sexta-feira, 12 de abril de 2019

Redes e Poder no Sistema Internacional: (Geo)Políticas da Circulação e da Contenção



A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2018 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.


(Geo)Políticas da Circulação e da Contenção



Gustavo Glodes Blum *

A realidade política do mundo tem apresentado uma série de questões que desafiam as premissas básicas do funcionamento do Sistema Internacional. Os deslocamentos forçados, locais, regionais, nacionais ou internacionais têm se tornado cada vez mais comuns em razão dos diversos processos antropogênicos aos quais o planeta está sendo submetido: dos refugiados da Guerra da Síria até os refugiados ambientais, passando pela imigração e pela circulação de informações, percebe-se que a questão da circulação no espaço tem se tornado cada vez mais relevante.

Porém, ao mesmo tempo, a realidade da política institucional nos apresenta que estes tipos de deslocamentos – os movimentos no espaço, em geral – têm se tornado, ao mesmo tempo em que se pluralizam, também alvo de políticas de contenção. As recentes políticas anti-imigração tomadas por alguns países do Norte geopolítico, assim como as recusas em receber imigrantes e refugiados mostra que o tema do movimento no espaço tem levado a práticas cada vez mais fortes de contenção territorial nas mãos daqueles que detém as capacidades e os meios de impedir o movimento. Da tentativa de enquadrar populações inteiras num novo tipo de apartheid social até o assassinato de vozes ativas, visando literalmente eliminar a capacidade de movimento das pessoas, como no caso de assassinatos políticos ou de atentados terroristas, várias ações que envolvem violências das mais variadas têm visado condicionar a existências de grupos sociais inteiros a restrições de movimento.

Sendo conformado por Estados que por sua natureza são territoriais e agem desta maneira, o Sistema Internacional atual sofre com as condicionalidades impostas por estas práticas. Marcado pela territorialidade não apenas de Estados, mas também de outros agentes, esta organização sistêmica acaba afetando, de maneira trans-escalar, a normatização e regulação da ação territorial de pessoas, de empresas, de Organizações Não-Governamentais, de Organismos Internacionais, e, sobretudo, dos próprios Estados-nações.

Essa ideia de territorialidade, sobretudo em sua faceta jurisdicional estatal, porém, tem sido desafiada recentemente. Após o período da Guerra Fria, marcado por uma visão de mundo em que as fronteiras e as demarcações territoriais seriam a condição sine qua non para a continuidade da existência humana, a questão da circulação no espaço foi construída como um dos signos da liberdade e da presumida “libertação das limitações” de uma era marcada pela mobilidade e pela fluidez.

Porém, trinta anos depois a queda do principal símbolo da Guerra Fria, o Muro de Berlim, o que se observa é um visível recrudescimento na liberdade de circulação, e o surgimento de novas formas de controle. Mais que isso, a figura do Muro, ao contrário de sumir do mapa, tem se tornado cada vez mais a tradução principal da imiscuidade entre o controle da circulação no espaço e as retóricas de segurança ao redor do mundo.

Ao longo do ano de 2019, o Grupo de Pesquisa “Redes e Poder no Sistema Internacional – RPSI” convida a todas e todos para o debate a respeito das diversas estratégias de contenção da mobilidade e circulação no Sistema Internacional. Não deixe de conferir nossas reflexões neste espaço, às sextas-feiras!



* Gustavo Glodes Blum é internacionalista e professor do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA). É líder do Grupo de Pesquisa RPSI - Redes e Poder no Sistema Internacional.

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