sexta-feira, 28 de julho de 2017

Redes e Poder no Sistema Internacional: São os hacktivistas vilões ou mocinhos?



A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.



São os hacktivistas vilões ou mocinhos?

Letícia Laíse Alves *


Com a crescente importância da Internet, surgiram movimentos, como o hacktivismo, que buscam atingir a promoção dos Direitos Humanos e seus principais preceitos: liberdade de expressão e justiça social. O movimento é famoso por atacar corporações e governos opressores que, por meio da censura ou do sigilo, ocultam informações importantes dos cidadãos.

Esses movimentos são, atualmente, uma das ferramentas mais importantes na área das manifestações, pois a rapidez e praticidade das redes sociais, somadas ao amplo alcance e divulgação, fazem com que a organização de protestos seja extremamente facilitada.

Os avanços relativos à tecnologia da informação ampliaram a capacidade de armazenamento de dados por parte das empresas e autoridades, na mesma medida que incentivou a ocultação de informações por estas instituições.

A fim de desmonopolizar as informações, grupos de hackers atacam constantemente governos e empresas. Neste século, um dos eventos mais marcantes em âmbito internacional foi a exposição do maior esquema de espionagem da história da humanidade realizado pelos Estados Unidos. Através de publicações no site Wikileaks, milhões de informações confidenciais do governo norte-americano foram veiculadas pela primeira vez ao público em geral, o que causou muita turbulência dentro e fora dos EUA.

O Wikileaks é uma organização de ciberativistas que, através de técnicas de invasão virtual de sistemas conhecidas como “hacking”, divulgam documentos, e-mails, imagens e quaisquer arquivos secretos mantidos longe do domínio público, com o intuito de conscientizar e alertar as pessoas sobre as medidas econômicas, sociais e políticas que o Estado toma. Segundo o fundador, Julian Assange, o site tem o propósito de manter uma transparência radical nas informações, mostrar ''como o mundo funciona''. As polêmicas geradas em cima do site só fizeram aumentar a quantidade de colaboradores e apoiadores

Se o conteúdo publicado no site WikiLeaks não agradou as mais poderosas instituições do mundo contemporâneo, por outro lado, houve pessoas e empresas de grande destaque no cenário mundial que prestou apoio e defendeu Julian Assange e o site WikiLeaks como um instrumento que visa promover a transparência e denunciar abusos, principalmente aos direitos humanos, por parte dos Estados-nacionais, como consta em inúmeras denúncias feitas pelo site, principalmente sobre as guerras no médio-oriente.


É nítida a importância e a necessidade de valoração dos Direitos Humanos no âmbito nacional e internacional. Entretanto, talvez pela primeira vez na história, os direitos humanos podem ter posto em risco a própria segurança de seres humanos, caso viesse a desencadear uma guerra real em função dos arquivos diplomáticos secretos que vazaram através do site WikiLeaks. Isso torna nítido o jogo diplomático duplo por parte de alguns países, o que é natural que aconteça na diplomacia entretanto, pode causar ressentimento àquele que ficou em situação desfavorável no “jogo duplo”.


* Letícia Laíse Alves é acadêmica do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), e pesquisadora do Grupo de Pesquisa "Redes e Poder no Sistema Internacional".
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quinta-feira, 27 de julho de 2017

Teoria das Relações Internacionais em destaque: “Análise sobre o protocolo de Kyoto enquanto Regime Internacional”.

Artigo apresentado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais I, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.

Por: Marcelo Henrique Guimarães Berger.

 

A Teoria dos Regimes Internacionais, desenvolvida por Stephen D. Krasner em 1982, estabelece que os regimes internacionais são caracterizados como normas, princípios, regras ou processos de tomada de decisão, que surgem a partir da convergência dos interesses dos atores internacionais em determinada área ou tema. Krasner identifica três vertentes existentes quanto a importância dos regimes internacionais, sendo elas as visões: estruturalista convencional, estruturalista modificada e grociana. Além, de considerar o desenvolvimento dos regimes como consequência de cinco variáveis básicas, o auto interesse egoísta, o poder político, as normas e princípios difusos, os usos e costumes, e o conhecimento.
            A visão estruturalista convencional, segundo o autor, seria aquela que caracteriza os regimes internacionais como meros epifenômenos, que poderiam até mesmo atrapalhar as relações entre os Estados. Ou seja, vê os regimes internacionais como algo desnecessário e sem importância. Essa visão é defendida por autores como Susan Strange, que defende a existência da diplomacia triangular como mais eficiente, somando capital e tecnologia; Max Weber, que afirma que o mercado de ações sociais não pode ser determinado pela orientação de normas e costumes, mas sim por interesses dos atores; e Kenneth Waltz, que caracteriza o comportamento dos Estados em função da distribuição de poder.
            Já a visão estruturalista modificada, observa os regimes internacionais como sendo um meio válido para se alcançar os objetivos dos Estados, não deixando de considerar que, mesmo assim, ainda podem-se obter os resultados de forma direta. E justamente, é essa dualidade que Krasner classifica como os dois caminhos para se obter o “comportamento correspondente e resultados”; considerando que um ocorre por meio de uma associação direta entre as “variáveis causas básicas” e os “comportamentos correspondentes”, já no outro, a “tomada de decisão” faz com que os regimes sejam utilizados para se obter os “resultados”. Essa visão é defendida por autores como Keohane, que considera o impacto dos regimes no comportamento dos Estados quando perseguem seus interesses individuais. Lembrando que assim, os regimes internacionais são interessantes para os Estados quando se configuram como uma “Cooperação Vantajosa”, pois assim torna-se uma maneira do Estado alcançar seus objetivos próprios.
            E a visão grociana, consiste na possibilidade de os regimes internacionais estarem acima dos próprios Estados, e assim, determinariam os interesses de cada um dos Estados dentro do Sistema Internacional. Formando assim, um contraponto às visões estrutural convencional e estrutural modificada; e de certa forma, se caracterizando como uma visão utópica da atuação dos regimes internacionais. Contudo, é a visão defendida pelo autor como a ideal para que o Sistema Internacional possua plena eficácia e tenha a possibilidade de “levar os regimes realmente a sério”.
            É válido ressaltar que o autor, ao observar as cinco variáveis básicas para o desenvolvimento dos regimes, de formas um tanto quanto distintas, em relação à forma como influenciam na atuação dos Estados, como exemplo, afirma que os interesses egoístas do Estado sempre possuem a capacidade de influenciar na tomada decisões, além de ser o que impossibilita a atuação da visão grociana – além de ser o motivo citado por diversos autores ao afirmar que os regimes internacionais não possuem eficácia, e assim, se tratam de meros empecilhos no Sistema Internacional.
            A visão estruturalista convencional, é muito adotada por grandes Estados que não possuem interesse na cooperação do sistema internacional, ou seja, não pretendem abrir mão de alguns de seus interesses próprios em prol dos interesses da comunidade internacional, o que por muitas vezes pode até mesmo fazer algum sentido. Como exemplo, podemos citar a garantia da soberania estatal, ou até mesmo o mero desinteresse do Estado em colaborar com algo que não lhe seja vantajoso, e assim não faça surgir benefícios para esse determinado Estado.
            Contudo, um ponto muito bem abordado no artigo de Stephen Krasner, é como a cooperação no Sistema Internacional é interessante para o desenvolvimento coletivo, pois trata-se de uma forma de nivelar os Estado de forma justa e equitativa. Pois, quando atores desenvolvidos do Sistema Internacional – ou seja, atores industrializados – abrem mão de alguns de seus interesses, possibilitam que aqueles atores subdesenvolvidos passem a se desenvolver; o que por sua vez, ocasionaria em um grande benefício para todo o Sistema, e não somente a um indivíduo / ator.
            Como exemplo da cooperação em prol da comunidade internacional, posso citar a atuação dos Estados Unidos perante a mesma, considerando que normalmente são eles quem afirmam a inutilidade dos regimes internacionais e a possibilidade de suas inexistências, contudo, se valem dos mesmos como uma forma de alcançar seus objetivos. Até então, estabelecendo uma visão meramente estruturalista convencional que os coloca em uma suposta posição de superioridade perante o sistema internacional – pois, quando afirma que de nada valem os regimes, na verdade não querem dar o devido a eles, o que consequentemente significaria sua relevância no sistema.
            Outro ponto interessante para análise, é o fato de que por meio dos discursos contra os regimes internacionais, Estados como os Estados Unidos acabam achando respaldo para não aderir a tratados importantes para o Sistema Internacional como um todo. E, ao considerar as proporções continentais de seu território, e sua influência sobre o plano internacional, fica nítida a importância da cooperação em determinados pontos específicos, como por exemplo as questões ambientais e humanitárias. Assim, a posição dos EUA ao não ratificar ao Protocolo de Kyoto de 1997, que estabelece compromissos mais rígidos para os Estados visando a redução da emissão de gases que provocam, ou até mesmo aceleram, o efeito estufa, como um desrespeito à coletividade, e até mesmo uma afronta à própria vida humana.
            O protocolo, visa a implementação de um regime internacional de acordo com a visão estruturalista modificada, pois estabelece que, por tratar-se de matéria competente à toda a comunidade internacional, é de interesse geral a preservação do meio ambiente e a manutenção do ecossistema terrestre. Contudo, ao analisarmos tal regime, é nítida a displicência de determinados atores em relação a esta matéria, e tais atores são exatamente os que mais deveriam se comprometer com a causa. É fácil observar o motivo de determinados atores em não aderir ao protocolo, pois são meramente econômicos, assim como já afirma a teoria de Kraesner, entretanto, por adotar a visão estruturalista moderada para este regime, é impossível obrigar os Estados a participar dos regimes. Fazendo assim com que reste somente a possibilidade de mostrar a esses Estados a possível vantagem na participação no regime, e como ele pode lhe beneficiar em termos futuros, além de fazer ser perceptível a sua importância imediata (não um mero epifenômeno no Sistema Internacional).
Tais comportamentos “anti cooperativos”, na realidade são uma demonstração infeliz dos interesses egoístas dos Estados sobressaindo-se aos interesses comuns a todos os Estados. Os quais, de alguma forma deveriam influenciar em suas ações, mas sem causar tanto impacto no âmbito internacional. E, para que isso ocorra, a preservação ambiental e os demais interesses coletivos da humanidade devem também trazer vantagem para os Estados, fazendo com que assim, estes sintam-se estimulados a protege-los.
Outro ponto interessante, é o fato de que embora Stephen D. Krasner, seja um autor da corrente teórica do realismo, ele acaba observando que a cooperação presente na visão estruturalista modificada é interessante para os Estados, e possibilita que estes, de alguma forma, tenham seus interesses atendidos perante o Sistema Internacional. Além de considerar impossível que o sistema possa estabelecer-se em harmonia sem que haja a cooperação.
Tal falta de cooperação, ao meu ver, ocasionaria uma grande crise em todo o Sistema Internacional, pois os regimes internacionais, mesmo que não tenham autonomia e poder para submeter os Estados às suas vontades e necessidades, são extremamente válidos para manter esse sistema funcionando de forma razoável. Também, sendo um mecanismo de desenvolvimento mútuo dos entes internacionais, considerando que, ao estabelecer que determinados Estados devem abrir mão de seus interesses para que outros, menos desenvolvidos, tenham a possibilidade de se desenvolver e assim seguir na busca de um mundo mais justo e igualitário.
E após todos os Estados terem alcançado a um nível similar de desenvolvimento, o Sistema Internacional acabaria por se tornar muito mais homogêneo e fria com que os interesses fossem realmente coletivos. A partir do momento em que as condições são as mesmas para todos os entes da comunidade internacional, esses têm a possibilidade de realmente buscar interesses coletivos – e assim, deixar de buscar simplesmente por seus interesses egoístas, que basicamente fazem com que uma grande divergência de opiniões possibilite o prevalecimento de um Estado sobre outro sem visar a coletividade.
Por fim, gostaria de reiterar a ideia de que somente por meio da cooperação existe a possibilidade do alcance dos interesses coletivos, e para que esta ocorra, os regimes internacionais fazem-se necessários. E assim, ressaltar que potências mundiais como os Estados Unidos, no papel de grande influência que possuem, tem como deveriam ter como objetivo o bem-estar coletivo, e não somente o seu próprio e o de quem lhes convém. Pois quando estes, se recusam a visualizar um problema com o mero intuito de garantir seus interesses, acabam por impor sanções àqueles que se encontram em situações não tão confortáveis como as suas, e ainda prejudicam a todo o desenvolvimento do Sistema Internacional como um todo.


REFERÊNCIAS:

·      KRASNER, D. Stephen. Revista de Sociologia e Política V. 20, Nº 42: 93-110 junho de 2012.



* * Marcelo Henrique Guimarães Berger: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.


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sábado, 15 de julho de 2017

Redes e Poder no Sistema Internacional: A guerra dos e nos conceitos


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.


A guerra dos e nos conceitos


Marina Lola Lombardi *

No estudo dos diversos conflitos internacionais, o início da pesquisa se dá pelo incessável processo de conceituação. Termos como “guerra”, “armamento” ou ainda “genocídio” são destrinchados e debatidos, talvez resultando em perguntas ainda mais diversas que apenas a sua definição e muitas vezes, por que não, incômodas. Neste aspecto, a própria academia pode-se tornar um campo de batalha. Como?

Tomemos como exemplo o termo “genocídio”. O genocídio foi conceituado pela primeira vez pelo judeu Raphael Lemkin em 1944, que trouxe o termo ao relatar o genocídio de seu povo durante o Terceiro Reich de Hitler, após sua fuga da Polônia para os Estados Unidos, um período de suma importância para os povos e a história e uma tentativa de se criar uma unidade de pensamento sobre aquele fato que jamais deve ser repetido. 

Mas, por que o mesmo nível de produção acadêmica e conceituação, bem como disseminação do conteúdo, não ocorreu no genocídio de outros povos, como os armênios, o caso de Ruanda ou os povos originários da América Latina?

Ao mesmo tempo em que o termo genocídio descreveu o ataque deliberado aos povos judeus durante a Segunda Guerra e culminou na Convenção sobre o Genocídio de 1948, o documento resultante ignorou a proteção de minorias subjugadas pela sua classe social e gênero, minorias estas que já não são tradicionalmente representados no sistema político internacional. É o caso das vítimas de feminicídio. O “feminicídio” ainda é um termo que esbarra na conceituação e não tem um entendimento acadêmico mútuo. No Brasil, o feminicídio passou a ser reconhecido como uma tipificação de crime hediondo apenas em 2015, o mesmo Estado mantém-se entre os sete mais violentos para mulheres desde o início do século (ONU Mulheres, 2016). 

É necessária uma reflexão profunda também quanto ao poder hegemônico existente dentro da própria produção acadêmica com relação a estes termos. 

Quando se trata de guerras, faz-se importante entender o domínio literário de estudiosos de certos pontos do mapa-múndi contra a submissão da academia de polos “emergentes”. É o caso explícito da criação francesa do termo “América Latina” por parte de Michel Chevalier, no século XIX, na tentativa de se construir o panlatinismo liderado pela França de Napoleão III na região. Ainda que tal termo tenha sido enriquecido de significado através dos próprios latino-americanos, pode-se perceber o ideal hegemônico por trás do termo adotado na academia para descrever milhares de povos numa extensa e variada área geográfica. 

A autora irlandesa-americana Samanta Power descreve em seu livro ‘Genocídio: a retórica americana em questão’ as intervenções seletivas lideradas pelos Estados Unidos, com o apoio de outras potências e de braços das Nações Unidas, em outros genocídios após o judeu relatado por Lemkin. Ela cita, como exemplos de aplicação deste conceito, os casos do Vietnã, do Camboja, do Iraque, dos Balcãs, de Ruanda e o ainda atual caso de Darfur. Todos estes são Estados ou regiões que presenciaram desde genocídio até a limpeza étnica de seus povos (outro caso de conceito ainda debatido), porém, cada um repercutido de acordo com o filtro selecionado pelas potências hegemônicas. 

O perigo da uberconceituação encontra-se justamente naquilo já previsto por Gaston Bachelard ao estudar a epistemologia e a divisão de conhecimentos científicos: nos perdemos em meio a conceitos rígidos demais. Assim, a hegemonia acadêmica nos mantém pensantes que contribuem para uma perspectiva já traçada, evitando que casos novos sejam encarados em sua especificidade ou, pior, hierarquizando fatos em detrimento do encaixe ou não nos preceitos conceituais utilizados. 

REFERÊNCIAS:

LEMKIN, R. Axis Rule in Occupied Europe, 1944.

POWER, S. Genocídio: a retórica americana em questão. São Paulo: Cia das Letras, 2004

* Marina Lola Lombardi é Internacionalista e Turismóloga, egressa do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mestra em Gestão do Desenvolvimento pela Università degli Studi di Torino e pelo Centro de Formação da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
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quarta-feira, 12 de julho de 2017

Por Onde Anda: Gabriela F. Moulin Coelho, Trainee em finanças na empresa Neodent


A seção "Por onde anda" entrevista egressos do Curso de Relações Internacionais do UNICURITIBA sobre experiências acadêmicas, profissionais e de vida concretizadas após o término do curso e é coordenada pela Prof. Michele Hastreiter e pela Prof. Angela Moreira






Nome Completo: Gabriela F. Moulin Coelho
Ano de ingresso no curso de Relações Internacionais: 2012       
Ano de conclusão do curso de Relações Internacionais: 2016
Ocupação atual: Trainee em finanças na empresa Neodent.

Blog Internacionalize-se: Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional após a formatura no curso de Relações Internacionais.
Gabriela Coelho: Comecei a procurar oportunidades alguns meses antes de me formar: atualizando e me cadastrando em sites como Linkedin, Vagas.com, Na Prática (um “braço” da Fundação Estudar) e aberta a vagas em diferentes áreas de atuação. Uma das empresas que me deram retorno foi a Neodent, que havia aberto seu primeiro programa de trainee e em cuja vaga me apliquei através do Vagas.com.

Blog Internacionalize-se: Qual a lembrança mais marcante do período de faculdade?
Gabriela Coelho: O ambiente afiliativo. Conheci muita gente, fiz vários amigos e desenvolvi relações muito importantes para o meu crescimento pessoal. Na faculdade você tem que cumprir com certas obrigações e expectativas, mas muito menos se comparado ao ambiente profissional de uma maneira geral: isso te dá liberdade e possibilidade para (se) descobrir muito.

Blog Internacionalize-se: Quais as aptidões e conhecimentos desenvolvidos no curso de Relações Internacionais que mais o ajudam na sua profissão atual.
Gabriela Coelho: A visão ampla e generalista, a capacidade de considerar e buscar conciliar vários atores e influências sobre um sistema, buscar entender o que está por trás das coisas “prontas e acabadas”.

Blog Internacionalize-se: Qual foi a experiência mais desafiadora que já teve profissionalmente?
Gabriela Coelho: Conseguir a vaga de trainee foi uma experiência extremamente estimulante e desafiadora por si só, mas me inserir na área de finanças, entender os processos e o “Mindset” do funcionamento da área como um todo é um aprendizado diário. Além disso, graças ao programa, passei 3 meses na matriz do grupo, onde desenvolvi 2 projetos também na área de finanças. Estar sozinha em outro país a trabalho pela primeira vez também foi uma experiência muito rica.

Blog Internacionalize-se: Qual conselho deixaria para os nossos alunos?
Gabriela Coelho: Muita coisa não faz sentido às vezes, mas isso não quer dizer que você não está no caminho certo.

Blog Internacionalize-se: Como é o dia a dia do trabalho na Neodent? Que atividades desempenha?
Gabriela Coelho: Hoje eu faço job rotation pelas áreas de finanças: controladoria, contabilidade, tesouraria e T.I., então tenho alguns projetos periódicos, por isso as atividades variam bastante, mas de maneira geral sempre associadas ao departamento financeiro como um todo.

Blog Internacionalize-se: Como avalia o movimento de fusões e aquisições internacionais como uma oportunidade para os profissionais de RI?   Entende que deverá haver um aumento de oportunidades para os profissionais de RI no futuro?
Gabriela Coelho: Fusões podem exigir adaptações drásticas de cultura na(s) empresa(s). Quando se fala de multinacionais, as proporções são ainda maiores. Isso exige capacidade de perceber e entender o impacto de diversas variáveis, muitas vezes culturais (no sentido corporativo e antropológico), algo que praticamos muito no curso. Além dessa capacidade de pensamento sistêmico, o desenvolvimento da comunicação e articulação é extremamente valioso. Acho que essas são características comuns a muitos alunos de RI, e com isso temos ganhado cada vez mais espaço e reconhecimento.

Blog Internacionalize-se: Que dicas ou conselhos dariam para os alunos de RI que desejam seguir carreira no mundo corporativo?
Gabriela Coelho: Eu tinha muito medo de que o fato de ter feito estágios de duração relativamente curta e em áreas diferentes fosse encarado como falta de comprometimento ou foco. Hoje percebo que graças a cada experiência sou capaz de me inserir e me sentir confortável em diversos contextos, me comunicar com as pessoas com backgrounds bem diferentes do meu e entender suas expectativas e perspectivas. Então minha primeira dica é: aproveite as oportunidades que fazem sentido para você, mesmo que você ainda não saiba como elas serão úteis no futuro. A segunda dica é: trabalhe sua autoconfiança. Somos ensinados a sempre buscar o feedback de outra pessoa: o professor, o colega do grupo, o orientador. E essas orientações são importantes também, mas em muitos momentos você vai ser a sua única segurança, então é bom saber que pode contar consigo mesmo.


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sexta-feira, 7 de julho de 2017

Redes e Poder no Sistema Internacional: A Guerra de Guerrilha - um antigo, mas não ultrapassado conceito de guerra


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.


A Guerra de Guerrilha – um antigo, mas não ultrapassado conceito de guerra

Tiago Viesba *

Segundo o dicionário Aurélio, uma das definições de “guerrilha” é comportar-se de modo conflituoso. Apesar de simplista, esta pista de definição invoca um elemento básico desse modus operandi, um comportamento que utiliza do conflito para alcançar um claro e estruturado objetivo político, que pode ser tanto a alteração do regime político vigente, quanto à resistência e futura expulsão de um invasor estrangeiro.

Para se compreender a funcionalidade desse exemplo de guerra, é possível buscar na história sua origem e suas diferentes características desenvolvidas de acordo com realidade de cada povo. Muito utilizada e popularmente conhecida no século XX, acredita-se que a Guerrilha tenha surgido em seu aspecto atual no início do século XIX por ocasião da invasão promovida por Napoleão Bonaparte na Península Ibérica, como parte de seu planejamento de expansão do Império que estabelecia na França. A Guerra Peninsular, que Portugal e Espanha tentaram travar contra o imperador francês para defender seus territórios entre 1808 e 1812, teria presenciado técnicas já conhecidas na Antiguidade Clássica, mas que, só então passavam a ser designada enquanto guerrilhas. É possível citar muitos casos ao longo da história em que técnicas semelhantes de combate foram utilizadas, no entanto, o termo só chegou a ser cunhado mesmo naquele início do século XIX. 

A guerrilha caracteriza se por um conflito de longa duração, no qual as ações devem ser constantes. Mao Tse-Tung (1936), um dos principais pensadores de tipos alternativos de combate, afirma que, se “o inimigo avança, retiramos. O inimigo acampa, provocamos. O inimigo cansa, atacamos. O inimigo recua, perseguimos”. Ainda segundo Mao, a guerra de guerrilha pode ser concebida como parte de um continuum, onde os guerrilheiros se aproveitam das condições locais para obter vantagem sobre as forças invasoras, mantendo assim, um clima de constante e sucessiva inquietação.

Durante a metade do século XX a guerrilha foi utilizada principalmente na Europa dentro do contexto das duas Grandes Guerras, porém, no período posterior à Segunda Guerra Mundial, as guerrilhas se propagaram principalmente pela África, Ásia, América Central e América do Sul. Nas décadas de 1950, 1960 e 1970, ocorram principalmente através de movimentos de libertação nacional contra nações colonizadoras ou movimentos revolucionários contra governos ditatoriais. 

Um dos principais autores dessa época foi Ernesto “Che” Guevara, que teorizou a respeito da guerrilha revolucionária, definindo-a como a vanguarda do povo em luta (GUEVARA, 1982). Os sinais de enfraquecimento dos impérios coloniais, somados ao apoio retórico da então URSS às lutas nacionalistas, estimularam as lideranças africanas e asiáticas a buscarem o caminho da independência. Muitos países do denominado “Terceiro Mundo” recorriam a tática de guerrilha para enfrentar as tropas colonialistas. Dentre os exemplos mais marcantes desse período temos a Revolução Chinesa de 1949 e a Cubana de 1959, a Guerra do Vietnã de 1960 e Invasão Soviética ao Afeganistão em 1979. Devido ao alto custo e o prolongamento excessivo deste último conflito, gerou-se um resultado malogrado para aquela superpotência da Guerra Fria. A intervenção soviética no Afeganistão costuma ser comparada em resultados ao que foi, para os EUA, a Guerra do Vietnã.

Dessa forma, entende-se que as táticas de guerrilha são baseadas em inteligência, emboscada, sabotagem, com o objetivo de minar as autoridades através de baixas, em um conflito de pequena intensidade e longa duração. Estas táticas podem ser bem-sucedidas tanto contra regimes nacionais, como contra forças invasoras externas, como demonstrado durantes os conflitos já citados. Uma guerrilha prolongada e ativa pode aumentar o custo de se manter uma ocupação militar ou uma presença colonial, acima do planejado pela nação estrangeira. Contra um regime local, os guerrilheiros podem tornar a ocupação impossível com ataques e ações de sabotagem, e mesmo podem lançar mão de uma combinação com forças estrangeiras para derrotar seus inimigos no campo de batalha convencional local.

Utilizando-se de pequenos grupos e ataques surpresas, os guerrilheiros buscam abater o moral do inimigo, infligindo baixas e derrotas humilhantes, e mantendo sempre uma forte pressão psicológica contra a tropa adversária. As ações guerrilheiras devem ser planejadas para infligir as maiores perdas ao inimigo, com o mínimo de perda material e em número de vidas por parte dos guerrilheiros. 

A intenção dos ataques é também política, com o objetivo de desmoralizar as populações que são seu alvo e/ou seus governos, ou incitar uma reação popular para forçar um maior apoio a favor da guerrilha. Um cuidadoso planejamento antecipado é necessário para as operações, e detalhes como a capacidade de reação inimiga, armas a disposição e rotas de aproximação e fuga, não podem ser desprezados. Ainda que aconteça de forças guerrilheiras serem forçadas a travarem uma batalha indesejada por causa de uma varredura do inimigo, a maioria do tempo é gasto em treinamento, infiltração, propaganda cívica e doutrinação, além de construção de fortificações, ou armazenamento de suprimentos, além da coleta de informações.

As relações com as populações civis são influenciadas pelo fato de a guerrilha operar entre uma população hostil ou amigável. A população amigável é favorável aos guerrilheiros, proporcionando abrigo, suprimentos, financiamento, inteligência e recrutas. A base "do povo" é, portanto, a chave da sobrevivência do movimento de guerrilha. Porém, as forças guerrilheiras podem estar travando uma guerra de libertação, e isso pode ou não resultar em um apoio suficiente por parte dos civis afetados. Outros fatores, incluindo ódios étnicos e religiosos, podem fazer uma simples reivindicação de libertação nacional insustentável. Independente da exata persuasão ou coerção utilizada pela guerrilha, as relações com as populações civis são um dos fatores mais importante no seu sucesso ou fracasso.

Além disso, os guerrilheiros não são reconhecidos como combatentes lícitos pela Convenção de Genebra, por não usarem um uniforme militar (usam roupas civis na maioria das vezes e se misturam com a população local), ou os seus distintivos e emblemas de uniforme não podendo ser reconhecidos como tal por seus oponentes. Ou seja, a guerrilha envolve um grupo de indivíduos armados, que operam à semelhança de uma unidade militar, atacam preferencialmente forças militares inimigas, conquistam e mantêm territórios – mesmo que temporariamente – e, ao mesmo tempo, exercem algum tipo de soberania ou controle sobre uma área geograficamente definida e sobre sua população, nos denominados santuários (refúgios estratégicos). 

Ainda assim, a guerrilha ainda é muito confundida com grupos terroristas, que na verdade podem utilizar se de atos guerrilheiros, mas que, de fato, são um outro tipo de combate armado. Em contraste com os guerrilheiros, os terroristas não operam em terreno aberto como unidades armadas, não tentam conquistar ou manter territórios (com exceção dos que atuam regionalmente), evitam deliberadamente o engajamento em combates com forças militares inimigas e raramente exercitam qualquer tipo de controle ou soberania sobre territórios e populações. Um ponto importante é que os movimentos puramente guerrilheiros têm uma maior preocupação com a legitimidade de sua causa e atos, por conta da necessidade vital do apoio popular e internacional a sua causa, o que não ocorre com os grupos terroristas.

Portanto, conclui-se que, diante das crescentes tensões étnicas, religiosas, políticas e até ambientais, espalhadas pelo globo, que geram opressão e injustiça, se tem um terreno fértil para continuação ou surgimento de grupos insurgentes, que na luta do fraco contra o forte se utilizarão da guerra de guerrilha para alcançar seus objetivos. As condições ambientais, tais como a crescente urbanização e o acesso fácil à informação e a atenção da mídia também complicam a cena contemporânea. Atualmente, as insurgências modernas e outros tipos de guerra de guerrilha podem fazer parte de um processo integrado, completo, com doutrina, organização, competências especializadas e capacidade de propaganda sofisticados, atuando principalmente na área urbana, onde os guerrilheiros podem misturar se com as populações civis e não civis (a chamada guerrilha urbana). 


Referência utilizada


GUEVARA, Che. Sierra Maestra: da guerrilha ao poder. São Paulo: Edições Populares, 1982. (2ª. ed.).


* Tiago Viesba é acadêmico do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba, e membro dos Grupos de Pesquisa "Redes e Poder no Sistema Internacional" e "Conflitos no Oriente Médio, África e Ásia Central".
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