terça-feira, 20 de junho de 2017

Análise em Relações Internacionais e Política Externa: "Os Investimentos chineses sob análise dos Jogos de Dois Níveis e do Construtivismo"

Artigo apresentado na disciplina de Análise em Relações Internacionais e Política Externa, sob orientação da Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.



Por: * Vinícius Prado Gimenez Corrêa



A construção de um poder não trabalha apenas com forças capazes de destruir povos ou causar terror, ou não apenas por inseminação cultural em outras regiões, mas a estratégia é perceber o que ocorre em sua volta para assim compor a melhor ideia de estratégia, e o trabalho da China na sua expansão demonstra o porquê dos maiores especialistas em relações internacionais e política externa apontarem essa nação sendo a futura detentora do mundo.
O país asiático possui história milenar, escrita a mais de 6 mil anos já passou por diversos governos, tanto dinásticos quanto republicanos, e possui 1/5 do planeta em seu território, possuindo até mesmo um controle sobre a natalidade de sua população mediante ao grande crescimento. Sua economia é a segunda do mundo, com um aumento poderoso dentro dos últimos 25 anos com um recente crescimento (2016) de 6,7% do seu PIB, que, apesar de uma queda com relação aos outros anos, se manteve dentro do esperado pelo seu governo. De forma admirável a China se estabelece pelo mundo a cada ano que passa, muito em voga pelo que prega em sua política externa. Em sua filosofia de política externa a China apresenta os 5 princípios da coexistência pacifica[1] dentro do seu programa de princípios fundamentais de política, que buscam respeitar a soberania dos países, buscar a paz, reconhecimento de igualdade e até de não intervenção de assuntos internos de outros países, o que transforma a China em um país que busca acima de tudo manter o status quo dentro do sistema internacional, não tendo uma atitude agressiva de exploração por territórios e disputas políticas com outros Estados, muito especificado em um de seus pontos que fala “desenvolver a cooperação amistosa com todos os países e promover a prosperidade econômica conjunta.”[2]
A política externa de um país constitui-se de uma união entre a área internacional e doméstica[3], não apenas as relações entre os países em si, mas o que internamente se busca também é muito considerado, pois o interesse nacional é criado de forma complexa[4], com os detalhes internos de uma nação. Por consequente muitas das teorias presentes em política externa apresentam essa leitura de analise, como o jogo de dois níveis. Apresentado inicialmente por Robert Putnam em sua obra “diplomacia e política doméstica” analisa os comportamentos encontrados em negociações e pressões que nelas existem, com duas características, chamadas de níveis (I e II). O nível I é o internacional, realmente os interesses dentro do sistema internacional, suas barganhas sendo feitas entre os países, porém a maior influência se encontra no nível II, o nível doméstico, sendo ele que ratifica os acordos feitos pelo nível internacional. Putnam anuncia que os níveis são iguais, porém o caso Chinês se encaixa na mesma análise, porém feita pela autora Helen Milner e seu livro “Interest, instituition and Information” onde prega que o nível doméstico é o mais importante.
O Estado chinês buscou sempre a cooperação entre os diversos países, com a abertura econômica e a diminuição de barreiras de investimentos proporciona uma maior aceitação do internacional estando de acordo com a política interna do país. Em trabalho conjunto com diversos atores internacionais a China busca reduzir os setores fechados ao investimento externo, demanda do banco central chinês, para que ocorra uma valorização de bancos, seguradoras, bancos de investimentos e empresas de pagamentos, e a troca seria que a China tenha esse mesmo tratamento justo no exterior. Então alinhar os interesses mútuos apresentados pelo país ocasiona um “win-set” maior, um cenário positivo, ou seja, o nível doméstico está de acordo com o nível internacional, podendo ocorrer mais concessões e menos barganhas, diferente de uma rejeição externa, um “win-set” menor, onde a procura pelo alinhamento é maior pelo risco de não ocorrer ratificação interna, barganhando mais, por isso a China busca um tratamento justo no exterior, para que os acordos não venham de forma rápida, mas sim de estrutura fortificada.
            Percebe-se então uma das características apresentadas por Milner, que é o foco triangular, ou seja, grupos de interesse (sendo empresas, sociedade, etc.) pressionando o setor legislativo, que é o principal fornecedor de leis, que por sua vez pressiona o executivo pela motivação de grupos de interesse, gerando esse ciclo, o acordo aqui se encontra positivo pelo governo Chinês buscar sempre essa cooperação com os demais países. O maior desafio do governo chinês seria com a maior potência da atualidade, os Estados Unidos, que, apesar de estarem perdendo a hegemonia para a própria China e ser uma grande dependente do país asiático, sofre pelo governo do presidente Trump, crítico do país e ter duras opiniões sobre o mesmo.
Para um “win-set” coeso decorre alguns fatores que o influenciam, entre eles a distribuição de poder, escolhas políticas e coalizões possíveis do nível doméstico, uma localização de quem são os atores necessários para uma vitória mais concreta, alinhar os temas necessários e saber colocar as necessidades com uma união entre outros atores, pois um país autossuficiente possui um “win-set” muito menor, uma clara vitória aos chineses. Em seus pontos de política externa destaca a busca por cooperação, “promover a prosperidade econômica conjunta.[5] E principalmente uma correlação direta com o terceiro mundo. Pregado como parte desse terceiro mundo a China se mostra a frente para garantir o maior pedaço desse relacionamento, em tempos onde o populismo volta a crescer nos países mais desenvolvidos gera uma oportunidade de crescimento do chamado “sul-sul”, um escape da dependência com o norte os países sulistas podem (e devem) olhar de forma horizontal para novos acordos e serviços.
Do ano de 2015 para cá mais de 21 empresas brasileiras foram compradas por chineses, o indicativo é que a fragilidade político-econômica do país o torna mais barato, o que atrai o investimento da China com o Brasil, em áreas de energia, setor do agronegócio, onde o Brasil é líder de commodities então o investimento é certo, e a área de transportes. Hoje a China coloca suas forças muito em industrias, com crescimento de 6,3% com relação ao último ano, isso só afirma o “win-set” sendo realizado de aceitação do interno para o externo, um aumento da produção interna pode buscar novos setores, exportando as empresas para fora, o que demonstra os 20 bilhões sendo investidos dentro do Brasil, uma força que muito vem a calhar para ambas as regiões. Não somente no maior país da américa latina, mas muitos outros de terceiro mundo, como os outros países de língua portuguesa como a Angola e o Timor-Leste, foram 100 mil milhões de dólares no ano passado. Não menos importante surgiu nos últimos tempos um novo movimento do país oriental em questão, a “nova rota da seda”, um movimento paralelo com o acontecimento do século II a.C. até o século XVI, um eixo comercial que ligava a China até Veneza, sendo não apenas caravanas com iguarias para os diversos povos, mas um meio de comunicação entre o oriente e o ocidente.
Em meio a um crescimento, um superávit de 4 trilhões dentro da China e perceber que esse crescimento pode ser projetado para fora, faz com que o populoso país defina um novo caminho de relações entre países, podendo também reforçar regionalmente a força chinesa. Esse movimento segue da própria China indo desde Moscou, passando por Nairóbi no Quênia até mesmo a Indonésia, e os movimentos devem ser calculados, com o medo do terrorismo em voga a questão de armamento da China tem que ser calculados na equação, apesar da China desde seus princípios não buscar a corrida armamentista, incentivando até mesmo um desarmamento nuclear com os outros países, pois a cooperação e respeito mútuo é de interesse nacional. Outro indicativo de Helen Milner dentro da nova rota vem também do foco triangular e da importância do doméstico em decisões que influenciam o nível internacional, a ideia desse novo caminho ocorreu de escalões menores dentro do ministério de comércio, com o objetivo de enfrentar o grande excesso capacitório encontrado dentro da siderurgia e industrias, surgindo assim um novo plano de exportações.
Ocorre também nesse caminho as três variáveis de Milner, com as preferências dos atores domésticos com suas instituições e a distribuição de informações, que será gerada nessa nova rota por possuir a ideia já antiga do século II a.C. com seus benefícios mútuos. A comunicação é hoje também um investimento encontrado pelas ideias chinesas, uma forma de construir uma identidade, construído menos por coisas materiais e sim por ideias, uma fusão do processo histórico e a produção de discursos, uma análise chamada de construtivismo dentro da política externa. Muito ligado também ao soft power, o construtivismo é uma busca por uma construção social, uma identidade para os países, um novo desafio para a China, que “jamais buscará a hegemonia e opor-se-á firmemente ao hegemonismo[6]. Como as palavras de discurso são importantes essa criação de identidade vale o destaque para o discurso proferido na 71ª Assembleia Geral da ONU em 2016, no tema “Metas do Desenvolvimento Sustentável: Uma Promoção Universal para Transformar o Mundo”, onde o premiê chinês Li Keqiang destacou a urgência de terem sido os primeiros a entregar o relatório da ONU sobre a implementação da “Agenda para o desenvolvimento sustentável 2030”, e ressaltou que para que ocorra os objetivos sustentáveis deve-se manter as atuais normas de relações internacionais, que ocorrem desde a segunda guerra mundial.
Muitas empresas criticaram e ainda criticam o mercado chinês por ele ser restrito, todavia o premiê afirmou que “Alguns setores na economia chinesa ainda não se tornaram “maduros”. O seu processo amadurecimento é também um processo de aprofundamento da abertura”, e um desafio da China como um todo é alinhar todos os crescimentos recorrentes dentro do país com o mercado internacional, dentro das novas políticas implementadas por grandes países, mas o seu lugar de destaque dentro das novas relações, principalmente com o Sul/terceiro mundo, e parcerias com os países emergentes como o caso do BRICS e o seu banco que surge como uma alternativa para o próprio FMI, mostra que a China é um ator de grande relevância mundial pelo que faz e tem capacidade de fazer, pelas introduções em vários setores econômicos, a China avança para se tornar o bastião dentro da economia mundial e das políticas externas.


Referências:
Instituto de Estudos avançados da Universidade de São Paulo – Política Exterior da China - Chen Duqing
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/01/1851500-pib-da-china-avanca-67-em-2016-menor-crescimento-em-26-anos.shtml - Folha de São Paulo, PIB da China avança 6,7% em 2016, menor crescimento em 26 anos
Introdução à Análise de Política Externa - Ariane Roder Figueira - Vol. 1 - Col. Relações Internacionais, Capítulo 2 -  Como se faz política externa
http://exame.abril.com.br/economia/china-vai-se-abrir-mais-para-investimento-estrangeiro-bc-do-pais/ - Exame, China se abrirá mais para investimento estrangeiro, diz BC
http://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2017/03/chineses-querem-investir-us-20-bilhoes-no-brasil.html -     Época, Chineses querem investir US$ 20 bilhões no Brasil
http://exame.abril.com.br/economia/producao-industrial-e-investimento-tem-forte-avanco-na-china/ - Exame, Produção industrial e investimento têm forte avanço na China
http://jornaldeangola.sapo.ao/economia/investimentos/chineses_investem_milhares_de_milhoes - Jornal de Angola, Chineses investem milhares de milhões
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/10/1695869-politica-externa-chinesa-busca-criar-uma-nova-estrada-da-seda.shtml - Folha de São Paulo, Política externa chinesa busca criar uma nova 'Rota da Seda'
http://universodahistoria.blogspot.com.br/2010/09/rota-da-seda-onde-caravanas.html - O fascinante universo da história, Rota da Seda: Onde caravanas transportavam mercadorias e ideias
http://portuguese.people.com.cn/n3/2016/0922/c309809-9118386.html - Diário do Povo Online, Premiê chinês promete nova rodada de abertura do país



[1] DUQING, CHEN -  Instituto de Estudos avançados da Universidade de São Paulo – Política Exterior da China, p. 4
[2] DUQING. Ibidem p. 3
[3] RODER FIGUEIRA, ARIANE - Introdução À Análise de Política Externa - Vol. 1 - Col. Relações Internacionais, p.25
[4] RODER FIGUEIRA, ARIANE. Ibidem, p.21
[5] DUQING. Ibidem p. 3
[6] DUQING. Ibidem p. 3


Vinícius Prado Gimenez Corrêa: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
 

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