O que era pra ser somente um processo biológico natural, torna-se um fator determinante de vida. É esta a mensagem central do documentário “Absorvendo o tabu” (em inglês, Period. End of sentence), que retrata a relação de uma comunidade remota da Índia com a menstruação.
Desde seu início, o documentário retrata a desinformação que paira naquela comunidade em específico- diversos homens foram questionados quanto ao que seria menstruação, mas quase nenhum soube dar explicações. Quando não existente, a desinformação dava lugar ao tabu circundando o tema: meninas que não conseguiam explicar sem cair aos risos embaraçadas e mulheres que afirmavam que era um assunto não mencionado.
O que se nota é que a questão menstrual, além de levantar debates a respeito de saúde pública, tem relação direta com a forma com que as mulheres conduzem suas vidas nesta pequena comunidade indiana. Lá, o início do período menstrual enseja o ceifamento dos estudos, na reclusão feminina à casa e na exclusão da vida social e religiosa. O documentário expõe a visão preponderante de que durante este período, a mulher seria uma pessoa “suja”, não merecedora da participação na vida da sociedade.
Não só isso, o retrato que se tem é de uma realidade em que não somente não há o acesso da população feminina aos itens básicos de higiene intrínsecos ao período menstrual, como também esta falta de acessibilidade acarreta diversos problemas sociais.
Mas se a menstruação pode definir negativamente a vida de uma mulher, pode também influenciar positivamente. A mensagem do curta passa a ser modificada quando a comunidade em foco recebe uma máquina de fabricação de absorventes higiênicos à baixo custo. Com o novo maquinário, as mulheres locais passam a aprender a utilizar e ter acesso à absorventes. Além disso, por não mais estarem presas a métodos pouco efetivos de higiene, começam a ganhar segurança para buscarem empregos que antes não buscavam. Em especial, a fabricação e comercialização dos absorventes se torna a maior fonte de renda para a maioria das mulheres daquele povo.
Como mensagem final, o documentário retrata a história de diversas mulheres que, com os ganhos obtidos da produção de absorventes, começam a realizar sonhos -uma delas consegue bancar seus estudos para realizar um concurso de ingresso à polícia de Nova Déli.
A iniciativa de levar a máquina para a comunidade em questão parte de uma mobilização intitulada “The Pad Project”, um projeto que teve início com um grupo de estudantes de ensino médio. Agora, como uma organização de alcance global, continuam com a missão principal de criar e cultivar parcerias globais, para por fim aos estigmas relacionados ao período menstrual e levantar conscientização.
O documentário “Absorvendo o tabu”, contempla apenas uma realidade microscópica daquilo que é um problema macroscópico relacionado à falta de educação e acesso sanitário básico. Não são somente comunidades remotas em países distantes que sofrem com o problema retratado pelo documentário. São também diversas cidades em áreas rurais mundo a fora; bairros periféricos em grandes cidades; mulheres em situação de rua; e a população carcerária feminina. De fato, como espelha o título original da obra, para muitas mulheres, um período marca o fim da vida, e não o fim de uma frase.
O que acima de tudo pode-se notar a partir desta retratação documenta da realidade, é que a luta por Direitos Humanos Femininos passa longe de ser homogênea em todas as comunidades. Enquanto em algumas há a luta pela maior equidade política, em outras a busca pela equidade advém da superação como tabu daquilo que nada mais é do que um processo natural. Mas, apesar dos pontos focais de luta serem divergentes, o objetivo final converge em um só: emancipar meninas e mulheres de entraves à uma vida digna.
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