domingo, 29 de março de 2020

Redação Internacional: Como o jornalismo internacional tem visto as ações do Brasil no combate ao coronavírus?




Fernando Yazbek*



Desde que a primeira morte por coronavírus foi registrada no Brasil, no dia 17 de março de 2020 em São Paulo, não se fala em outra coisa. A grande mídia tradicional, ora acusada do oligopólio dos meios de comunicação, viu o Covid-19 monopolizar o que é notícia no país. Há em curso uma cobertura jornalística monotemática nunca antes vista, nem em época de Copa do Mundo, Olimpíadas e eleições. A novela das nove diminuiu de tamanho e o telejornal ganhou mais minutagem. Os classificados e as palavras-cruzadas saíram dos jornais impressos para abrir espaço para mais páginas de saúde, circulação de pessoas, serviços essenciais na quarentena e - infelizmente - obituário. Até os cadernos específicos de economia e política só repercutem os impactos do vírus nessas pautas. 


A cada hora somos inundados com informações de um novo caso num estado, da mais recente morte numa cidade do interior e da última entrevista coletiva das autoridades. Sabemos como a imprensa brasileira vem noticiando a pandemia. Mas como as redações dos outros países enxergam o Brasil neste momento? O que é  manchete nos principais jornais do mundo sobre nós? Analisa-se, abaixo, como as redações de fora repercutiram o Brasil desde o primeiro caso do novo coronavírus reportado no país até o pronunciamento em cadeia nacional do Presidente da República Jair Messias Bolsonaro, na terça-feira 24 de março. 


O americano The New York Times deu, ainda em 26 de fevereiro, que “Brasileiro que visitou Itália é o primeiro paciente do coronavírus na América Latina”. A matéria, mesmo que em alerta, ressalta o grande sistema público de saúde brasileiro. O que mais foi notícia nos Estados Unidos em relação ao Brasil no início da proliferação do vírus pelas Américas foi o contato do secretário de comunicação do governo Bolsonaro, Fábio Wajngarten, infectado pelo coronavírus, ter tido contato direto com o presidente Donald Trump no estado americano da Flórida. Incidente foi visto como constrangedor. Ainda no Times, artigo de opinião critica duramente não só o governo, mas em especial a postura do presidente Jair Messias Bolsonaro, acusando-no de omissão no que seria a “pior crise sanitária do Brasil moderno”. O texto também aponta as falas anti-democráticas e distantes da realidade do chefe da nação.





Muda o país, mas o entendimento sobre Bolsonaro na crise do coronavírus é o mesmo. O alemão Deutsche Welle manchetou que o presidente brasileiro “contraria consenso científico sobre a covid-19”, enquanto o espanhol El País profetizou que “amanhã pode ser tarde demais para deter Bolsonaro”. Latinos e germânicos veem o ex-capitão se aproveitando de uma epidemia para “minar instituições democráticas” com seu “estilo de aprendiz de ditador”




No melhor estilo argentino, o vizinho La Nacion misturou futebol e política para notificar o coronavírus no Brasil. O periódico se valeu de uma postagem no Instagram do lateral-direito da seleção canarinha, Daniel Alves, em que o multicampeão crítica, muito respeitosamente, a postura do presidente. La Nacion enfatiza que Bolsonaro tem “baixado o tom” reiteradas vezes durante esta calamidade.





Em Portugal, o jornal Público repercutiu o isolamento político de Bolsonaro. Ex-aliados de campanha e de ideologia, governadores tomam medidas que vão em rota de colisão com o que manda o governo federal. É o caso de João Dória (PSDB) em São Paulo e Wilson Witzel (PSC) no Rio de Janeiro. Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre (que está com o vírus) respectivamente, também têm se distanciado do presidente, assim como o partidário Ronaldo Caiado (DEM), governador de Goiás, que anunciou rompimento com o Palácio do Planalto. Para o jornal, as atitudes insensatas de Bolsonaro e a disputa politica pela sucessão presidencial em 2022 o afastaram de seus antigos cabos eleitorais.









No dia 19 de março, o Le Monde deu destaque aos protestos que sofreu o presidente pelas janelas das cozinhas Brasil à fora. O panelaço repercutiu principalmente na mídia francesa pela crise diplomática aberta por Bolsonaro com o presidente Emmanuel Macron na metade de 2019, por conta das queimadas na selva amazônica. A briga entre os chefes de estado envolveu também, à época, os filhos de Bolsonaro e - grosseiramente - a primeira dama parisiense.








O cubano Granma foi o único periódico, nacional e internacional, que deu mais atenção ao ex-presidente Lula que a Bolsonaro. O que é razoavelmente esperado, uma vez que se trata do panfleto oficial do partido comunista da ilha. O texto trata especificamente do que hoje pode ser tratado como o maior símbolo de soft power castrista: a medicina. O povo brasileiro será sempre grato - diz o petista na matéria -pela vinda dos médicos cubanos ao Brasil no programa Mais Médicos. Lula fala da emoção em ver cubanos desembargando na Itália no dia 23 de março, país com maior número de mortos na pandemia, e diz se tratar de um gesto “verdadeiramente grande” de solidariedade revolucionária.






O governo brasileiro há tempos não tem uma boa imagem no exterior. Desde a crise das queimadas na Amazônia, passando pelas constantes ameaças à democracia brasileira e à soberania de países como Venezuela e Cuba, a mídia internacional volta os olhos ao Brasil com certa preocupação. A pandemia do Covid-19 não parece ser a exceção para confirmar a regra de que Bolsonaro será criticado pelos veículos midiáticos estrangeiros. E, pelas atitudes desencontradas do presidente, o coronavírus não deixará de ser notícia tão cedo no Brasil.









Referências:









*Fernando Yazbek é aluno do segundo período de Relações Internacionais do UNICURITIBA e também cursa Ciência Política na Universidade Federal do Paraná. Além de integrar a equipe de 2020 do Blog Internacionalize-se, também é responsável pelo Blog Democratiba - que discute os meandros políticos que interferem na vida esportiva do Coritiba Foot Ball Club, seu time do coração. 

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