Fonte:
Syed (2020).
Autor: Felipe
Dalcin Silva[1]
Este
artigo tem como objetivo analisar uma das teorias da conspirações mais
espalhadas nas redes sociais: que o coronavírus, nome científico SARS-CoV-2,
causador da Covid-19 é uma arma biológica criada por algum Estado, em que se
alega na maioria das vezes que o criador deste agente patógeno foi a China. A
partir disto, buscou-se 1. Entender o que é uma arma biológica, como se sucedeu
o uso deste tipo de armamento ao longo da história e qual a atual situação das
armas biológicas; 2. Mapear se há alguma possibilidade de que tal alegação, que
o coronavírus é uma arma biológica, ser verdade.
Através
da coleta de informações disponibilizadas por pesquisadores de diversas
ramificações da biologia se tem a confirmação de que não existe chance do
SARS-CoV-2 ter sido criado em laboratório. A possibilidade mais plausível é que
o causador da Covid-19 se originou de forma natural. Outro ponto investigado é
que se faria sentido a criação de uma arma biológica nos moldes do coronavírus.
A hipótese do autor é que além da já comprovação de que o SARS-CoV-2 não foi
elaborado em laboratório, levando também em consideração as características
deste vírus, não faria sentido nenhum Estado criar uma arma biológica com as
características deste agente patogênico. Para produzir este artigo foram
utilizadas fontes secundárias, artigos, livros e notícias que nos ajudam a
entender melhor o que se pretende demonstrar neste texto.
Contexto sobre Armas Biológicas
Para
fabricar uma arma biológica é necessário um agente patógeno – bactéria, vírus e
ou fungo – o qual pode ser tanto retirado de fontes naturais ou também ser
produzido em laboratório. Posteriormente, para empregar o uso deste tipo de
armamento, deve-se introduzir o patógeno escolhido em um sistema de entrega, o
qual pode ser: corpos em estado de putrefação, objetos, seres vivos
contaminados, bombas de aerossolização, entre outros (MASTHAN, et al, 2012, p.
1).
Ao longo da história, vemos uma série de
episódios em que agentes patógenos foram utilizados com arma de guerra. Desde o
Império Romano até a Idade Média, há relatos de que eram usados corpos em
decomposição, carregando doenças, para contaminar forças inimigas. Adiante, no
século XVI até o século XVII existe também diversos indícios encontrados de que
o alastramento de doenças por colonos europeus foram fundamentais para dizimar
populações nativas na América. Durante a Primeira Guerra Mundial, de 1914 até
1918, armas biológicas feitas a partir de Mormo e Antraz foram utilizadas neste
conflito bélico (CASTANHEIRA, 2016, p. 6-7). Em formato de slides, o pesquisador Raymond Zilinskas
detalha agentes patógenos que podem servir de base para construção de armas
biológicas e seus respectivos efeitos.
Para
empreender o uso deste tipo de armamento sem sofrer efeitos colaterais, já que
armas biológicas podem apresentar grande capacidade de contaminação e
alastramento, seria necessário que o Estado ou até mesmo a organização terrorista
que queira empregar esta arma, imuniza-se sua população/ membros como os seus
respectivos combatentes, para evitar que estes sofram infecção (DUNNIGAN, 2003,
p. 442). Está é grande desvantagem das armas biológicas, a incapacidade de
prever com previsão até onde uma determinado agente patógeno pode contaminar.
Porém, armas biológicas se comparadas aos outros tipos de Armas de Destruição
em Massa (ADM), as armas químicas e nucleares, são mais simples de serem
produzidas. Assim, um Estado com capacidade precária de produzir outros tipos
de armamento poderiam buscar nas armas biológicas uma alternativa, como também
organizações terroristas (MASTHAN, et al, 2012, p. 3).
Para
evitar que Estados criassem ou mantivessem armas biológicas, na década de 1970,
o acordo Biological Weapons
Convention (BWC) foi criado para proibir qualquer uso deste tipo de
armamento. Porém, mesmo com a ratificação deste tratado em 1975 foram
encontrados provas que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
continuaram a produzir estoques de armas biológicas. Até hoje existe desconfiança de que se os
Estados-membros que assinaram o BWC poderiam não respeitar os termos do acordo.
Castanheira (2016, p. 3) aponta como grande problema a falta de mecanismos de
fiscalização do BWC, o que pode significar que há possibilidades de que membros
do acordo possam estar fabricando armas biológicas.
Seria o Coronavírus uma Arma Biológica?
Além
das teorias da conspiração disseminadas nas redes sociais de que o coronavírus
teria sido fabricado pela China, a qual teria interesse de deturbar a política
e a economia global visando obter vantagens com o possível caos gerando pelo
alastramento do vírus, vemos diversas autoridades políticas indagarem que o
vírus poderia ter sido criado por um determinado Estado antagonista. Sem
dúvida, o levantamento mais conhecido neste sentido é do presidente
estadunidense, Donald Trump, que já disse que tem interesse de investigar como este
agente patógeno surgiu, em que o líder norte-americano alerta que há
possibilidade do vírus ter escapado de um laboratório de pesquisa em Wuhan. Na contramão, líderes chineses já chegaram a
questionar que o SARS-CoV-2 poderia ter sido criado por Washington objetivando
deturbar o crescimento da influência política e econômica de Pequim (BAJAMA;
PARTHEMORE, 2020).
Todavia,
através de pesquisas que estudaram o sequenciamento genético do coronavírus,
tem-se que a origem deste agente patógeno ocorreu de forma natural, assim, não
foi criado em laboratório (ANDERSEN, et al, 2020). A pesquisa de Andersen et al
(2020) vai além ao apontar que este vírus também é reativo em pangolins e em
morcegos. Se alguém quisesse criar uma arma biológica para afetar seres
humanos, provavelmente teria construído um agente patógeno que atingisse com
grande letalidade os seres humanos (WALTON, 2020). O SARS-CoV-2, em números
brutos, apresenta baixa taxa de letalidade em humanos, cerca de 1% até 3,4% das
pessoas que contraem Covid-19 vão a óbito e já há grandes indícios que muitos
dos seres humanos que contraem o vírus não chegam a demonstrar nenhum sintoma
da infecção (LEE, 2020).
O
professor e especialista em biossegurança do Instituto de Microbiologia da
Universidade de Waksman, Richard Ebright, relata que é possível, porém, pouco
provável que o vírus possa ter escapado acidentalmente do laboratório do Centro
de Controle de Prevenção de Doenças em Wuhan. Há diversas indagações de que o
SARS-CoV-2 teria surgido lá porquê neste laboratório já eram estudados outras
variantes do coronavírus, os quais não apresentam o mesmo nível de letalidade
como o que causa a Covid-19. Outro fator é que os primeiros casos de infecção
deste vírus teriam sido registrados em um mercado de frutos do mar, cerca de 16
km do laboratório de Wuhan. Lee (2020) descarta esta possiblidade, ele
argumenta que estruturas como estas tem grande nível de segurança para evitar
com que os matérias estudados dentro do laboratório escapem para o mundo
externo.
Contudo,
é possível sim criar armas biológicas em laboratório. Técnicas de manipulação
genética permitem criar agentes patógenos que causariam maior letalidade em
seres humanos, que teriam maior capacidade de alastramento e sobrevivência em
condições ambientais desfavoráveis e com maior resistência a medicamentos e a
vacinas (AINSCOUGH, 2002, p. 1-2). Com os avanços tecnológicos crescentes no
campo da engenharia genética, pode-se tornar mais fácil para que Estados e até
mesmo organizações terroristas construam armas biológicas (DUNNIGAN, 2003, p.
426). Para Bajama e Parthemore (2020) países como os EUA, a Rússia e a China,
teriam capacidades de construir armas biológicas de grande letalidade e ao
mesmo tempo criar vacinas para não sofrer os efeitos colaterais do emprego
deste tipo de armamento.
Apesar
de ser possível criação de armas biológicas em laboratório, o coronavírus não
apresenta características páreas com outras armas biológicas já produzidas e
empregadas pelo homem. Sendo assim, não faria sentido nenhum qualquer Estado
criar algo como o SARS-CoV-2 objetivando obter qualquer tipo de vantagem no
sistema internacional, seja econômica, política e até mesmo militar.
Considerações Finais
Este
artigo teve como finalidade avaliar a possibilidade do coronavírus ser uma arma
biológica. Para isto, foi realizado uma contextualização deste tipo de
armamento e o levantamento de diversos cientistas de diferentes ramos da
biologia os quais atestam que o coronavírus não foi criado em laboratório, ou
seja, não é uma arma biológica.
O
que se viu ultimamente foi o alastramento de diversas Fake News em redes sociais, como o Whatsapp, que, sem nenhuma base
científica séria, alegavm que o coronavírus era uma arma biológica. Ao
analisarmos muitas destas notícias falsas vemos que apresentam muitas vezes
cunho racista contra a etnia chinesa e também visão ideológica-política a qual
busca difamar o modelo político que a China adota.
Contudo,
assusta que autoridades políticas realizassem este tipo de afirmação/ indagação
sem nenhuma prova concreta. Possivelmente políticos fazem isto com o intuito de
gerar uma cortina de fumaça visando esconder a incompetência dos seus
respectivos governos de lidar com a Covid-19.
Referências
AINSCOUGH, Michael. Next
Generation Bioweapons: the technology of genetic engineering applies to
biowarfare and bioterrorism. Alabama: Air University. The Counterproliferations
Papers Warfare, Series, No. 14, 2002.
ANDERSEN, Kristian, et al. The
proximal origin of SARS-CoV-2. 2020.
Disponível em: <https://www.nature.com/articles/s41591-020-0820-9>. Acesso em: 02/04/2020.
BAJAMA, Natasha; PARTHEMORE, Christine. How to Counter China’s Coronavirus Disinformation Campaign. 2020. Disponível em: <https://www.defenseone.com/ideas/2020/03/how-counter-chinas-covid-19-disinformation-campaign/164188/>. Acesso em: 03/04/2020.
BBC. Coronavirus: Russian media hint at US conspiracy. 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/news/world-us-canada-51599009>. Acesso em: 02/04/2020.
CASTANHEIRA, Luís.
Bioterrorismo: Exemplos de Armas
Biológicas. Faculdade de Farmácia, Universidade de Coimbra, 2016.
DEEN, Thalif. Could the
Coronavirus Be a Biological Weapon in the Not-Too-Distant Future? 2020. Disponível em: <http://www.ipsnews.net/2020/03/coronavirus-biological-weapon-not-distant-future/>. Acesso em: 02/04/2020.
DUNNIGAN, James. How to Make War. New York:
Happer Collins, 2003.
FIELD, Matt. Experts know the new
coronavirus is not a bioweapon. They disagree on whether it could have leaked
from research lab. 2020. Disponível em:
<https://thebulletin.org/2020/03/experts-know-the-new-coronavirus-is-not-a-bioweapon-they-disagree-on-whether-it-could-have-leaked-from-a-research-lab/>. Acesso em: 03/04/2020.
LEE, Bruce. No, COVID-10
Coronavirus Was Not Bioengineered. Here’s The Research That Debunks That Idea.
Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/brucelee/2020/03/17/covid-19-coronavirus-did-not-come-from-a-lab-study-shows-natural-origins/>. Acesso em: 03/04/2020.
MASTHAN, K, et al. Virus as a biological-weapon. In: International Research
Journal of Microbiology. Vol. 2, 2012.
SYED, Abdul. Biological Warfare:
The most lethal way of fighting. 2020.
Disponível em: <https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.globalvillagespace.com%2Fbiological-warfare-the-most-lethal-way-of-fighting%2F&psig=AOvVaw3aXGDqw_GBduLREJC5G7mw&ust=1589378517165000&source=images&cd=vfe&ved=0CAMQjB1qFwoTCLCm88O-rukCFQAAAAAdAAAAABAD>. Acesso em: 12/05/2020.
WALTON, Simon. ‘Coronavirus is
not a bioweapon created in a lab’ – scientists rubbish theories. 2020. Disponível em: <https://www.yorkpress.co.uk/news/18321528.coronavirus-not-bioweapon-created-lab---scientists-rubbish-theories/>. Acesso em: 02/04/2020
[1]
[1] Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Estudos
Estratégicos Internacionais (PPGEEI) da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS). Bacharel em Relações Internacionais pelo Centro Universitário
Curitiba (UNICURITIBA). Contato: felipedalcinsilva@yahoo.com.
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