segunda-feira, 21 de maio de 2018

As contribuições de Hans Morgenthau para a análise do “BREXIT” e das relações entre Estados Unidos e Coréia do Norte.

Artigo apresentado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais I, do curso de Relações Internacionais do UNICURITIBA, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon. 


* Mariana Camargo

Após concluída a leitura dos capítulos 8 e 11 (“A essência do poder nacional” e “O equilíbrio de poder”, respectivamente) da obra de Hans Morgenthau, “A Política entre as nações”, é possível estabelecer relações entre os conteúdos lidos com saída do Reino Unido da União Europeia e com a atual relação entre Estados Unidos e Coreia do Norte.
No capítulo 8, Morgenthau fala sobre a definição de poder nacional; as raízes do nacionalismo moderno; a retração do nacionalismo: aparente e real; e sobre a insegurança pessoal e a desintegração social.
Para ele, dentro de uma sociedade, apenas um grupo pequeno de indivíduos exercita o poder de fato, sendo esse sobre um grande número de pessoas. Por conta disso, essa grande massa da população que não exercita o poder se comporta mais como objeto de poder do que como seu agente. Como isso acontece no âmbito nacional, essa grande massa busca satisfação plena de poder no âmbito internacional, compensando assim, a frustração do âmbito nacional.
As raízes do nacionalismo moderno ocorreram no período das Guerras Napoleônicas (1799 - 1815), onde houve a identificação das grandes massas com o poder nacional e suas políticas. Porém, o nacionalismo retraiu, aparente e realmente, na época da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) e da Guerra Fria (1947 – 1991), respectivamente. Com a Segunda Guerra Mundial, as grandes massas deixam de se identificar com o poder nacional e suas políticas, buscando essa identificação no âmbito internacional. Porém, não foi uma retração de fato, do nacionalismo, pois era algo momentâneo. Essa retração se consolidou apenas no período da Guerra Fria, sob a forma de um movimento voltado para a unificação da Europa Ocidental, mas também o declínio político, militar e econômico da mesma.
Além disso, Morgenthau considera que quanto menor a estabilidade social de determinado Estado, maior é a intensidade emocional de sua população. Por exemplo, no século XX; a Primeira Guerra Mundial (1913 – 1917), a Inflação da Primeira metade da década de XX e, finalmente, a Crise de 29, trouxeram a emancipação da tradição e a racionalização da vida, trazendo à sociedade internacional essa desproporcionalidade entre estabilidade social e intensidade emocional.
Já no capítulo 11, o autor fala sobre o equilíbrio de poder; características e papeis da balança de poder; sociedade internacional; padrão de oposição direta; e padrão de competição.
Ele entende que a balança de poder serve para oferecer estabilidade aos Estados que compõem o Sistema Internacional e para preservar a harmonia do mesmo, evitando hegemonias e deixando cada Estado possuir seus interesses, mas não ao ponto de quebrar o equilíbrio. Além disso, ele caracteriza a sociedade internacional por sua multiplicidade e pelo antagonismo de seus elementos (Estados), que mesmo possuindo interesses diferentes, coexistem no mesmo sistema.
Quando aborda o padrão de oposição direta, o autor traz a seguinte situação hipotética: existem 3 Estados: o Estado A, o Estado B e o Estado C. O Estado A tenta agir de maneira imperialista em relação ao Estado B que, por sua vez, passa a defender um status quo ou desenvolve uma política imperialista própria para se proteger da ameaça do Estado A. Além disso, o Estado A também tenta agir de maneira imperialista em relação ao Estado C, mas esse, diferente do Estado B, acaba ou aceitando ou resistindo ao imperialismo do Estado A. Fica claro que o objetivo do Estado A é dominar o Estado C, enquanto que o objetivo do Estado B é se opor ao Estado A através da defesa de um status quo ou agindo de maneira imperialista, pois revela também ter interesse em dominar o Estado C. Porém, esse conflito entre os Estados A e B não se materializa.
Nesse padrão, o equilíbrio de poder se aplica em relação ao desejo de cada Estado em ver suas políticas se sobressaírem as políticas de Estados rivais, mas falha ao não se aplicar na estabilidade das relações, que sofrem mudanças contínuas, não assegurando, também, a liberdade de uma nação contra o domínio por uma outra.
            Quando o autor aborda o padrão da competição, ele ainda usa a trama do padrão de oposição direta, citada acima. A diferença é que, no caso do padrão da competição, a independência de C é uma mera função das relações de poder existentes entre os Estados A e B. Quando essa função tende para o lado do Estado A, a independência de C está em risco. Quando a função tende para o lado do Estado B, a independência de C está a salvo. E, caso o Estado A desista, a independência de C se concretiza para sempre.
Além disso, Morgenthau comenta que os pequenos Estados devem suas independências a um dos três fatores citados a seguir, além de que suas respectivas neutralidades se mantêm como resultado de um ou da combinação desses fatores:
a)    Equilíbrio de poder;
b)    À preponderância de um poder protetor;
c)    À sua falta de atrativos para aspirações imperialistas.
Juntando a análise de ambos os capítulos e pensando, primeiramente, na temática do nacionalismo e sua relação com a saída do Reino Unido da União Europeia, teria sido essa saída uma expansão ou uma retração do nacionalismo? Levando em conta a lógica da globalização e a consequente diminuição das fronteiras pelo Mundo, essa atitude de reclusa/fechamento do Reino Unido perante a integração da União Europeia pode ser considerada como uma atitude de expansão interna do nacionalismo, pelo meu ponto de vista, já que a votação da população -apesar de controvérsias- que levou ao ocorrido expõe o foco, primeiramente, nos interesses e benefícios internos do Estado, deixando para segundo plano a lógica da globalização e sua integração.  Porém, o Reino Unido deixa de ter benefícios que a integração regional trás, como por exemplo os acordos econômicos, que movimentam positivamente a economia do Estado e o torna até mais atrativo para realização de novos acordos. Esse comportamento reflete o retrocesso na questão da globalização e sua livre circulação de pessoas, que passou a ser visto (por essa população) como algo negativo, sendo que na verdade é algo completamente positivo, já que movimenta a economia do Estado e permite até que o mesmo esteja em constante transformação, assim como o cenário internacional.
E por último, pensando no papel do equilíbrio de poder no padrão de oposição direta, um exemplo atual que se encaixa é a relação dos EUA com a Coréia do Norte. Nesse caso, o equilíbrio de poder se aplica no ponto em que permite que cada um dos dois Estados tenha suas próprias visões e ambições políticas, mas deixa de se aplicar na questão da estabilidade dessa relação, que se prova instável. Um exemplo claro dessa alta instabilidade aconteceu no dia 29 de novembro de 2017, quando a Coreia do Norte lançou uma declaração afirmando que “todo o território continental” dos Estados Unidos estaria ao alcance de seu novo míssil balístico Hwasong-15. A notícia repercutiu de forma gigantesca e fez até com que os Estados Unidos chegassem a afirmar que os norte-coreanos estavam “implorando por guerra”. Ou seja, as mudanças já são constantes, mas quando se tornam bruscas dessa maneira, uma guerra pode eclodir simplesmente baseada na ideia de um Estado de que o outro quer uma coisa que ele nem mesmo chegou a declarar, faltando uma comunicação direta e efetiva entre os mesmos.

Referências bibliográficas:
BBC BRASIL. “O que se sabe sobre o Hwasong-15, o ‘mais poderoso’ míssil lançado pela Coreia do Norte”. http://www.bbc.com/portuguese/internacional-42165928. Brasil, 2017.
MORGENTHAU, Hans. “A política entre as nações”. Estados Unidos, 1985.
NOGUEIRA BATISTA JR., Paulo. “Nação, nacionalismo e globalização”. Entrevista com Paulo Nogueira Batista Jr. Por Portal de Revistas da USP https://www.revistas.usp.br/eav/article/download/10334/12011. Brasil, 2008.
TEIXEIRA FERNANDES, José Pedro. “O nacionalismo contra a globalização”. https://www.publico.pt/2017/02/24/mundo/opiniao/o-nacionalismo-contra-a-globalizacao-1763181 . Brasil, 2017.


* Mariana Camargo: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.

2 comentários:

  1. Show! Enfim, mais comunicação e cooperação, guardadas as diferenças, haveria menos imperialismo, nacionalismo exacerbado, oposições diretas e indiretas... e por fim estabilidade social e polipolí.
    Quiçá um dia.
    ParabePa pelo artigo. 👏💮🍷

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  2. Show! Enfim, mais comunicação e cooperação, guardadas as diferenças, haveria menos imperialismo, nacionalismo exacerbado, oposições diretas e indiretas... e por fim estabilidade social e política.
    Quiçá um dia...

    Parabéns pelo Artigo.👏😀🍷🌹

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