No ano de 2017, o jornal Folha de São Paulo produziu uma
reportagem complexa, com o título “Um
mundo de muros”. Num esforço interessantíssimo de
fotojornalismo e investigação, os jornalistas envolvidos buscaram compreender e
mostrar a realidade de sete muros diferentes, que demonstrariam algumas
realidades atuais envolvendo muros e fronteiras. A reportagem aborda muros
internacionais (como aqueles entre Israel e a Palestina – também conhecido
internacionalmente como o Muro da
Vergonha – e entre Sérvia e Hungria) e muros internos, feitos para
corresponder às demandas de grupos dominantes dentre de países, como no Peru e
no Brasil.
Premiada, a série demonstra
uma realidade do nosso mundo, tanto na escala das relações entre os países
quanto no nosso cotidiano. Segundo a pesquisadora Elisabeth Vallet, diretora
dos estudos geopolíticos da Cadeira Raoul-Dandurand da Universidade do Québec e
especialista em muros, existem
hoje 77 muros em 45 países diferentes. Estes muros, em construção
ou que estão sendo planejados, somam-se a diversas estratégias de contenção do
movimento, e ordenamento da circulação.
Trinta anos atrás, um dos
principais símbolos deste esforço de tentar conter a circulação foi derrubado.
Inicialmente, pelo relato do jornalista estadunidense Tom Brokaw, o anúncio foi
muito parecido com aquele que, discretamente, anunciou
o fim do papado oficial de Bento XVI: através da leitura de um documento
oficial produzido pelo alto escalão do governo da Alemanha Oriental, todo cheio
de informações e ilações que criaram uma quebra profunda. De acordo com Brokaw,
“[O porta-voz do governo da Alemanha Oriental] Falou, falou
e falou e, no fim, ao fim de sua participação, puxou um papel que o politburo [o alto
escalão do governo comunista do país] preparou logo antes da coletiva de
imprensa. Casualmente, ele começou a ler uma nova diretiva: cidadãos da [RDA, a
República Democrática da Alemanha] poderiam solicitar um visto na manhã
seguinte para deixar a Alemanha Oriental por quaisquer saídas existentes no
Muro de Berlim
.
Os jornalistas reunidos ficaram boquiabertos. Minha equipe
de câmera, que eram os alemães Joe Oexle e Heinrich Walling, que viveu sua vida
adulta inteira em uma Alemanha dividida, me olharam como se uma força
alienígena tivesse entrado na sala.”
O efeito imediato desta
situação já é bem conhecida: milhares e milhares de alemães reuniram-se ao
longo daquela estrutura de divisão e ruptura que marcou as décadas anteriores,
e simbolizou uma divisão muito maior – aquela da Guerra Fria. As imagens da
derrubada do Muro de Berlim anunciaram a chegada de uma nova era, e a promessa
de que “a liberdade leva à prosperidade. A liberdade toma o lugar de antigos
ódios entre as nações por meio da cortesia e da paz. A liberdade é a
vitoriosa”, nas palavras do então presidente estadunidense
Ronald Reagan que, dois anos antes, instou o líder soviético Mikhail Gorbachev
a “derrubar este muro!”.
Trinta anos – e 77 muros –
depois, o que se verificar é uma multiplicação das formas de tentar conter os
movimentos no espaço. A Nova Ordem Mundial não trouxe as proclamadas liberdades
de livre circulação das pessoas, ainda que tenha promovido aquela do capital.
Ideais de cosmopolitanismo e de harmonia na convivência das populações por meio
da tão-afamada “Aldeia Global” se chocam, na atualidade, com os refugiados da
guerra e das Mudanças Climáticas, que recebem acolhidas pouco amistosas nos
países em que chegam. Processos de securitização acabam por controlar a forma
de circular de alguns grupos sociais, mesmo das elites – como os tapumes na
Linha Amarela e na Linha Vermelha demonstram, na cidade do Rio de Janeiro.
Percebe-se que, se o Muro proposto por Donald Trump nos Estados Unidos se
refere à presença e participação política de um país no Sistema Internacional,
nossas vidas diárias também são afetadas pelas divisões e contenções da
circulação no Mundo Atual.
Por isso, entre os dias 22, 23
e 24 de Outubro de 2019, o Curso de Relações Internacionais do Centro
Universitário Curitiba (UNICURITIBA) promove o I Congresso Relações Internacionais no Mundo Atual (RIMA 2019).
Dedicando-se ao debate das (geo)políticas da contenção e da circulação, o
Congresso RIMA deste ano buscará debater as principais formas e práticas de
contenção e circulação nos territórios na atualidade, e seus impactos na
política mundial. Não deixe de conferir as informações sobre este evento no nosso site oficial, e
participe você também deste debate!
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