04 de março de 2016.
GRAHAN-FELSEN, Sam. Is Occupy Wall Street the Tumblr Revolution? The Daily Good, 2011. Disponível em <http://magazine.good.is/articles/is-occupy-wall-street-the-tumblr-revolution>. Acesso em: 04 de março de 2016.
GUTIÉRREZ, Bernardo. As revoltas em rede como uma nova arquitetura do protesto. Alegrar, Rio de Janeiro, n.12, 2013. Disponível em: <http://www.alegrar.com.br/revista12/pdf/as_revoltas_em_rede_gutierrez_alegrar12.pdf>. Acesso em: 03 de março de 2016.
HAESBAERT, Rogério. Território e multiterritorialidade: um debate. GEOgraphia, Rio de Janeiro, v. 9, n. 17, 2007.
HARVEY, David. Os rebeldes na rua: o Partido de Wall Street encontra sua nêmesis. Traduzido por João Alexandre Peschanski. In JINKINGS, Ivana (coord.). Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2012.
JOFFE, George. A Primavera Árabe no Norte de África: origens e perspectivas de futuro. Relações Internacionais,  Lisboa ,  n. 30, jun.  2011 .   Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-91992011000200006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em  05 de março de 2016.
MALINI, Fábio. A Batalha do Vinagre: por que o #protestoSP não teve uma, mas muitas hashtags. Labic, 2013. Disponível em: <http://www.labic.net/cartografia/a-batalha-do-vinagre-por-que-o-protestosp-nao-teve-uma-mas-muitas-hashtags/>. Acesso em: 04 de março de 2016.
MASSEY, Doreen. Um sentido global de lugar. In ARANTES, Antônio (org.). O espaço da diferença. Campinas: Papirus Editora, 2000.
MAZZOTTE, Natália; NASCIMENTO, Liliane; BRUNO, Fernanda. #ProtestosRJ: Atores menores fazem a rede. MediaLab UFRJ, 2013. Disponível em: <https://medialabufrj.wordpress.com/category/cartografias/>. Acesso em: 04 de março de 2016.
ON MARKETING. O papel das redes sociais como fio condutor das manifestações no Brasil. On Marketing Digital, 18 jun. 2013. Disponível em: <http://www.onmarketing.digital/noticias/o-papel-das-redes-sociais-como-fio-condutor-das-manifestacoes-no-brasil/>. Acesso em 02 de março de 2016.
PERUZZO, Cicilia. Movimentos sociais, redes virtuais e mídia alternativa no junho em que “o gigante acordou”(?). Matrizes. São Paulo, ano 7, n. 2, 2013. Disponível em: <http://www.matrizes.usp.br/index.php/matrizes/article/viewFile/487/pdf>. Acesso em: 02 de março de 2016.
RAFFESTIN, Claude. O que é o território? In. ______. Por uma Geografia do Poder. 1 ed. São Paulo: Ática, 1993.
RODRIGUES, Adriana. Redes Sociais e manifestações: mediação e reconfiguração na esfera pública. In SOUSA, Cidoval; SOUZA, Arão (org.). Jornadas de Junho: Repercussões e leituras. Campina Grande: eduepb, 2013.
SAFATLE, Vladimir. Amar uma ideia. In JINKINGS, Ivana (coord.). Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2012.
SAKAMOTO, Leonardo. Em São Paulo, o Facebook e o Twitter foram às ruas. In MARICATO, Ermínia ... [et al.]. Cidades Rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013.
ŽIŽEK, Slavoj. O violento silêncio de um novo começo. In JINKINGS, Ivana (coord.). Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2012. 

* Gustavo Queiroz é Bacharel em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), Graduando em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), e atualmente cursa a Pós-Graduação em Gestão de Política, Programas e Projetos Sociais pela Pontifícia Univerisdade Católica do Paraná (PUC-PR).
Leia Mais ››