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quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Redação Internacional: o Brasil nas manchetes do mundo no mês de novembro

 

Por Fernando Yazbek

                   A desaceleração da pandemia do novo coronavírus no Brasil durante o último mês se mostrou apenas aparente. Passadas as eleições de 15 de novembro, o número de casos e de mortes disparou em quase todo o país. Dezembro se inicia superando a marca dos 170 mil mortos pela covid-19. Dentre as mais de dez mil vidas brasileiras que se foram pelo vírus nos últimos 30 dias, a do argentino Diego Armando Maradona foi a que mais repercutiu. 




                  Foi isto o que notou o jornal La Nacion. A mídia portenha frisou que, no dia em que houve o acidente de trânsito mais grave do ano – quando 41 morreram no interior de SP – só se falava de Dieguito no Brasil. A colisão na Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho e a morte violenta de Beto Freitas “amargaram injusto segundo plano” quando a notícia do falecimento do astro argentino chegou ao Brasil.

            Tratado como o “inimigo mais amado” na terra de Pelé, Nacion sublinhou que o brasileiro “primou pelo respeito a morte de Maradona”. A matéria elenca a série de homenagens feitas ao algoz da amarelinha na Copa de 90 pela própria Confederação Brasileira de Futebol. Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Careca, Casagrande, Renato Gaúcho e Pelé também foram lembrados pelo jornal como amigos e influenciados por Maradona que prestaram condolências emocionadas. Até o colorado Sport Club Internacional de Porto Alegre iluminou o Gigante da Beira-Rio de azul – cor do maior rival Grêmio – para chorar a partida do pibe, finalizou La Nacion



                  Já o Clarín deu destaque ao lançamento do livro “Um paciente chamado Brasil” do ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM). Segundo o jornal, o médico “abriu uma janela indiscreta” sobre a “psicologia paranoica” de Jair Bolsonaro no texto “imprescindível” para quem quer entender o negacionismo da pandemia. As bravatas do presidente não eram somente políticas ideológicas. Para Mandetta, Bolsonaro quis desvincular a imagem do governo com o inevitável impacto econômico negativo que a pandemia traria. 

            No mais, a reportagem mostra trechos de conversas entre o então ministro e o presidente que batiam cabeça sobre obviedades como o uso de máscara e a ajuda chinesa. Passando por Nelson Teich, Clarín diz que Eduardo Pazuello “reconheceu que não tina preparação alguma” para assumir a pasta sanitária. 



          O The Guardian puxa pela mesma toada do desgaste do bolsonarismo. Considerado um dos piores prefeitos da história do Rio de Janeiro, a não reeleição “humilhante” de Marcelo Crivella representa, para o jornal inglês, o enfraquecimento da retórica extremista. O texto enumera as candidaturas municipais apoiadas pelo presidente Bolsonaro que fracassaram. No entanto, reforça o crescimento de uma direita moderada e do fisiologismo concomitantes a desidratação do PT e a ascensão do PSOL

            Belém, Fortaleza, Manaus, Recife e Belo Horizonte, para o jornal, também elegeram a moderação. Em São Paulo, Guardian trata a vitória do tucano Bruno Covas como a continuidade de “uma das mais famosas dinastias políticas”. 



             Na maior mídia da arabofonia, Bolsonaro é apresentado como um dançarino conduzido “passo a passo” pelo presidente norte-americano Donald Trump. Al Jazeera faz um exercício de antecipação ao tentar prever a posição política internacional do brasileiro confirmada a derrota do republicano. Já isolado na América Latina, o Brasil – em constante troca de farpas com a China – terá como apoiador apenas Israel de Benjamin Netanyahu se não mudar a postura diplomática, avalia o jornal. 

            Joe Biden, que assumirá o Salão Oval da Casa Branca em 20 de janeiro, já se mostrou um crítico da política ambiental brasileira. Sua vitória é “um golpe” para o “nacional populismo” que ganhou as eleições de 2018 em Brasília e pode representar uma reviravolta para o próximo pleito. 



           Na BBC News, a fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro (REP) – em que o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara acusa a tecnologia 5G chinesa de espionagem – repercutiu como danosa a imagem brasileira. Ouvindo o diplomata aposentado Roberto Abdenur, que foi embaixador em Pequim nos anos 90 e em Washington nos anos 2000, BBC destaca que o governo de Xi Jinping não está deixando barato declarações anti-China. Quando a Austrália pediu investigações internacionais sobre a origem do coronavírus, Jinping elevou barreiras comerciais sobre a carne e a cevada australianas. Ademais, Pequim desencorajou chineses de visitarem o país na Oceania. 

            Para Abdenur, o filho do presidente “é de imensa irresponsabilidade” quando acusa o Partido Comunista Chinês e classifica de “hipocrisia” o ataque a Pequim pela suposta espionagem, uma vez que “o país que mais faz espionagem dos outros são os EUA”. 

            “No pior dos mundos”, situação brasileira é tensa e as falas de Bolsonaro júnior põe o Brasil ao lado de Coreia do Norte como páreas internacionais, concluiu o entrevistado pela BBC. 



             Novembro foi “um mês horrível” para Bolsonaro, sentenciou o Le Figaro. Fragilizado pela gestão sanitária e econômica na crise da covid-19, o “presidente populista” viu seus candidatos “definharem” ao longo da campanha municipal. Para a mídia francesa, os bolsonaristas postulantes a prefeituras levaram uma “bofetada” das urnas dois anos depois do “maremoto conservador” de 2018. 

            Assim como outros jornais da imprensa estrangeira, Figaro observa a mudança dos ventos para a centro-direita tradicional e o aparecimento de novas figuras pela via da esquerda. O que destaca o francês são os tempos difíceis que o governo federal terá nos dois anos que restam de mandato. Para além da derrocada de Trump, a nova onda de contágios na pandemia tende a ser determinante para a popularidade palaciana, uma vez que o auxílio emergencial – que sustentou o governo – não deve ser prorrogada. Toda a logística da eventual vacina para o ano que vem somado ao novo realojamento das forças políticas locais “anunciam dias difíceis para a presidência”. 



              Perdendo em São Paulo com Russomano e no Rio com Crivella, Bolsonaro perdeu em Washington e apareceu na imprensa de Lisboa. “A imprensa não divulga, mas eu tenho as minhas informações”, disse o presidente do Brasil se justificando por ainda não parabenizar o eleito Joe Biden. Acusando inclusive as urnas eletrônicas brasileiras de fraudulentas, Bolsonaro disse haver injustiças nas apurações de votos manuais nos EUA. 

            Mesmo que os estados de Winsconsin e Pennsylvania tenham confirmado – depois de imbróglios na contagem – a vitória democrata, Bolsonaro ainda não reconheceu a passagem de bastão na Casa Branca. Apesar da confusão na apuração estadunidense, o presidente brasileiro defendeu a substituição das urnas eletrônicas pela cédula impressa de votação. 



       O El País espanhol abriu espaço para a coluna de Juan Arias. Nela, é explícita a organização social que começa a se formar por uma frente plural que bata de frente com um presidente “que ataca a cada dia a essência do Brasil”. As recentes declarações do vice-presidente Hamilton Mourão de que não há racismo no Brasil são confrontadas, na mídia espanhola, com o caso de espancamento e assassinato de um homem negro em uma rede de supermercados em Porto Alegre. Nos protestos ocasionados por esta barbárie, se ouviram cânticos contra o governo brasileiro. Isto, segundo Arias, é um indício do descontentamento populacional contra os delírios do presidente. 

            Perto do fim do ano, o Brasil está cada vez mais longe do bom-senso e do mundo. 

            

 

 

Referências:

ARIAS, Juan. Se está creando um frente contra los delírios kafkianos de Bolsonaro. El País. 24 nov. 2020. Disponível em <https://elpais.com/opinion/2020-11-24/se-esta-creando-un-frente-contra-los-delirios-kafkianos-de-bolsonaro.html>

BOLSONARO: houve fraude nas eleições dos EUA. Diz que tem informações. Diário de Notícias. 29 nov. 2020. Disponível em <https://www.dn.pt/mundo/bolsonaro-houve-fraude-nas-eleicoes-dos-eua-diz-que-tem-informacoes-13089967.html

CORNALI, Federico. Adiós a Diego Maradona: el colorido respeto de Brasil por el enemigo más amado. La Nacion. San Pablo, 27 nov. 2020. Disponível em <https://www.lanacion.com.ar/deportes/futbol/diego-maradona-brasil-amado-nid2522788

LECLERCQ, Michel. Â mi-mandat, Jair Bolsonaro reçoit un severe avertisement à l’occasion des municipals. Le Figaro. Rio de Janeiro, 30 nov. 2020. Disponível em <https://www.lefigaro.fr/international/a-mi-mandat-jair-bolsonaro-recoit-un-severe-avertissement-a-l-occasion-des-municipales-20201130>

ROBINSON, Andy. Negación, rabia y fantasia: las reacines de Bolsonaro frente al coronavírus, em um nuevo libro. Clarín. Rio de Janeiro, 30 nov. 2020. Disponível em <https://www.clarin.com/mundo/-negacion-rabia-fantasia-revelador-libro-describe-reacciones-bolsonaro-frente-pandemia-coronavirus_0_qdvdC2y3q.html>

SCHREIBER, Mariana. Brasil esta metendo os pés pelas mãos com a China, diz ex-embaixador em Pequim após nova polêmica de Eduardo Bolsonaro. BBC. Brasília, 26 nov. 2020. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55081541>

YANAKIEW, Monica. Tropical Trump: where will Brazil’s Bolsonaro stande with Biden? Al Jazeera. Rio de Janeiro, 27 nov 2020. Disponível em: https://www.aljazeera.com/economy/2020/11/27/tropical-trump-where-will-brazils-bolsonaro-stand-with-biden>>

 



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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Redação Internacional: o Brasil nas manchetes do mundo na semana de 16/08 a 23/08

                                               

Por Fernando Yazbek

             O ano de 2020 parece não dar trégua no empilhamento de tragédias. Enquanto o número de mortes pela pandemia do novo coronavírus se aproxima dos120 mil brasileiros, nem a fauna do país está a salvo. O sul do Brasil, que enfrentou duras secas nos últimos meses, registrou temperaturas negativas, chuva congelada e neve nesta semana. Até Porto Velho, capital de Rondônia, teve mínima de 7ºC no coração do norte brasileiro. Apesar da frente fria, o pantanal mato-grossense encara a maior queimada das últimas duas décadas. O jornal inglês The Guardian dá conta de que cerca de 12% da vegetação da floresta foi afetada pelo fogo que ameaça destruir “o maior refúgio de araras azuis ameaçadas de extinção no mundo”. A reportagem traz entrevistas com especialistas locais que garantem que o incêndio generalizado foi provocado pelo avanço da agropecuária. Carlos Rittl, ambientalista ouvido pelo Guardian, acredita que a “hostilidade” do presidente Jair Bolsonaro com as questões ambientais contribui para que “pessoas taquem fogo sem medo de serem punidas”. O Ibama, órgão ambiental, foi enfraquecido na atual gestão federal, relembra a mídia londrina. 


         A mídia catari também destacou as queimadas na salva brasileira, mas desta vez na Amazônia. Al Jazeera, maior agência de notícias da língua árabe, soltou um vídeo sobre a situação dos milhares de focos de incêndio que acometem a floresta. O audiovisual traz depoimento de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, que prometeu esforços para conter uma tragédia ambiental ainda pior do que a do ano passado. A produção relembra que o presidente Jair Bolsonaro acusou o ator e ativista Leonardo di Caprio de ter ateado fogo na floresta e que, recentemente, o vice-presidente Hamilton Mourão convidou o artista para conhecer a Amazônia de perto em uma caminhada.  

           O desmatamento na Amazônia faz com que Berlim esteja cético quanto a ratificação do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, noticiou a Deutsche Welle. O periódico afirma que a chanceler alemã, Angela Merkel, está com “sérias dúvidas” sobre a aproximação dos blocos e que vê as queimadas na região norte do Brasil com “grande preocupação”. Fontes garantem que, depois de reunião com sueca Greta Thunberg e outros ativistas, Merkel firmou compromisso de não assinar o texto presente do acordo. DW recapitula que o tratado de livre-comércio entre os blocos da Europa e da América do Sul, assinado em julho de 2019, está enfrentando resistência cada vez maior dos europeus devido à política ambiental desastrosa do governo Bolsonaro. Além disto, “os ataques ao Estado de direito, aos direitos humanos e à democracia sob o governo brasileiro atual também são argumentos na Europa contra o acordo”, salientou o jornal. 


         Em Portugal, a polêmica administração bolsonarista nas áreas ambientais novamente repercutiu. Desta vez, o tema era a lei de proteção aos povos indígenas, que sofreu uma série de vetos do presidente Bolsonaro que dificultavam o acesso a água, a remédios e a hospitalização para índios. O Público elenca discursos de senadores de diversos partidos e estados criticando os vetos do executivo: “inacreditável”, “crueldade sem limite” e “desumano”, sublinha a imprensa portuguesa. O Congresso conseguiu derrubar os vetos do Palácio do Planalto, um alívio para os mais de 146 povos indígenas afetados pela covid-19. Citando a plataforma de monitoramento da situação indígena durante a pandemia, o Público faz uma cronologia do espalhamento do vírus entre os povos tradicionais sob a “omissão do Estado brasileiro”. Houve mais de 25 mil casos de infecção pelo Sars-Cov2 e perto de 700 mortes de indígenas brasileiros.

          Com os vetos derrubados no Brasil, a família Bolsonaro quis legislar na Argentina. O portenho Clarín noticiou os tuítes do deputado federal pelo Republicanos de SP, Eduardo Bolsonaro, em que o filho do presidente fala de uma “venezuelização” da Argentina. O jornal lembra que o deputado é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e um “braço latino americano” de Steve Bannon, “guru da extrema-direita” que foi preso esta semana por fraude nos Estados Unidos. 

            A mídia argentina lamenta que a publicação de Eduardo Bolsonaro tenha acontecido justamente no “melhor momento das relações diplomática entre os dois países nos últimos 9 meses”. Daniel Scioli, embaixador da Casa Rosada, havia se encontrado com Jair Bolsonaro dias antes. Clarín ainda frisou que, durante a pandemia, Brasília deixou de ser a principal parceira econômico de Buenos Aires, que duas décadas depois se voltou a Pequim.

             O New York Times volta a tratar da pandemia no Brasil. Para o jornal estadunidense, a “resposta caótica” ao novo coronavírus do governo brasileiro fez do país uma “oportunidade única” para pesquisadores da vacina. Assim, o Brasil “surge como um potencial e vital ator global para se acabar com a pandemia”, uma vez que as três mais promissoras vacinas do mundo contam com voluntários e cientistas brasileiros. O jornal retoma as falas do presidente que menosprezaram a doença e “sabotaram” as medidas de isolamento e uso de máscara. Pela “desorganizada coordenação brasileira”, países vizinhos ao Brasil militarizaram suas fronteiras e representantes da classe médica pediram a Corte Internacional de Justiça o indiciamento de Bolsonaro por crimes contra a humanidade.

            Times também discorre sobre o sistema público e universal de saúde brasileiro, “um dos melhores programas entre os países em desenvolvimento”. Apesar de ter contido surtos de febre amarela e malária, o SUS tem tido recentes e progressivos desinvestimentos. Além de sobreviver com menores orçamentos, o sistema ainda tem de lutar contra campanhas de desinformação e movimentos anti-vacina, amplamente propagados em mídias sociais. Pela primeira vez em 25 anos, afirma o jornal, o Brasil não bateu as metas de vacinação em 2019. 


         O filme de terror vivido pela menina de dez anos, estuprada desde os seis pelo tio, foi notícia no Le Monde. A criança que engravidou em decorrência da violência sexual conseguiu, na justiça pernambucana, o direito ao aborto legal que fora recusado no Espírito Santo, estado da menina. “À medida que os casos de violência sexual contra crianças se repetem, religiosos conservadores, evangélicos e católicos brasileiros, cada vez mais, se escondem por trás dos ‘valores’ defendidos pelo atual governo”, estampou o jornal francês. Isto porque a criança teve a identidade e o hospital onde realizaria o aborto revelados por militantes de direita nas redes sociais. Deste vazamento, uma pequena multidão se aglomerou em frente ao ambulatório para protestar contra a interrupção da gravidez forçada. 

A ministra Damares Alves chegou a enviar assessores que tentaram convencer a família da menina para que ela mantivesse a gravidez. O Le Monde destaca que, por se tratar de uma menor de 14 anos, cumpriam-se todos os requisitos para a legalidade do aborto num país que é uma democracia laica “apesar” de Jair Bolsonaro e seus apoiadores.


 

Já o espanhol El País tratou de antirracismo, feminismo e transparência para falar sobre a cultura no Brasil. A direção artística do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro foi remodelada para entrar e consonância com estres 3 princípios. Dentre uma centena de candidatos do concurso público para o cargo, Keyna Eleison e Pablo Lafuente vão dirigir o MAM. Ela, carioca negra, e ele, espanhol, aspiram juntos a uma reconfiguração do museu, que pretende reabrir na metade de setembro. 

            Lafuente disse ao jornal que, num país desigual, não se pode anunciar que o museu está aberto e esperar que as pessoas venham: são precisos programas específicos para cada grupo. 



Do guru ideológico preso por fraude a históricos parceiros comerciais receosos, o artigo 4º da Constituição Federal de 1988 vai virando cada vez mais um documento de museu que, ao que tudo indica, se transforma num grande necrotério de cinzas e caixões infantis. 

 

Referências:

ANDREONI, Manuela. LONDOÑO, Ernesto. Coronavirus Crisis Has Made Brazil an Ideal Vaccine Laboratory. The New York Times. Rio de Janeiro, 16 ago. 2020. Disponível em <https://www.nytimes.com/2020/08/15/world/americas/brazil-coronavirus-vaccine.html>

COVID-19: Congresso do Brasil anula vetos de Bolsonaro à lei de proteção indígena. Público. 20 ago. 2020. Disponível em <https://www.publico.pt/2020/08/20/mundo/noticia/covid19-congresso-brasil-anula-vetos-bolsonaro-lei-protecao-indigena-1928696>

EL hijo de Jair Bolsonaro cuestionó el decreto de Alberto Fernández sobre la telefonia celular, Internet y la TV paga. Clarín. Buenos Aires, 22 ago. 2020. Disponível em <https://www.clarin.com/mundo/hijo-jair-bolsonaro-cuestiono-decreto-alberto-fernandez-telefonia-celular-internet-tv-paga-venezuelanizacion-argentina-continua-_0_SzGfphY97.html>

GORTÁZAR, Naiara G. MAM Rio diversifica direção artística para mudar “cultura branca” dos museus no Brasil. El País. 20 ago. 2020. Disponível em <https://brasil.elpais.com/cultura/2020-08-20/mam-rio-diversifica-direcao-artistica-para-mudar-a-cultura-branca-dos-museus-no-brasil.html>

MERKEL diz ter sérias dúvidas sobre acordo UE-Mercosul. Deutsche Welle. 21 ago. 2020. Disponível em <https://www.dw.com/pt-br/not%C3%ADcias/s-7111>

PHILLIPS, Tom. Fears for endagered macaw as fire devastes Brazilian wetland. The Guardian. Brasília, 19 ago. 2020. Disponível em <https://www.theguardian.com/world/2020/aug/19/hyacinth-macaw-brazil-fire-pantanal-endangered-birds>

VIGNA, Anne. Brésil: le gouvernement de Jair Bolsonaro, um relais politique pour les anti-avortement. Le Monde. 21 ago. 2020. Disponível em <https://www.lemonde.fr/international/article/2020/08/22/au-bresil-un-relais-politique-pour-les-anti-avortement_6049646_3210.html>

YANAKIEW, Monica. Amazon fire: Raging blazes raise fears of a repeat of 2019. Al Jazeera. Rio de Janeiro, 21 ago. 2020. Disponível em <https://www.aljazeera.com/news/2020/08/amazon-fire-raging-blazes-raise-fears-repeat-2019-200821112341112.html>


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quarta-feira, 1 de julho de 2020

Redação Internacional: o Brasil nas manchetes do mundo na semana de 21/06 a 28/06

                                          

Por Fernando Yazbek

        O novo marco legal do saneamento básico, aprovado no Senado com larga maioria, movimentou a semana política brasileira. Na Saúde, as expectativas de que os números da pandemia do novo coronavírus estariam chegando a um platô não se confirmaram e o país continua ascendendo em casos e mortes. Apesar do descontrole sanitário, as quarentenas estão cada vez mais afrouxadas em São Paulo, ao contrário de Porto Alegre e Florianópolis. Segundo país mais afetado pela covid-19, o Brasil segue sem testagem em grande escala e há mais de 40 dias sem um ministro da Saúde titular. Na pasta educacional, um novo chefe tomou posse no lugar do expatriado Abraham Weintraub. Carlos Alberto Decotelli será o terceiro a comandar a Educação do governo Bolsonaro, que nomeia seu primeiro ministro negro. Enquanto o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) foi blindado por decisão do Tribunal de Justiça do Rio sobre as investigações dos esquemas das “rachadinhas”, o governo do pai, Jair Bolsonaro (sem partido), parece cada vez mais acuado. 

       Foi isto o que mostrou o jornal The Guardian. Para a mídia inglesa, a “jovem democracia brasileira está sob seu maior teste de estresse” agora na gestão Bolsonaro, que produz “retórica antidemocrática” ameaçando em especial a suprema corte. Os atos autoritários bolsonaristas tiveram reação de coalizão pró-democracia com inspiração no Diretas Já, “histórico movimento que ajudou a derrubar a ditadura militar no Brasil”, lembra o Guardian. O manifesto pelo estado democrático de direito abarca figuras antagônicas da esquerda à direita, como Flávio Dino e Luciano Huck, liderados e publicados pelo “principal jornal” do país, a Folha de S. Paulo. A mídia paulista disse, segundo a inglesa, que “ataques sistemáticos de bolsonaristas põem a democracia em risco”. A matéria faz um extenso apanhado de acenos do presidente “populista de extrema-direita” ao autoritarismo e aos militares. A “camisa amarela de futebol” e os emblemas nacionais se tornaram símbolos “inconfundíveis” deste levante antidemocrático, finaliza o The Guardian

        “O pior ministro da história do Brasil” também foi tema do mesmo jornal. Demitido do ministério da Educação, Abraham Weintraub “caiu para cima” e foi indicado a ocupar um cargo de diretoria no Banco Mundial, representando o Brasil. O The Guardian apurou que o banco tem enfrentado “crescente pressão” para barrar a nomeação do “mais notório aliado de Bolsonaro” para um emprego que paga mais de 17 mil dólares por mês. O jornal afirma que, muito possivelmente, o ex-ministro entrou nos Estados Unidos valido de passaporte diplomático para “driblar” a quarentena imposta a brasileiros que chegam aos EUA em meio à pandemia. Relembrando as declarações antidemocráticas – contra o STF – e racistas – contra o povo chinês – de Weintraub, o artigo traz declarações do jurista Thiago Amparo, que o classificou como “medíocre” e como “o completo oposto do multilateralismo e do respeito diplomático que o banco exige”. Ventila-se, segundo a reportagem, que Guenther Schoenleitner, do conselho de ética do Banco Mundial, teria dito a colegas que “não toleraria notórios racistas” no quadro da instituição, mas que não poderia interferir na decisão brasileira – em referência a Weintraub. 

         O Le Monde soltou um vídeo no qual lamenta a situação sanitária no Brasil, “aclamado no passado pela vanguarda no gerenciamento de crises de saúde”. O audiovisual compara a pandemia da covid-19 com surto de HIV dos anos 80, quando “o governo reagiu rapidamente” na distribuição gratuita de tratamento – mas hoje “copia drogas fabricadas no exterior”. Em 2015, assolado pelo vírus da Zika, o governo brasileiro de Dilma Rousseff “demostrou firme apoio aos cientistas”, afirma a mídia francesa numa triste comparação com Bolsonaro, que “sempre se posicionou contra a contenção” do contágio. 

       Ainda em Paris, a cientista política Mélanie Albert escreve ao Le Monde uma profunda e fundamentada análise do bolsonarismo. Antes de entrar nas semelhanças e diferenças de Bolsonaro com regimes populistas ou liberais, a professora argumenta que o modo “escandaloso e anticientífico” do governo é “desenhado” justamente para “neutralizar oposição”. Albert retoma a campanha presidencial de 2018 como exemplo para demonstrar a lógica retórica bolsonarista de “nós contra eles”, sendo “eles todos comunistas” e “nós Deus e Brasil”. Ela ressalva que os militares e evangélicos brasileiros “não constituem blocos homogêneos e monolíticos”, mas que até então vêm sendo os pilares de sustentação do presidente, em especial pela mobilização característica destes grupos. 


        Quem parece concordar com a cientista política francesa é a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT). Em cerca de uma hora de entrevista virtual ao espanhol El País, Dilma não titubeou em qualificar o atual executivo federal de “neofascista e miliciano”. Ela se preocupa, em especial, com os apoios irrestritos a Bolsonaro vindos da elite financeira e dos corpos de polícia. Para a primeira presidenta mulher do país, as forças armadas têm servido como partido político no jogo de poder brasiliense. Rousseff, que integrou a luta armada contra a ditadura militar (1964-1985), não crê que Jair Bolsonaro e o exército dariam um golpe de estado “clássico” como nos anos 60 e 70. A petista opina que a estratégia do governo é “radicalizar e radicalizar” e, dependendo da reação, recuar – mas nunca completamente. Assim, conclui, mitiga-se a democracia sem que haja, necessariamente, um coup d’etat. Na longa conversa, Dilma comenta a briga entre o ex-ministro Sergio Moro e o presidente, as ações do Partido dos Trabalhadores na oposição, as eleições municipais e nacionais por virem e o confinamento com seus netos de 9 e 4 anos em Porto Alegre. 

     
        Talvez a notícia mais fora do comum sobre o Brasil no exterior veio, nesta semana, da Angola. A Comissão Instaladora da Igreja Universal do Reino de Deus Reformada em Angola, liderados pelo bispo Valente Bizerra, decidiu romper com a representação brasileira da Igreja Universal do Reino de Deus no país africano. De acordo com os angolanos, membros da IURD protagonizam “atos de discriminação racial, castração, abortos forçados às esposas dos pastores angolanos e usurpação das competências da assembleia geral de pastores”. Porta-voz da revolta, Agostinho Martins disse que as igrejas localizadas nos principais centros urbanos são controladas por pastores brasileiros, que vivem em condomínios fechados enquanto os pastores angolanos são colocados em bairros miseráveis. Os protestantes acusam o representante do bispo Edir Macedo na Angola, bispo Honorilton Gonçalves, de compactuar com crimes de racismo, evasão de divisas e uma série de irregularidades fiscais. Reuniões prévias entre representantes brasileiros e angolanos não satisfizeram os anseios por reformas dos africanos que, então, tomaram 30 templos controlados pelos sul-americanos em seis províncias no país lusófono. O Jornal de Angola traz declarações de pastores e fiéis angolanos que se diziam marginalizados pela igreja brasileira para a qual serviam há quase 30 anos. 

     Na capital norte-americana, The Washington Post repercutiu as manifestações antirracistas que tomaram o Brasil após a morte do menino Miguel, filho de empregada doméstica que caiu de um prédio de luxo no Recife. O correspondente do Post no Rio de Janeiro, Terrence McCoy, exemplifica esta tragédia como um sintoma da pandemia do coronavírus no país. Enquanto “homens de negócio” podem e ficam em casa em isolamento, Mirtes Souza – mãe de Miguel – teve de sair trabalhar como cozinheira, faxineira e lavadeira para uma “família rica” e perdeu o filho. Este abismo social mostra a maior letalidade da covid-19 entre os mais pobres, aqueles que não têm as condições de trabalhar remotamente e se expõem ao vírus com mais frequência. 


        O argentino La Nacion manchetou um “doutorado inexistente” do novo ministro da Educação do Brasil, Carlos Albero Decotelli. O jornal diz que Bolsonaro apresentou seu subordinado como alguém com “extenso prestígio acadêmico” de doutorado na Universidad de Rosário, na Argentina. O Nacion reproduziu o pronunciamento do reitor Franco Bartolacci em que diz que Decotelli “não obteve, em Rosário, o título de doutor mencionado” pelo governo brasileiro. A matéria menciona as contradições no currículo do novo ministro, que ainda se diz pós doutor na Alemanha.
            Decotelli “refuta alegações de dolo”, noticiou o jornal alemão Deutsche Welle. Ele se mostrou disposto a “revisar seu trabalho para providenciar as devidas correções”. DW apurou que o campo “título” foi substituído por “créditos concluídos” e, onde se lia “orientador”, agora se lê “sem defesa de tese”. 
Ao contrário do que consta no currículo Lattes, Carlos Alberto Decotelli não fez pós-doutorado entre 2015 e 2017 na Universidade de Wuppertal. Em nota, o campus alemão afirmou que o brasileiro “não adquiriu nenhum título na Universidade”. É a terceira credencial acadêmica posta em dúvida do futuro ministro. 


         Perto dos 60 mil mortos pela covid-19, o Brasil segue sem ministro titular na Saúde e com um provável ministro da Educação que fraudou o CNPq, órgão do próprio Ministério da Ciência e Tecnologia. A imagem do país no exterior é, semana a semana, mais deteriorada por políticas inócuas e paranóicas. Anthony Pereira é um brasilianista e diretor de pesquisas da King’s College of London, um dos maiores centros acadêmicos da Europa. Em entrevista para o Estado de S. Paulo, Pereira concorda que Bolsonaro mudou as impressões sobre o Brasil de maneira “amplamente negativa” na comunidade internacional. 


    Do Banco Mundial ao protestantismo na Angola, da ciência política francesa ao brasilianismo inglês e das universidades argentinas aos campus alemães, os brasileiros estão cada vez menos quistos no estrangeiro. 

Referências:
ALBERT, Mélanie. Brésil : « Pendant la crise sanitaire, Jair Bolsonaro poursuit sa lutte face aux contre-pouvoirs ». . Le Monde, Paris, 26 jun. 2020. Disponível em <https://www.lemonde.fr/idees/article/2020/06/26/bresil-pendant-la-crise-sanitaire-bolsonaro-poursuit-sa-lutte-face-aux-contre-pouvoirs_6044235_3232.html>
BERALDO, Paulo. ‘Reputação do Brasil mudou para pior’, diz brasilianista. Estado de São Paulo, São Paulo, 28 jun. 2020. Disponível em <https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,reputacao-do-brasil-mudou-para-pior-diz-brasilianista,70003347046>
ATTIA, Myriam. Le Brésil a longtemps été efficace dans sa lutte contre les épidémies... jusqu’au nouveau coronavirus. Le Monde, Paris, 26 jun. 2020. 
EL ministro de Educación de Bolsonaro com um doctorado fantasma em la Universidad de Rosario. La Nacion, Brasília, 26 jun. 2020. Disponível em <https://www.lanacion.com.ar/el-mundo/el-ministro-educacion-bolsonaro-doctorado-fantasma-universidad-nid2386679>
McCOY, Terrence. In Brazil, the death of a poor black child in the care of rich white woman brings a racial reckoning. The Washington Post, Rio de Janeiro, 28 jun. 2020.
PHILLIPS, Tom. Top Brazil newspaper in pro-democracy drive as unease grows about Bolsonaro. The Guardian, Rio de Janeiro, 28 jun. 2020. Disponível em <https://www.theguardian.com/world/2020/jun/28/top-brazil-newspaper-in-pro-democracy-drive-to-counter-bolsonaro>
PHILLIPS, Tom. Call to block key Bolsonaro ally from World Bank job. The Guardian, Rio de Janeiro, 25 jun. 2020. Disponível em << https://www.theguardian.com/world/2020/jun/25/call-to-block-key-bolsonaro-ally-from-world-bank-job>>
SIBI, André. Pastores angolanos tomam templos da Igreja Universal. Jornal de Angola, Luanda, 23 jun. 2020. Disponível em << http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/pastores-angolanos-tomam-templos-da-igreja-universal>>

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segunda-feira, 22 de junho de 2020

Redação Internacional: o Brasil nas manchetes do mundo na semana de 14/06 a 21/06

                                          

Por Fernando Yazbek

            Em uma semana agitada na política nacional, os mais de um milhão de infectados pelo novo coronavírus quase não foram notícia. Com flagrante subnotificação de casos e de mortes, o país chegou à marca dos sete dígitos na última sexta-feira (19/06) e vai passando das 50 mil fatalidades pela covid-19. Enquanto isto, Brasília segue sem um ministro da Saúde há mais de mês e, agora, também sem chefe na pasta educacional. Os bastidores da capital federal já davam como certa a saída de Abraham Weintraub da Esplanada dos Ministérios desde que o cerco dos inquéritos sobre fakenews e ameaças ao Poder Judiciário se espreitou no agora ex-ministro. Demitido no mesmo dia em que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos), Fabrício Queiroz, foi preso em Atibaia – interior de São Paulo – na casa do advogado da família presidencial, Weintraub se despediu do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em um vídeo no qual avisava sua ida ao Banco Mundial. Antes deste anúncio, se ventilava a possibilidade de que o desgastado ministro assumiria um posto diplomático em Lisboa quando deixasse a Educação. 

        E a mídia portuguesa não viu a possível indicação com bons olhos. O Diário de Notícias lembrou que Weintraub “acumula gafes” e é tido no meio jornalístico e acadêmico como o “pior ministro da história”. O jornal citou o editorial da Folha de São Paulo que o classificava como um “jagunço do bolsonarismo que envergonha a pasta” [de educação]. Trazendo depoimentos de eurodeputados portugueses, o Diáriorepercute falas de que “Portugal não é caixote de lixo do bolsonarismo”. A matéria relembra ainda os inúmeros erros gramaticais do mandatário do MEC, suas ligações com manifestações antidemocráticas milicianas e seus erros geopolíticos ao atacar a China em tom claramente xenófobo. 


         Weintraub chegou ao estado norte-americano da Flórida já neste sábado (20/06), depois de manifestar pressa em sair do Brasil em face das investigações que correm contra ele no Supremo Tribunal Federal. Tendo seu nome indicado para o cargo de diretor-executivo do Banco Mundial, o ex-ministro embarcou para os EUA com passaporte diplomático do executivo federal e só foi desvinculado do governo por edição extra do Diário Oficial quando já estava em solo estadunidense. O jornal Miami Herald noticiou a tragédia brasileira da marca do milhão de infectados comentando que o presidente Bolsonaro “ainda menospreza os riscos do vírus”, isto “apesar das mais de 50 mil mortes”. Para o Miami, destino primeiro de Weintraub, a ala ideológica do governo brasileiro insiste que o impacto do distanciamento social na economia “é pior que a própria doença”. O jornal alerta que cidades brasileiras onde o contágio estava controlado, como Porto Alegre, agora sofrem com a escalada da epidemia e com as lotações dos leitos de UTI. 

       Já Curitiba foi destaque negativo na versão em português do espanhol El País. A capital paranaense que tinha a situação estável no início do mês de maio e adotaria o “modelo sueco” de reabertura, segundo o prefeito Rafael Greca (DEM), teve seu risco de alerta aumentado de moderado para médio nas últimas semanas. Na cidade, são cinco mortes atribuídas a causas respiratórias para uma de covid-19, aponta o El País como provável sintoma de subnotificação curitibana, que vê seu Hospital do Trabalhador com 88% dos leitos ocupados. 

         Em castelhano, o El País destacou a saída “sem sobressaltos” do ministro Weintraub como a quarta baixa ministerial durante a pandemia, sendo a décima segunda troca na Esplanada. Em tom crítico, o jornal sublinha que, antes de deixar o cargo, o então ministro revogou decretos aprovados em 2016, ainda na presidência de Dilma Rousseff, que regulamentavam cotas para negros, indígenas e deficientes para vagas em pós-graduações nas universidades federais. 

            Mas o juízo feito pela mídia espanhola ao Brasil veio em artigo de opinião intitulado “Camisa de força”, na segunda-feira (15/06) no mesmo jornal. Nele, lê-se que “nada de bom poderia ter saído da união de um capitão desequilibrado e um charlatão fisiológico”, em referência a chapa presidenciável Jair Bolsonaro e seu vice General Hamilton Mourão (PRTB). Mais a frente, a aliança do presidente com o eleitorado evangélico é chamada de “patológica” e as reformas ultraliberais e moralistas, que seguem os ensinamentos de Olavo de Carvalho, são tidas como “paranoicas”. O artigo conclui que Bolsonaro vestiu a “camisa de força” da democracia e leva o Brasil ao mesmo destino de Nicarágua, Venezuela e da antiga República de Weimar, um século atrás na Alemanha. 

        A mídia alemã, por sua vez, utilizou-se do argumento da congressista socialdemocrata europeia Delara Burkhardt de que “o desmatamento na Amazônia não é apenas um assunto brasileiro” para repercutir a estratégia da Comissão Europeia de barrar que produtos de origem no desmatamento cheguem no mercado do continente. Os deputados do órgão executivo da União Europeia acusaram o governo brasileiro de “explorar a pandemia para fazer avançar o desmatamento na Amazônia e privar os povos indígenas de seu habitat”, deu a Deutsche Welle. 

            Ainda na emissora internacional alemã, o Brasil foi notícia por se posicionar contra a criação de uma comissão de inquérito internacional para investigar abusos e violência policial contra a população negra nos Estados Unidos. A decisão veio em uma reunião extraordinária do Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, da ONU. O argumento brasileiro é de que “o problema do racismo não é exclusivo de uma região específica”. Com este alinhamento a Washington, Brasília se afastou de todas as nações africanas que se uniram no projeto de resolução pedindo uma comissão de inquérito internacional antirracismo. 

          A prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do Senador Flávio Bolsonaro quando então Deputado Estadual fluminense, também repercutiu na mídia estrangeira. O nova-iorquino Bloomberg avalia que vários aliados do presidente Bolsonaro têm enfrentado semanas difíceis em investigações contra corrupção e notícias falsas. Queiroz é um “amigo de longa data” da família presidencial, lembra a rede de televisão americana, citando que foram vistos juntos “pescando, comendo churrasco e na praia”. 

     Costumeiro crítico do governo brasileiro, o inglês The Guardian faz detalhada apresentação do esquema das “rachadinhas” pelo qual pairam acusações contra Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro. A matéria também conecta o ex-deputado estadual a membros do “notório esquadrão da morte mais letal” do Rio de Janeiro: a milícia Escritório do Crime. Guardian, fazendo um apanhado da repercussão na mídia brasileira, percebe que até sites “conservadores” como O Antagonista apontam o caso como bastante preocupante para o governo, uma vez que Queiroz foi preso em propriedade do advogado da família Bolsonaro. 

        O The New York Times, em letras garrafais, deu que o Brasil “pode virar o país com maior número de mortes pela covid-19” já no mês de julho, ultrapassando os Estados Unidos. O artigo traz a cronologia do vírus no país, demonstrando como alcançou-se um nível tão alto de contágio e o que as autoridades têm feito para frear o surto. Com a repercussão política da pandemia, Times enxerga que a responsabilização da crise só não caiu inteiramente no colo do presidente Bolsonaro por causa das reiteradas “ameaças de intervenção militar” para proteger seu grupo no poder.

            O polêmico retorno do futebol brasileiro foi pauta no La Nacion. O jogo no Maracanã vazio entre Flamengo e Bangu, vencido por 3 a zero pelos rubro-negros, foi a primeira partida oficial em quase 3 meses em toda a América do Sul, lembrou o periódico argentino, justamente no país latino mais afetado pela pandemia. O jornal questiona a razoabilidade da volta dos jogos, ainda mais num estádio onde funciona, há poucos metros de distância, um hospital de campanha onde morreram duas pessoas somente nos 90 minutos da partida.
            La Nacion faz um recorrido dos últimos acenos de proximidade entre o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, com Jair Bolsonaro. O “clube mais popular da cidade”, assim como o governo federal, tem rusgas com a Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão do Campeonato Carioca. A reportagem destaca que torcedores rivais de Flamengo, Botafogo, Vasco e Fluminense protestaram unidos e pacificamente contra a retomada do calendário esportivo em uníssona desaprovação ao presidente da República.

       Atenuando a radical mudança no eixo diplomático, o Brasil foi o único país sul-americano a votar contra resolução na ONU que reconhece o direito internacional em territórios Palestinos e condena a violência por forças ocupantes sionistas. Além do Brasil, apenas outros oito países foram contrários ao documento. 
Ao mesmo tempo, o Brasil ganhou manchete no israelense The Jerusalem Post pelo pastor que teria pregado um “novo holocausto” proferindo insultos antissemitas durante um sermão no Rio de Janeiro. 

         O Brasil vai entrando no solstício de inverno com aliados presidenciais exilados e presos, de Weintraub e Queiroz a Sara Winter. Colecionando desprestígio na mídia e nas organizações internacionais, um milhão de brasileiros doentes não são o foco de um país que, abarrotado de inimigos e intrigas, não tem tempo de cuidar do seu povo. 



Referências:
ANDREONI, Manuela. Coronavirus in Brazil: what you need to know. The New York Times, 20 jun. 2020. Disponível em <https://www.nytimes.com/article/brazil-coronavirus-cases.html?searchResultPosition=1>
AZNÁREZ, Juan J. Camisa de Fuerza. El País, Madri, 15 jun. 2020. Disponível em <https://elpais.com/opinion/2020-06-15/camisa-de-fuerza.html>
BRASIL se posiciona contra inquérito da ONU sobre violência policial nos EUA. Deutshce Welle, 18 jun. 2020. Disponível em <https://www.dw.com/pt-br/brasil-se-posiciona-contra-inquérito-da-onu-sobre-violência-policial-nos-eua/a-53856798>
CHADE, Jamil. Contra palestinos, Brasil apoia Israel em voto na ONU. UOL, 19 jun. 2020. Disponível em <<https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/06/19/contra-palestinos-brasil-apoia-israel-em-voto-na-onu.htm>>
EL fútbol volvió em Brasil com polémica y a pocos metros de um hospital de campaña. La Nacion, Rio de Janeiro, 18 jun. 2020. Disponível em <https://www.lanacion.com.ar/deportes/futbol/el-futbol-volvio-brasil-polemica-pocos-metros-nid2382287>
IGLESIAS, Simone. Former Aide to Bolsonaro’s Son Arrested in Brazil Probe. Bloomberg, 18 jun. 2020. Disponível em <https://www.bloomberg.com/news/articles/2020-06-18/former-aide-to-bolsonaro-s-son-arrested-in-brazil-investigation>
LIPHSHIZ, Canaan. Brazilian pastor and congregants pray for another holocaust. The Jerusalem Post, Jerusalém, 20 jun. 2020. Disponível em <https://www.jpost.com/diaspora/antisemitism/brazilian-pastor-and-congregants-pray-for-another-holocaust-632138>
MOREIRA, João A. “Pior ministro de Bolsonaro” pode estar a caminho de cargo em Portugal. Diário de Notícias, São Paulo, 17 jun. 2020. Disponível em <https://www.dn.pt/mundo/pior-ministro-de-bolsonaro-pode-estar-a-caminho-de-cargo-em-portugal--12322472.html
OLIVEIRA, Joana. Dimite el ministro brasileño de Educación, que instó a enviar a la cárcel a los jueces del Supremo. El País, São Paulo, 18 jun. 2020. Disponível em <https://elpais.com/internacional/2020-06-18/dimite-el-ministro-brasileno-de-educacion-que-insto-a-enviar-a-la-carcel-a-los-jueces-del-supremo.html>
PHILLIPS, Tom. Brazilian police arrest Bolsonaro ally in corruption inquiry. The Guardian, Rio de Janeiro, 18 jun. 2020. Disponível em <https://www.theguardian.com/world/2020/jun/18/brazilian-police-arrest-bolsonaro-ally-in-corruption-inquiry>
RUPP, Isadora. Estratégia “sueca” falha e Curitiba volta a fechar bares e parques para frear coronavírus. El País, Curitiba, 15 jun. 2020. Disponível em <https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-15/estrategia-sueca-falha-e-curitiba-volta-a-fechar-bares-e-parques-para-frear-coronavirus.html>
SAVARESE, Mauricio. Brazil tops 1 million cases as coronavirus spreads inland. Miami Herald, São Paulo, 19 jun. 2020. Disponível em <https://www.miamiherald.com/news/article243676512.html>
UE quer boicote a produtos de áreas desmatas. Deutsche Welle, 19 jun. 2020. Disponível em <https://www.dw.com/pt-br/ue-quer-boicote-a-produtos-de-áreas-desmatadas/a-53875332>
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