Por Ligia Penia, Manuela Paola, Maria Leticia Cornassini e Vinicius Canabrava
O relaxamento acadêmico
do final do ano foi um mergulho entre várias tensões políticas: um quase “fim
do mundo” nuclear, um possível fim virótico, repressões religiosas, protestos
em Hong Kong, Líbano, Índia, perfeito para um post polêmico com updates de algumas
situações de grande impacto que aconteceram no período.
CORONAVÍRUS
O coronavírus, vírus
que está assustando a comunidade global como a mais nova emergência
internacional, é uma classe virótica antiga que afeta a capacidade
respiratória; apesar de antigo, foi nos últimos meses que a proporção e
evolução de contágio se intensificou, vinda de uma variação originada na China,
a partir do contato com algum animal. Foi no início deste ano, entretanto, que
a primeira morte ocorreu.
Hoje, o contágio pode
acontecer a partir do consumo de algum animal silvestre, mas também a partir
das pessoas infectadas. As pessoas mais vulneráveis são as com mais idade e
algum outro problema de saúde, o que as faz ficarem mais frágeis.
Relativas ao vírus,
entretanto, estão diversas fake news e desproporcionalidades; vários casos de
violência estão acontecendo às pessoas com traços orientais, com discursos de
ódio e violência física, que foi o que motivou a criação da hashtag
#JeNeSuisPasUnVirus (Eu não sou um vírus), uma vez que a epidemia - apesar de ter se originado na China – não pode
servir para desumanizar nacionais chineses, além dos traços serem confundidos
com pessoas de outras origens (Vietnã, Japão, Coréia…).
EUA X IRÃ
Logo após a virada de 2019 para 2020, o
mundo ficou paralisado com a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial - o
que, de fato, é muito difícil de acontecer. No dia 2 janeiro, um ataque aéreo
foi autorizado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para acontecer
em Bagdá, na capital do Iraque. O ataque ocasionou a morte do general Qassem Soleimani, um dos homens mais poderosos do Irã. O
general comandava a força Al Quds, uma unidade especial da Guarda
Revolucionária, o que significava que Soleimani estava por trás de toda
estratégia geopolítica e militar do país. As relações entre os dois países
esfriaram ainda mais após esses assassinato, levando o aiatolá Ali Khamenei -
um dos principais líderes iranianos - falar sobre vingança. A retaliação foi
uma série de mísseis em bases aéreas americanas no Iraque, sem vítimas fatais.
BREXIT
O BREXIT - saída do Reino Unido da União
Europeia – é uma história longa, que começou pouco de três anos atrás. O Reino
Unido ingressou no bloco em 1973, quando ainda era chamada de Comunidade
Econômica Europeia. Em 2016, 52% da população decidiu, em um plebiscito, que o
país deveria deixar o bloco. De acordo com o Tratado de Lisboa, o desligamento
deve ser feito 2 anos depois do comunicado. No entanto, em 2019, a primeira-ministra
Theresa May ainda estava fazendo acordos de saída, quando 3 deles foram
rejeitados pelo Parlamento do Reino Unido. Antes de conseguir um acordo, May
deixou o posto de primeira-ministra. Em seu lugar, Boris Johnson foi eleito,
prometendo conseguir o Brexit com ou sem acordo. Coincidência ou não, o
Parlamento Britânico aprovou uma lei que impedia a saída da União Europeia sem
um acordo. O bloco deu um novo prazo para o desmembramento: 31 de janeiro de
2020. Como os parlamentares não chegavam a um consenso sobre a polêmica,
Johnson fez uma jogada audaciosa: convocou novas eleições gerais. Vencendo com
a maioria avassaladora, ele colocou o parlamento ao seu lado e aprovou o acordo
de retirada. Até o dia 31 de dezembro de 2020, ocorrerá o período de transição,
necessário para que o Reino Unido e a União Europeia negociem um novo acordo de
livre comércio. Durante esse tempo, o país seguirá as mesmas regras da UE,
assim como sua relação comercial permanecerá a mesma.
IMPEACHMENT
DO TRUMP
Teve fim o processo de
impeachment do Presidente Donald Trump. Em dezembro, a Câmara dos Deputados dos
EUA aprovou que duas acusações fossem feitas contra ao Presidente norte
americano, uma por abuso de poder, e a outra por obstrução de Congresso.
Figurando como o terceiro presidente do país e ser réu de um processo de
impeachment, Trump foi acusado de pressionar o Governo da Ucrânia a investigar
seu possível adversário nas eleições de 2020 e de proibir algumas pessoas a
prestar depoimentos ao Congresso. Contudo, quando o processo prosseguiu para o
Senado norte americano, muitos já sabiam que o resultado seria favorável ao
atual presidente. De fato, o Presidente Trump sai deste processo mantendo seu
cargo e com as acusações contra ele derrubadas. Muitos apontam, por outro lado,
que o processo pode trazer consequências negativas para a tentativa de
reeleição de Trump.
HONG KONG
Em Hong Kong a tensão
começou ainda em abril de 2019 quando o projeto de lei que propôs possível a
extradição de pessoas condenadas por certos crimes para a China. O medo, desde
então, foi da forte repressão e dos julgamentos arbitrários e injustos. O
projeto foi retirado, mas as manifestações continuaram, em busca de outros
pontos, tal como a possibilidade de escolha do chefe executivo localmente.
Hong Kong tem suas
peculiaridades por conta de ter sido, por longo tempo, colônia britânica
desvinculada da China. Apesar de hoje estarem vinculados novamente, o sistema
ainda é diferente, com maiores liberdades e direitos, tudo isso dentro do prazo
estipulado na união acordada, sendo que assim que ele acabar, estarão
vinculados inclusive politicamente. O prazo ainda não acabou, o que não impediu
o governo chinês de propor o projeto, e de ser o responsável por escolher o
líder político na região.
Fato é que esse jogo de
controle e liberdade esteve, apesar de pouco falado, movimentando milhares de
pessoas em protestos e muitos confrontos.
INCÊNDIO NA AUSTRÁLIA
Os incêndios na
Austrália foram alarmantes: pela extensão da destruição, totalizando uma área
maior que a de vários países, morte de pessoas e 1 bilhão de animais, além da
destruição de casas, redes de energia. Os incêndios começaram em setembro, com a combinação
da alta temperatura, da seca e fortes ventos. Mesmo as cidades não afetadas
foram tomadas pela fumaça e cinzas. Diversas personalidades fizeram grandes
doações para ajudar na contenção do incêndio. Os incêndios continuam e podem
ser acompanhados a partir da plataforma “MyFireWatch” criada a partir da parceria entre o Landgate
(departamento do governo australiano voltado à terra) e a universidade Edith
Cowan.
OMC
Dezembro marcou o
início das férias e também o fim da atuação -sem tempo definido para retorno-
do Órgão de Apelação da Organização Mundial do Comércio. O encerramento das
atividades vem após um longo período de turbulência dentro da Organização, em
que uma das maiores partes, os Estados Unidos vem fazendo ataques à sua
existência desde 2017, o início do mandato Trump. Apesar de outros mecanismos de solução de controvérsias da OMC
continuarem funcionando, o fechamento do Órgão de Apelação põe fim à possibilidade
dos países de levarem suas causas à segunda instância.
O fechamento, ao contrário do que pode se
pensar, não decorreu de problemas financeiros, e sim, pela falta de juízes.
Ocorre que, mesmo tendo espaço para a contratação de 7 juízes, são necessários
somente três juízes para que os julgamentos possam ser realizados. Era este o
número de magistrados na composição do Órgão de Apelação, mas chegou ao fim, em
dezembro, o mandato de 2 dos 3 juízes. Todas as sugestões de nomes para novos
juízes, que deveriam ocupar todos os 7 lugares do Órgão de Apelação, vinham
sendo vetadas pelos EUA desde 2017. Como a OMC funciona pela regra de consenso
de seus membros, os nomes não puderam ser aprovados por conta dos vetos
estadunidenses. Como consequência, o Diretor Geral da OMC, Roberto Azevedo,
teme que os países passem a tomar medidas unilaterais, tornando a OMC obsoleta.
ÍNDIA -
LEI DA CIDADANIA
A Índia é o lar de
diversos estrangeiros de países próximos, muitos que foram para lá para fugir
de perseguição religiosa, vindos de Bangladesh, Afeganistão e Paquistão, que
receberão cidadania desde que se identifiquem entre religiosos que seguem o
hinduísmo, cristianismo e outras que acabam sendo minorias nesses países. O
questionamento, entretanto, é se a fé pode ser considerada um requisito de
cidadania, o que não deveria acontecer considerando a constituição do país. O
fato se torna mais preocupante quando a religião islâmica não é incluída na
lei, sendo que também sofrem perseguição sendo grupos minoritários no Paquistão
e em Myanmar, por exemplo - e por isso foi considerada discriminatória. Fato é
que a implementação da lei provocou diversos protestos e motivou cenas de
violência contra muçulmanos em diversas cidades: muitas pessoas foram
espancadas e quatro mesquitas foram queimadas em Délhi, a capital do país. O conflito é consequência da
grande polarização do país, e não foi resolvido até agora.
MORTE DE
MUBARAK
Após passar várias semanas na UTI, o
ex-presidente egípcio Hosni Mubarak veio a falecer no dia 25/02/2020, com 91
anos.
Mubarak governou o
Egito de forma ditatorial por 30 anos, de 1981 a 2011, utilizando de um Estado
de Emergência para restringir o direito dos cidadãos e impedir a ação de
militantes islâmicos. Dentre seus feitos, o ex-ditador reconstruiu as relações
diplomáticas com os países árabes, que foram quebradas quando Egito e Israel
assinaram o acordo de paz. Além disso, Mubarack mantinha relações econômicas e
políticas com os Estados Unidos e Israel, o que o fez ser odiado no Oriente
Médio e sofrer alguns atentados terroristas, que ele utilizava para justificar
seu governo autoritário. Enquanto esteve à frente do Estado egípcio, a situação
da população não melhorou, a pobreza persistiu e seu partido foi acusado de
corrupção e manipulação das eleições de 2010 no país.
Com isso, em 2011, o
povo se revoltou, inspirado nas grandes manifestações que estavam ocorrendo no
mundo árabe, como na Tunísia. Mubarak não acreditou que os protestos trariam
resultados e os reprimiu fortemente. No entanto, ao perder grandes aliados,
como os Estados Unidos, que passou a apoiar as demandas populares, o então
presidente renunciou. Mais tarde, em agosto do mesmo ano, Mubarak foi preso e
na época já doente, respondia pelos crimes de conspirar para matar
manifestantes. Por fim, Hosni Mubarak foi absolvido de seus crimes, após o
processo ser abandonado em 2014 e o Egito viveu um curto período de democracia,
em 2012, com Mohamed Morsi, vencendo as eleições, porém o poder foi tomado por um militar, Abdel Fattah al-Sisi, que comanda o país até
hoje.
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