sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Redes e Poder no Sistema Internacional: Guerra e Estado-nação nos Estados Unidos da América


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.

Guerra e Estado-nação nos Estados Unidos da América

Lucas Andrade Quental
Luiz Guilherme G. Schinzel

Por meio das pesquisas desenvolvidas no âmbito do subgrupo “Guerras Tradicionais” – cujas características majoritárias englobam forças violentas organizadas e promovidas pelas unidades políticas entre si, ou seja, o uso da violência para maximização teleológica de seus objetivos –, pôde-se perceber que é de suma relevância considerar e compreender as forças profundas que movem e sustentam os conflitos entre atores capazes de atacar e se defender, como os Estados. 

Em um primeiro momento é preciso levar em consideração a noção conceitual de Estado-nação, portanto é relevante para a pesquisa a participação dos nacionais nas decisões políticas de seus representantes, principalmente quando se trata de conflitos entre Estados-nações. Portanto, as pesquisas buscam abarcar em sua análise o representante máximo da nação utilizado como objeto de pesquisa, por traduzir as intenções e vontades oficiais dos nacionais. Com tais elementos em mente, buscou-se analisar os discursos oficiais de tais representantes, e como estes influenciam nas reverberações políticas da guerra, tanto no Sistema Internacional, quanto no âmbito doméstico.

Através do estudo de caso sobre a relação entre a estabilidade socioeconômica dos EUA e o índice de aprovação do Presidente, com o nível de belicosidade na retórica dos discursos presidenciais durante o período da Guerra do Iraque, e os momentos próximos ao início e ao fim deste conflito, torna-se visível as intenções das partes. Assim, através dos discursos presidenciais estadunidenses, nota-se que, supostamente, há uma intenção falaciosa de resguardar a segurança mundial. Mas, também, há, hipoteticamente, uma intenção econômica e prestigiosa sob tal véu discursado. 

Pode-se afirmar que há a utilização de armamentos discursivos, que é o objeto da pesquisa, e armamentos materiais. Diversos foram os métodos utilizados durante o conflito. Entretanto, podemos salientar o uso do discurso para assolar a integridade do reconhecimento da soberania do outro Estado – além de garantir à parte detentora de maior grau de sofisticação e poder de discurso, um respaldo do Sistema Internacional e aproxima-o da legalização no Direito Internacional Público no âmbito do Sistema Internacional –, e os métodos de destruição física, que englobam armamentos militares e paramilitares. 

A guerra sempre foi algo presente em toda a história da humanidade. Grandes conflitos ocorreram desde que o ser humano passou a pisar sobre esta terra. Organizaram-se politicamente e líderes guiaram seus povos para os mais diferentes conflitos de nossa história. Mesmo após duas guerras mundiais, a guerra insiste em não se tornar coisa do passado. Recentemente temos sido testemunha dos discursos do presidente Donald Trump que em muitos momentos desafiam as normas internacionais e contrariam o bom senso que se espera de um presidente. Portanto, a figura controversa de Donald Trump é o objeto de estudo ideal para compreendermos se ou até que ponto os nacionais são cúmplices nas guerras ao longo da história. 

Portanto, será necessário analisar não apenas a personalidade de Donald Trump, mas o quanto ele corresponde aos sentimentos e vontade de seus nacionais. O resultado poderá apresentar uma luz a respeito de outros fenômenos políticos ao longo da história e entender melhor o fenômeno da guerra.
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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

As contribuições de Norman Angell para o Idealismo Moderno.

Artigo apresentado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais 1, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.




* Bruna Barbieri 

Angell era um pacifista e defendia cooperação entre os Estados para a obtenção da paz e que a ideia de que a guerra traria o poder político é apenas uma ilusão, sendo assim, portanto, tenta dissuadir seus leitores de que a guerra não traria benefícios para os vitoriosos e muito menos para os perdedores, principalmente da perspectiva econômica dos países envolvidos. Ele então propõe que a “paz armada” não é tão ruim e que poderia trazer certos benefícios uma vez que as potências envolvidas evitariam atacar a outra temendo que a sua tecnologia e seu poder de destruição pudessem causar a destruição mútua, mantendo assim um certo equilíbrio entre os países.
O grande temor de invasões por parte de inimigos fez com que se instaurasse nas potências europeias no fim do século XIX e início do século XX uma corrida armamentista, buscando sempre novas tecnologias e mantendo o exército alerta em caso de ataque, impulsionando a modernização de seus equipamentos. Esse episódio acarretou a chamada ”paz armada”, a qual foi questionada pelos principais teóricos da época. Para Angell, entretanto, o constante clima de tenção poderia ser benéfico na medida em que as Nações estariam receosas em atacar seus inimigos, pois nenhum Estado começaria uma guerra sem saber se seu potencial bélico seria mais poderoso do que o de seu adversário, não se reservando apenas ás grandes potências, mas influenciando até mesmo regiões onde houvessem conflitos menores.
A principal teoria defendida por ele era de que a guerra não é economicamente viável, nem para o Estado conquistador nem para o Estado conquistado, pois a concepção de que a conquista de novos territórios aumentaria a riqueza dos Estados conquistadores era um teoria antiquada, e que no sistema financeiro no qual as economias estavam inseridas a posse e o saqueio de outros países tenderia a prejudicar a economia dos países vencidos, tendo em vista a interdependência das economias em decorrência da difusão das comunicações nas transações comerciais.
Para alguns a guerra, é da natureza uma, sendo assim, seria inevitável o conflito de interesse, o que levaria os governantes a se envolverem em disputas, sacrificando alguns em nome do bem de toda a Nação. O estadista deve enfrentar a guerra quando ela tiver um papel importante na realização dos interesses da nação. Fazem ainda uma comparação com os trabalhadores, que se submetem a trabalhos perigos apenas para enriquecer, então não haveria problema em o governante sacrificar seus soldados para garantir o que seria melhor para o desenvolvimento daquele Estado. Para contestar essa lógica dos defensores da guerra como algo que vá beneficiar a economia dos Estados, Angell afirma que devido à interdependência no mercado mundial, a segurança das riquezas de um Estado depende de outros fatores que não o bélico. Somente a extensão do território administrado de uma potência não implica na prosperidade dos habitantes desse território. A extensão do território poderia inclusive prejudicar o status de grandes potências. Ele completa dizendo que no caso de alguns países de extensão territorial pequena e de um exército militar limitado conseguem manter a sua economia estável mesmo depois de uma invasão militar de uma grande potência. Muitas vezes a renda per capita de tais nações é igual ou superior à renda das grandes potências. Porém, isso não garante a estabilidade desses países.
Para os defensores da cooperação entre as nações, a invasão de território implica em prejuízo na economia do vencido, e isso não é interessante para a economia internacional. Uma nação não aumenta sua riqueza ao expandir o seu território, pois ao anexar um Estado o conquistador anexa também seus habitantes, esses sim são os únicos proprietários da riqueza correspondente, e o conquistador nada ganha. Além disso, a hegemonia no comércio internacional está ligada ao preço de seus produtos e a qualidade que ele é ofertado no mercado; nessa perspectiva é possível que um país arruíne outro sem precisar de um conflito.
Para manter uma balança comercial favorável no mercado mundial o país deve importar e exportar de forma equilibrada, se um país conquistar a economia de outro país acabará com o seu mercado consumidor para a exportação. É seguindo essa lógica que a maior parte dos defensores da paz mundial irá argumentar para tentar evitar um conflito mundial, o que já era previsível na virada do século XIX para o século XX.A ciência da política internacional surge nesse contexto com a intensão de elaborar teorias que viabilizassem a relação entre os estados europeus de tal forma que impossibilitasse a guerra. Os pensadores utópicos defendiam a cooperação entre os estados, baseando-se no argumento de que a economia dos países europeus era interdependente e, portanto, nenhuma nação deveria guerrear com outra, pois estaria colocando em risco a sua prosperidade e soberania nacional. Já os pensadores realistas não elaboravam teorias para evitar a guerra, apenas se preocupavam em analisar os fatos.
Ao longo de seu livro “A Grande Ilusão” Angell levanta a sua principal questão: que para garantir o desenvolvimento de sua economia e manter um status de bem-estar social na população não é preciso que os Estados entrem em guerra uns contra outros em busca por novos territórios. A disputa por territórios, o saqueio da economia dos conquistados assim como tomar por escravos os homens que outrora foram livres do país conquistado pertence a um período anterior a consolidação do Estado moderno, um período em que as economias nacionais eram independentes.
Contudo, com o desenvolvimento das comunicações e a interação entre as economias, o desenvolvimento econômico e social dos Estados passa a não depender mais da expansão de suas fronteiras, a supremacia militar de um povo não garante uma economia forte. Mesmo sendo vitoriosa a guerra não necessariamente é lucrativa para o conquistador. A divisão do trabalho, intensificado pela disseminação da comunicação é um dos fenômenos que pode ser observado como causador da interdependência financeira das nações civilizadas.
Em seu terceiro capítulo, Angell comenta sobre os axiomas, verdades universalmente aceitas e inquestionáveis sobre o modo como o poder era atribuído à política, descritos no capítulo anterior por Frederick Harrison. a estabilidade financeira e industrial de cada nação, sua segurança no campo comercial, sua prosperidade e bem-estar dependem da aptidão para defender-se contra os ataques dos outros países, os quais estarão prontos, sempre que possível, a tentar uma agressão, para aumentar seu poder e, portanto, o seu bem-estar e sua prosperidade, às custas do fracos e dos vencidos, como ele mesmo coloca.
Esses axiomas são manifestações vividas e evidentes, constituem um dos erros mais enganosos e perigosos que se possa cometer, erro que tem em alguns dos seus aspectos, o caráter de uma ilusão de ótica, de outros o de uma simples superstição, a qual, além de ser profunda e universal, possui males tão graves como o de deslocar dos seus caminhos normais um imenso caudal de energia humana, desviando-o de tal forma que, se de tal superstição não nos conseguirmos despojar, representará uma verdadeira ameaça a civilização. Angell fundamenta sua opinião mediante sete proposições que abarcam o campo das afirmativas características da política adotada na Inglaterra e na Alemanha. Essas sete proposições podem ser resumidas em uma só: em nossos dias, a única conduta possível para o conquistador é deixar a riqueza de um território em mãos de seus habitantes, que são os únicos e verdadeiros proprietários da riqueza correspondente.

Norman Angell vai contra a ideia de outros autores como Edward Carr, que a partir de estudos empíricos os estados buscam objetivar particulares, ou seja, os estados não buscam o bem da sociedade, ele busca os interesses particulares dos mais abastados, riquezas e os estados são contrários a harmonia de interesses. O autor também discute nesse capitulo o equilíbrio ou balanço de poder. A ação é fundada na política de poder. Que se contrapõe a harmonia de interesses. Afirma que todos os estados consideram o poder e se fundamentam nele. Angell desqualifica o poder querendo que a sociedade internacional não se fundamente no poder, indo contra Carr. Para ele, sem equilíbrio de poder nada funciona.


REFERÊNCIAS:

ANGELL, Norman. A grande ilusão. Brasilia: UNB, 2002.

* Bruna Barbieri: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba. 


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