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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Redação Internacional: o Brasil nas manchetes do mundo na semana de 16/08 a 23/08

                                               

Por Fernando Yazbek

             O ano de 2020 parece não dar trégua no empilhamento de tragédias. Enquanto o número de mortes pela pandemia do novo coronavírus se aproxima dos120 mil brasileiros, nem a fauna do país está a salvo. O sul do Brasil, que enfrentou duras secas nos últimos meses, registrou temperaturas negativas, chuva congelada e neve nesta semana. Até Porto Velho, capital de Rondônia, teve mínima de 7ºC no coração do norte brasileiro. Apesar da frente fria, o pantanal mato-grossense encara a maior queimada das últimas duas décadas. O jornal inglês The Guardian dá conta de que cerca de 12% da vegetação da floresta foi afetada pelo fogo que ameaça destruir “o maior refúgio de araras azuis ameaçadas de extinção no mundo”. A reportagem traz entrevistas com especialistas locais que garantem que o incêndio generalizado foi provocado pelo avanço da agropecuária. Carlos Rittl, ambientalista ouvido pelo Guardian, acredita que a “hostilidade” do presidente Jair Bolsonaro com as questões ambientais contribui para que “pessoas taquem fogo sem medo de serem punidas”. O Ibama, órgão ambiental, foi enfraquecido na atual gestão federal, relembra a mídia londrina. 


         A mídia catari também destacou as queimadas na salva brasileira, mas desta vez na Amazônia. Al Jazeera, maior agência de notícias da língua árabe, soltou um vídeo sobre a situação dos milhares de focos de incêndio que acometem a floresta. O audiovisual traz depoimento de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, que prometeu esforços para conter uma tragédia ambiental ainda pior do que a do ano passado. A produção relembra que o presidente Jair Bolsonaro acusou o ator e ativista Leonardo di Caprio de ter ateado fogo na floresta e que, recentemente, o vice-presidente Hamilton Mourão convidou o artista para conhecer a Amazônia de perto em uma caminhada.  

           O desmatamento na Amazônia faz com que Berlim esteja cético quanto a ratificação do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, noticiou a Deutsche Welle. O periódico afirma que a chanceler alemã, Angela Merkel, está com “sérias dúvidas” sobre a aproximação dos blocos e que vê as queimadas na região norte do Brasil com “grande preocupação”. Fontes garantem que, depois de reunião com sueca Greta Thunberg e outros ativistas, Merkel firmou compromisso de não assinar o texto presente do acordo. DW recapitula que o tratado de livre-comércio entre os blocos da Europa e da América do Sul, assinado em julho de 2019, está enfrentando resistência cada vez maior dos europeus devido à política ambiental desastrosa do governo Bolsonaro. Além disto, “os ataques ao Estado de direito, aos direitos humanos e à democracia sob o governo brasileiro atual também são argumentos na Europa contra o acordo”, salientou o jornal. 


         Em Portugal, a polêmica administração bolsonarista nas áreas ambientais novamente repercutiu. Desta vez, o tema era a lei de proteção aos povos indígenas, que sofreu uma série de vetos do presidente Bolsonaro que dificultavam o acesso a água, a remédios e a hospitalização para índios. O Público elenca discursos de senadores de diversos partidos e estados criticando os vetos do executivo: “inacreditável”, “crueldade sem limite” e “desumano”, sublinha a imprensa portuguesa. O Congresso conseguiu derrubar os vetos do Palácio do Planalto, um alívio para os mais de 146 povos indígenas afetados pela covid-19. Citando a plataforma de monitoramento da situação indígena durante a pandemia, o Público faz uma cronologia do espalhamento do vírus entre os povos tradicionais sob a “omissão do Estado brasileiro”. Houve mais de 25 mil casos de infecção pelo Sars-Cov2 e perto de 700 mortes de indígenas brasileiros.

          Com os vetos derrubados no Brasil, a família Bolsonaro quis legislar na Argentina. O portenho Clarín noticiou os tuítes do deputado federal pelo Republicanos de SP, Eduardo Bolsonaro, em que o filho do presidente fala de uma “venezuelização” da Argentina. O jornal lembra que o deputado é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e um “braço latino americano” de Steve Bannon, “guru da extrema-direita” que foi preso esta semana por fraude nos Estados Unidos. 

            A mídia argentina lamenta que a publicação de Eduardo Bolsonaro tenha acontecido justamente no “melhor momento das relações diplomática entre os dois países nos últimos 9 meses”. Daniel Scioli, embaixador da Casa Rosada, havia se encontrado com Jair Bolsonaro dias antes. Clarín ainda frisou que, durante a pandemia, Brasília deixou de ser a principal parceira econômico de Buenos Aires, que duas décadas depois se voltou a Pequim.

             O New York Times volta a tratar da pandemia no Brasil. Para o jornal estadunidense, a “resposta caótica” ao novo coronavírus do governo brasileiro fez do país uma “oportunidade única” para pesquisadores da vacina. Assim, o Brasil “surge como um potencial e vital ator global para se acabar com a pandemia”, uma vez que as três mais promissoras vacinas do mundo contam com voluntários e cientistas brasileiros. O jornal retoma as falas do presidente que menosprezaram a doença e “sabotaram” as medidas de isolamento e uso de máscara. Pela “desorganizada coordenação brasileira”, países vizinhos ao Brasil militarizaram suas fronteiras e representantes da classe médica pediram a Corte Internacional de Justiça o indiciamento de Bolsonaro por crimes contra a humanidade.

            Times também discorre sobre o sistema público e universal de saúde brasileiro, “um dos melhores programas entre os países em desenvolvimento”. Apesar de ter contido surtos de febre amarela e malária, o SUS tem tido recentes e progressivos desinvestimentos. Além de sobreviver com menores orçamentos, o sistema ainda tem de lutar contra campanhas de desinformação e movimentos anti-vacina, amplamente propagados em mídias sociais. Pela primeira vez em 25 anos, afirma o jornal, o Brasil não bateu as metas de vacinação em 2019. 


         O filme de terror vivido pela menina de dez anos, estuprada desde os seis pelo tio, foi notícia no Le Monde. A criança que engravidou em decorrência da violência sexual conseguiu, na justiça pernambucana, o direito ao aborto legal que fora recusado no Espírito Santo, estado da menina. “À medida que os casos de violência sexual contra crianças se repetem, religiosos conservadores, evangélicos e católicos brasileiros, cada vez mais, se escondem por trás dos ‘valores’ defendidos pelo atual governo”, estampou o jornal francês. Isto porque a criança teve a identidade e o hospital onde realizaria o aborto revelados por militantes de direita nas redes sociais. Deste vazamento, uma pequena multidão se aglomerou em frente ao ambulatório para protestar contra a interrupção da gravidez forçada. 

A ministra Damares Alves chegou a enviar assessores que tentaram convencer a família da menina para que ela mantivesse a gravidez. O Le Monde destaca que, por se tratar de uma menor de 14 anos, cumpriam-se todos os requisitos para a legalidade do aborto num país que é uma democracia laica “apesar” de Jair Bolsonaro e seus apoiadores.


 

Já o espanhol El País tratou de antirracismo, feminismo e transparência para falar sobre a cultura no Brasil. A direção artística do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro foi remodelada para entrar e consonância com estres 3 princípios. Dentre uma centena de candidatos do concurso público para o cargo, Keyna Eleison e Pablo Lafuente vão dirigir o MAM. Ela, carioca negra, e ele, espanhol, aspiram juntos a uma reconfiguração do museu, que pretende reabrir na metade de setembro. 

            Lafuente disse ao jornal que, num país desigual, não se pode anunciar que o museu está aberto e esperar que as pessoas venham: são precisos programas específicos para cada grupo. 



Do guru ideológico preso por fraude a históricos parceiros comerciais receosos, o artigo 4º da Constituição Federal de 1988 vai virando cada vez mais um documento de museu que, ao que tudo indica, se transforma num grande necrotério de cinzas e caixões infantis. 

 

Referências:

ANDREONI, Manuela. LONDOÑO, Ernesto. Coronavirus Crisis Has Made Brazil an Ideal Vaccine Laboratory. The New York Times. Rio de Janeiro, 16 ago. 2020. Disponível em <https://www.nytimes.com/2020/08/15/world/americas/brazil-coronavirus-vaccine.html>

COVID-19: Congresso do Brasil anula vetos de Bolsonaro à lei de proteção indígena. Público. 20 ago. 2020. Disponível em <https://www.publico.pt/2020/08/20/mundo/noticia/covid19-congresso-brasil-anula-vetos-bolsonaro-lei-protecao-indigena-1928696>

EL hijo de Jair Bolsonaro cuestionó el decreto de Alberto Fernández sobre la telefonia celular, Internet y la TV paga. Clarín. Buenos Aires, 22 ago. 2020. Disponível em <https://www.clarin.com/mundo/hijo-jair-bolsonaro-cuestiono-decreto-alberto-fernandez-telefonia-celular-internet-tv-paga-venezuelanizacion-argentina-continua-_0_SzGfphY97.html>

GORTÁZAR, Naiara G. MAM Rio diversifica direção artística para mudar “cultura branca” dos museus no Brasil. El País. 20 ago. 2020. Disponível em <https://brasil.elpais.com/cultura/2020-08-20/mam-rio-diversifica-direcao-artistica-para-mudar-a-cultura-branca-dos-museus-no-brasil.html>

MERKEL diz ter sérias dúvidas sobre acordo UE-Mercosul. Deutsche Welle. 21 ago. 2020. Disponível em <https://www.dw.com/pt-br/not%C3%ADcias/s-7111>

PHILLIPS, Tom. Fears for endagered macaw as fire devastes Brazilian wetland. The Guardian. Brasília, 19 ago. 2020. Disponível em <https://www.theguardian.com/world/2020/aug/19/hyacinth-macaw-brazil-fire-pantanal-endangered-birds>

VIGNA, Anne. Brésil: le gouvernement de Jair Bolsonaro, um relais politique pour les anti-avortement. Le Monde. 21 ago. 2020. Disponível em <https://www.lemonde.fr/international/article/2020/08/22/au-bresil-un-relais-politique-pour-les-anti-avortement_6049646_3210.html>

YANAKIEW, Monica. Amazon fire: Raging blazes raise fears of a repeat of 2019. Al Jazeera. Rio de Janeiro, 21 ago. 2020. Disponível em <https://www.aljazeera.com/news/2020/08/amazon-fire-raging-blazes-raise-fears-repeat-2019-200821112341112.html>


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segunda-feira, 6 de julho de 2020

Entrevista com Gerd Wenzel: as relações entre Brasil e Alemanha


           “A imagem do Brasil na Alemanha nunca esteve tão desgastada como agora”, confessou o jornalista alemão, Gerd Wenzel, ao Blog Internacionalize-se. Nascido em Berlim em plena Segunda Guerra Mundial, em 1943, Wenzel chegou ao Brasil em 1955 junto de sua mãe viúva. No derradeiro ano do regime nazista, Adolf Hitler ordenou o alistamento ao exército de idosos e de adolescentes. À época com 50 anos, o pai de Gerd, Herbert Wenzel, fora obrigado a ir à trincheira contra as tropas soviéticas que invadiam a capital alemã. Abandonando o fronte, Herbert se escondeu no porão da casa até o final da guerra. 
            Já maior de idade, Gerd decidiu estudar para se tornar pastor na Primeira Igreja Presbiteriana do Brasil. Em meio à Ditadura Militar, o Pastor Wenzel foi preso três vezes por implementar o método de alfabetização de Paulo Freire. Liberado da subversão pelo Departamento de Ordem e Política Social, largou a teologia e foi trabalhar para multinacionais alemãs em solo brasileiro. 
               Gerd Wenzel é o pioneiro do futebol alemão no Brasil. Era jornalista esportivo na TV Cultura de São Paulo quando pela primeira vez a Bundesliga foi transmitida aos brasileiros, em 1991. É comentarista dos canais ESPN desde 2002 e tem uma coluna semanal na Deutsche Welle, emissora internacional da Alemanha. Wenzel é unanimidade no mundo futebolístico como o maior especialista do fußball e tem larga experiência com o autoritarismo.

             Gentilmente, o berlinense se dispôs a comentar, para o Blog, questões caras às relações entre Brasil e Alemanha, pandemia do novo coronavírus e, obviamente, futebol. O jornalista falou sobre as repetidas referências ao nazismo do governo Bolsonaro, os atritos diplomáticos teuto-brasileiros e a imagem de Brasília na imprensa europeia. Confira, a seguir, a entrevista na íntegra. 
 
(Blog Internacionalize-se) O governo Bolsonaro é recheado de referências ao nazismo alemão. Desde declarações explícitas como o discurso do ex-secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, parafraseando Joseph Goebbels, em estética claramente nazista até frases homólogas aos dos portões do campo de Auschwitz em vídeo da Secretaria de Comunicação do executivo. O chanceler Ernesto Araújo comparou as medidas de isolamento social no combate ao coronavírus com o holocausto do Terceiro Reich e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, assimilou operações da Polícia Federal com a Noite dos Cristais. Por que, na opinião do senhor, há esta exaustiva correlação com a Alemanha Nazista nas narrativas do governo brasileiro?
(G. Wenzel) “Uma frase atribuída a Leonel Brizola cai como uma luva como resposta: ‘Se tem rabo de jacaré, boca de jacaré, pé de jacaré, olho de jacaré, corpo de jacaré e cabeça de jacaré, como é que não é jacaré?’. Há esta exaustiva correlação com a Alemanha Nazista porque membros desse governo se identificam com o ideário nazista, especialmente no que se refere à Cultura, à Educação e, agora, também na área da Saúde Pública. Podemos testemunhar diariamente a tentativa contínua de destruição da democracia pelo governo através do desrespeito à Constituição, ameaças ditatoriais, cerceamento de liberdade de imprensa, ataque às minorias políticas e sociais e contínua retroalimentação da existência de inimigos imaginários.”

(Blog Internacionalize-se) A Embaixada Alemã no Brasil já reiteradas vezes condenou a banalização do nazismo e o classificou como um movimento de extrema-direita, contrariando o bolsonarismo. Este tema é suficiente para haver um desgaste nas relações entre Berlim e Brasília?
(G. Wenzel) “As relações bilaterais entre Brasil e Alemanha a nível político estão de quarentena. Em Berlim, acompanha-se à distância e com cautela o desenvolvimento dos acontecimentos políticos no Brasil. A diplomacia alemã se pauta por relações civilizadas entre as nações e espera que, mais cedo ou mais tarde, o Brasil se alinhe novamente entre os países que valorizam a Democracia e lutam pela implementação dos seus valores, restabelecendo dessa forma um diálogo frutífero para ambos.”

(Blog Internacionalize-se) Acompanhando a mídia internacional, percebe-se que a Deutsche Welle, assim como o inglês The Guardian, tem se posicionado contundentemente crítica às políticas sanitárias do governo brasileiro, tido como autoritário e ineficiente. Como está a imagem brasileira na Alemanha? 
(G. Wenzel) “A imagem brasileira nunca esteve tão desgastada na Alemanha como agora. Praticamente todo dia algum órgão de imprensa local – e não apenas a Deutsche Welle – publica artigos sobre o Brasil, seja sobre a incompetente gestão, em todos os níveis governamentais, da crise provocada pela covid-19, sobre as manifestações esdrúxulas dos membros do governo ou do próprio presidente da República.”

(Blog Internacionalize-se) A Bundesliga retomou as atividades na metade de maio, com estádios vazios e uma porção de adaptações em meio à pandemia. O senhor, maior conhecedor do futebol alemão no Brasil, se mostrou à época preocupado com o retorno das partidas, em que pese a estabilidade alemã na contenção do espalhamento do vírus. O Brasil ruma à liderança no triste ranking de contágio e de mortes flexibilizando a quarentena. Mesmo assim, presidentes de Flamengo e Vasco reafirmam desejo de voltar com os campeonatos. Com quais expectativas o senhor enxerga a retomada do futebol no país?
(G. Wenzel) “É de uma irresponsabilidade atroz. Na Alemanha, as medidas de isolamento social e distanciamento físico foram implementados rigorosamente já em meados de março e estão trazendo seus resultados agora. Basta analisar as estatísticas. No Brasil, as medidas de isolamento e distanciamento, além de não terem sido implementadas corretamente, foram sabotadas pelo próprio governo federal causando desorientação social do cidadão comum que, consequentemente, não se sentiu compelido a seguir as recomendações das Secretarias Estaduais ou Municipais da Saúde que recomendavam o isolamento. O resultado dessa balbúrdia é que a crise da covid-19 ainda não chegou ao seu ápice e se prolongará por mais alguns meses. Nesse cenário, ao contrário do que acontece na Alemanha, onde a epidemia está sob controle, considero inviável a retomada do futebol sob qualquer circunstância.”

            Aos 77 anos, Wenzel parece reviver os sintomas que viu acabar na infância e reflorescer na juventude. O Brasil vai se desfazendo de sua imagem alegre e pacífica nos olhos do mundo e a substituindo por uma truculência sem propósito. É alarmante que alguém que viveu o declínio nazista, a ocupação soviética, a divisão alemã e a prisão nos anos de chumbo enxerque no abacaxi brasileiro traços de jacaré. 


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segunda-feira, 29 de junho de 2020

Entrevista com Luiz Carlos Martins: deputado estadual e presidente da Comissão do Mercosul e Assuntos Internacionais da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná



Por Fernando Yazbek

               Luiz Carlos Martins foi primeiramente eleito deputado estadual em 1990, dois anos depois de se eleger vereador por Curitiba com quase 14 mil votos. Foi reeleito para a Assembleia por mais três vezes até 2006, quando angariou a confiança de 54 mil eleitores paranaenses. Teve um pequeno hiato nas eleições de 2010, ano em que ficou como suplente, mas foi novamente alçado parlamentar nos pleitos de 2014 e 2018. 
            Antes de se consolidar como um deputado no oitavo mandato, Martins, hoje aos 71 anos, passou a infância e juventude pelos interiores de São Paulo e Paraná. Paulista de Bilac, o radialista teve seu primeiro contato com os microfones ainda aos 17 anos em Birigui, no noroeste do estado.  Em 1977, trouxe sua voz a Curitiba, cidade que ouve desde então os famosos bordões da “grande voz” da Rádio Banda B.
            Na vida político-partidária, Luiz Carlos Martins ajudou a fundar o Partido Social Democrático (PSD) no Paraná, em 2013. Cinco anos depois, Martins foi para o Progressistas (PP) a convite do ex-ministro da Saúde Ricardo Barros e de sua mulher, a então vice-governadora Cida Borghetti – que concorreria ao Palácio do Iguaçu contra o atual governador, do PSD, Ratinho Júnior. Cabe ao radialista a presidência da Comissão do Mercosul e Assuntos Internacionais da Assembleia Legislativa desde a saída da deputada Maria Victoria (PP), filha de Ricardo Barros e Cida Borghetti. 
            Por telefone, o deputado estadual conversou com o Blog Internacionalize-se antes de uma das sessões plenárias remotas da Assembleia. Comentou, na sua voz inconfundível, os impactos da pandemia do novo coronavírus na atividade parlamentar, os acordos entre Mercosul e União Europeia, as relações da China com a América do Sul, a suspensão da Venezuela e a política externa do governo federal brasileiro.  
            Lamentando que desde a suspensão das atividades presenciais do parlamento paranaense não houve mais reuniões da Comissão do Mercosul, o presidente ressalvou que as últimas conversas da comitiva foram bastante produtivas. Em especial, o deputado sublinhou os esforços conjuntos entre Brasil e Paraguai na binacional de Itaipu, cujo “novo ritmo” tem sido favorável a integração da região fronteiriça. As ações conjuntas na hidrelétrica são novidade, segundo Martins, e vêm num contexto de acelerada ligação entre os dois países. Uma nova ponte está sendo construída sobre o rio Paraná entre Foz do Iguaçu e Presidente Franco, no país vizinho, e será “bastante benéfica” tanto para a infraestrutura e escoamento e, principalmente, para a fiscalização. 
            No Marco das Três Fronteiras, Luiz Carlos Martins comentou as declarações do presidente argentino Alberto Fernández, em que o portenho afirmou que iria rever todos os acordos comerciais do Mercosul assinados com a Europa. Em meio à pandemia, a Argentina abandonou negociações do bloco para priorizar sua própria economia interna. Apesar disto, o deputado minimizou o distanciamento da Casa Rosada: “Fernández sabe que a Argentina depende do Brasil e que o Brasil depende da Argentina. Serão sempre parceiros apesar de rusgas eventuais”. Para Martins, as relações entre Brasília e Buenos Aires são tão fortes e necessárias que independem, inclusive, do Mercosul.
            Provocado pelo dado de que a China se tornou, no mês de abril, o maior parceiro comercial da Argentina – posto historicamente brasileiro – o radialista demostrou preocupação. Para ele, o governo chinês tem de alimentar 1,3 bilhão de pessoas e, no contexto da pandemia, a economia foi duramente afetada, notoriamente nos fluxos de importação e exportação. Em comparação com abril de 2019, a Argentina exportou 50% a mais para Pequim, em especial soja e carne bovina, o que corrobora a percepção de Martins sobre a busca chinesa para segurança alimentar num contexto econômico “bagunçado” pelo novo coronavírus. 
            O deputado lastimou as controvérsias nas quais “vozes do Palácio do Planalto” acusaram a China de inventar o Sars-Cov2 em laboratório e de se beneficiar geopoliticamente do espalhamento da covid-19. Quando se referiu genérica e implicitamente ao ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, Martins foi diretamente questionado sobre o tuíte racista de Weintraub que zombava a pronúncia dos chineses que falam português, comparando-os ao personagem Cebolinha da Turma da Mônica – de Maurício de Souza. Martins, então, não poupou palavras para criticar o ex-ministro: “fez muito mal para o Brasil”. Apesar de assegurar o direito de expressão de Weintraub, o deputado afirma que o bolsonarista, por satisfação meramente pessoal, pôs o país em risco e desconsiderou a política internacional. 
            Outra questão polêmica e sensível ao Brasil e ao Mercosul é a situação da Venezuela, suspensa do bloco desde 2016. A crise em Caracas afeta direta e especialmente o Estado do Paraná, mesmo que a mais de quatro mil quilômetros de distância. Curitiba é a quarta cidade brasileira que mais recebe imigrantes e refugiados venezuelanos e, para o deputado estadual, isto se deve a “grife” que a capital carrega internacionalmente. Os curitibanos, para ele, menosprezam o tamanho da fama que a cidade tem mundo a fora. Por isto, o radialista afirmou que sempre faz questão de pôr o nome de Curitiba destacado em todos os panfletos e anúncios publicitários da rede Banda B. 
            Luiz Carlos Martins se disse “espantado” com os recentes acenos da Casa Branca de Donald Trump ao presidente venezuelano Nicolás Maduro. “Antes, Maduro era o diabo e agora, de repente, virou um santo”, comentou presidente da Comissão do Mercosul sobre a possível reaproximação dos dois países. Trump vem construindo uma ponte de diálogo com o governo bolivariano e se distanciando do autoproclamado presidente Juan Guaidó, anteriormente apoiado e reconhecido por Washington. Martins, então, criticamente questiona qual vai ser a posição do Brasil em meio a este imbróglio: “e agora que apostamos todas as nossas fichas no Guaidó, junto com os EUA?”, comparando a situação de alinhamento brasileiro aos norte-americanos como no caso da cloroquina, hoje já desaconselhada nos Estados Unidos para o tratamento da covid-19. 
            Elencando os esforços, o experiente deputado lamenta as limitações institucionais da Comissão que preside: “queria que fôssemos muito mais atuantes, mas não temos como. Eu posso mandar dois deputados pra ouvir o governo paraguaio em Assunção, mas aí vão dizer que a Comissão foi feita só pra viajar”. A cúpula para assuntos internacionais tem uma fragmentação partidária bastante notável. Além do presidente do Progressistas, compõem as reuniões o vice-presidente pedetista Goura e os deputados Arilson Maroldi do PT, Galo do Podemos, Luiz Fernando Guerra do PSL, Mauro Moraes do PSD e Soldado Fruet do Pros. “Uma maravilha. Ali não tem confusão ideológica, todo mundo contribui”, avalia o presidente sobre a diversidade de sua comissão. Martins, inclusive, rasga elogios ao deputado Goura, de partidarismo completamente diferente: “ele ajuda muito e ainda vai percorrer todo o Mercosul de bicicleta”, disse em tom de brincadeira com o colega, famoso cicloativista do PDT. Neste sentido, a Comissão do Mercosul e Assuntos Internacionais se diferencia de outras comissões predominantemente ocupada por bancadas temáticas.  Na de Segurança Pública, por exemplo, figuram apenas deputados militares ou delegados, presididos pelo deputado Coronel Lee (PSL) e pelo vice Delegado Recalcatti (PSD). Luiz Carlos Martins comemora que sua comissão seja pluralizada, ainda mais por tratar de temas de abrangência internacional: “toda unanimidade é burra. É preciso divergência para progredir”. 
            Antes de desligar o telefone e encerrar a entrevista, o deputado se preparava para uma sessão virtual da Assembleia. Muito bem-humorado, contou causos de parlamentar que esqueceu o microfone aberto e falou o que não devia. “Quando vai começar a sessão fica todo mundo contando história. Cada um em casa, pela internet, acaba que todo mundo ri junto”. Apesar das dificuldades que a pandemia impõe a atividade legislativa, o deputado Luiz Carlos Martins parece otimista que, na retomada do parlamento e no reaquecimento das relações internacionais, a Comissão do Mercosul terá muito o que discutir no mundo pós-pandemia. 
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segunda-feira, 23 de maio de 2011

O Caso Palocci: mais um episódio na vida da lúmpen esquerda internacional.




Por Carlos-Magno Esteves Vasconcellos.

Há cerca de uma semana (dia 15 de maio), a Folha de São Paulo divulgou em suas páginas a notícia do enriquecimento meteórico do atual ministro da Casa Civil, Antônio Palocci (PT), que, segundo a matéria do jornal, teria multiplicado por vinte o valor de seu patrimônio pessoal ao longo dos últimos 4 anos (2006-2010), quando exerceu o cargo de deputado federal, fazendo-o saltar de R$375 mil para mais de R$7,5 milhões (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1505201102.htm).
Farejando a possibilidade de um escândalo, a cambada da oposição (principalmente, PSDB e DEM) saiu ao ataque exigindo esclarecimentos ao sr. Palocci.
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segunda-feira, 16 de maio de 2011

HANNAH MONTANA E O CONGRESSO BRASILEIRO

Marlus Forigo
Filósofo e Cientista Político

          Milley Cirus é uma atriz e cantora juvenil que seduziu crianças, adolescentes e alguns adultos com suas músicas e personagem no seriado televisivo, cujo nome lhe valeu o codinome de Hannah Montana.
          A jovem esteve no Brasil fazendo shows no Rio de Janeiro e São Paulo nas noites de sexta-feira e sábado, dias 13 e 14 de maio de 2011, respectivamente. Minha filha Carolina, de 10 anos, desde que soube que a cantora estaria em terras Tupiniquins, não parou de me espicaçar a paciência para levá-la ao show. Mas o que é que a presença de Hannah Montana pode interessar ao leitor deste ensaio e mais, que relação, pois mais absurda que se possa fazer, a jovem popstar tem com a política brasileira? Para esta pergunta só existe uma resposta: NENHUMA!
          Calma! Não existe uma relação, mas uma conexão, ao menos para mim. Mas, para explicitá-la preciso falar sobre outra pessoa, o Fernando Rodrigues, não tão “importante” como Hannah Montana, mas que merece alguns instantes de nossa atenção. Fernando Rodrigues é jornalista do Jornal Folha de São Paulo e mantém uma página de política no site UOL. Na internet ele mantém uma listagem dos principais casos de desvio de conduta dos Senadores e Deputados Federais no ano de 2010 e nestes primeiros meses de 2011, facilmente identificada pelo título ”Monitor de escândalos no Congresso”.  Vou citar e brevemente comentar àqueles casos que mais diretamente me afetaram.
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