sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

ME INDIQUE: MISSÃO NO MAR VERMELHO

 


Por Júlia Trentini de Toledo Knapp e Matheus Vantroba.

O filme ‘’Missão no Mar Vermelho’’, lançado em 2019, é um thriller de espionagem disponível na Netflix. A trama é baseada na história real da operação secreta do Mossad (agentes secretos israelenses) que buscavam resgatar judeus etíopes do Sudão, na década de 1980.

O longa-metragem se passa durante um período em que milhares de judeus etíopes enfrentavam perseguição e opressão em seu país. Diante dessa crise humanitária, um grupo de agentes do Mossad, serviço de inteligência israelense, liderado pelo personagem interpretado por Chris Evans, decide criar um resort de férias fictício no Sudão, chamado Arous Holiday Village. Utilizando o local como base para a operação de resgate dos refugiados etíopes, transportando-os para Israel por meio de operações clandestinas, enfrentando não apenas desafios logísticos, mas também questões éticas intrincadas e significativas para manter a operação em segredo.

A representação histórica do filme é perspicaz, contextualizando as tensões geopolíticas da época, relações internacionais complexas e as implicações de uma missão clandestina em solo estrangeiro. Além disso, examina como os eventos reais moldaram a trama, oferecendo uma perspectiva autêntica do resgate. O filme destaca os desafios éticos enfrentados pelos agentes do Mossad,  levantando questões sobre a conduta ética na dissimulação durante operações de socorro, dada a decisão de usarem um resort como fachada, em nome de um bem maior, contribuindo para o desenvolvimento e evolução dos personagens ao longo do filme.

A obra aborda temas de coragem e sacrifício envolvidos em operações secretas, proporcionando aos telespectadores uma visão dos riscos e dificuldades enfrentados pelos agentes na tentativa de ajudar aqueles que sofriam perseguição. Em suma, ‘’Missão no Mar Vermelho’’ transcende as fronteiras do entretenimento cinematográfico. Não se trata apenas de um retrato histórico cativante, mas oferece uma análise profunda ao explorar questões éticas e humanitárias. A dissertação busca desvendar as camadas profundas deste filme, que não só entretém, mas também deixa uma marca duradoura ao provocar reflexões para além da tela.



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segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Artigo: A luta pela proteção internacional da mulher



Por: Priscila Caneparo

É inegável que a luta pela erradicação da violência contra a mulher ganha, cada vez mais, palco no cenário internacional. Representando, as mulheres, 49,5% (2019) da população mundial, a pauta da igualdade de gênero e seus temas correlatos vêm ocupando espaço não apenas nos entornos sociais, vindo, igualmente, a conquistar espaços nos grandes foros internacionais e, também, na estruturação das políticas públicas nacionais.

Tanto é verdade que, revisitando a consolidação da proteção internacional dos direitos humanos, já se faz presente o zelo para que a proteção da mulher se desenrolasse em solos férteis: a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) fora concebida com uma neutralidade em sua linguagem e, igualmente, a Carta das Nações Unidas (1945), logo em seu artigo 1.3, prevê como propósito da própria Organização, a promoção do respeito aos direitos humanos, sem distinção em relação ao sexo.

Nas últimas décadas, o plano internacional debruçou-se sobre a problemática da desigualdade de gênero que, em seu ápice, pode culminar na violência contra a mulher e no feminicídio. No bojo do sistema da Organização das Nações Unidas, foi adotada, em 1979, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, promulgada no Brasil por meio do Decreto nº 4.377, de setembro de 2002; no coração do sistema interamericano, está a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, também referida como Convenção de Belém do Pará (CBP), adotada em 1994 e promulgada no Estado brasileiro através do Decreto nº 1.973, de agosto de 1996.

Infere-se ser a Convenção de Belém do Pará como normativa idealizadora da proteção internacional da mulher latino-americana, abrindo a possibilidade não apenas dos Estados reverterem seus termos legislativos e amplificarem suas políticas públicas, mas, também, assegurar um foro de reinvindicação e reversibilidade das violências para além do nacional.

Tanto é verdade que, em termos comprobatórios, fita-se o Caso Maria da Penha vs. Brasil como um paradigma não apenas de aplicação efetiva da Convenção de Belém do Pará, mas, outrossim, de aperfeiçoamento legislativo no Estado brasileiro: fora a partir das recomendações ante ao Caso que emergiu, na órbita legislativa brasileira, a Lei no 11.340/06, tendente a locupletar os vazios normativos na violência doméstica e familiar contra a mulher, contribuindo, igualmente, para o vislumbre de desenvolvimento de políticas públicas na temática. Ainda, considera-se tal Caso a mola propulsora à inclusão da qualificadora de feminicídio no Código penal brasileiro, em 2015.

Mesmo sendo inenarrável a importância do Caso paradigma, constata-se que, em termos práticos, a violência contra a mulher continua assombrando a realidade brasileira – segundo a própria CIDH, 40% de todos os assassinatos de mulheres na América Latina e Caribe, sucedem-se em solos brasileiros -, fazendo com que, novamente, a consolidação da proteção da mulher não passe de um mero ruído para o governo brasileiro.

Em relação ao Caso González e Outras vs. México, assenta-se o entendimento, pela primeira vez, que o termo feminicídio estaria apto a configurar peculiaridades ante o homicídio quando, este, envolver motivo de gênero. Ainda que não de forma pioneira, tendo em vista a utilização, no Caso, do método dialógico – fitando-se, aqui, o Caso Opuz vs. Turquia (Corte Europeia de Direitos Humanos) -, o emprego do vocábulo feminicídio representa um avanço em termos de capacitação dos agentes públicos nacionais no combate a tal prática e, não menos importante, na ânsia ainda mais latente por responsabilização do Estado internacionalmente quando este não garantir as demandas normativas da CBP.

Por fim, o último caso que despontou no Sistema Interamericano acerca da violência de gênero fora o Caso Barbosa de Souza vs. Brasil. Cabe ressaltar que, pela primeira vez na história, a Corte IDH manifestou-se não apenas acerca das imunidades parlamentares em solos latino-americanos, mas igualmente em garantir uma implicação efetiva e pedagógica para que os Estados, definitivamente, entendam que alguns estratos sociais são mais afetados pela violência de gênero quando certos agentes permeiam-se de garantias institucionalizadas e possuem, no ideário coletivo, parcelas substanciais de poder por conta do cargo que ocupam. 


 

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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA



Por: Laurielle Santos 

Dia da Consciência Negra, Anos de Desigualdade: A Realidade da População Negra no Brasil. 

 

Em 20 de novembro, o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra. Em uma nação rica em diversidade cultural, além de celebrar a herança afro-brasileira, o dia serve como um chamado para uma contemplação mais profunda das circunstâncias difíceis que a comunidade negra no Brasil enfrenta. É fundamental ir além da superficialidade que frequentemente abrange as discussões em torno da data, e estimular um autêntico senso crítico que pode levar a mudanças significativas dentro da nossa sociedade. 


Ao comemorarmos o Dia da Consciência Negra, devemos reconhecer que a luta histórica pela igualdade e contra o racismo é uma luta contínua. A superficialidade desses debates, pode limitar o entendimento do que se compreende como racismo e resultar em posicionamentos mal colocados e medidas ineficientes ou até mesmo inexistentes, que levam ao aumento das disparidades raciais, que traspassa as dinâmicas políticas até o cotidiano dessa população. Um exemplo claro dessa realidade, são as inúmeras operações policiais que ocorrem dentro das periferias que trazem como resultado, a violência excessiva e a violação dos direitos humanos. Essa política de guerras às drogas, apesar de assegurar um objetivo de segurança pública, continuamente se transpõe em um ciclo de violência perante as comunidades pobres e negras. 


Além disso, essa política julga e criminaliza de forma desproporcional pessoas negras, contribuindo para superlotação de presídios e para a marginalização dessa parcela da população brasileira, que já se encontra em situação de vulnerabilidade. A desigualdade que aterroriza esse grupo se manifesta de maneiras diferentes, que engloba contextos sociais, econômicos, de saúde, ambientais, dentre outros. A violência que para a população negra brasileira se apresenta em abordagens múltiplas, é apenas um reflexo da falta de representatividade e protagonismo nos espaços como políticos e acadêmicos. 


Dessa forma, surge a urgente necessidade de transcender narrativas simplistas, que por vezes, colocam um pano de fundo para uma realidade cruel e desumana vivenciada pela população negra. Enquanto continuarmos em nos contentar com discursos que assumem uma postura reducionista, essa parcela da população continuará a enfrentar barreiras sistemáticas que perpetuam a violência em diversas formas. Neste Dia da Consciência Negra, e nos anos em diante, é vital estimular discursos e debates críticos comprometidos com transformações reais. 


O debate superficial deve ser substituído por um diálogo honesto e corajoso que pode resultar em diferenças substanciais e na construção de um país verdadeiramente inclusivo e justo para todos. 


 

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ME INDIQUE: MASSACRE NO ESTÁDIO


Por: Laurielle Santos 

ME INDIQUE: Massacre no Estádio, um documentário emocionante da Netflix


Massacre no Estádio é um documentário instigante disponível na Netflix que investiga um dos capítulos mais sombrios da história do Chile. Realizado por Pablo Salas, este filme oferece um relato abrangente dos trágicos acontecimentos que se desenrolaram durante um jogo de futebol no Estádio Nacional de Santiago, no dia 21 de setembro de 1973. Através de entrevistas poderosas, imagens de arquivo e análises de especialistas, Salas pinta um quadro vívido da repressão brutal levada a cabo pelo regime do General Augusto Pinochet.


O documentário capta com maestria a atmosfera que antecedeu o jogo entre o Chile e o Uruguai, que se realizou poucos dias depois do golpe militar de Pinochet contra o presidente Salvador Allende. A tensão é palpável à medida que os espectadores testemunham como um evento destinado a unir as pessoas se transformou num horrível espetáculo de violência e terror. Salas combina magistralmente os depoimentos pessoais dos sobreviventes e das testemunhas com o contexto histórico, para dar um retrato exato desse trágico incidente.


Um dos pontos fortes de Massacre no Estádio reside na sua capacidade de humanizar as pessoas afectadas por estes acontecimentos. Ao dar voz aos sobreviventes que relatam as suas experiências angustiantes, os espectadores são confrontados com as consequências devastadoras da violência política. O impacto emocional é profundo, pois testemunhamos em primeira mão a dor e o trauma sofridos por espectadores inocentes apanhados neste derramamento de sangue sem sentido.


Além disso, Salas utiliza eficazmente imagens de arquivo, tanto de agências noticiosas locais como de gravações amadoras, para recriar uma representação autêntica desse dia fatídico. Esta evidência visual serve como um lembrete arrepiante de que tais atrocidades podem ocorrer mesmo em ambientes aparentemente comuns.


Massacre no Estádio é um documentário essencial para qualquer pessoa interessada em compreender o passado conturbado do Chile ou em explorar temas relacionados com a violação dos direitos humanos em regimes autoritários. Através de uma pesquisa meticulosa, de técnicas de narração poderosas e de entrevistas convincentes, o filme consegue lançar luz sobre um episódio sombrio da história, ao mesmo tempo que homenageia aqueles que sofreram durante esta tragédia. O filme de Salas serve como um lembrete comovente da importância de preservar a memória coletiva e de procurar justiça para as atrocidades do passado.



 

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sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Entrevista Egressa - Maria Giulia



Nome Completo: MARIA GIULIA GAEDE SENESI

O que cursou no Unicuritiba: RELAÇÕES INTERNACIONAIS 

Ano de ingresso no Unicuritiba: 2012

Ano de conclusão do curso: 2018 

Ocupação atual: Oficial de políticas públicas no Programa Mundial de Alimentos - Brasil 


Perguntas Gerais

  1. Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional após a formatura no curso.


Após me formar em Direito, e um pouco antes de me formar em RI, tive uma experiência  de trainee na DELBRASGEN em Genebra. Ao retornar ao Brasil, trabalhei no sistema FIEP Paraná, numa unidade ligada à UNITAR. Depois disso, voltei a Genebra para mais uma experiência profissional, aí então na Organização Internacional do Trabalho (OIT). 

Depois disso, entrei no mestrado na escola International Affairs na SciencesPo Paris em 2019, na área de Direitos Humanos e Ação Humanitária, tendo realizado minha dissertação sobre o Direito Humano à Alimentação e acesso à terra no Brasil.

Essas experiências abriram portas para o cargo que estou hoje, dentro do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, em Brasília. 


 


  1. Qual a lembrança mais marcante do período de faculdade? 


Uma das mais marcantes com certeza foi no dia da banca da monografia. Foi tão gratificante ver todo o esforço e leituras consolidadas em um trabalho, tendo podido argui-lo! A pesquisa pode trazer vários momentos desafiadores, mas com certeza nos traz habilidades e nos expande muito profissionalmente e academicamente. 

Outros momentos marcantes eram no xerox da faculdade (hahaha) foram muitos textos impressos, mas me lembro que pegava os textos com entusiasmo e curiosidade de quandoiria começar a lê-los e o que cada um iria ter como enfoque. Também tive algumas matérias que marcaram mais, na área de geopolítica, economia e história. 


  1. Quais as aptidões e conhecimentos desenvolvidos no curso que mais o ajudam na sua profissão atual.


Análise de cenários políticos através das teorias de RI aprendidas, conhecimentos sobre política externa, organizações internacionais, questões geopolíticas, cooperação internacional, capacidade de pesquisa e análise, e outros. 


  1. Conte-nos um pouco sobre o seu dia a dia profissional


Trabalho com  cooperação sul-sul para fortalecimento de capacidades institucionais na área de segurança alimentar e políticas de proteção social. As atividades realizadas são bem dinâmicas e dependem das demandas dos países que estão tendo apoio técnico, podendo variar entre confecção de documentos para aperfeiçoamento de políticas existentes ou novas,  ou projetos de médio prazo com governos locais, por exemplo, focando em desenvolver soluções, programas e políticas sustentáveis contra a fome.



  1. Qual foi a experiência mais desafiadora que já teve profissionalmente?


O desafio mais recente foi com a ida a República do Congo para iniciar um projeto de cooperação sul-sul com ministérios locais. Houve um processo muito forte de advocacy para que o governo local aderisse ao projeto e o assinasse, e todo o processo foi desafiador, envolvendo várias etapas.


  1. Qual conselho deixaria para os nossos alunos?


Mapeiem seus interesses, suas maiores aptidões e habilidades, e busquem oportunidades que sejam  relacionadas a isso. Aqui, uso o termo oportunidades em sentido amplo. Participar com atenção de uma palestra, escutar podcast e anotar ideias, praticar um idioma ou aprender um novo, conversar com profissionais que você admira, tudo isso entra na ideia de aproveitar oportunidades. Tais atitudes podem trazer diferenciais para seu currículo, para sua formação e sua expertise e com certeza aparecerão em algum momento da sua carreira.  Sejam curiosos, e  pode parecer clichê, mas vão atrás do que faz seus olhos brilharem!



 

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quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Entrevista Egressa - Thais Scharfenberg

 


NOME COMPLETO: Thais Scharfenberg


GRADUAÇÃO: Relações Internacionais (Unicuritiba), nos anos de 2009 à 2012. 


QUAL É A SUA OCUPAÇÃO ATUAL?


Eu sou coordenadora de uma escola de economia criativa, faço voluntariado na ONU e sou consultora ESG (Environmental, Social and Governance ) 


PODERIA COMPARTILHAR SUA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL? 


Então, vamos lá. Eu terminei a faculdade, e, logo em seguida, eu tinha pensado em fazer Rio Branco (CACD), mas acabei optando por ir para o setor privado. Logo que eu saí, fui fazer um MBA em gestão estratégica de empresas na Fundação Getúlio Vargas e comecei a trabalhar com uma empresa alemã de consultoria empresarial. Ia para São Paulo com eles de 15 em 15 dias, mas também atuava em Curitiba. E eu trabalhava junto com a  direção para organizar as equipes de alta performance, inclusive pessoas de outros países e eu fazia a ponte cultural. Então, a adaptação das pessoas que vinham de fora e também para o pessoal daqui que viajava, os auxiliava nesse processo. 

Depois, iniciei uma pós em comunicação em jornalismo, escrevi alguns artigos voltados para relações internacionais, mas continuei na área empresarial. Depois, criei um aplicativo de comida saudável, mudei para a área de tecnologia e nesse período,  acabei entrando no Ponto Business que tinha aqui em Curitiba. Esse grupo estava dentro no centro europeu e daí, me qualifiquei com o Centro Europeu. Eles tinham um grupo de programadores da escola, e eu entrei para fazer um pouco dessa ponte, né? Pedagógico com tecnologia e durante toda a minha trajetória, inclusive na faculdade, dei aulas de inglês e francês. Mais tarde, comecei a dar aula de alemão também e, no Centro Europeu, acabei assumindo a parte de idiomas. 

Recentemente, fui me especializar em ESG. Então, depois de ter me conectado com o voluntariado da ONU, entrei num grupo que se chama ‘ comunidade discriminada por descendência'. Comecei como voluntária com eles e fui para Nova Iorque nos dois últimos fóruns deste ano com eles. Hoje, eu atuo de uma maneira remunerada com eles.  Então eu faço trabalhos comunitários para a ONU, com interpretação simultânea e tradução. Então, são vários potinhos ne? Tem a coordenação no Centro Europeu, a consultoria em ESG para algumas empresas e instituições e, também, esse voluntariado.



EM ESPECIAL NO VOLUNTARIADO?


Foi incrível quando eu entrei no voluntariado no final do ano passado. Quando você entra, não tem muita ideia com quem você vai se conectar, né? Porque há muitas oportunidades. Me conectei com essa, que era a tradução do documento, inicialmente para esse grupo, né? Pois eles  procuram uma resolução da ONU para que sejam reconhecidos e para os Estados que têm esse tipo de discriminação, criar leis, né? Assim, fomos aumentando o relacionamento. Após a tradução,comecei a fazer a interpretação das reuniões online. No primeiro fórum, que aconteceu em julho, eles entraram em contato comigo e falaram: “Você não quer ir junto? Porque vamos precisar de alguém que entenda de vocabulário diplomático, diálogo diplomático”. Lá, tivemos que  entrar dentro das missões permanentes e embaixadas para pedir o apoio para essa resolução acontecer e chegar ao ponto de ser votada na Assembléia Geral. Então, eu trabalhei com eles como intérprete, mas também do diálogo, e a nossa relação foi se intensificando. Fui novamente em setembro, no fórum político de alto nível, focado nas ODS, porque estamos no meio do caminho e agora a nível presidencial. Então, esse diálogo diplomático e a construção do apoio para a causa deles foi incrível. Também atuei como intérprete,mas agora muito mais como uma ‘advocate’, como a gente chama, né, realmente ajudando a levar a causa deles pra frente.


COMO A SUA EXPERIÊNCIA NA ONU INFLUENCIA/ INFLUENCIOU SUA VISÃO DO MUNDO E SOBRE QUESTÕES GLOBAIS? 


Ela influenciou absolutamente, porque às vezes de fora, a gente tem a ideia de que ela é muito grande,uma coisa só.  E lá a gente vê que ela é formada por várias agências, vários programas, cada um com uma finalidade específica e, de certa maneira, ela funciona como uma grande empresa, né? Tem falhas. Foi interessante ver quem tem falhas também, mas é um ambiente muito importante para o diálogo diplomático e de mediação. E isso mudou muito a minha visão de mundo, pois precisamos desse ambiente, ainda mais nesse momento de crise,eu vi como é importante termos empatia, pela questão cultural, religiosa. Além disso, quebrou vários preconceitos em relação ao não funcionamento da ONU, pois a gente precisa sim que ela exista. 



QUAIS APTIDÕES E CONHECIMENTOS DESENVOLVIDOS NO CURSO DE R.I QUE MAIS TE AUXILIARAM NA SUA CARREIRA? 


Eu acredito que na parte de psicologia social, porque foi uma dos conhecimentos mais utilizados na ONU. Eu colocaria de maneira prática a dinâmica econômica internacional, pois para tudo, inclusive para fazermos caridade, precisamos de dinheiro. Então a dinâmica financeira do mundo me ajudou muito a compreender várias questões lá dentro ( na ONU). Hoje eu elencaria esses dois pontos como principais.



PODERIA COMPARTILHAR UMA EXPERIÊNCIA MARCANTE DURANTE A SUA TRAJETÓRIA ACADÊMICA E PROFISSIONAL?


Tem um encontro nacional de relações internacionais, que, com a pandemia, acabou mudando um pouco. Mas nesses encontros, a gente teve palestras muito importantes. Em um ano em específico, tiveram uns diplomatas palestrando, e alí tive uma ideia melhor do que era representar o Brasil lá fora. Então, para mim, foi muito marcante. Ali eu olhei e falei: ‘Eu realmente quero lidar com direitos humanos, em algum momento da minha trajetória’. Até então, eu não tinha muita ideia para onde eu ia; acabei seguindo uma carreira mais para a parte empresarial. Agora que eu estou me reconectando com os Direitos Humanos, mas foi num período desses que realmente ‘virou a chavinha’. 



POR QUE VOCÊ ESCOLHEU O CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS?


Eu escolhi porque eu tive uma vontade muito grande de realizar o curso que ampliasse minha visão de mundo. Eu pensei que se eu entendesse melhor o mundo, depois poderia me direcionar para outra área. Fui para R.I primeiro primeiro para uma visão de mundo, pois era isso que eu queria ter. Queria entender as desigualdades, sobre economia, entre outros, porque pra mim era o curso que me p

roporcionaria uma gama muito maior de possibilidades depois, onde depois eu poderia me direcionar para algo que eu tivesse sucesso. 



QUAIS CONSELHOS VOCÊ DARIA AOS ESTUDANTES DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS QUE POSSUEM INTERESSE EM SEGUIR UMA CARREIRA PROFISSIONAL, EM ESPECIAL, NUM VOLUNTARIADO DA ONU? 


Meu conselho é que tenham em mente que ao escolher relações internacionais,  você tem um leque muito grande depois.Isso pode ser uma bênção, mas também pode ser uma preocupação. Portanto, façam o curso de coração aberto, mas já com um pensamento para onde você vai se direcionar. É pra economia, setor privado, setor público, acadêmico, ou direitos humanos? 


Segundo ponto, sobre a ONU, para aqueles que têm interesse em atuar a nível diplomático. Não é um bicho de 7 cabeças. Não é somente o Itamaraty;  é possível atuar num corpo diplomático, tem a chancelaria de um país e  vários outros círculos de atuação, algo que o Itamaraty considera uma atuação diplomática. Essa era uma ideia que eu não tinha e descobri depois, quando fui pra ONU. Existem  atuações a níveis internacionais tão grandes que podem parecer muito distantes para quem está na faculdade.


Terceiro ponto, para quem quer se desenvolver no cenário internacional, é essencial ter o inglês e francês na ponta da língua. Comece a estudar o quanto antes. Sobre o voluntariado da ONU, se tiver essa disponibilidade, faça. Nem que seja só para ter a experiência de trabalhar com equipes multiculturais, pois se a pessoa deseja trabalhar em ambientes internacionais, é com isso que ela vai precisar lidar. Além disso, não menospreze questões culturais e de psicologia, pois são muito importantes. Hoje, por exemplo, faço parte de um grupo de pesquisa que lida com o Impacto Psicológico de Discriminação nas Crianças, uma coisa tão específica né? Que observamos a nível mundial e percebemos que ainda há muita coisa a ser estudada.


 



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sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Entrevista Eduardo Carvalho



Nome completo:


Eduardo Teixeira de Carvalho Junior  


Qual é a sua formação acadêmica? 


Eu tenho minha formação acadêmica basicamente inteira feita na área de história. Então eu tenho a graduação, o mestrado e o doutorado em história. (Todos pela Universidade Federal do Paraná)

Mas nem sempre foi assim. A primeira formação que eu tive foi uma formação técnica na área de eletrotécnica. Sou formado em eletrotécnica pelo CEFET. Antigo CEFET, que hoje é a Universidade Tecnológica do Paraná. Depois eu fiz 3 anos de engenharia elétrica e depois uma grande transformação na minha vida aconteceu. Eu sempre achei que, ao longo da minha formação, até então, eu nunca tinha tido contato com a história, com as ciências humanas. Esses cursos mais de tecnologia, geralmente desprezam essas áreas, e eu sempre achei que que me faltava ter contado com esses conhecimentos, com essas informações. Foi quando eu resolvi dar essa guinada, essa mudança. Não foi muito bem-vindo para minha família, porque é justamente a questão de que o curso de engenharia seria mais promissor no sentido de colocações no mercado de trabalho e tudo mais. Até porque meu pai atuava nessa área da engenharia elétrica. Ele tinha uma empresa que atuava nessa área, mas, naquele momento, falou mais alto essa minha vontade de mergulhar nessa área, de estudar. Então eu fui, fiz o vestibular de história e comecei a fazer [a graduação]. 


Ocupação atual: 


Atualmente sou professor universitário. Trabalho aqui no Unicuritiba já faz mais de 10 anos. Atualmente eu atuo também como professor substituto na Universidade Federal do Paraná no curso de História. E eu também dou alguns módulos de história contemporânea na PUC. Então, são basicamente essas, tenho atuado nessas 3 frentes.  


Pensava em se tornar professor no início da faculdade? 


Então, essa foi a pergunta que que meu pai me fez quando eu falei pra ele “olha, eu quero mudar de curso, quero fazer história”. Meu pai falou: “você vai ser professor?” Na época, naquele momento, quando ele fez aquela pergunta, é claro que eu não estava, sinceramente, preocupado muito com essa questão do mundo do trabalho, digamos assim. De que tipo de ocupação eu teria ou onde eu poderia trabalhar a partir daquele curso. Naquele momento eu estava muito empolgado mesmo com a ideia de estudar história, de ler mais sobre história, de conhecer mais a história. Mas eu me lembro que eu disse que, se fosse o caso, eu não teria problema. Mas eu não tinha pensado realmente em ser professor naquele momento. Mas depois que eu comecei a fazer o curso, daí a gente começa a perceber, inclusive, que não é só a talvez a principal forma de atuação daquele que tem a graduação na área de história, mas também que é um pouco de uma perspectiva de uma certa missão de você levar aqueles conhecimentos para outras pessoas. Tem um pouco dessa ideia de você poder compartilhar com as outras pessoas, digamos assim, essas leituras, esses conhecimentos. 


Há quantos anos atua como professor?


Então, eu estou trabalhando como professor, mais ou menos desde 2002. Já faz uns 21 anos, mais ou menos. E a primeira oportunidade que eu tive para dar aula foi por meio da LBV, Legião da Boa vontade, porque a gente tinha uma certa dificuldade de conseguir um estágio para dar aula nas escolas e tudo mais, e eu precisava ter uma experiência em sala de aula. E daí uma colega minha me disse: “olha, na LBV o pessoal estava procurando professores para trabalhar com educação de adulto”. São pessoas que, de alguma maneira, pararam de estudar e depois voltaram a estudar. Daí eu fui dar aula de história para esse pessoal lá na LBV. A partir dali, depois eu comecei a trabalhar numa escola, que já me existe mais, Colégio Curitibano, que era aqui no Água Verde, eu trabalhei de quinta a oitava série como professor de história. E logo depois eu comecei a ter algumas oportunidades. A primeira oportunidade que eu tive no ensino superior foi dando módulos de pós-graduação em história da educação, em diversas áreas. Daí as oportunidades começam a aparecer. Isso [começar a dar aulas] foi antes do mestrado, antes até mesmo de ter a graduação era um meio que em caráter de estágio, de experimentação.  


E no Unicuritiba?


Aqui no Unicuritiba eu comecei a trabalhar em 2010, então são 13 anos. 


Como se tornou professora na Unicuritiba?


Minha esposa já trabalhava aqui, ela é formada em direito, era professora aqui do curso de RI e dava aula de direitos humanos. Só que, embora ela seja formada em direito, todo o estudo dela é voltado para os direitos humanos, então ela começou a dar aula exatamente sobre direitos humanos, no curso de relações internacionais, acho que até dava aula no curso de direito também. E até que eles estavam precisando de um professor de história, aqui no curso de RI. De história das relações Internacionais contemporâneas, e me chamaram para fazer uma banca aqui, fazer um teste. Eu vim fazer e fui aprovado, então eu comecei a trabalhar no curso dando aula de história das RIs contemporâneas, que era a disciplina que hoje o Andrew ministra. E eu comecei atuando nessa disciplina. 


Qual sua percepção sobre estar ligado ao curso de relações internacionais tendo formação em história? 


Eu acho interessante que são poucas áreas do conhecimento hoje que têm essa inserção de outras áreas das humanas. Então, por exemplo, no direito, geralmente, o pessoal estuda filosofia, tem sociologia, tem um pouco dessas áreas. Mas RI, não. RI tem uma base histórica muito importante. Não só histórica, mas também sociológica, da ciência política, tem uma base do direito também. Mas tem esses outros pilares que são pilares humanísticos. Então eu acho que isso é uma coisa muito interessante no curso de relações internacionais, é um curso muito abrangente. E outro aspeto que eu acho legal também é que ele tem uma coisa que a história daí não tem, que é um pouco desse poder de transformar as coisas, agir de uma maneira um pouco mais efetiva. Não é só entender o mundo, não é compreender o mundo, mas é entender o mundo, compreender o mundo e, também, se for possível, atuar, contribuir para influenciar de alguma maneira, para transformar. Não que a gente vá acabar com as guerras, que vá alcançar a paz e tudo, mas que pode, por exemplo, se você trabalhar em alguma instituição como a ONU, você tem uma capacidade de atuação que um professor numa sala de aula não teria. É uma maneira de você realmente levar pra prática, mesmo, em termos de ações, de projetos, com todos os meios que são possíveis para pensar a organização do sistema Internacional. 


Existe algum momento na sala de aula que te faça pensar que é gratificante ensinar?


Tem vários momentos. Eu acho que, é claro, tem aqueles momentos difíceis, que causam dificuldades. Às vezes o pessoal está mais agitado, nem todas as turmas colaboram, digamos assim, às vezes o trabalho não rende muito bem em algumas circunstâncias, mas por diversos momentos a gente percebe que quando a gente traz alguma, enfim, alguma ideia, alguma abordagem de algum historiador, algum trabalho mais conceitual, e como isso abre a perspectiva dos alunos. A gente percebe que os alunos estão tendo contato com uma coisa nova, que eles nunca ouviram, que eles nunca haviam estudado e, às vezes, que até muda a visão do mundo desses alunos. E como essa interação e esse momento desse suposto despertar por uma ideia nova por, uma nova visão do mundo, é uma coisa que de fato é muito gratificante. Quando você percebe que você conseguiu mudar a perspectiva, a visão de mundo de uma pessoa, por meio de uma aula, por meio de uma apresentação de um tema. Então isso é uma coisa muito legal. E outro momento que eu acho muito gratificante é quando também a gente consegue debater com os alunos. Quando a gente percebe que os alunos estão interessados, até mesmo para questionar alguma abordagem, alguma ideia. Então quando a gente percebe que os alunos estão engajados também naquela ideia da descoberta, de uma suposta verdade sobre aquela questão e tudo, isso também é muito gratificante, porque isso transcende mesmo o aspecto meramente institucional. Não é uma questão de presença, não é uma questão de nota. Mas é uma questão que vai muito além disso. Então, esses momentos são únicos. 

Eu acho que eu, como professor, acabo reproduzindo o que é justamente fazer com que as pessoas experimentem aquilo que eu senti quando, por exemplo, eu li um livro e aquele livro mudou a minha visão sobre a sociedade sobre as coisas. Então eu tento transmitir exatamente essas experiências para os alunos também. 


Quando despertou o interesse de ser um profissional da área de história?


Eu acho que eu sempre tive muita curiosidade em relação à história, sempre tive muito interesse. Mas eu nunca tive realmente a oportunidade de aprofundar isso, e foi um momento, que eu acho que todo mundo passa na vida, quando se questiona, exatamente, se pergunta: “o que é que eu quero efetivamente fazer?” Como eu estava numa altura da minha vida que eu já tinha feito um percurso e não tinha me permitido parar e pensar aquilo que eu queria fazer, eu me lembro que, quando eu fiz essa fricção, eu tomei essa decisão e achava que a história poderia me dar as respostas que eu estava buscando, as perguntas que eu queria responder. Eu ia encontrar essas respostas não na engenharia, não em outra área, que seja lá qual for, economia e administração, sei lá, direito. Mas eu iria encontrar isso na história. Poderia até ser na filosofia, poderia ter sido na sociologia, mas eu achei que a história era mais abrangente, a história tinha essa amplitude. E digamos que, basicamente, todas as outras áreas têm história também envolvida. Então é como se a história fosse uma espécie de Coringa.  


Existe algum momento ou experiência durante a sua formação que tenha te marcado de forma especial?


Eu acho que quando a gente tem contato com alguns pensadores, com alguns historiadores. Por exemplo, o que vem me agora na cabeça é o primeiro contacto que eu tive com o Marx, por exemplo. Com textos de Marx e Marxismo, foi muito revolucionário na forma como eu, digamos assim, comprei as ideias de Marx e as e as teorias dele. Aquilo para mim foi bastante revelador. E um outro historiador, pensador, filósofo também, que me marcou muito foi Michel Foucault. Michel Foucault para mim também foi uma grande transformação, uma grande revolução quando comecei a ler sobre ele. 


Quais as aptidões e conhecimentos desenvolvidos em sua vida acadêmica que mais o ajudam na sua profissão atual? 


Eu acho que o professor lida com os seres humanos, lida com pessoas que têm os mais diversos tipos de interesse. Muitas vezes você está numa sala e você sabe que aquele aluno não gosta muito daquela disciplina, por exemplo, ou não está muito interessado naquilo. Então a gente tem essa questão também de ser um bom comunicador, no sentido de que, às vezes, uma boa comunicação não pode ser muito agressiva nem violenta, não pode ser impositiva. Então, por exemplo, eu prefiro até que os alunos que não estão muito interessados naquele momento - e às vezes tem dias em que a gente não está realmente com cabeça para acompanhar uma aula –, eu até prefiro que eles não precisem se preocupar com a presença, que eles possam sair da sala. Mas eu acho que eu também fui desenvolvendo um pouco dessa capacidade até mesmo de sustentar uma aula, tentando dar uma aula boa, mesmo sabendo que metade da turma, por exemplo, não está prestando atenção no que eu estou falando. Então essa capacidade de você manter, ser fiel àquele propósito, mesmo sabendo e tendo vários obstáculos. Às vezes você olha para um lado da sala e tem 2 ou 3 pessoas conversando, então eu não me importo mais com. Isso. Eu consigo continuar, digamos assim, o meu trabalho, sem deixar que essas coisas me coloquem para baixo. No começo era um pouco mais difícil para mim, aliás, tive momentos na minha carreira, que eu fui mais combativo. Se tivesse alguém conversando eu já procurava chamar atenção dos alunos, sempre de uma maneira educada, obviamente. Mas eu queria ter mais o controle da turma. Hoje eu já não penso mais assim, penso que quem quiser aproveitar, que aproveite. E que eu consiga, dentro do possível, fazer o meu trabalho sem me deixar levar por esses problemas que eventualmente acontecem. Então essa eu acho que é uma questão importante para se considerar. 

Algo que não está na tua pergunta, mas quando você for de aptidões, se você me perguntasse qual eu acho que é a aptidão, competência ou capacidade mais importante que eu tenho que transmitir para os alunos ou que eu tenho que ter como educador, meu papel como educador. O que eu acho que é mais importante que o aluno consiga desenvolver ao longo do curso, afinal de contas, são geralmente 4 anos que o aluno fica em uma universidade e tudo mais. Então, o que que é mais importante? Uma coisa que eu acho fundamental é exatamente, primeiro, o aluno sempre estar questionando a razão de ele estar aqui. Ou seja, o que ele está fazendo aqui. Se de fato aquilo que ele está estudando tem a ver com as vontades, com os desejos e com as com as questões que ele busca na vida dele. Eu acho que isso é mais de 50%. Não precisa ter certeza absoluta, porque certeza absoluta a gente nunca vai ter das coisas, mas que o aluno tenha uma certa clareza e uma certa, até uma autocrítica em relação. “Eu estou fazendo aquilo que eu quero e não estou perdendo o meu tempo.” E também eu acho que o curso, não só do curso RI, mas o curso de humanas, de forma geral, tem a ver com essa questão realmente dessa perspectiva crítica. Dessa maneira de sempre estar questionando, digamos assim, aquilo que supostamente é considerado verdadeiro hegemonicamente, questionar aquilo que supostamente é a única verdade possível, às vezes o próprio senso comum das coisas. Que é um pouco do aluno construir uma visão própria sobre a realidade, que ele também tem a capacidade de, inclusive, identificar, por exemplo, a teoria que ele acha que é mais adequada, que é mais coerente, dentro daquela visão mundo dele. Eu acho que essa é uma questão que eu acho importante. Eu sempre digo para os alunos que o mais importante hoje, que eu vejo que é o papel da universidade no século XXI, é que o aluno tenha autonomia intelectual. Que ele possa, por ele mesmo, depois, caminhar e avançar de acordo com os interesses dele, não os interesses institucionais. Vai ter que estudar isso, vai ter que estudar aquilo, essa atitude. Ele mesmo vai construir uma formação própria, mas para isso ele precisa dessa base que a universidade dá para ele, que é essa capacidade de ler, interpretar, falar, se comunicar, essas coisas. 

 

Que conselhos ou orientações você daria aos alunos que estão atualmente cursando Relações Internacionais? 


Exatamente isso que eu falei. É um tempo muito bacana das nossas vidas, é um tempo que a gente tem uma certa liberdade, não tem muita responsabilidade ainda, não tem família, não tem contas para pagar e tudo mais - às vezes alguns têm. Mas aproveitar mesmo esse momento da melhor forma possível. E traduzir e extrair dessa experiência o máximo que vocês conseguirem desse curto período da vida de vocês, porque depois daí vem um trabalho e nem sempre quando a gente está trabalhando, a gente pode escolher, pode às vezes se dedicar mais por um assunto que não vai ter exatamente uma aplicação direta. A universidade não precisa ser útil, necessariamente ser útil. Mas é um tempo em que você também se permite estudar coisas que não necessariamente vão ter um tipo de importância no mercado de trabalho. “Ah, vou estudar isso, isso e aquilo”. Em abrir portas, por exemplo. 


Teria algum/alguns livros ou autores para recomendar? Sendo voltado para a área de Relações Internacionais ou algo que tenha te marcado. 


 Eu posso indicar um livro do Michel Foucault, “Vigiar e punir”, que é um clássico. Clássico do pessoal que estuda ,em Direito, a história da prisão. Eu acho que é um livro muito legal, muito interessante para compreender a sociedade em que nós vivemos, então eu indicaria como um livro importante. Acho que, também, talvez um pouco de literatura, acho que é legal pensar sobre Aldous Huxley, que foi um autor que também me abriu muito a cabeça. Livros como “Admirável mundo novo” e “A ilha” são livros muito fortes, que abrem perspectivas. 


 



 






 

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