segunda-feira, 16 de maio de 2011

HANNAH MONTANA E O CONGRESSO BRASILEIRO

Marlus Forigo
Filósofo e Cientista Político

          Milley Cirus é uma atriz e cantora juvenil que seduziu crianças, adolescentes e alguns adultos com suas músicas e personagem no seriado televisivo, cujo nome lhe valeu o codinome de Hannah Montana.
          A jovem esteve no Brasil fazendo shows no Rio de Janeiro e São Paulo nas noites de sexta-feira e sábado, dias 13 e 14 de maio de 2011, respectivamente. Minha filha Carolina, de 10 anos, desde que soube que a cantora estaria em terras Tupiniquins, não parou de me espicaçar a paciência para levá-la ao show. Mas o que é que a presença de Hannah Montana pode interessar ao leitor deste ensaio e mais, que relação, pois mais absurda que se possa fazer, a jovem popstar tem com a política brasileira? Para esta pergunta só existe uma resposta: NENHUMA!
          Calma! Não existe uma relação, mas uma conexão, ao menos para mim. Mas, para explicitá-la preciso falar sobre outra pessoa, o Fernando Rodrigues, não tão “importante” como Hannah Montana, mas que merece alguns instantes de nossa atenção. Fernando Rodrigues é jornalista do Jornal Folha de São Paulo e mantém uma página de política no site UOL. Na internet ele mantém uma listagem dos principais casos de desvio de conduta dos Senadores e Deputados Federais no ano de 2010 e nestes primeiros meses de 2011, facilmente identificada pelo título ”Monitor de escândalos no Congresso”.  Vou citar e brevemente comentar àqueles casos que mais diretamente me afetaram.

            O primeiro caso diz respeito aos chamados “deputados de verão”. Em janeiro deste ano, 41 suplentes assumiram os cargos no Congresso herdados de seus titulares que assumiram cargos nos executivos estaduais. Convém lembrar que estes mandatos tem a duração de até um mês, enquanto os novos congressistas não assumem seus mandatos, o que ocorre em fevereiro. Ressalto que neste período não se realizam votações nas casas legislativas, mas, no entanto, segundo estimativas da Folha de São Paulo, o custo destes “deputados de verão” pode chegar a R$ 5 milhões se somadas às idas a restaurantes, aluguel de carros, divulgação de mandato, pagamento de assessorias dentre outros. Para escandalizar ainda mais o cidadão e contribuinte brasileiro, a reportagem informa que 4 dos parlamentares que assumiram são réus na justiça sob a acusação de terem participado do mensalão.
          O Segundo caso se refere à troca dos carros e celulares usados pelos senadores. Eles deverão receber novos carros comprados em parte com o dinheiro levantado com o leilão dos antigos e os celulares serão trocados por iPhones, segundo o Senador Cícero Lucena (PSDB-PB), oferecidos em permuta pelas operadoras. O restante do valor, obviamente, sairá dos cofres do Senado.
          Por fim, cito um terceiro caso, o de funcionários do Senado que batem ponto e vão para casa. Recentemente informou o jornal “O Globo” que o Senado gastou pouco mais de R$ 1 milhão para instalar um novo sistema de ponto que exige cartão e impressão digital do servidor. Não obstante, alguns, para não dizer vários, batem o ponto e vão embora para casa. Isto para não falar que existem em torno de 1060 funcionários que são dispensados do ponto.
          Isto posto, fica mais fácil explicar o que quis dizer quando acima afirmei que citaria e comentaria os casos que mais diretamente me afetaram.
          Com relação ao primeiro, se é para um mandato tampão de no máximo um mês, porque ao invés de empossarem suplentes não fazem uma loteria como a mega-sena dos cargos vacantes? Poderia se chamar mandato-sena. Além de dar a oportunidade para todos os brasileiros (inclusive eu) de ganharem por um mês o salário de deputado sem fazer nada, ainda arrecadaria um valor significativo que poderia ser doado para reformas nas escolas e hospitais públicos.
          No segundo caso, minha indignação é ainda maior, pois há 20 anos tento juntar dinheiro para trocar meu Fiat 147 por um popular 1.0 e não consigo. E o que dizer do celular, objeto que já foi símbolo de status, mas que hoje é uma necessidade. Com as operadoras só tenho tido problemas, nunca me foi oferecido um iPhone a título de compensação pelas cobranças indevidas e pelas horas de espera nos call centers.
          Por último reitero meu direito de isonomia. Se alguns funcionários do Senado recebem salários ficando em casa, porque eu não posso gozar do mesmo privilégio. E olha que iria dedicar minhas 40 horas de trabalho semanais não trabalhadas para a realização da minha tese de doutoramento. Seria como uma bolsa estudantil.
          Ah! Já ia me esquecendo da atriz e cantora juvenil... deveria ter atendido ao pedidos de minha filha e a levado ao show no Rio de Janeiro, pois enquanto a Hannah Montana estava cantando e  se divertindo com seus fãs, eu estava escrevendo este ensaio e aumentando minha revolta a cada frase concluída.

http://noticias.uol.com.br/escandalos-congresso/2011/

Marlus Forigo é professor de Ciência Política, Filosofia e Ética do UNICURITIBA

Um comentário:

  1. Marlus execelente seu artigo,faço de suas palavras as minhas,a sua indignação,a minha e a de milhões de brasieleiros de norte a sul do país que observam o dinheiro público sendo jorrado em larga escala nas mãos de pessoas corruptas que não tem o mínimo de respeito com a sociedade e com os problemas sociais que assolam nosso país,infelizmente pouca coisa podemos fazer a não ser lamentar e ficarmos injuriados com todos ests fatos ocorridos. lembrando que isto é apenas uma parte das operações fraudulentas e desrespeitosas,feitas com o desvio do dinheiro público proveniente de todos os impostos que são recolhidos dos contribuintes brasieliros,dinheiro este que poderia esta sendo empregado em mais escolas,mais segurança nas cidades,saúde,políticas sociais e demais outros ítens de precariedades em nossa sociedade. compartilho contigo todas às suas indignações com relação a estes parâmetros e fatos citados aqui. parabéns pelo artigo! você é um grande pensador político!!! um abraço!!!

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