Por Manuela Paola
Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, pode ser considerado um dos livros mais
conhecidos do mundo, assim como Cem anos
de solidão e Anna Karenina. No
entanto, sua história e a forma como ela é contada está bem longe de ser
ordinária. Os personagens não têm nome e sua descrição se resume a apenas um
fato: o médico, a mulher do médico, o
primeiro cego, e por aí vai. No começo, pode parecer um pouco confuso, mas
conforme a leitura anda, nota-se que essa lacuna é essencial para o
desenvolvimento da história. Esta autora, particularmente, sempre gostou de
saber o nome dos personagens, mas surpreendeu-se quando apreciou a falta deles.
Sinceramente, deixar esse mistério foi uma jogada surpreendente de Saramago -
com certeza, é um dos fatores que prende o leitor ao livro.
A cegueira
mencionada no título da obra é a base do enredo. O primeiro cego, um dos personagens, encontra-se de repente numa
total branquitude - diferente da escuridão que imaginamos ao falar de cegueira.
A partir dele, outras pessoas são “contaminadas” e também param de enxergar,
como o homem que ajudou o primeiro cego e o médico que o atendeu. Quando uma
quantidade considerável de pessoas não mais enxerga, o governo fica alarmado e
decide colocá-las em quarentena, assim como aquelas que entraram em contato com
os cegos. Mais preocupados em parar a disseminação da “doença” do que em
descobrir a causa, as autoridades isolam os infectados em um manicômio
abandonado, sem nenhum auxílio médico, contando apenas com a própria noção de
sobrevivência. Curiosamente, uma das personagens escapou do destino que assolou
a todas as outras: a mulher do médico
é a única que enxerga. Para não se separar do marido, ela deixou que todos os
outros acreditassem que também tinha perdido sua visão. Dessa forma, ela foi
uma personagem essencial na sobrevivência de tantos outros.
Em todos os
capítulos, José Saramago mostra como o egoísmo e a maldade podem aflorar em uma
situação única, assim como o instinto de sobrevivência e proteção de outros
seres humanos. A selvageria é uma constante em determinados personagens e nos
lembra de que nunca conhecemos alguém verdadeiramente. Mas mais importante que
isso, a situação em Saramago colocou seus personagens principais fez com que a
união em prol do bem de todos prevalecesse, causando a sua sobrevivência.
A vida imita a arte é uma frase
comumente usada para designar uma situação real que já foi descrita anteriormente
em algum livro, filme ou até mesmo pintura. O paralelo com a realidade e a obra
de José Saramago é bem clara. No começo do ano, o ressurgimento de um conhecido
vírus chamado coronavírus fez com que
o governo chinês isolasse uma cidade inteira - Wuhan - em quarentena. Tem-se
pouca informação da quarentena, logo, é interessante observar o modo como as notícias sobre a doença atingiram as
pessoas. Algumas entraram em pânico, comprando máscaras e álcool em gel; outras
deixaram aflorar o mais puro racismo que existe dentro de si. Pelo simples fato
de que o vírus se originou na China, pessoas desta nação passaram a ser alvo de
xenofobia em tantos outros países. Como na famosa obra, o pânico transformou e
aflorou nas pessoas o que nelas há de pior.
O brilhantismo
com o qual José Saramago escreveu Ensaio
sobre a cegueira se estenderá por inúmeras
gerações. Mesmo escrito em 1995, a obra permanece atual, nos permitindo fazer
diversos paralelos com o contemporâneo. Esta autora espera poder fazer, também,
um paralelo com o final do livro. Boa leitura!
Nenhum comentário:
Postar um comentário