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quarta-feira, 11 de novembro de 2020

#ENDSARS - os protestos na Nigéria contra a violência policial

 



No mês de outubro, a Nigéria presenciou uma série de protestos em seu território, pedindo o fim da SARS - Special Anti-Robbery Squad, uma unidade especial da polícia nigeriana para combater roubos e assaltos, como o próprio nome sugere, que existe desde 1992. Os protestos que demandam o fim dessa unidade têm como base múltiplas denúncias: detenções arbitrárias, extorsões e até mesmo assassinatos. A ONG Anistia Internacional, já em 2016, alertava para os métodos brutos que a SARS utilizava como meio de obter informações. Em junho, a organização lançou outro relatório, que continha 82 casos de tortura e execuções extra-judiciais e aconteceram entre janeiro de 2017 e maio de 2020. Em 11 de outubro deste ano, o presidente nigeriano Muhammadu Buhari anunciou a dissolução da SARS, prometendo reformar a unidade. Os membros serão realocados e uma nova legislação para investigar os crimes cometidos será promulgada, de acordo com uma diretiva presidencial.

No entanto, a situação política e econômica da Nigéria fez com que os protestantes continuassem nas ruas. Além disso, a SARS já passou por algumas reformas, com promessas de melhorias, mas para os nigerianos, a unidade policial não se alterou. Por isso, as manifestações pedem a reforma de toda a força policial. A Nigéria, sendo a maior economia da África, ainda depende enormemente da produção de petróleo. No entanto, o país está a beira de enfrentar a pior recessão em 30 anos, com a inflação em 13%. A pandemia, a economia precarizada e o setor petrolífero em crise são combustíveis para as manifestações nas ruas nigerianas. Os protestos que resultaram na paralisação da capital da Nigéria, Abuja, e em sua maior cidade, Lagos, certamente influenciaram na piora da economia, mesmo que em menor escala.

Em 2017, uma campanha no twitter com a #EndSARS fez efeito para que as autoridades policiais aceitassem reorganizar a unidade policial. Em 2020, o movimento voltou com força depois da divulgação de um vídeo em que os policiais da SARS atiraram em um nigeriano no estado de Delta. O movimento novamente tomou as redes sociais, atraindo a atenção de celebridades, como John Boyega, Beyoncé, Kanye West e o fundador do Twitter Jack Dorsey. As manifestações pacíficas foram recebidas com violência pela polícia, e de acordo com a Anistia Internacional, 10 pessoas morreram, além de milhares de feridos. Além dos protestos na própria Nigéria, manifestações por parte de nigerianos aconteceram no Canadá, Alemanha, EUA e Inglaterra, em solidariedade a seus conterrâneos. 

Internacionalize-se conversou com Samuel Glorious Akhabue, um nigeriano de 24 anos que mora em São Paulo. Samuel é jogador de futebol e faz parte do time J. Malucelli. 

Como era o sentimento de estar na rua e ver algo relacionado ao SARS?

Ver ou vivenciar uma situação relacionada à SARS é assustador, é uma situação que não se pode controlar por mais educado que seja a pessoa. Esses oficiais da SARS oprimem e extorquem dinheiro de cidadãos inocentes; imagine ser preso porque você tem um iPhone ou um bom carro. Eles intimidam as pessoas a abrirem seus celulares para que possam acessar aplicativos e conversas no WhatsApp sem mandado de busca e apreensão. Ouvimos e vimos casos em vídeos de oficiais da SARS extorquindo dinheiro de cidadãos inocentes com máquinas POS, às vezes eles os levam ao caixa eletrônico do banco para que a vítima retire dinheiro para eles. Em novembro do ano passado, meu irmão, que mora no estado do Delta de Ughelli, Nigéria, foi pego em uma noite de domingo por oficiais da SARS sem uniforme e com um ônibus sem placa. Eles o seguraram por horas porque ele não poderia dar-lhes dinheiro, até que eles concordaram em receber o depósito de minha mãe em outra cidade próxima na conta de outra pessoa que também o segurou naquela noite, então não pode ser rastreado até eles. Então imagine o nível de corrupção e opressão que o povo da Nigéria está sofrendo diariamente por tantos anos."

 

Quais resultados você acha que as manifestações podem trazer?

O governo é tão corrupto e eles se preocupam menos com o bem-estar dos cidadãos, então a manifestação foi uma demonstração da frustração de todos, especialmente dos jovens, que são caçados por esses oficiais da SARS, que querem viver e não serem mortos e detidos diariamente por este setor da polícia. Basicamente, o movimento #EndSARS começou online por jovens nigerianos antes de se tornar um protesto pacífico em quase todas as cidades em todos os estados da Nigéria. Foi enorme a paz no início, até que a polícia e os militares começaram a usar força como gás lacrimogêneo e canhões de água contra os pacíficos manifestantes e, em seguida, algumas pessoas no governo começaram a contratar bandidos para atrapalhar o protesto pacífico. O único resultado que posso dizer que conseguimos agora será a consciência que nós, os jovens nigerianos, criamos para que a comunidade internacional saiba o que estamos passando, pelo menos organizações como Anistia Internacional e outros organismos agora estão cientes do crime de violação dos direitos humanos do povo da Nigéria pela administração Buhari (atual presidente da Nigéria).

 

O que você acha do engajamento dos famosos na situação da Nigéria?

Esta foi uma das poucas vezes na história da Nigéria em que vimos o famoso e o nigeriano médio marcharem solidariamente lado a lado, sem ninguém ter sido tão elevado, foi uma visão gloriosa e um momento muito compatriota em nossa história, nós teve a famosa caminhada sem guarda-costas na rua de lagos lado a lado com os pobres e médios nigerianos na luta pelo direito e liberdade do povo. Muitas pessoas estavam doando alimentos, água, cuidados médicos, segurança e muito mais para os manifestantes dispostos sem que fossem solicitados a fazê-lo. O protesto #EndSARS foi uma demonstração também de unidade na diversidade.

 

O que você sugere que as pessoas aqui no Brasil façam para ajudar a conscientizar sobre o assunto?

Nós, nigerianos, aqui em São Paulo, já realizamos duas manifestações pacíficas no centro da cidade, conscientizando a comunidade brasileira sobre a luta do nosso povo na Nigéria. No dia 20 de outubro o governo nigeriano enviou o exército para atirar em manifestantes pacíficos na praça de pedágio de Lekki, muitas pessoas foram mortas e muitas outras ficaram feridas com tiros, foi um massacre de nigerianos agitando bandeiras da Nigéria e cantando o hino nacional enquanto era tocado pelos militares da Nigéria que supostamente os protegiam. Chorei sem parar ao vê-lo ao vivo no Instagram. Foi uma visão desumana. Acredito que o governo brasileiro tem laços culturais e econômicos com a Nigéria, eles poderiam ajudar, envolvendo por meio de perguntas o atual governo sobre essas mortes sem sentido e violações dos direitos humanos do governo nigeriano contra seu povo.

            Samuel concedeu ao Internacionalize-se fotos do protesto feito em São Paulo por parte da população nigeriana.




O depoimento de Samuel deixa muito claro que a situação na Nigéria não pode ser ignorada, especialmente pela comunidade internacional. Nas palavras do jovem nigeriano sobre a matéria no nosso blog, "isso ajudará a criar mais consciência para a comunidade internacional em relação à nossa luta". 

 

 

END SARS: Why Nigeria's anti-police brutality protests have gone global. Sky News. 21 out. 2020. Disponível em: https://news.sky.com/story/end-sars-why-nigerias-anti-police-brutality-protests-have-gone-global-12107555.

NIGÉRIA dissolve unidade de elite da polícia acusada de torturas. Mundo ao Minuto. 11 out. 2020. Disponível em: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/1602243/nigeria-dissolve-unidade-de-elite-da-policia-acusada-de-torturas.

AS Nigeria’s SARS protests swell, its economic recovery hangs in the balance. CNBC. 2 nov. 2020. Dusponível em: https://www.cnbc.com/2020/11/02/as-nigerias-sars-protests-swell-its-economic-recovery-hangs-in-the-balance.html.

CENTENAS protestam contra violência policial na Nigéria; polícia dispersa  manifestantes a tiros, diz agência. G1. 20 out 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/10/20/centenas-protestam-contra-violencia-policial-na-nigeria-policia-dispersa-manifestantes-a-tiros-diz-agencia.ghtml.

KANYE West and other stars join global protests over police brutality in Nigeria. CNN. 13 out. 2020. Disponível em: https://edition.cnn.com/2020/10/13/africa/global-end-sars-protests-nigeria-intl/index.html.

TIROS contra manifestantes geram onda de indignação na Nigéria. Deutsche Welle. 21 out. 2020. Disponível em: https://www.dw.com/pt-002/tiros-contra-manifestantes-geram-onda-de-indigna%C3%A7%C3%A3o-na-nig%C3%A9ria/a-55346120.

 

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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Sistema Eleitoral dos EUA: para entender de vez!

 


Por Pedro Henrique Oliveira*

  Durante as apurações dos votos para decidir qual será o próximo presidente norte-americano, notei movimentação nas redes sociais sobre o quão complexo o sistema eleitoral dos Estados Unidos da América pode parecer. Com isso, segue abaixo um guia básico do processo com o qual os norte-americanos escolhem seu presidente e a função do tão falado colégio eleitoral.

 

 

  Diferente da maioria dos países, onde o voto popular escolhe diretamente o presidente, as eleições americanas possuem, entre o voto popular e o novo eleito, o colégio eleitoral. A explicação começa no Congresso, que é formado por duas partes: a Câmara dos Representantes, onde cada estado pode eleger uma quantidade de representantes equivalente à sua população, e o Senado, onde cada estado elege dois senadores. 


  O colégio eleitoral é baseado em como as pessoas são representadas no Congresso. Por exemplo, o Estado da Califórnia, com 39 milhões de habitantes, possui 53 cadeiras na Câmara dos Representantes e combinando com os dois senadores, a Califórnia tem 55 votos eleitorais. O Alaska, por sua vez, possui apenas uma cadeira na Câmara dos Representantes, dando-lhe apenas 3 votos eleitorais. Dessa maneira, quando um americano vota, está, na verdade, escolhendo em quem seu estado votará. Para vencer, um candidato à presidência precisa conquistar a maioria dos votos eleitorais: 270 de 538.    É este sistema que explica a perca de Hillary Clinton nas eleições de 2016, a candidata venceu em votos populares, mas não venceu em estados chaves para garantir a maioria dos votos do Colégio Eleitoral. 

 

  O colégio eleitoral é formado por membros republicanos ou democratas. Em um estado, se o candidato à presidência ganhar em votos populares, ele recebe todos os votos do colégio independente da formação partidária. Por exemplo, este ano, Joe Biden venceu na Califórnia em votos populares, desta maneira, todos os delegados entregam seus votos ao candidato democrata, mesmo se houver republicanos na formação. Mas Biden, com certeza, não estava preocupado com os resultados na Califórnia, estado com histórico que mostra favoritismo por candidatos democratas. E nem Donald Trump pensou em intensificar sua campanha no Estado de Wyoming, considerado um “Red State”, que costuma eleger candidatos republicanos. Os estados determinantes e onde as campanhas realmente tomam força são os “Swing States”.


  Swing State, ou estado pendular, é o termo utilizado para o estado em que nenhum candidato, republicano e democrata, pode garantir sua vitória, ou seja, não possui a maioria das intenções de voto. Um estado pendular geralmente não tem um padrão de vitórias nas eleições passadas que beneficia regularmente mais o partido republicano ou o democrata, o histórico mostra uma instabilidade na escolha de partido. Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton não fez um único evento de campanha na Califórnia, e Donald Trump visitou o Texas somente uma vez, mas ambos os candidatos fizeram mais de 30 eventos de campanha na Flórida, que foi um “Swing State”, ou seja, estado decisivo no resultado da eleição do presidente. Este ano, os estados de concentração de campanhas são Arizona, Iowa, Ohio, North Carolina, Georgia, Florida e Pennsylvania.


  Com o decorrer dos anos, muitos contestaram e fizeram esforços para mudar o sistema eleitoral e banir o Colégio Eleitoral dos Estados Unidos, mas defensores afirmam que esse sistema entrega resultados mais precisos e se encontra enraizado na constituição. 

  

*Pedro Henrique Oliveira é aluno do 4 período do curso de Relações Internacionais do UniCuritiba. 


REFERÊNCIAS:

United States Presidential Election of 2016. Britannica. 2016. https://www.britannica.com/topic/United-States-presidential-election-of-2016


US election 2020: What is the electoral college?. BBC. 2020.

https://www.bbc.com/news/amp/world-us-canada-53558176

Constitution of the United States. United States Senate. https://www.senate.gov/civics/constitution_item/constitution.htm

 

2020    Election. Vox. 2020. https://www.vox.com/2020-presidential-election


WHY does the United States use the electoral college. Kare 11. https://www.kare11.com/amp/article/news/nation-world/how-many-electoral-votes-does-each-state-have-for-2020-presidential-election/507-7b3d52f4-ea66-4bbd-bfcf-3eb29f17586c


13 battleground states to watch in the 2020 election. CBS News2020.https://www.cbsnews.com/amp/news/swing-states-2020-presidential-election/


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segunda-feira, 29 de junho de 2020

Entrevista com Luiz Carlos Martins: deputado estadual e presidente da Comissão do Mercosul e Assuntos Internacionais da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná



Por Fernando Yazbek

               Luiz Carlos Martins foi primeiramente eleito deputado estadual em 1990, dois anos depois de se eleger vereador por Curitiba com quase 14 mil votos. Foi reeleito para a Assembleia por mais três vezes até 2006, quando angariou a confiança de 54 mil eleitores paranaenses. Teve um pequeno hiato nas eleições de 2010, ano em que ficou como suplente, mas foi novamente alçado parlamentar nos pleitos de 2014 e 2018. 
            Antes de se consolidar como um deputado no oitavo mandato, Martins, hoje aos 71 anos, passou a infância e juventude pelos interiores de São Paulo e Paraná. Paulista de Bilac, o radialista teve seu primeiro contato com os microfones ainda aos 17 anos em Birigui, no noroeste do estado.  Em 1977, trouxe sua voz a Curitiba, cidade que ouve desde então os famosos bordões da “grande voz” da Rádio Banda B.
            Na vida político-partidária, Luiz Carlos Martins ajudou a fundar o Partido Social Democrático (PSD) no Paraná, em 2013. Cinco anos depois, Martins foi para o Progressistas (PP) a convite do ex-ministro da Saúde Ricardo Barros e de sua mulher, a então vice-governadora Cida Borghetti – que concorreria ao Palácio do Iguaçu contra o atual governador, do PSD, Ratinho Júnior. Cabe ao radialista a presidência da Comissão do Mercosul e Assuntos Internacionais da Assembleia Legislativa desde a saída da deputada Maria Victoria (PP), filha de Ricardo Barros e Cida Borghetti. 
            Por telefone, o deputado estadual conversou com o Blog Internacionalize-se antes de uma das sessões plenárias remotas da Assembleia. Comentou, na sua voz inconfundível, os impactos da pandemia do novo coronavírus na atividade parlamentar, os acordos entre Mercosul e União Europeia, as relações da China com a América do Sul, a suspensão da Venezuela e a política externa do governo federal brasileiro.  
            Lamentando que desde a suspensão das atividades presenciais do parlamento paranaense não houve mais reuniões da Comissão do Mercosul, o presidente ressalvou que as últimas conversas da comitiva foram bastante produtivas. Em especial, o deputado sublinhou os esforços conjuntos entre Brasil e Paraguai na binacional de Itaipu, cujo “novo ritmo” tem sido favorável a integração da região fronteiriça. As ações conjuntas na hidrelétrica são novidade, segundo Martins, e vêm num contexto de acelerada ligação entre os dois países. Uma nova ponte está sendo construída sobre o rio Paraná entre Foz do Iguaçu e Presidente Franco, no país vizinho, e será “bastante benéfica” tanto para a infraestrutura e escoamento e, principalmente, para a fiscalização. 
            No Marco das Três Fronteiras, Luiz Carlos Martins comentou as declarações do presidente argentino Alberto Fernández, em que o portenho afirmou que iria rever todos os acordos comerciais do Mercosul assinados com a Europa. Em meio à pandemia, a Argentina abandonou negociações do bloco para priorizar sua própria economia interna. Apesar disto, o deputado minimizou o distanciamento da Casa Rosada: “Fernández sabe que a Argentina depende do Brasil e que o Brasil depende da Argentina. Serão sempre parceiros apesar de rusgas eventuais”. Para Martins, as relações entre Brasília e Buenos Aires são tão fortes e necessárias que independem, inclusive, do Mercosul.
            Provocado pelo dado de que a China se tornou, no mês de abril, o maior parceiro comercial da Argentina – posto historicamente brasileiro – o radialista demostrou preocupação. Para ele, o governo chinês tem de alimentar 1,3 bilhão de pessoas e, no contexto da pandemia, a economia foi duramente afetada, notoriamente nos fluxos de importação e exportação. Em comparação com abril de 2019, a Argentina exportou 50% a mais para Pequim, em especial soja e carne bovina, o que corrobora a percepção de Martins sobre a busca chinesa para segurança alimentar num contexto econômico “bagunçado” pelo novo coronavírus. 
            O deputado lastimou as controvérsias nas quais “vozes do Palácio do Planalto” acusaram a China de inventar o Sars-Cov2 em laboratório e de se beneficiar geopoliticamente do espalhamento da covid-19. Quando se referiu genérica e implicitamente ao ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, Martins foi diretamente questionado sobre o tuíte racista de Weintraub que zombava a pronúncia dos chineses que falam português, comparando-os ao personagem Cebolinha da Turma da Mônica – de Maurício de Souza. Martins, então, não poupou palavras para criticar o ex-ministro: “fez muito mal para o Brasil”. Apesar de assegurar o direito de expressão de Weintraub, o deputado afirma que o bolsonarista, por satisfação meramente pessoal, pôs o país em risco e desconsiderou a política internacional. 
            Outra questão polêmica e sensível ao Brasil e ao Mercosul é a situação da Venezuela, suspensa do bloco desde 2016. A crise em Caracas afeta direta e especialmente o Estado do Paraná, mesmo que a mais de quatro mil quilômetros de distância. Curitiba é a quarta cidade brasileira que mais recebe imigrantes e refugiados venezuelanos e, para o deputado estadual, isto se deve a “grife” que a capital carrega internacionalmente. Os curitibanos, para ele, menosprezam o tamanho da fama que a cidade tem mundo a fora. Por isto, o radialista afirmou que sempre faz questão de pôr o nome de Curitiba destacado em todos os panfletos e anúncios publicitários da rede Banda B. 
            Luiz Carlos Martins se disse “espantado” com os recentes acenos da Casa Branca de Donald Trump ao presidente venezuelano Nicolás Maduro. “Antes, Maduro era o diabo e agora, de repente, virou um santo”, comentou presidente da Comissão do Mercosul sobre a possível reaproximação dos dois países. Trump vem construindo uma ponte de diálogo com o governo bolivariano e se distanciando do autoproclamado presidente Juan Guaidó, anteriormente apoiado e reconhecido por Washington. Martins, então, criticamente questiona qual vai ser a posição do Brasil em meio a este imbróglio: “e agora que apostamos todas as nossas fichas no Guaidó, junto com os EUA?”, comparando a situação de alinhamento brasileiro aos norte-americanos como no caso da cloroquina, hoje já desaconselhada nos Estados Unidos para o tratamento da covid-19. 
            Elencando os esforços, o experiente deputado lamenta as limitações institucionais da Comissão que preside: “queria que fôssemos muito mais atuantes, mas não temos como. Eu posso mandar dois deputados pra ouvir o governo paraguaio em Assunção, mas aí vão dizer que a Comissão foi feita só pra viajar”. A cúpula para assuntos internacionais tem uma fragmentação partidária bastante notável. Além do presidente do Progressistas, compõem as reuniões o vice-presidente pedetista Goura e os deputados Arilson Maroldi do PT, Galo do Podemos, Luiz Fernando Guerra do PSL, Mauro Moraes do PSD e Soldado Fruet do Pros. “Uma maravilha. Ali não tem confusão ideológica, todo mundo contribui”, avalia o presidente sobre a diversidade de sua comissão. Martins, inclusive, rasga elogios ao deputado Goura, de partidarismo completamente diferente: “ele ajuda muito e ainda vai percorrer todo o Mercosul de bicicleta”, disse em tom de brincadeira com o colega, famoso cicloativista do PDT. Neste sentido, a Comissão do Mercosul e Assuntos Internacionais se diferencia de outras comissões predominantemente ocupada por bancadas temáticas.  Na de Segurança Pública, por exemplo, figuram apenas deputados militares ou delegados, presididos pelo deputado Coronel Lee (PSL) e pelo vice Delegado Recalcatti (PSD). Luiz Carlos Martins comemora que sua comissão seja pluralizada, ainda mais por tratar de temas de abrangência internacional: “toda unanimidade é burra. É preciso divergência para progredir”. 
            Antes de desligar o telefone e encerrar a entrevista, o deputado se preparava para uma sessão virtual da Assembleia. Muito bem-humorado, contou causos de parlamentar que esqueceu o microfone aberto e falou o que não devia. “Quando vai começar a sessão fica todo mundo contando história. Cada um em casa, pela internet, acaba que todo mundo ri junto”. Apesar das dificuldades que a pandemia impõe a atividade legislativa, o deputado Luiz Carlos Martins parece otimista que, na retomada do parlamento e no reaquecimento das relações internacionais, a Comissão do Mercosul terá muito o que discutir no mundo pós-pandemia. 
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segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Acontece no UNICURITIBA: Visita do Embaixador da Ucrânia e um panorama sobre a situação atual do país






O embaixador da Ucrânia no Brasil, Rotyslav Tronenko, esteve na terça feira, dia 06/08, na Unicuritiba para falar sobre a Ucrânia como oportunidade para intercâmbios, comércio e turismo. Estava acompanhado do cônsul honorário da Ucrânia em Curitiba, Mariano Czaikowski; do presidente da Representação Central Ucraniano Brasileira, Vitório Sorotiuk; e de Sérgio Maciura. Tronenko começou a palestra falando sobre Jan Koum, empreendedor e programador cofundador do Whatsapp, que é uma personalidade conhecida por todos e é ucraniano. A Ucrânia é expressiva exportadora de óleo de girassol e grãos em geral: isso porque sua terra, chamada de terra negra, é extremamente fértil.

A Ucrânia nos traz diversos aprendizados e personalidades como os famosos ucranianos que viveram no Brasil: Clarice Lispector, uma das mais importantes escritoras do século XX, Gregori Warchavchik, arquiteto que criou a primeira casa modernista do país, em São Paulo, e o filho de ucranianos, Miguel Bakum, pintor considerado um dos pioneiros da Arte Moderna no Paraná.

 A região tem tensões como na Crimeia e em Donbass, muito sérias, já que envolvem desacordos históricos com a Rússia.Nessas regiões, ambas de fronteira, há disputa entre os países, e medidas como diversificação de fontes de energia estão sendo utilizadas para evitar os produtos russos.

Política recente

Viktor Yanukovytch foi o presidente durante a Revolução Ucraniana de 2014, no período que a Ucrânia se aproxima da União Europeia, inclusive com perspectiva de participação no bloco. A Rússia, entretanto, pede a Yanukovytch para não assinar o Acordo de Associação UE-União Europeia, o presidente aceita, além de um empréstimo russo. Dessa forma, a população se desagrada e se revolta no episódio chamado de Euromaidan, retratado no documentário “Inverno em Chamas”, ganhador do Oscar de Melhor Documentário de Longa Metragem em 2016 e disponível no Netflix, que foi gravado durante o episódio. Muitas pessoas acabam morrendo com a repressão do governo; o presidente se refugia e o parlamento vota pela sua saída. Nesse momento de muita confusão e instabilidade, a Rússia anexa a península da Crimeia, e é sancionada pelos Estados Unidos e União Europeia.

Quem assume agora é Petro Poroshenko, empresário formado em relações internacionais e em direito que criou seu grande negócio baseado no cacau. Sua característica é o compromisso de manter a unidade territorial da Ucrânia, lutando pela Crimeia e portanto se opondo ao governo Russo. Seu governo, porém, não consegue recuperar o país da crise que vinha desde o governo de Yanukovytch, financeira e de corrupção, o que faz com que o padrão de vida das pessoas baixe muito. Tenta a reeleição, mas acaba perdendo.

Não foi só Reagan que saiu das telas para a presidência do país: o atual presidente da Ucrânia, Vododymir Zelenski, interpretou no Netflix um professor de história que, através de um discurso compartilhado nas redes sociais, entrou para política e se tornou presidente. A série se chama Servo do povo, e o nome do partido do ator na vida real acabou sendo o mesmo. A trajetória se repetiu e o ator, hoje presidente, ficou conhecido através das redes sociais.

O atual governo foi o primeiro a dissolver o parlamento, já que não havia unidade. O novo parlamento assumirá no final de agosto. O tanto de poder que Zelenski acumula é expressivo e o que fará com este poder é algo que os ucranianos estão curiosos, como nós, por saber.


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sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Me indica uma série: “Versalhes” e a construção das relações de poder






Há algum tempo que as séries políticas vêm ocupando nossa imaginação. Desde a estreia de “House of Cards”, as séries de streaming a respeito da política institucional dos diversos países no mundo têm mesmo chegado a se confundir com a realidade. Seja na sátira política de “Veep” ou no fato de um comediante ter chego à presidência na Ucrânia depois de representar o presidente de seu país, essa discussão está no gosto do povo e demonstra, com detalhes, os jogos de poder que envolvem o Estado. Para aqueles que gostam deste tipo de entretenimento, “Versalhes” é uma série imperdível por alguns motivos.
Passada no início do longuíssimo reinado de Luís XIV na França, “Versalhes” aproveita a construção do palácio mais conhecido da Europa Ocidental para apresentar a formação do absolutismo francês sob a égide do Rei Sol.  Em se tratando do monarca que mais tempo ficou no trono na Europa até hoje (em que pese Elizabeth II esteja se aproximando cada dia mais desta marca), contabilizando 72 anos no poder, seria impossível fazer um resumão da vida de Luís XIV. A série, porém, aposta num aspecto mais fundamental: a construção das relações de poder dentro e fora da “sociedade política” diante da consolidação da monarquia absolutista na França.
São três temporadas, cada uma com dez episódios – o que faz da série uma ótima pedida para maratonas nos finais de semana ou nas férias, como confesso ter feito. Esse tamanho, porém, permite uma outra vantagem: a construção e conclusão de alguns arcos, e a compreensão de um debate profundo sobre o poder na época posterior à famosa Guerra dos Trinta Anos.
Este período, que é trabalhado dentro das Relações Internacionais como seu “mito fundador”, tem aspectos muito importantes para compreender a política atual. Sequestros, mortes e traições nos ajudam a compreender o surgimento de alguns dos princípios fundamentais das Relações Internacionais em geral, e da Diplomacia em específico: princípios de ação, primado da lei e dos tratados internacionais e imunidade diplomática para citar apenas alguns exemplos. Por outro lado, as relações de poder na corte e junto aos Ministros de Estado nos ajudam a compreender melhor o princípio do absolutismo, e o papel dos pequenos gestos de poder na consolidação de um grupo político.
Se as roupas, joias, jardins e salões enchem os olhos, as intrigas políticas, as relações de amor, poder e sexo e a busca pela permanência no poder enchem a cabeça e a nossa imaginação política. Aconselho assistir a série com o controle da TV numa mão e o celular por perto: você sentirá vontade de ir pesquisar mais a respeito de vários dos assuntos, casos e fatos citados ao longo da série. E, com certeza, compreenderá muito mais os detalhes desse período tão citado mas tão pouco explorado das Relações Internacionais que foi o absolutismo.
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segunda-feira, 1 de julho de 2019

Mulheres de Destaque: Alexandria Ocasio-Cortez, a mais nova congressista estadunidense da história.


Por Maria Letícia Cornassini



“Mulheres como eu não devem concorrer para o cargo”. É com esta frase que Alexandria Ocasio-Cortez, ou AOC como ficou conhecida popularmente, começa seu vídeo de campanha eleitoral. De fato, quando olhamos o cenário representativo norte-americano -composto 81% por homens brancos e em sua maioria empresários-, mulheres como Alexandria realmente não parecem se encaixar no Congresso. E foi justamente por esta razão que Alexandria concorreu à vaga de deputada do Partido Democrata pelo 14º Distrito contra o, até aquele momento, atual deputado, que permanecia no poder há 14 anos.

No começo de sua candidatura, parecia impossível que uma mulher, jovem, latina, residente de uma comunidade periférica e pertencente a classe trabalhadora pudesse destronar um candidato consolidado e com o apoio financeiro de diversas corporações. Em uma campanha eleitoral movida 100% por voluntários e sem receber doações de corporações, Alexandria priorizou ouvir a comunidade, e pensar nos problemas que ela mesma já havia sentido na pele, para escolher os objetivos que comporiam sua plataforma eleitoral.

Dentre os objetivos que compõem sua plataforma, estão: saúde e moradia como direitos básicos e coletivos; suporte à comunidade LGBTQ+,  à população idosa e aos direitos femininos; controle de armas; meio ambiente limpo e aumento do salário mínimo. Não só isso, durante toda sua campanha fez questão de distribuir materiais eleitorais nos idiomas de seus eleitores: inglês, espanhol e iemenita.

E agora você deve estar se perguntando: Falar é fácil, mas o que ela tem feito até agora?

Após ter sido eleita, e agora ter o título de representante mais jovem da história do Congresso Estadunidense, Alexandria tem feito campanha para a aprovação do “Green New Deal” –que propõe um modelo mais sustentável com objetivo de eliminar a poluição e diminuir as mudanças climáticas-; critica abertamente a liberdade e falta de controle concedida pela lei aos atos Presidente; luta pelo fim e critica os campos de detenção em que atualmente ficam os imigrantes e iniciou uma coalisão com o deputado que é seu maior crítico para propor uma lei que barre antigos políticos de participarem de atividades de lobby.

Sua trajetória em busca do cargo de deputada foi registrada pelo Netflix, e, junto à trajetória de mais três mulheres em busca de voz política, compõe o documentário “Virando a Mesa do Poder”. Como espectadores, ficamos cientes das dificuldades enfrentadas pela atual deputada ao desafiar um candidato cercado por lobistas e cujo poder lhe foi dado a tempos: estabelecimentos não permitem que ela exponha suas propostas; o representante não participa de debates dentro da comunidade junto à ela; tentam a intimidar. Em um momento, se preparando para o maior debate contra seu oponente, ela diz “Eu debaterei representando o movimento hoje. Não se trata de me eleger ao Congresso. Trata-se de nós chegarmos ao Congresso”. Vem daí o papel de destaque de Alexandria.

Isto porque ela não representa somente um novo rosto na política. Representa mais. Representa a ascensão de mulheres num lugar em que nunca foram muito ouvidas, nem mesmo no maior país democrático do mundo: o meio político. Representa a luta e o reconhecimento dos interesses de minorias, sejam elas étnicas ou sociais. Representa a nova política desmantelando o castelo de cartas sob o qual a velha política se baseava. Representa cada cidadão que se deparou com interesses de multinacionais, grandes corporações ou indústrias sendo colocados em primeiro plano na política de um país e pensou “mas não deveria ser assim...”.
Mais que tudo, Alexandria representa a democracia como ela, de fato, deveria ser: do povo e para o povo.

 
Referências:

Documentário “Virando a mesa do poder”- Netflix

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