quarta-feira, 13 de maio de 2020

Opinião: Seria o coronavírus uma arma biológica?

Fonte: Syed (2020).

Autor: Felipe Dalcin Silva[1]

Este artigo tem como objetivo analisar uma das teorias da conspirações mais espalhadas nas redes sociais: que o coronavírus, nome científico SARS-CoV-2, causador da Covid-19 é uma arma biológica criada por algum Estado, em que se alega na maioria das vezes que o criador deste agente patógeno foi a China. A partir disto, buscou-se 1. Entender o que é uma arma biológica, como se sucedeu o uso deste tipo de armamento ao longo da história e qual a atual situação das armas biológicas; 2. Mapear se há alguma possibilidade de que tal alegação, que o coronavírus é uma arma biológica, ser verdade.
Através da coleta de informações disponibilizadas por pesquisadores de diversas ramificações da biologia se tem a confirmação de que não existe chance do SARS-CoV-2 ter sido criado em laboratório. A possibilidade mais plausível é que o causador da Covid-19 se originou de forma natural. Outro ponto investigado é que se faria sentido a criação de uma arma biológica nos moldes do coronavírus. A hipótese do autor é que além da já comprovação de que o SARS-CoV-2 não foi elaborado em laboratório, levando também em consideração as características deste vírus, não faria sentido nenhum Estado criar uma arma biológica com as características deste agente patogênico. Para produzir este artigo foram utilizadas fontes secundárias, artigos, livros e notícias que nos ajudam a entender melhor o que se pretende demonstrar neste texto.
Contexto sobre Armas Biológicas
Para fabricar uma arma biológica é necessário um agente patógeno – bactéria, vírus e ou fungo – o qual pode ser tanto retirado de fontes naturais ou também ser produzido em laboratório. Posteriormente, para empregar o uso deste tipo de armamento, deve-se introduzir o patógeno escolhido em um sistema de entrega, o qual pode ser: corpos em estado de putrefação, objetos, seres vivos contaminados, bombas de aerossolização, entre outros (MASTHAN, et al, 2012, p. 1).
 Ao longo da história, vemos uma série de episódios em que agentes patógenos foram utilizados com arma de guerra. Desde o Império Romano até a Idade Média, há relatos de que eram usados corpos em decomposição, carregando doenças, para contaminar forças inimigas. Adiante, no século XVI até o século XVII existe também diversos indícios encontrados de que o alastramento de doenças por colonos europeus foram fundamentais para dizimar populações nativas na América. Durante a Primeira Guerra Mundial, de 1914 até 1918, armas biológicas feitas a partir de Mormo e Antraz foram utilizadas neste conflito bélico (CASTANHEIRA, 2016, p. 6-7). Em formato de slides, o pesquisador Raymond Zilinskas detalha agentes patógenos que podem servir de base para construção de armas biológicas e seus respectivos efeitos.
Para empreender o uso deste tipo de armamento sem sofrer efeitos colaterais, já que armas biológicas podem apresentar grande capacidade de contaminação e alastramento, seria necessário que o Estado ou até mesmo a organização terrorista que queira empregar esta arma, imuniza-se sua população/ membros como os seus respectivos combatentes, para evitar que estes sofram infecção (DUNNIGAN, 2003, p. 442). Está é grande desvantagem das armas biológicas, a incapacidade de prever com previsão até onde uma determinado agente patógeno pode contaminar. Porém, armas biológicas se comparadas aos outros tipos de Armas de Destruição em Massa (ADM), as armas químicas e nucleares, são mais simples de serem produzidas. Assim, um Estado com capacidade precária de produzir outros tipos de armamento poderiam buscar nas armas biológicas uma alternativa, como também organizações terroristas (MASTHAN, et al, 2012, p. 3). 
Para evitar que Estados criassem ou mantivessem armas biológicas, na década de 1970, o acordo Biological Weapons Convention (BWC) foi criado para proibir qualquer uso deste tipo de armamento. Porém, mesmo com a ratificação deste tratado em 1975 foram encontrados provas que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas continuaram a produzir estoques de armas biológicas. Até hoje existe desconfiança de que se os Estados-membros que assinaram o BWC poderiam não respeitar os termos do acordo. Castanheira (2016, p. 3) aponta como grande problema a falta de mecanismos de fiscalização do BWC, o que pode significar que há possibilidades de que membros do acordo possam estar fabricando armas biológicas.
Seria o Coronavírus uma Arma Biológica?
Além das teorias da conspiração disseminadas nas redes sociais de que o coronavírus teria sido fabricado pela China, a qual teria interesse de deturbar a política e a economia global visando obter vantagens com o possível caos gerando pelo alastramento do vírus, vemos diversas autoridades políticas indagarem que o vírus poderia ter sido criado por um determinado Estado antagonista. Sem dúvida, o levantamento mais conhecido neste sentido é do presidente estadunidense, Donald Trump, que já disse que tem interesse de investigar como este agente patógeno surgiu, em que o líder norte-americano alerta que há possibilidade do vírus ter escapado de um laboratório de pesquisa em Wuhan. Na contramão, líderes chineses já chegaram a questionar que o SARS-CoV-2 poderia ter sido criado por Washington objetivando deturbar o crescimento da influência política e econômica de Pequim (BAJAMA; PARTHEMORE, 2020).
Todavia, através de pesquisas que estudaram o sequenciamento genético do coronavírus, tem-se que a origem deste agente patógeno ocorreu de forma natural, assim, não foi criado em laboratório (ANDERSEN, et al, 2020). A pesquisa de Andersen et al (2020) vai além ao apontar que este vírus também é reativo em pangolins e em morcegos. Se alguém quisesse criar uma arma biológica para afetar seres humanos, provavelmente teria construído um agente patógeno que atingisse com grande letalidade os seres humanos (WALTON, 2020). O SARS-CoV-2, em números brutos, apresenta baixa taxa de letalidade em humanos, cerca de 1% até 3,4% das pessoas que contraem Covid-19 vão a óbito e já há grandes indícios que muitos dos seres humanos que contraem o vírus não chegam a demonstrar nenhum sintoma da infecção (LEE, 2020).
O professor e especialista em biossegurança do Instituto de Microbiologia da Universidade de Waksman, Richard Ebright, relata que é possível, porém, pouco provável que o vírus possa ter escapado acidentalmente do laboratório do Centro de Controle de Prevenção de Doenças em Wuhan. Há diversas indagações de que o SARS-CoV-2 teria surgido lá porquê neste laboratório já eram estudados outras variantes do coronavírus, os quais não apresentam o mesmo nível de letalidade como o que causa a Covid-19. Outro fator é que os primeiros casos de infecção deste vírus teriam sido registrados em um mercado de frutos do mar, cerca de 16 km do laboratório de Wuhan. Lee (2020) descarta esta possiblidade, ele argumenta que estruturas como estas tem grande nível de segurança para evitar com que os matérias estudados dentro do laboratório escapem para o mundo externo.
Contudo, é possível sim criar armas biológicas em laboratório. Técnicas de manipulação genética permitem criar agentes patógenos que causariam maior letalidade em seres humanos, que teriam maior capacidade de alastramento e sobrevivência em condições ambientais desfavoráveis e com maior resistência a medicamentos e a vacinas (AINSCOUGH, 2002, p. 1-2). Com os avanços tecnológicos crescentes no campo da engenharia genética, pode-se tornar mais fácil para que Estados e até mesmo organizações terroristas construam armas biológicas (DUNNIGAN, 2003, p. 426). Para Bajama e Parthemore (2020) países como os EUA, a Rússia e a China, teriam capacidades de construir armas biológicas de grande letalidade e ao mesmo tempo criar vacinas para não sofrer os efeitos colaterais do emprego deste tipo de armamento.
Apesar de ser possível criação de armas biológicas em laboratório, o coronavírus não apresenta características páreas com outras armas biológicas já produzidas e empregadas pelo homem. Sendo assim, não faria sentido nenhum qualquer Estado criar algo como o SARS-CoV-2 objetivando obter qualquer tipo de vantagem no sistema internacional, seja econômica, política e até mesmo militar.
Considerações Finais
Este artigo teve como finalidade avaliar a possibilidade do coronavírus ser uma arma biológica. Para isto, foi realizado uma contextualização deste tipo de armamento e o levantamento de diversos cientistas de diferentes ramos da biologia os quais atestam que o coronavírus não foi criado em laboratório, ou seja, não é uma arma biológica.
O que se viu ultimamente foi o alastramento de diversas Fake News em redes sociais, como o Whatsapp, que, sem nenhuma base científica séria, alegavm que o coronavírus era uma arma biológica. Ao analisarmos muitas destas notícias falsas vemos que apresentam muitas vezes cunho racista contra a etnia chinesa e também visão ideológica-política a qual busca difamar o modelo político que a China adota.
Contudo, assusta que autoridades políticas realizassem este tipo de afirmação/ indagação sem nenhuma prova concreta. Possivelmente políticos fazem isto com o intuito de gerar uma cortina de fumaça visando esconder a incompetência dos seus respectivos governos de lidar com a Covid-19.
Referências
AINSCOUGH, Michael. Next Generation Bioweapons: the technology of genetic engineering applies to biowarfare and bioterrorism. Alabama: Air University. The Counterproliferations Papers Warfare, Series, No. 14, 2002.
ANDERSEN, Kristian, et al. The proximal origin of SARS-CoV-2. 2020. Disponível em: <https://www.nature.com/articles/s41591-020-0820-9>. Acesso em: 02/04/2020.
BAJAMA, Natasha; PARTHEMORE, Christine. How to Counter China’s Coronavirus Disinformation Campaign. 2020. Disponível em: <https://www.defenseone.com/ideas/2020/03/how-counter-chinas-covid-19-disinformation-campaign/164188/>. Acesso em: 03/04/2020.
BBC.  Coronavirus: Russian media hint at US conspiracy. 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/news/world-us-canada-51599009>. Acesso em: 02/04/2020.
CASTANHEIRA, Luís. Bioterrorismo: Exemplos de Armas Biológicas. Faculdade de Farmácia, Universidade de Coimbra, 2016.
DEEN, Thalif. Could the Coronavirus Be a Biological Weapon in the Not-Too-Distant Future? 2020. Disponível em: <http://www.ipsnews.net/2020/03/coronavirus-biological-weapon-not-distant-future/>. Acesso em: 02/04/2020.
DUNNIGAN, James. How to Make War. New York: Happer Collins, 2003.
FIELD, Matt. Experts know the new coronavirus is not a bioweapon. They disagree on whether it could have leaked from research lab. 2020. Disponível em: <https://thebulletin.org/2020/03/experts-know-the-new-coronavirus-is-not-a-bioweapon-they-disagree-on-whether-it-could-have-leaked-from-a-research-lab/>. Acesso em: 03/04/2020.
LEE, Bruce. No, COVID-10 Coronavirus Was Not Bioengineered. Here’s The Research That Debunks That Idea. Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/brucelee/2020/03/17/covid-19-coronavirus-did-not-come-from-a-lab-study-shows-natural-origins/>. Acesso em: 03/04/2020.
MASTHAN, K, et al. Virus as a biological-weapon. In: International Research Journal of Microbiology. Vol. 2, 2012.
WALTON, Simon. ‘Coronavirus is not a bioweapon created in a lab’ – scientists rubbish theories. 2020. Disponível em: <https://www.yorkpress.co.uk/news/18321528.coronavirus-not-bioweapon-created-lab---scientists-rubbish-theories/>. Acesso em: 02/04/2020



[1] [1] Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais (PPGEEI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA). Contato: felipedalcinsilva@yahoo.com.


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