sexta-feira, 29 de junho de 2012

Ruptura da ordem democrática no Paraguai – quanto isso pode custar?

Nos próximos dias, os países membros do Mercado Comum do Cone Sul (MERCOSUL) e da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) realizarão reuniões de alto nível para discutir as medidas a serem tomadas em resposta à ruptura da ordem democrática no Paraguai, como foi por eles definido o impeachment do presidente Fernando Lugo, ocorrido no dia 22/06. Em pauta, estará a aplicação de sanções econômicas, prevista nos compromissos democráticos de ambas as organizações regionais. Nosso objetivo neste breve artigo é estimar o quanto isso pode custar ao Paraguai, levando em consideração o perfil das relações econômicas internacionais do país. Complementarmente, ponderamos alguns fatores que podem moderar a resposta dessas organizações e, portanto, reduzir os custos da ruptura. [...]

Artigo originalmente publicado em Mundorama – Divulgação Científica em Relações Internacionais por George Wilson dos Santos Sturaro, Professor do curso de graduação em Relações Internacionais da UNICURITIBA, em parceria com André Francisco Matsuno da Frota, mestrando em Ciência Política pela UFPR.

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segunda-feira, 25 de junho de 2012

As ilusões fatais das potências decadentes


Wallerstein: em países como EUA e Israel, nem governos, nem sociedades enxergam seu declínio relativo. 
Tal cegueira produz erros desastrosos
Por Immanuel Wallerstein | Tradução: Daniela Frabasile 
Blowback [algo como revertério] é um termo criado pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA). Significava originalmente significava as consequências negativas não intencionais, infligidas a um país por suas próprias operações de espionagem. Por exemplo, se uma operação secreta da CIA levasse a um ataque de represália contra cidadãos norte-americanos que não estavam cientes da iniciativa, isso era considerado um blowback. Mas hoje, muitas operações não são secretas (por exemplo o uso de drones no Paquistão ou no Iêmen). E os ataques de represália muitas vezes são assumidos publicamente. No entanto, alguns países parecem não deixar de se envolver em tais operações.
Precisamos de uma definição mais útil de blowback, para explicar como e por que eles estão ocorrendo em muitos lugares. Penso que o primeiro elemento é que os países envolvidos com operações desse tipo são, sim, poderosos – mas menos poderosos do que acostumaram-se a ser. Quando estavam no ápice de seu poder, podiam desprezar os blowbacks, por serem desdobramentos limitados e não-intencionais. Mas agora que são menos poderosos, as consequências não são tão reduzidas. Ainda assim, parecem sentir necessidade de lançar tais operações com ainda mais força e ainda mais abertamente.
Vamos analisar dois casos famosos de blowback. Um deles envolve os Estados Unidos. Nos anos 80, Washington queria expulsar o exército da União Soviética do Afeganistão. Para isso, apoiou o mujahidin. Um dos líderes mais famosos dos grupos que os EUA apoiaram era Osama Bin Laden. Assim que as tropas soviéticas se retiraram, Osama Bin Laden criou a Al-Qaeda e começou a atacar os Estados Unidos.
Um segundo caso diz respeito a Israel. Nos anos 70, Telaviv considerava Yasser Arafat e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) seus principais oponentes. Buscando enfraquecer organização, financiou-se um braço palestino da Irmandade Muçulmana, conhecido como Hamas. O Hamas cresceu, e de fato enfraqueceu a OLP de alguma forma. Mas em certo ponto, tornou-se um oponente mais efetivo ao Estado israelense que a própria OLP havia sido.
Hoje, todos sabem desses acontecimentos. Outros, envolvendo Grã-Bretanha e França, também poderiam ser citados, e a lista de países que sofreram blowbacks é ainda maior. Então, pergunta-se:, por que eles continuam agindo de forma que parece enfraquecer seus próprios objetivos? Fazem isso exatamente porque seu poder está declinando.
Precisamos enxergar o tema como uma questão de temporalidade nas políticas de estado. Os blowbacks ocorrem quando as potências em declínio envolvem-se em ações que, a curto prazo, alcançam os objetivos imediatos; mas, a médio prazo, apressam ainda mais o declínio – portanto, a longo prazo, são auto-derrotas. A decisão mais óbvia das potências declinantes seria não reiniciar o ciclo. As operações secretas já não funcionam para alcançar os objetivos do país a longo prazo.
Voltando aos exemplos: será que o presidente Obama e o primeiro-ministro Netanyahu não entendem as consequências do que fazem? E se entendem, por que continuam essas operações, até mesmo vangloriando-se delas? Na realidade, penso que os dois chefes de governo, e também os serviços de inteligência dos dois países entendem a ineficácia das operações. Mas eles enfrentam dilemas imediatos.
Primeiro, eles são políticos, interessados em permanecer no poder. Ambos enfrentam, em seus países, forças políticas para as quais suas políticas não são suficientemente agressivas. E nenhum confronta-se movimentos políticos fortes que reivindiquem uma revisão radical das políticas nacionais. Em outras palavras, a extrema direita é, nos dois países, muito forte; e a esquerda, mesmo que moderada, é fraca. A razão de fundo para isso é que a opinião pública não aceita, em nenhum dos dois países, a realidade do declínio relativo de poder.
O que os líderes podem fazer é esconder – até certo ponto – que empurram os problemas com a barriga. Mas como as atividades de inteligência tornaram-se, na prática, muito mais transparentes, eles só podem fazer isso por algum tempo. Quando a possibilidade se esgota, eles passam a acreditar, para se manterem no poder no curto prazo, devem conservar políticas que, conforme sabem, não vão dar certo a longo prazo.
There is another reason. Obama hasn’t given up on one impossible dream – restoring the United States to a position of unquestioned hegemony. And Netanyahu hasn’t given up on another impossible dream – a Jewish state of Israel in the entire former British Mandate. And if they won’t renounce these dreams, they certainly cannot assist their peoples into coming to terms with the new geopolitical realities of the world-system and to the realities of their country’s decline in relative power.
Há outra razão. Obama ainda não desistiu de um sonho impossível – restaurar a posição de hegemonia inquestionada dos Estados Unidos. E Netanyahu não desistiu de outra quimera – um Estado judaico-israelense muito ampliado, abrangendo as fronteiras do antigo Mandado Britânico na Palestina. E se eles não desistirem desses sonhos, certamente não poderão ajudar os cidadãos a entenderem as novas realidades geopolíticas do sistema-mundo e a própria realidade de que o poder de seus países está em declínio.
Artigo publicado em 20/06/12. 
Disponível em: http://www.outraspalavras.net/2012/06/20/as-ilusoes-fatais-das-potencias-decadentes/
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sexta-feira, 22 de junho de 2012

A importância e os impasses de micro e pequenas empresas no Brasil

Audrey Gisele Goedert e Helora Danã Correa


O aumento da interdependência entre os Estados a partir do século XVIII trouxe consigo um crescimento significativo das relações comerciais, levando ao fortalecimento das economias internas dos países a fim de garantir maior sucesso nessas relações. No Brasil, a partir do século XIX, observam-se reflexos desse processo com a facilidade da instalação de multinacionais que impulsionaram a economia para além de agroexportadora e o começo da instalação de indústrias de bens de produção, trazendo grandes mudanças para a economia nacional. Entretanto, atribuir o crescimento econômico brasileiro às multinacionais e aos investimentos em infraestrutura pela ação do Estado, como os realizados no Plano de Metas pelo então presidente Juscelino Kubitschek, por exemplo, é simples. Seriam somente as multinacionais e os investimentos estatais que mantêm a economia ativa? A resposta pode ser mais complexa do que transparece. O presente artigo propõe analisar o papel de micro e pequenas empresas no Brasil e seus impasses diante de uma economia cuja importância é atribuída por muitos a investimentos estatais e multinacionais.                                                                                                  

As micro e pequenas empresas no Brasil ganham papel de destaque por serem mais flexíveis às adaptações necessárias diante da economia. A característica deste grande conjunto de empresas locais é de gerarem intensa concorrência entre si, já que não produzem quantidade suficiente para suprir toda a necessidade do mercado e a busca constante por melhorias que garante serviço diferenciado. Contudo, tal concorrência pode também tornar-se interessante por serem de pequeno porte, o que faz com que exista terceirização de serviços entre estas, a fim de ganhar mercado. Além disso, elas são responsáveis pela grande parte da contratação dos trabalhadores brasileiros, garantindo a sustentação da demanda do mercado de trabalho e a renda do consumidor. Entretanto, estes pontos que ora são a força motriz para manter a economia ativa, acabam por se caracterizar como focos de problemas e impasses; mas por quê?

O fato das micro e pequenas empresas terem para si maior quantidade de trabalhadores e existirem em maior quantidade reflete em seu crescimento de longo prazo, uma vez que o resultado final entre a renda da empresa menos as despesas realizadas é de baixo valor, o que não é suficiente para garantir um bom investimento. Para entender melhor, entre as despesas estão os altos impostos cobrados pelo governo brasileiro; o valor gasto para o pagamento dos salários dos funcionários influenciado muitas vezes pelo salário mínimo; além do custo com sindicatos, pagos para manter a ordem e defesa dos interesses econômicos dos associados. Todos estes fatores são descontados da receita e como consequência o lucro tende a ser baixo. Existem tentativas para diminuir o pagamento de impostos, como, por exemplo, a divisão de uma empresa em várias, a fim de driblar o imposto maior cobrado às empresas de médio porte; ou seja, uma mesma empresa acaba sendo uma união de varias micro empresas registrada.

Outra questão relevante no caso das micro e pequenas empresas é que, muitas vezes, para diminuir os custos, acabam deixando a desejar na contratação de profissionais qualificados, ou então em segurança de trabalho. Por outro lado existem aquelas que preferem garantir maior qualidade na prestação de serviços, apesar de gastar mais com profissionais. Esta mescla entre qualidade e quantidade resulta em parcerias tanto para driblar a concorrência quanto para manter o cliente. Sendo assim, para manter o mercado, uma repassa atividades à outra, trabalhando juntamente até chegar ao consumidor, onde cada uma busca facilidades, especializando- se em sua área para ser bom naquele produto e passar adiante para que outra complete a produção.

Em suma, todos os problemas enfrentados pelas micro e pequenas empresas, não somente no Brasil, mas em geral, acabam por terminar num ciclo que se inicia na matéria-prima e seu final é o consumidor – entre eles há inúmeras outras empresas, garantido impostos, empregos e renda. O importante é saber que em todas estas etapas há representações de micro e pequenas empresas; e é este ciclo que mantém a economia rotativa, contribuindo para o crescimento econômico do país.



Referências



As estratégias das Pequenas Empresas diante dos desafios da globalização.  Disponível em:




SINDICATO. Disponível em:


Audrey Gisele Goedert e Helora Danã Correa são alunas do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba
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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Barão de Mauá: O Primeiro Empresário Brasileiro

Priscila Alcântara



Batizado como Irineu Evangelista de Souza, Barão de Mauá e posteriormente Visconde de Mauá, nasceu em 1812, na cidade de Arroio Grande, Rio Grande do Sul, durante o Império de Dom Pedro II, uma monarquia constitucional. Foi influente no comércio, na indústria, no ramo bancário, na política e na agricultura, sendo que no seu apogeu, chegou a ter mais dinheiro que o Império.
O Barão possuía um grande talento para o empreendedorismo, porém à época em que se encontrava não era para empreendedores, já que a elite política dominante se compunha de latifundiários mais preocupados em manter a vocação agrária do país, de fácil administração e rentabilidade certa. A escravidão inibia a demanda e consequentemente a formação de um mercado interno consistente, contribuindo para congelar o país em ciclos agrários (café, açúcar), além de não desenvolver o conhecimento necessário e especializado para a indústria. É importante ressaltar ainda a ausência de um mercado financeiro estruturado para auxiliar os investidores, que eram levados a buscar apoio direto do Estado ou assumir os riscos de investirem sozinhos.
            Aos cinco anos de idade Irineu ficou órfão e aos nove se mudou para o Rio de Janeiro a fim de trabalhar. Começou como um simples caixeiro e logo mostrou aptidão para o comércio, vindo a ser contratado pela Companhia Inglesa de Comércio, a Carruthers, onde posteriormente, virou gerente e sócio.
            Através da maçonaria, conquistou certo apoio político e concessões. Criou inúmeros projetos de industrialização, utilizando-se de mão-de-obra assalariada, segue os principais: seu primeiro investimento foi o Estaleiro de Ponta Areia (1846), financiado a princípio pelo próprio Barão e com ajuda a do Estado, sendo este o seu único e exclusivo cliente; a Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro (1852) foi o projeto considerado mais bem sucedido e também logrou com concessões governamentais; investiu na Estrada de Ferro de Petrópolis (1852), porém não havia nem passageiros, nem carga para movimentação e sofreu ainda com concorrência de outra estrada de ferro que estava sendo construída e novamente Irineu pede ajuda ao Governo; a Navegação a Vapor do Rio Amazonas (1852) teve iniciativa governamental e Mauá entrou como sócio responsável pela execução do projeto, recebendo o monopólio da navegação por 30 anos; na disputa da Bacia do Prata (1850), a pedido do Imperador, Mauá investiu nos Uruguaios (contra os argentinos), por motivo de privilégios em demarcação de fronteira e disputa territorial. Porém, Mauá estava ciente que ao tomar esta medida, ele também sairia ganhando, pois o governo uruguaio iria ficar em dívida com ele. Após a guerra, decidiu então abrir um banco no país, o Mauá y Cia. Porém Mauá foi caloteado pelo governo uruguaio o que contribuiu com a sua falência.
Outro projeto destacável é a São Paulo Railway (1859), ferrovia que ligaria o porto de Santos ao planalto paulista para atender a demanda da produção cafeeira. Por necessitar de grande capital, Irineu foi buscar ajuda da companhia inglesa Rothschild & Sons. Porém o projeto logo se mostrou muito mais caro do que imaginara e passou a ter a concorrência desleal de uma ferrovia com o mesmo trajeto que estava sendo construída pelo governo. Consequentemente, os ingleses se retiraram do negócio, o que fez com que o Barão terminasse de pagar sozinho as obras; contudo Mauá tentou angariar o capital inglês não aplicado (apenas prometido) nos tribunais brasileiros, não obtendo sucesso, pois o juiz da corte determinou que como o caso envolvia cidadãos ingleses, estes deveriam ser julgados por uma corte inglesa e logicamente Mauá perdeu o caso, o que potencializou a sua falência mais tarde.
Como a elite nacional e o Imperador possuíam uma relação conturbada com o Barão pelo fato de não estarem interessados numa industrialização imediata, este assentou sem ajuda financeira nenhuma, cabos telegráficos submarinos que ligaram a Europa ao Brasil em 1872, um sonho antigo de Dom Pedro.
            Importante destacar como procedia nos seus investimentos. Os bancos fundados por Mauá, a priori, serviam como alavanca para os negócios industriais, utilizando-se do capital de terceiros como empréstimos, para que posteriormente o capital voltasse multiplicado. Porém tal método era arriscado, pois se os depósitos eram baixos, não haveria dinheiro suficiente para saudar os investidores e um negócio não desse retorno, os bancos iriam ficar devendo. E foi justamente o que aconteceu, quando o Banco no Uruguai quebra, os aplicadores brasileiros correram para o Banco (nacional) Mauá e Cia a fim de retirar seu dinheiro, porém, parte do dinheiro não existia, pois foi aplicado nos negócios de Mauá que não deram certo. Com isso, o Barão pede moratória de três anos, porém não conseguiu saldar suas dívidas a tempo, o que levou a cassação do seu registro de negociante.
            Devido à falência múltipla de seus negócios, Mauá chegou a leiloar até a casa em que morava e itens pessoais para liquidar suas dívidas, o que acabou se concretizando, vindo a recuperar sua matrícula de comerciante em 1884.
            Considerando que os interesses pessoais do Barão compatibilizavam com os nacionais, obteve inúmeras vezes apoio governamental, sendo poucas as situações que este agiu contra. No final, a razão de sua derrocada se encontra nos muitos calotes e injustiças, além de sua imprudência e falta de foco, porém o que devemos lembrar antes de mais nada, é o seu desejo de melhorar as condições industriais e sociais do Brasil a fim de torná-lo uma potência.

Referências:
BERTERO, C. O.; IWAI, T. Uma visita ao barão. Disponível em:  http://www.scielo.br/pdf/rac/v9nspe2/v9nesp2a02.pdf
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.
REZENDE, Sérgio. Filme: “Mauá, O Imperador e o Rei”,1999).

Priscila Alcântara é aluna do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba

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domingo, 10 de junho de 2012

Primeira Guerra Mundial Africana: análise sobre os interesses dos atores externos





Gisele Passaúra

A segunda guerra congolesa é considerada como a primeira guerra mundial africana, justamente pelo fato de ter envolvido um número considerável de países africanos, na sequência analisar-se-ão os principais interesses e justificativas que levaram cada um desses países a entrar no conflito.

 

Ruanda


O relacionamento entre Ruanda e o presidente da República Democrática do Congo (Kabila), construído durante a primeira guerra foi aos poucos se deteriorando. Kabila à vista de Ruanda e Uganda era incapaz de conduzir uma política coerente no que concernia o comércio, o que impedia a estabilização da economia. Ruanda também percebia Kabila como incapaz de promover um consenso nacional, uma vez que excluía todos os oponentes de participação política.

Kabila, entretanto, não apenas falhou em conseguir suprir os temores ruandês e ugandês, como ainda se afastou dos dois países rumando ao direcionamento mais nacionalista, tentando desenvolver a república Democrática do Congo. Para tanto, em seu primeiro ano de liderança, por exemplo, promoveu uma aproximação das étnicas em detrimento dos Tutsis. Para aprofundar a situação, Kabila queria diminuir a influência dos ruandeses que haviam permanecido em território congolês.

No que tange à segurança, Kabila era visto como inábil ao não prevenir extremistas Hutus e guerrilhas Ugandesas de um eventual ataque a Ruanda. De fato, Ruanda entrou na guerra após diversos assassinatos de Tutsis na capital congolesa. Os massacres em Ruanda e as mortes na capital congolesa foram responsáveis por uma aproximação dos Tutsis em Ruanda, Congo, Burundi e Uganda, pois se percebiam ameaçados como etnia em um conflito entre distintos interesses.

Concernente aos interesses econômicos, Ruanda ainda percebia a possibilidade de conseguir obter o controle dos recursos naturais congoleses e se tornar autossuficiente especialmente na mineração.

Uganda


A justificativa ugandesa para a entrada no conflito foi que havia um acordo anterior feito entre Uganda e Kabila concernente à segurança e de acordo com a percepção ugandesa fora quebrado, pois Kabila malogrou conter assassinatos promovidos pelo grupo guerrilheiro ADF. Em Setembro de 1998, o presidente da Uganda Museveni revelou que controlava os principais aeroportos do leste congolês para exigir garantias do Congo de que Sudão e seu movimento de guerrilha não os utilizariam para promover ataques à Uganda.

Entretanto, as reais intensões de Uganda eram mais profundas, especialmente no que concerniam assegurar influências políticas e comerciais no nordeste congolês onde já possuía vários acordos comerciais que garantiam grandes montantes direcionados à Uganda e o governo ugandês não estaria disposto a perder esses contatos comerciais favoráveis.

Burundi


As tensões entre Hutus e Tutsis também aconteciam em Burundi assim como em Ruanda, as disparidades econômicas entre as duas etnias era dissonante. O genocídio que aconteceu em alguns meses em Ruanda, continuou por anos no Burundi, logo pode-se perceber as semelhanças entre as percepções dos dois países. Congo, era visto como um apoiador dos interahamwe em território congolês.

Como resultado, Tutsis dos três países (Ruanda, Congo e Burundi) colocaram suas diferenças de lado e juntaram forças, pois se percebiam ameaçados pelos Hutus em território congolês.

Zimbábue


Zimbábue foi o primeiro país a responder ao pedido de ajuda do presidente Kabila, quando a rebelião conquistava sucessivas vitórias. Os interesses de Zimbábue eram em primeira instância, de ordem econômica. Em especial no setor de mineração, pois em troca de sua participação na guerra exigiu uma compensação financeira imediata ou se o dinheiro não estivesse disponível aceitaria concessões ou transferências diretas de recursos naturais.
Zimbábue também pretendia criar uma distração para os próprios problemas internos ao copilar esforços ante um objetivo comum.

Sudão


O principal motivo da entrada do Sudão no movimento é que Sudão acusava Uganda de apoiar o movimento de guerrilha no sul de seu país, chamado de Sudanese People’s Liberation Army (SPLA).

Sudão se tornou um participante indireto no conflito de duas maneiras: ao apoiar o governo de Kabila contra a coalizão Ruanda-Uganda e financiando o movimento de guerrilha Ugandês anti-Museveni, composto pelo Allied Democratic Forces (ADF), West Nile Bank Front e Lord’s resistance Army (LRA).

Angola


Angola já havia participado na primeira guerra apoiando a rebelião de Kabila. A segunda guerra, entretanto, é justificada pelo desejo de impedir o UNITA de ganhar vantagens estratégicas no contexto da guerra civil congolesa e que isso pudesse influenciar sua própria guerra civil (angolana).

A motivação tinha fundamento, pois o UNITA possuindo patrocínio de Mobutu estabeleceu bases no Congo antes da tomada de poder por Kabila. Durante o governo de Kabila, a organização fora dispersa, entretanto, havia o temor por parte de Angola que o grupo tirasse proveito do caos promovido pela guerra civil e retomasse sua rede de financiamento. Angola também estava consciente de que UNITA possuía fortes laços com os antigos membros da FAZ de Mobutu.

Namíbia


O envolvimento da Namíbia no conflito só pode ser explicado em termos do relacionamento entre seu presidente (Sam Nujoma), o presidente de Zimbábue (Robert Mugabe) e Kabila. A amizade entre Nujoma e Mubage teve início quando ambos combatiam pela liberdade contra a minoria branca que governava em seus países. Já Nujoma e Kabila pertenciam anteriormente, a grupos informais de discussão marxista quando estavam no exílio na década de 1960. Após ter tomado o poder, Kabila beneficiou seus amigos com acordos comerciais favoráveis, com Nujoma formou um companhia de diamantes.

Os custos de guerra para a Namíbia foram modestos e refletem mais o engajamento simbólico do que expressão de algum real interesse na guerra.
Como percebido, a sobreposição de percepções individuais assim como necessidades e interesses foram distintos e por isso devem ser analisados de maneira individual em cada peça desse xadrez internacional.


Gisele Passaura é acadêmica do 8º semestre do Curso de Relações Internacionais do UniCuritiba.


REFERÊNCIAS


Congo at War. A Briefing on the internal and external players in the Central African conflict. International Crisis Group Report n°2, Nov. 1998, p. 1.
DAGNE, T. The Democratic Republic of Congo: background and current developments, Report for American Congress, 2011.
PRENDERGAST, J; SMOCK, J. Putting humpty dumpty together: reconstructing peace in Congo. Special report from United Institute of Peace. 1999.
VEHNAMAKI, M. Diamonds and warlords: the geography of war in the democratic republic of Congo and Sierra Leone. Nordic Journal of African Studies.
WEINSTEIN, J. M. Africa’s scramble for africa. World policy journal. 2000.
The agreement on a cease-fire in the Democratic Republic of Congo. International Crisis Group Democratic Republic of Congo Report N° 5, 1999.

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sábado, 9 de junho de 2012

Grécia ameaça expansão do euro









Artigo de Rodolfo Stancki com entrevista de George Sturaro, professor do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba.

A Grécia criou um grande ponto de interrogação no futuro da Zona do Euro (ZE). Nas últimas semanas, o país foi para o centro dos debates internacionais de política e economia por causa da crise. Será que a nação, que foi o berço da civilização ocidental, deixará de usar a moeda única europeia? E se o fizer, outros governos seguirão o mesmo caminho?
O professor de relações internacionais das Faculdades Integradas Curitiba (UniCuritiba) George Wilson diz que o projeto de ampliação da ZE já foi prejudicado pela situação da Grécia.
“A expansão da moeda está comprometida. Que país vai querer entrar num bloco que não representa mais prosperidade, mas instabilidade econômica e política?”, questiona.
O grande problema é que a Grécia dá sinais claros de que não vai mais se submeter ao pacote de austeridade defendido pelo governo da chanceler alemã Angela Merkel, que prevê drásticos cortes de gastos do governo no bem estar da população. “Não podemos pagar, não vamos pagar”, anunciou publicamente o líder do partido de esquerda radical, Alexis Tsipras, sobre a dívida grega. O partido do político é o favorito às eleições que ocorrem no dia 17 de junho.
Para Wilson, é possível que o Banco Central Europeu – autoridade máxima da Eurozona – tente reabilitar a Grécia dentro do bloco. “Eles precisam evitar o efeito dominó, em que outros países podem seguir o exemplo e deixar a moeda”, diz.

Reforço de fiscalização
Outra consequência direta da saída dos gregos da moeda única europeia é que os diretores da Eurozona intensificariam a fiscalização para os novos candidatos. O processo, segundo o professor da UniCuritiba, tende a ficar mais burocrático e difícil para aceitar países candidatos como a Turquia e a Sérvia, por exemplo.
Para adotar o euro em 2001, a Grécia “maquiou” dados sobre sua estabilidade econômica, minimizando suas dívidas internacionais. Os números, ignorados na época, fizeram diferença quando a crise estourou em 2008. O país foi um dos primeiros a quebrar. Atualmente, a taxa de desemprego atinge 21,7% da população.
“A Grécia nem deveria ter entrado na Zona do Euro. Isso foi uma decisão política e não econômica”, explica o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo­(USP), Kai Lehmann. Segundo ele, os gregos deveriam ter deixado o bloco há dois anos, para dar tempo de organizar o calote na Europa. “Hoje, o continente está em crise. A saída da Grécia do euro, em curto prazo, só deve piorar muito o problema de toda Europa”, conta.
O abandono do euro por parte dos gregos não significa que o país também deixará a União Europeia (veja o mapa ao lado). Apenas 17 nações aderiram ao euro desde que a moeda foi criada em 1999, enquanto outras 27 fazem parte da União. No entanto, com a saída do país da ZE, os dois projetos de expansão são colocados em jogo.
“O alargamento da União Europeia também é perigoso agora. Primeiro é preciso discutir os rumos da crise econômica e limpar a casa”, afirma o professor de direito internacional do Grupo Uninter Eduardo Gomes. Para ele, os impasses políticos com a Grécia levaram o bloco a perder credibilidade.
Gomes não acredita que a saída da Grécia da Zona do Euro seja boa para nenhuma das partes. Para ele, os gregos estariam apenas postergando o problema da dívida e, em algum momento, seriam forçados a conter gastos em desenvolvimento. O bloco, por sua vez, “poderia não sofrer impacto econômico nenhum, mas a situação abre um precedente e por isso não é interessante.”
Para Kai Lehman, a grande ironia é que os gregos não têm uma maneira legal de abandonar o euro. “Quando a moeda foi construída, ela não previa como os países poderiam sair dela. No Tratado de Lisboa, há clausulas específicas sobre a saída da União Europeia. Essa situação da Grécia é algo novo e sem precedentes.”

Artigo publicado no Jornal Gazeta do Povo em 27/05/2012.
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