Por Maria Letícia Cornassini
“Mulheres como eu não devem
concorrer para o cargo”.
É com esta frase que Alexandria Ocasio-Cortez, ou AOC como ficou conhecida
popularmente, começa seu vídeo de campanha eleitoral. De fato, quando olhamos o
cenário representativo norte-americano -composto 81% por homens brancos e em
sua maioria empresários-, mulheres como Alexandria realmente não parecem se
encaixar no Congresso. E foi justamente por esta razão que Alexandria concorreu
à vaga de deputada do Partido Democrata pelo 14º Distrito contra o, até aquele momento,
atual deputado, que permanecia no poder há 14 anos.
No
começo de sua candidatura, parecia impossível que uma mulher, jovem, latina,
residente de uma comunidade periférica e pertencente a classe trabalhadora
pudesse destronar um candidato consolidado e com o apoio financeiro de diversas
corporações. Em uma campanha eleitoral movida 100% por voluntários e sem
receber doações de corporações, Alexandria priorizou ouvir a comunidade, e
pensar nos problemas que ela mesma já havia sentido na pele, para escolher os
objetivos que comporiam sua plataforma eleitoral.
Dentre
os objetivos que compõem sua plataforma, estão: saúde e moradia como direitos
básicos e coletivos; suporte à comunidade LGBTQ+, à população idosa e aos direitos femininos;
controle de armas; meio ambiente limpo e aumento do salário mínimo. Não só
isso, durante toda sua campanha fez questão de distribuir materiais eleitorais
nos idiomas de seus eleitores: inglês, espanhol e iemenita.
E
agora você deve estar se perguntando: Falar é fácil, mas o que ela tem feito
até agora?
Após
ter sido eleita, e agora ter o título de representante mais jovem da história
do Congresso Estadunidense, Alexandria tem feito campanha para a aprovação do
“Green New Deal” –que propõe um modelo mais sustentável com objetivo de
eliminar a poluição e diminuir as mudanças climáticas-; critica abertamente a
liberdade e falta de controle concedida pela lei aos atos Presidente; luta pelo
fim e critica os campos de detenção em que atualmente ficam os imigrantes e
iniciou uma coalisão com o deputado que é seu maior crítico para propor uma lei
que barre antigos políticos de participarem de atividades de lobby.
Sua
trajetória em busca do cargo de deputada foi registrada pelo Netflix, e, junto
à trajetória de mais três mulheres em busca de voz política, compõe o
documentário “Virando a Mesa do Poder”. Como espectadores, ficamos cientes das
dificuldades enfrentadas pela atual deputada ao desafiar um candidato cercado
por lobistas e cujo poder lhe foi dado a tempos: estabelecimentos não permitem
que ela exponha suas propostas; o representante não participa de debates dentro
da comunidade junto à ela; tentam a intimidar. Em um momento, se preparando
para o maior debate contra seu oponente, ela diz “Eu debaterei representando o movimento hoje. Não se trata de me eleger
ao Congresso. Trata-se de nós chegarmos ao Congresso”. Vem daí o papel de
destaque de Alexandria.
Isto porque ela não representa
somente um novo rosto na política. Representa mais. Representa a ascensão de mulheres num lugar em que
nunca foram muito ouvidas, nem mesmo no maior país democrático do mundo: o meio
político. Representa a luta e o
reconhecimento dos interesses de minorias, sejam elas étnicas ou sociais.
Representa a nova política desmantelando o
castelo de cartas sob o qual a velha política se baseava. Representa cada
cidadão que se deparou com interesses de multinacionais, grandes corporações ou
indústrias sendo colocados em primeiro plano na política de um país e pensou
“mas não deveria ser assim...”.
Mais que tudo, Alexandria
representa a democracia como ela, de fato, deveria ser: do povo e para o povo.
Referências:
Documentário
“Virando a mesa do poder”- Netflix
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