Há algum tempo que as séries políticas vêm ocupando nossa
imaginação. Desde a estreia de “House of Cards”, as séries de streaming a respeito da política
institucional dos diversos países no mundo têm mesmo chegado a se confundir com
a realidade. Seja na sátira política de “Veep” ou no fato de um comediante ter
chego à presidência na Ucrânia depois de representar o presidente de seu país,
essa discussão está no gosto do povo e demonstra, com detalhes, os jogos de
poder que envolvem o Estado. Para aqueles que gostam deste tipo de
entretenimento, “Versalhes” é uma série imperdível por alguns motivos.
Passada no início do longuíssimo reinado de Luís XIV na
França, “Versalhes” aproveita a construção do palácio mais conhecido da Europa
Ocidental para apresentar a formação do absolutismo francês sob a égide do Rei
Sol. Em se tratando do monarca que mais
tempo ficou no trono na Europa até hoje (em que pese Elizabeth II esteja se
aproximando cada dia mais desta marca), contabilizando 72 anos no poder, seria
impossível fazer um resumão da vida de Luís XIV. A série, porém, aposta num
aspecto mais fundamental: a construção das relações de poder dentro e fora da
“sociedade política” diante da consolidação da monarquia absolutista na França.
São três temporadas, cada uma com dez episódios – o que faz
da série uma ótima pedida para maratonas nos finais de semana ou nas férias,
como confesso ter feito. Esse tamanho, porém, permite uma outra vantagem: a
construção e conclusão de alguns arcos, e a compreensão de um debate profundo
sobre o poder na época posterior à famosa Guerra dos Trinta Anos.
Este período, que é trabalhado dentro das Relações Internacionais
como seu “mito fundador”, tem aspectos muito importantes para compreender a
política atual. Sequestros, mortes e traições nos ajudam a compreender o
surgimento de alguns dos princípios fundamentais das Relações Internacionais em
geral, e da Diplomacia em específico: princípios de ação, primado da lei e dos
tratados internacionais e imunidade diplomática para citar apenas alguns
exemplos. Por outro lado, as relações de poder na corte e junto aos Ministros
de Estado nos ajudam a compreender melhor o princípio do absolutismo, e o papel
dos pequenos gestos de poder na consolidação de um grupo político.
Se as roupas, joias, jardins e salões enchem os olhos, as
intrigas políticas, as relações de amor, poder e sexo e a busca pela
permanência no poder enchem a cabeça e a nossa imaginação política. Aconselho
assistir a série com o controle da TV numa mão e o celular por perto: você
sentirá vontade de ir pesquisar mais a respeito de vários dos assuntos, casos e
fatos citados ao longo da série. E, com certeza, compreenderá muito mais os
detalhes desse período tão citado mas tão pouco explorado das Relações
Internacionais que foi o absolutismo.
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