Katie Bouman
posa orgulhosamente ao lado dos HDs da primeira imagem do buraco negro.
Por Manuela Batista**
O mistério acerca dos buracos
negros é antigo. Em 1905, Albert Einstein publicou sua Teoria da Relatividade,
que explicava, entre muitas outras coisas, que os buracos negros têm um ponto
de não retorno, ou seja, um horizonte de eventos - uma fronteira teórica ao
redor do buraco onde a força da gravidade é extremamente forte. Nesse ponto,
nada que chega ali volta, nem mesmo a luz escapa. Por isso, não é possível
enxergar buracos negros por meio de métodos tradicionais. Einstein também
constatou que o horizonte de eventos deveria ser circular e de uma tamanho
previsível: exatamente como se vê na foto de um buraco negro na galáxia chamada
M87(que fica a 55 milhões de anos luz da Terra) tirada por mais de 200
cientistas do MIT, Massachussets
Institute of Technology, em Cambridge.
A foto que
surpreendeu o mundo: a primeira imagem de um buraco negro.
Desenvolvido
especialmente para tirar a primeira foto do buraco negro, a The Event Horizon Telescope é um projeto
de colaboração de sete telescópios diferentes ao redor da terra, com uma
resolução tão precisa que foi capaz de capturar a imagem desse fenômeno. Porém,
isso não era suficiente para saber como era realmente um buraco negro. É aí que
entra Katie Bouman, uma peça essencial nesse evento histórico para a ciência:
com apenas 29 anos, a pesquisadora é formada em Engenharia Elétrica pela
Universidade do Michigan, Katie é mestre em Engenharia Elétrica e da Computação
e Ph.D pelo MIT. Em Harvard, faz seu pós-doutorado no Centro de Astronomia da
universidade. No Instituto de Tecnologia da Califórnia, Caltech, Katie leciona
como professora assistente no Departamento de Computação e Ciências
Matemáticas. Mas porque Bouman foi tão importante nesse processo?
Enquanto
pós-graduanda do MIT, Bouman começou a desenvolver a pesquisa que tornou
possível a realização desse projeto: o algoritmo que é capaz de combinar as
imagens tiradas pelos telescópios. Depois de inúmeros testes e desenvolvimentos
desse projeto, em 2019 Katie colocou-o em prática e foi surpreendida pelo sucesso
da sua pesquisa de anos: o algoritmo conseguiu juntar todas as imagens tiradas
pelos telescópios, formando a primeira imagem completa do buraco negro.
Em sua página
pessoal do Facebook, Katie postou a foto do momento em que a imagem estava
sendo reconstruída pelos seus algoritmos: “Vendo desacreditada enquanto a
primeira imagem que eu fiz do buraco negro estava no processo de reconstrução”.
A
importância desse acontecimento reside em dois fatos: o primeiro é que Albert
Einsten estava certo e agora, os cientistas têm a possibilidade de descobrir
diversas outros fatos sobre os buracos negros. O segundo - e acredito que seja
o mais emocionante - é que Katie foi o detalhe mais importante de tudo isso. A
própria engenheira disse que o crédito não poderia ser todo dela, uma vez que
mais de 200 pessoas trabalharam e estudaram para fazer isso acontecer. No
entanto, sabemos que em diversas áreas da sociedade, o machismo prevalece, e no
mundo da ciência não é diferente. Por anos, homens dominaram essa área, menosprezando
a capacidade das mulheres de fazer descobertas e pesquisas capazes de mudar a
ciência. Felizmente, muitas delas provaram que eles estavam errados. Desde
Marie Curie, a primeira mulher ganhadora de um Nobel(aliás, dois, em física e
química), passando por Bertha Lutz, uma das maiores biólogas brasileiras, até
Margaret Hamilton, que fez possível a chegada do homem na lua, é inevitável
pensar que Katie Bouman será uma inspiração e um exemplo para muitas garotas
cientistas, engenheiras e de muitos outros ramos, provando que mulheres são
capazes de qualquer coisa e muito mais.
Além de Katie, muitas outras
mulheres fizeram parte dessa descoberta, mas acredito que uma delas merece
especial atenção: a astrônoma brasileira Lia Medeiros, que fez parte tanto das
simulações teóricas da imagem quanto da imagem em si. Em entrevista ao G1, a
pesquisadora disse que acredita que o foco nas mulheres desse projeto é
essencial para encorajar outras meninas e mulheres que estão na ciência. O recado é claro: Faça
ciência como uma garota!
No perfil do
Twitter do Laboratório de Computação do MIT, Katie Bouman e Margaret Hamilton
foram colocadas lado a lado em uma comparação, cada uma com seu maior orgulho:
projetos que revolucionaram a ciência.
** Manuela Batista é acadêmica do terceiro período de Relações Internacionais do UNICURITIBA e
integra a equipe editorial do Blog Internacionalize-se, Projeto de
Extensão coordenado pela Profa. Michele Hastreiter.
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