Por Mariana Benzoni *
No dia 23 de abril de 2017, ocorreu o primeiro turno das eleições presidenciais francesas que levou Emmanuel Macron e Marine Le Pen à disputa pelo segundo turno, no dia de amanhã, 07 de maio.
Perfil dos cadidatos
Com 24,01% dos votos, Emmanuel Macron garantiu sua continuidade na disputa pela presidência francesa. Macron, que já foi banqueiro, é novo na vida pública e integra um movimento político de centro, “En Marche!”. Ele atuou como Ministro da Economia durante parte do governo de François Hollande, quando decidiu concorrer à presidência.
Marine Le Pen, por sua vez, era presidente da Frente Nacional – partido de extrema direita – até pedir afastamento do cargo para se dedicar unicamente ao segundo turno das eleições. Além de ser deputada do parlamento europeu, começou sua vida política em 1998 e já ocupou vários cargos públicos. Le Pen conseguiu espaço no segundo turno das eleições após receber 21,3% dos votos computados.
O segundo turno acontecerá no dia de amanhã, 7 de maio, e será um momento crucial para definir os próximos passos da República Francesa, considerando que os dois candidatos possuem posições bastante antagônicas em relação a vários temas.
A relação com a União Europeia
A respeito da União Europeia (UE), Emmanuel Macron tem consciência dos ganhos que o Tratado de Maastricht proporcionou à Europa nos contextos educacional, cultural e econômico. Ele considera a descoordenação política em diversos setores um ponto que favorece o descrédito que a UE e suas instituições recebem atualmente. Diante disso, suas propostas giram em torno do aumento da integração e do fortalecimento da união, para que assim possam defender seus interesses e seus valores em âmbito global.
Por meio de um debate público – sugestões, receios e questionamentos, Macron pretende restabelecer a confiança e as novas bases da UE e a partir de então, reafirmar a soberania do bloco, convergir políticas comerciais, de segurança, de desenvolvimento sustentável e proteção social, reafirmando a identidade europeia.
Com ambições diferentes, Marine Le Pen tem intenção de reestabelecer a soberania da França saindo da União Europeia e da zona do euro, renegociando os tratados europeus. A candidata acredita que os problemas econômicos que a França enfrenta – desemprego, baixo crescimento econômico, são consequência da integração econômica e cultural do bloco, assim como a prevalência da burocracia supranacional. Le Pen pretende retomar a soberania monetária, legislativa, econômica e territorial da França.
Para alcançar seus objetivos, planeja realizar um plebiscito sobre a permanência ou não na União Europeia e já declara que se a escolha for negativa, ela renunciará. Isso se deve ao fato de que a maior parte do seu plano de governo é baseada no “FREXIT”, a versão francesa da saída do Reino Unido (o “Brexit”) da mesma UE.
Ameaças à segurança e o programa contra o terrorismo
Sobre o programa contra o terrorismo, ambos possuem projetos de criação de um órgão de operações de segurança antiterrorismo ligado ao presidente e também visam aumentar e melhorar a tecnologia de informação para esses fins. Contudo, essas são as únicas semelhanças sobre o tema.
Macron planeja aumentar o número do contingente policial nas fronteiras da UE; criar uma célula de informação permanente contra o Estado Islâmico; ainda propõe um sistema de informação europeu para troca de dados entre todos os Estados membros e a criação de um centro de segurança máxima onde serão alocados os presos com ligações a grupos radicais com tentativas de ressocialização desses indivíduos.
A candidata da ultradireita discorre sobre a expulsão de todos os estrangeiros que tiverem qualquer ligação com o fundamentalismo islâmico, assim como fechar todas as mesquitas consideradas extremistas pelo Estado Francês, inclusive a interdição de financiamento estrangeiro e público para lugares destinados ao culto. Somado a isso, seriam presos, preventivamente, todos os cidadãos franceses com ligação a organizações estrangeiras que incentivam a agressão à França e seus nacionais.
Em contraposição a algumas propostas de Le Pen, o candidato do partido En Marche! prevê a criação de uma Federação Nacional do Islamismo na França, para financiar a construção de mesquitas, encorajando o culto muçulmano.
Coesão social e imigração
A imigração é outro ponto delicado. Le Pen pretende controlar as fronteiras do país e fixar o número de imigrantes aceitos por ano em 10 mil – levando em conta que a taxa atual é de 200 mil –, além de impossibilitar que os imigrantes ilegais consigam ser regularizados. Já Macron, que entende a responsabilidade da Europa em acolher os refugiados, planeja promover políticas de integração e diminuir os prazos para responder a um pedido de asilo ao país.
O papel da Rússia
Sobre as relações com a Rússia, os candidatos ao segundo turno também possuem visões diferentes. Macron apoia as sanções contra a Rússia, acreditando que as negociações acertadas pelo Acordo de Minsk – cessar fogo assinado pelos envolvidos – não estão sendo respeitadas. Diferentemente, Le Pen acredita que a anexação do território não é ilegal, o que pode gerar um desconforto da França junto aos países europeus. Sem muitos detalhes em seu plano de governo, pretende uma aproximação estratégica com o governo de Putin, tendo em vista uma parceria na luta contra o Estado Islâmico.
Efeitos da eleição presidencial francesa
O resultado do primeiro turno das eleições francesas demonstra a ascensão da extrema direita em todo o mundo e nesse caso, especificamente na Europa. O discurso nacionalista, xenófobo e racista de Marine Le Pen vem ganhando espaço por diversos meios e especialmente pelos problemas econômicos enfrentados pela Europa, vistos como consequência da integração da zona do euro e das políticas da UE (crise das dívidas).
O aumento da taxa de desemprego também é um ponto que preocupa os cidadãos, que acreditam que seus empregos começam a ser disputados com os imigrantes. Junto a isso, o fato de os imigrantes receberem os mesmos direitos e serviços do Estado que recebe um cidadão nacional, em meio a uma crise econômica, promove questionamentos de como o Estado de bem-estar social deveria ser para os franceses.
Esses movimentos que incitam a aversão ao estrangeiro e em meio a uma crise de refugiados que afeta todo o mundo e principalmente a Europa, instiga-se pedidos de fechamento das fronteiras para imigrantes.
Somado a esses pontos, a insegurança promovida pelos ataques terroristas é o toque final para a aceitação dos discursos da extrema direita. O terror/medo que é gerado a partir dessas agressões fazem com que a população busque um discurso radical e que pretende promover a segurança, como os de Marine Le Pen em relação ao islamismo radical, da mesma forma que o discurso do presidente Bush pós o 11 de setembro procurava mostrar o controle do Estado perante esses ataques – mesmo não podendo garantir o controle.
Por essas razões, o discurso protecionista e nacionalista de Le Pen e de outros políticos atuais, começam a ganhar maior espaço no mundo. Contudo, em um mundo globalizado e integrado, é necessário que os discursos que promovem a intolerância estejam fadados ao fim e não o contrário.
Emmanuel Macron, que tem propostas de políticas econômicas liberais e ainda assim, propostas de incentivo ao bem-estar social; assim, parece o candidato mais equilibrado para governar a França em um período como este. Apesar de Macron receber bastante apoio de figuras políticas tanto da direita quanto da esquerda e diante das pesquisas de opinião ser o mais cotado a ganhar as eleições, Le Pen, que parece ganhar boa parte dos apoiadores de Mélenchon (candidato da extrema esquerda), pode se aproximar de um discurso menos radical, visando ganhar mais eleitores compatíveis com suas propostas.
Contando com o posicionamento oposto dos candidatos, as eleições francesas podem impactar fortemente em todo o mundo na medida em que pode desestruturar as parcerias entre os países ocidentais e inclusive deixar a União Europeia. Ainda restam alguns dias para assimilarmos as posições e esperar que os franceses tomem a melhor decisão para todos nós.
* Mariana Benzoni é internacionalista, formada Bacharel em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), e membro dos grupos de pesquisa "Redes e Poder no Sistema Internacional" e "América Latina: rompendo as barreiras de uma integração inevitável".
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