O transporte e o comércio tornaram-se tão cotidianos que não se para pensar em sua importância para o mundo, para a vivência e para os seres-humanos. Greg Clydesdale escreve sob essa abordagem em seu livro Cargas: como o comércio mudou o mundo. Dividido em quatorze capítulos, o autor remonta a história da viagens transoceânicas desde a primeira jornada registrada até os dias atuais. O desenvolvimento de tecnologias, de aparatos de navegação e a formação de pessoas especializadas nesta área são um dos pontos cruciais de Cargas. Apesar de ser um livro informativo, a parte histórica contida nele faz a leitura ser fluída e de fácil compreensão.
Quando se fala de navegação, a primeira associação que se faz é com a Península Ibérica. No entanto, Clydesdale demonstra que o Oriente foi um pilar importante que inovou o transporte e o comércio. Os dois primeiros capítulos do livro são dedicados a essa região, primeiro com os grandes sucessos que fizeram da China um dos maiores impérios, nos anos 600 d.C, traçando a história de todas as dinastias chinesas e as inovações que essas famílias trouxeram para o comércio, agricultura e transporte. O próprio Marco Polo ficou surpreso com a prosperidade que viu nas cidades chinesas. Além da China, Guzerate foi um reino independente que explorou com muito sucesso seu desenvolvimento econômico, tornando-se uma das nações mais ricas do mundo no século XIV.
A partir do século XV, os países europeus perceberam o êxito oriental e o tomaram de exemplo para que o comércio e o transporte pudessem crescer em seus territórios também. Espanha e Portugal conseguiram dominar o oceano Atlântico com suas expansões territoriais. A Inglaterra, por outro lado, estava ficando para trás na corrida marítima. Fragilizada e vulnerável a ataques, a nação inglesa viu a oportunidade para desenvolver seu transporte marítimo, seguindo os modelos ibéricos. A Holanda também prosperou, ao mesmo tempo em que a Espanha começava a decair, especialmente por que a nação desprezou os trabalhos manuais, dominados pelos judeus e muçulmanos.
A Grã-Bretanha, mesmo tentando, continuava atrasada. Depois de fracassar ao propor uma aliança com a bem-sucedida Holanda, o Estado inglês estabeleceu uma série de medidas protecionistas, impossibilitando a competição de navios estrangeiros, além de criar um imposto de exportação sobre o carvão transportado por navios estrangeiros. Em consequência de tudo isso, as duas nações entraram em guerra. A Inglaterra, com uma poderosa frota marítima de guerra, queria uma parte do comércio holandês e finalmente conseguiu realizar seu antigo desejo de ser uma grande nação marítima. A decadência industrial fez com o que os anos de ouro da Holanda acabassem, o que deu espaço para que a Grã-Bretanha se desenvolvesse ainda mais; assim, ela se tornou uma das gigantes no setor marítimo.
Avançando em sua linha do tempo, Greg Clydesdale conta como foi o processo de desenvolvimento dos Estados Unidos, explicando as diferenças entre o Norte - que foi industrializado primeiro - e do Sul. A próspera China também começava seu processo de decadência, motivada pela falta de inovação tecnológica. Assim, o Japão começou a crescer no cenário internacional, depois de dois séculos de quietude.
Cargas se encaminha para sua conclusão passando para os tempos mais recentes, apresentando a era em que muitas empresas começaram a surgir nos Estados Unidos, fazendo-o crescer economicamente. A Primeira e a Segunda Guerra Mundial também foram importantes para o desenvolvimento econômico e comercial. O carvão movia a Inglaterra - a nação mais rica da época; o petróleo, por outro lado, surgiu como um substituto a esse combustível, o que causou sérias consequências para as exportações britânicas. O Japão se desenvolveu rapidamente, adaptando-se ao cenário mundial e expandindo seus horizontes.
Diferentemente de épocas passadas - quando apenas uma nação era a soberana em determinado setor -, atualmente, a inovação e tecnologia fez com que mais países se tornassem bem sucedido, mesmo que em diferentes graus e esferas. É o caso dos Estados Unidos, China, Japão e muitos outros.
O gráfico acima demonstra a natureza flexível da economia. A Índia e a China, por exemplo, eram supremas, enquanto a Europa estava ainda se desenvolvendo. Ao longo da história, os papéis se inverteram e se repetiram e nos trouxeram onde estamos hoje. Cargas relata esse gráfico em palavras que nos levam de volta a eras que podem parecer remotas, mas Clydesdale mostra que o comércio foi, desde sempre, expressivo e dinâmico.
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