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terça-feira, 1 de setembro de 2020

Redação Internacional: o Brasil nas manchetes do mundo da semana de 23/08 a 30/08

                                           

Por Fernando Yazbek

        Talvez nem nas olimpíadas do Rio, em 2016, os fluminenses foram tão noticiados na mídia internacional quanto nesta última semana. As manchetes esportivas, no entanto, deram lugar aos cadernos policiais. O estado se aproxima das 16 mil mortes pela pandemia do novo coronavírus imerso numa crise política que parece não cessar. Do ano de 1987 para hoje, apenas os governadores Leonel Brizola (PDT) e Benedita da Silva (PT) não foram afastados do Palácio Guanabara. Só nos últimos quatro anos, 6 governadores foram presos ou descontinuados no Rio de Janeiro. 

            Apartado do governo por 180 dias pela decisão do Superior Tribunal de Justiça, Wilson Witzel (PSC) é tratado no Clarín da Argentina como um “ex-juiz ultradireitista” eleito governador na onda do bolsonarismo em 2018. Helena Witzel, primeira dama do estado, foi denunciada por “levar adiante as fraudes em serviços médicos” através de seu escritório de advocacia. Foram pesas outras 17 pessoas, ressaltou o argentino.

Em Washington, o governador Witzel é tido como o “topo da pirâmide” no caso de corrupção pelo Post. O jornal ainda classifica a gestão carioca frente à pandemia como “desastrosa e caótica”, onde integrantes do governo se valeram do surto da covid-19 para “encher os próprios bolsos”.


Também foi preso o Pastor Everaldo Pereira, presidente do partido de Witzel e ex-presidenciável em 2014. O Diário de Notícias português frisou que a operação Tris in Idem, um desdobramento da Lava-Jato, chegou ao religioso que batizou o presidente Jair Bolsonaro pela delação premiada do ex-secretário de saúde do RJ, Edmar Santos, anteriormente preso por corrupção. Everaldo também foi candidato ao Senado e é um dos líderes da Assembleia de Deus, maior igreja evangélica do país. O Partido Social Cristão, presidido por Everaldo, foi onde todos os filhos de Bolsonaro militaram nos últimos anos, sublinha o Diário. O pastor está envolvido no grande esquema de fraudes nas áreas de educação e de saúde no governo do Rio. 


O Pastor Everaldo dividiu as notícias com a correligionária Flordelis (PSD). A deputada federal – também pelo Rio de Janeiro – é acusada de ser a mandante do assassinato “bárbaro” do marido, diz o The Guardian. A matéria elenca as seis vezes em que a cantora gospel tentou matar Anderson do Carmo envenenado antes de ser finalmente morto a tiros em junho de 2019. Com detalhes do crime e do funcionamento da família na política e na religião, o jornal menciona “bizarrices”, “fraudes”, “privilégios” e relações “sinistras”. Guardian ainda repercute “alegações sensacionalistas” vinculadas na mídia brasileira de que a deputada evangélica frequentava clubes de sexo grupal, embora fora eleita na luta “pela família e por Deus” com quase 200 mil votos. 


       Posteriormente, o jornal inglês se aprofundou no organograma familiar de Flordelis. Antes de se casar e mandar matar Anderson, a deputada o adotou como filho em 1991 quando ela tinha 30 anos e ele 14. Em 1998, Anderson e Flordelis se casaram depois de Anderson ter se envolvido com outra filha adotiva da congressista. O The Guardian sublinha que, “dada a avalanche de evidências contra Flordelis”, até deputados evangélicos pedem a cassação do mandato da investigada, que já tem contra si um processo de expulsão do partido.

       O Jornal de Angola destaca que o presidente Jair Bolsonaro está envolvido em “nova polêmica depois de ter pegado no colo um adulto anão julgando que se tratava de uma criança”. A mídia em Luanda replica a ameaça do presidente a um repórter da Rede Globo que o questionava sobre os repasses de Fabrício Queiroz, “amigo da família”, para as contas da primeira-dama Michele Bolsonaro. 

            Em Londres, as bravatas do presidente são tidas como um “tiro que saiu pela culatra”. Bolsonaro enfrenta, para o The Guardian, uma “severa enxurrada de mensagens negativas” nas redes sociais. Jornalistas, celebridades e cidadãos comuns “flodaram” os canais presidenciais perguntando dos depósitos de quase 100 mil reais do ex-assessor Queiroz para os fundos da família. Um especialista em mídias sociais ouvido pelo jornal afirmou que o presidente sofreu um “contra-ataque” de mais de 3 mil publicações por minuto que perguntavam pelo repórter ameaçado.


O caso também repercutiu em Nova Iorque, onde o Times chamou os suspeitos depósitos de Fabrício Queiroz para Flávio e Michele Bolsonaro de “negócio de família”. Para o nova-iorquino, “a maior economia do hemisfério sul” que passou recentemente por uma “crusada anticorrupção” hoje tem postas em xeque as credibilidades e independências das instituições de justiça sob Bolsonaro. A reportagem perpassa pelas supostas interferências políticas na Polícia Federal do Rio de Janeiro, nas mudanças de comando no Ministério da Justiça e nas promessas presidenciais de ideologizar a Suprema Corte brasileira. 


       Uma semana depois de a China ter detectado coronavírus em frangos importados do Brasil, o jornal oficial Xinhua noticiou que mais de 11 mil brasileiros trabalhadores de frigoríferos foram infectados pela covid-19. Utilizando-se de dados do Ministério Público do Trabalho, a mídia estatal chinesa repercute que 104 frigoríferos no sul do Brasil tiveram funcionários contagiados. Apesar disto, o diretor executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal afirmou que o setor não pode ser demonizado e que tem tomado todas as medidas sanitárias para garantir a segurança alimentar. 

      Quando aparece nas manchetes dos principais jornais do mundo, o Brasil figura como um pária. Nem o nome de Deus escapa. São tantas maledicências que é difícil contar se há mais más notícias ou mais mortes pelo coronavírus em um só dia. E contando...

 

 

 

Referências:

ANDREONI, Manuela. ‘A Family Business:’ Graft Investigation Threatens Brazil’s Bolsonaro. The New York Times. Rio de Janeiro. 28 ago. 2020. Disponível em <<https://www.nytimes.com/2020/08/28/world/americas/brazil-bosonaro-corruption.html>>

CORRUPCIÓN en Brasil. La Justicia suspende al gobernador de Rio de Janeiro por hacer negocios com el coronavírus. Clarín. 28 ago. 2020. Disponível em <https://www.clarin.com/mundo/justicia-suspende-gobernador-rio-janeiro-hacer-negocios-coronavirus_0_BM-RcSfGy.html>

JAIR Bolsonaro acata jornalista da Globo. Jornal de Angola. Luanda, 25 ago. 2020. Disponível em <<http://jornaldeangola.sapo.ao/mundo/jair-bolsonaro-ataca-jornalista-da-globo>> 

MAIS de 11 mil trabalhadores de frigoríficos se contagiaram pela COVID-19 no Brasil. XINHUA. São Paulo, 24 ago. 2020. Disponível em << http://portuguese.xinhuanet.com/2020-08/25/c_139316730.htm>> 

MCCOY, Terrence. Rio’s governor suspended amid widening corruption probe involving Brazil’s pandemic response. The Washington Post. Rio de Janeiro, 28 ago. 2020. Disponível em <https://www.washingtonpost.com/world/americas/?itid=nb_hp_world_americas>

MOREIRA, João A. Pastor que batizou Bolsonaro é preso na Lava-Jato. Diário de Notícias. São Paulo, 28 ago. 2020. Disponível em <https://www.dn.pt/mundo/pastor-que-batizou-bolsonaro-e-preso-na-lava-jato-12561313.html>

PHILLIPS, Tom. Bolsonaro attempt to shut down debate over mistery payments backfires. The Guardian. 24 ago. 2020. Disponível em << https://www.theguardian.com/world/2020/aug/24/jair-bolsonaro-threat-journalist-backfires-social-media>>

______. Brazilian evangelical politican accused of masterminding husband’s ‘barbaric’ murder. The Guardian. 24 ago. 2020. Disponível em <https://www.theguardian.com/world/2020/aug/24/flordelis-case-brazil-evangelical-preacher-politician-accusations>

______. Gospel-singing Brazilian politician may be expelled from congress to face murder charges. The Guardian. 26 ago. 2020. Disponível em << https://www.theguardian.com/world/2020/aug/26/brazil-flordelis-dos-santos-de-souza-calls-congress-husband-murder-charges>>



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segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Acontece no UNICURITIBA: I Congresso RIMA - Relações Internacionais no Mundo Atual







Os dias 22, 23 e 24 de outubro acolheram o primeiro congresso do curso de Relações Internacionais, no UNICURITIBA. O RIMA - Relações Internacionais no Mundo Atual - foi idealizado por Gustavo Blum, egresso e professor da casa. Durante três dias, aconteceram palestras no período da manhã e da noite; à tarde, filmografias, grupos de trabalhos e oficinas, todos relacionados ao tema do congresso: (Geo)políticas da circulação e da contenção.
A instituição recebeu diversos palestrantes de várias instituições brasileiras de ensino, como o Professor Rogério Haesbaert, da Universidade Federal Fluminense, que palestrou sobre “Muros fronteiriços como dispositivo geográficos de segurança e contenção territorial”; a Professora Andréa Doré, da UFPR, no tema “A dominação cercada portuguesa nos tempos da primeira globalização”; da Unicamp, recebemos a Professora Claudete Vitte, que falou sobre a infraestrutura produtiva sul-americana; “A segurança no Atlântico Sul” ficou por conta do Professor Danilo Marcondes, da PUC do Rio de Janeiro; o Professor Ramón Blanco, da UNILA, palestrou sobre “A construção da paz no cenário internacional: da contenção da periferia à normalização dos anormais”; a última palestra do congresso foi da Professora Carolina Moulin Aguiar, da PUC-Rio: “Vidas logísticas, fronteiras humanitárias: gerenciando populações no contexto das circulações Sul-Sul”.
O professor Gustavo, que projetou o evento, contou que o tema do Congresso veio antes da ideia do mesmo. Escutando um Podcast sobre os 100 anos do fim da Primeira Guerra Mundial, o pesquisador começou a pensar em eventos que a faculdade pudesse promover em relação ao curso. Então, lembrou que em 2019 completaria 30 anos de idade - curiosamente, a mesma idade do time de futebol Paraná Clube. “[...] embora a fundação do Paraná seja um grande evento da política mundial (rsrs), isso me fez lembrar dos trinta anos da queda do Muro de Berlim, esse evento que nos é tão importante nas Relações Internacionais. [...]”. A partir disso, a temática muros, políticas de contenção e de circulação forçada - que podem envolver muros de Lima, no Peru, que separam a parte rica da parte pobre da cidade, quanto o muro que Donald Trump quer construir na fronteira dos EUA com o México - foi decidida como a discussão principal do Congresso. Além disso, o que motivou o professor a organizá-lo foi o fato de que havia recursos humanos e acadêmicos para a realização do projeto. Portanto, porque não colocar o RIMA na rota nacional de eventos acadêmicos sobre Relações Internacionais?
Mesmo com todas as dificuldades em organizar um evento científico desse porte, como se preocupar com todos os outros participantes (os alunos, professores da casa, grupos de pesquisa e as pessoas que vieram de fora), Gustavo acredita que contribuir com a formação crítica de um conhecimento aprofundado das práticas das Relações Internacionais foi uma das melhores partes desse evento. Uma das muitas lições que o professor tirou do evento foi que o curso de Relações Internacionais pode se tornar um centro de referência no ensino e pesquisa do tema, faltando apenas uma iniciativa de engajamento, sendo o RIMA uma essencial contribuição para que isso ocorra.
O RIMA também objetivava debater a parte prática das Relações Internacionais. Nas palavras de Gustavo, “Falar em prática das RIs não quer dizer falar em profissionalização, que é um debate que tem ocorrido recentemente: não é sobre técnicas que o profissional de RI pode usar para a sua prática cotidiana. [...] queríamos trazer casos e fatos em que as RIs se traduziam em uma realidade vivida pelas pessoas [...]”. Além disso, é de extrema relevância aumentar a visibilidade do tema dentro das RIs.

            Alunos de diversos períodos do curso de Relações Internacionais participaram do staff do evento, para auxiliar na sua organização. Marina Nascimento, do primeiro período, nos disse que participar dessa parte do Congresso foi incrível e que aprendeu muito com o evento. A comunicação e capacidade de trabalhar em equipe, importantes fatores em qualquer área da vida, foram trabalhadas ao longo do evento. “Posso usar como exemplo uma das oficinas que participei, chamada “Peacekeeping Operation”, onde tive a oportunidade única de conversar com uma brasileira que trabalha para a ONU na República Centro-Africana”, conta a acadêmica.
            Tiago Viesba, do oitavo período, que participa do grupo de pesquisa do professor Gustavo - Redes e Poder no Sistema Internacional -, também fez parte da equipe que fez o RIMA acontecer. Para Tiago, a sincronia com a qual todos os professores e alunos envolvidos trabalharam foi essencial para a realização desse evento tão importante. “Nós com certeza fomos levados a ir além da sala de aula e dar nosso melhor com uma oportunidade acadêmica, que começa com uma ideia e termina no Congresso RIMA”.
            O evento, tão esperado pelos alunos e professores, foi uma experiência ótima para adquirir conhecimento e mostrar que o curso de Relações Internacionais e seus professores são essenciais para preparar os alunos para a pesquisa e o debate. O Internacionalize-se espera escrever muitas matérias sobre os próximos Congresso do nosso curso!
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sexta-feira, 17 de maio de 2019

Acontece no UNICURITIBA: I Congresso Relações Internacionais no Mundo Atual será em outubro, inscreva-se!





No ano de 2017, o jornal Folha de São Paulo produziu uma reportagem complexa, com o título “Um mundo de muros”. Num esforço interessantíssimo de fotojornalismo e investigação, os jornalistas envolvidos buscaram compreender e mostrar a realidade de sete muros diferentes, que demonstrariam algumas realidades atuais envolvendo muros e fronteiras. A reportagem aborda muros internacionais (como aqueles entre Israel e a Palestina – também conhecido internacionalmente como o Muro da Vergonha – e entre Sérvia e Hungria) e muros internos, feitos para corresponder às demandas de grupos dominantes dentre de países, como no Peru e no Brasil.

Premiada, a série demonstra uma realidade do nosso mundo, tanto na escala das relações entre os países quanto no nosso cotidiano. Segundo a pesquisadora Elisabeth Vallet, diretora dos estudos geopolíticos da Cadeira Raoul-Dandurand da Universidade do Québec e especialista em muros, existem hoje 77 muros em 45 países diferentes. Estes muros, em construção ou que estão sendo planejados, somam-se a diversas estratégias de contenção do movimento, e ordenamento da circulação.

Trinta anos atrás, um dos principais símbolos deste esforço de tentar conter a circulação foi derrubado. Inicialmente, pelo relato do jornalista estadunidense Tom Brokaw, o anúncio foi muito parecido com aquele que, discretamente, anunciou o fim do papado oficial de Bento XVI: através da leitura de um documento oficial produzido pelo alto escalão do governo da Alemanha Oriental, todo cheio de informações e ilações que criaram uma quebra profunda. De acordo com Brokaw,

“[O porta-voz do governo da Alemanha Oriental] Falou, falou e falou e, no fim, ao fim de sua participação, puxou um papel que o politburo [o alto escalão do governo comunista do país] preparou logo antes da coletiva de imprensa. Casualmente, ele começou a ler uma nova diretiva: cidadãos da [RDA, a República Democrática da Alemanha] poderiam solicitar um visto na manhã seguinte para deixar a Alemanha Oriental por quaisquer saídas existentes no Muro de Berlim
.
Os jornalistas reunidos ficaram boquiabertos. Minha equipe de câmera, que eram os alemães Joe Oexle e Heinrich Walling, que viveu sua vida adulta inteira em uma Alemanha dividida, me olharam como se uma força alienígena tivesse entrado na sala.”

O efeito imediato desta situação já é bem conhecida: milhares e milhares de alemães reuniram-se ao longo daquela estrutura de divisão e ruptura que marcou as décadas anteriores, e simbolizou uma divisão muito maior – aquela da Guerra Fria. As imagens da derrubada do Muro de Berlim anunciaram a chegada de uma nova era, e a promessa de que “a liberdade leva à prosperidade. A liberdade toma o lugar de antigos ódios entre as nações por meio da cortesia e da paz. A liberdade é a vitoriosa”, nas palavras do então presidente estadunidense Ronald Reagan que, dois anos antes, instou o líder soviético Mikhail Gorbachev a “derrubar este muro!”.

Trinta anos – e 77 muros – depois, o que se verificar é uma multiplicação das formas de tentar conter os movimentos no espaço. A Nova Ordem Mundial não trouxe as proclamadas liberdades de livre circulação das pessoas, ainda que tenha promovido aquela do capital. Ideais de cosmopolitanismo e de harmonia na convivência das populações por meio da tão-afamada “Aldeia Global” se chocam, na atualidade, com os refugiados da guerra e das Mudanças Climáticas, que recebem acolhidas pouco amistosas nos países em que chegam. Processos de securitização acabam por controlar a forma de circular de alguns grupos sociais, mesmo das elites – como os tapumes na Linha Amarela e na Linha Vermelha demonstram, na cidade do Rio de Janeiro. Percebe-se que, se o Muro proposto por Donald Trump nos Estados Unidos se refere à presença e participação política de um país no Sistema Internacional, nossas vidas diárias também são afetadas pelas divisões e contenções da circulação no Mundo Atual.

Por isso, entre os dias 22, 23 e 24 de Outubro de 2019, o Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA) promove o I Congresso Relações Internacionais no Mundo Atual (RIMA 2019). Dedicando-se ao debate das (geo)políticas da contenção e da circulação, o Congresso RIMA deste ano buscará debater as principais formas e práticas de contenção e circulação nos territórios na atualidade, e seus impactos na política mundial. Não deixe de conferir as informações sobre este evento no nosso site oficial, e participe você também deste debate!
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