Eram três horas da tarde e o céu
de São Paulo estava escuro, mas não foi apenas a chuva que fez o dia virar
noite. Uma frente fria que atingiu São Paulo somada com partículas da fumaça
provenientes de incêndios florestais fez com que a capital paulista ficasse na
escuridão no meio da tarde.
Desde o fim de
julho, a região amazônica no estado de Rondônia vem sofrendo com incêndios.
Especialistas dizem que o clima seco é propício para as queimadas, mas há um
agravante: o incêndio intencional.
Nos dias 10 e 11 de agosto, fazendeiros no Sudoeste do Pará promoveram o que
foi chamado de Dia do Fogo, um ato que consistiu em queimar pastos e áreas em
processo de desmate para “mostrar apoio às palavras” do presidente Jair
Bolsonaro, que por sua vez, anunciou em julho que não confiava nos dados
divulgados sobre o desmatamento da Amazônia pelo Inpe, o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais, um dos órgãos de mais credibilidade do Brasil. Hoje, em 12
de agosto, Bolsonaro comentou sobre os incêndios, alegando que eles foram
promovidos por ONGs para “chamar atenção” contra o governo brasileiro.
Você
deve estar se perguntando: não há nenhum
projeto que auxilie e preserve a Amazônia? Ele existe e se chama Fundo
Amazônia. Gerido pelo BNDES, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social, seu objetivo é captar recursos e doações junto aos países desenvolvidos
para investimentos em operações de prevenção, monitoramento e combate ao
desmatamento. Desde o começo, a Noruega era foi a principal doadora, seguida da
Alemanha. O atrito com o governo brasileiro e os dois países começou quando
foram surgiram desejos de alterar a configuração do COFA, o Comitê Orientador
do Fundo Amazônia que determina as diretrizes e acompanha os resultados
obtidos. O COFA é formado pelo governo federal, governos estaduais e sociedade
civil. O governo Bolsonaro deseja aumentar a participação de representantes
próprios; logicamente, Alemanha e Noruega se opuseram.
As
doações dos dois países europeus são condicionadas ao índice de desmatamento -
ou seja, quanto menos Amazônia, menos dinheiro. Foi por isso que, na última
semana de agosto, a Alemanha decidiu cortar o apoio financeiro para o Fundo
Amazônia, dizendo que tem dúvidas quanto ao
empenho em proteger a floresta do desmatamento e preservar o meio ambiente. Em
resposta à chanceler alemã Angela Merkel, o presidente do Brasil disse “Pega
essa grana e refloreste a Alemanha, tá ok?”.
Seguindo
o exemplo da Alemanha, a Noruega também cancelou repasses para o Fundo. O
ministro do Clima e Meio Ambiente norueguês Ola Elvestuen afirmou que o Brasil
quebrou um acordo com os dois países europeus supracitados, fazendo referência
ao fato de que o Brasil suspendeu a diretoria e o comitê técnico do Fundo
Amazônia sem concordância da Alemanha e da Noruega. “O que o Brasil fez
mostra que eles não
querem mais parar o desmatamento.", disse o ministro.
A
Amazônia queima, mas a atenção se volta para ela apenas quando chega nas
capitais. Cidades em Rondônia já haviam experienciado a escuridão que os
paulistas viram nesta terça-feira, mas isso não foi noticiado. O Brasil vive a
maior onda de incêndios dos últimos cinco anos, com quase 72.000 focos, segundo
o Instituto de Pesquisas Ambiental da Amazônia e o Inpe. O nível de queimadas é
tão grande que as fumaças são visíveis pelo satélite da NASA. A Amazônia é de
extrema importância para o equilíbrio e estabilidade ambiental do planeta.
Apesar de voltar atrás na decisão de extinguir o Ministério do Meio Ambiente, o
governo deixou a pasta ficar
praticamente vazia. A decisão de se retirar do Acordo de Paris, que rege
medidas de redução de emissão de gases estufas, foi também infeliz e cruel.
Reservas indígenas e animais estão sofrendo e pouco se fala sobre eles.
A
Amazônia está morrendo. E nada está sendo feito.
Referências
https://br.sputniknews.com/brasil/2019082014413370-temos-cidades-em-rondonia-cobertas-pela-fumaca-das-queimadas/
*A opinião expressa no artigo pertence à autora - e não necessariamente reflete um posicionamento institucional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário