Artigo apresentado na disciplina de Análise em Relações Internacionais e Política Externa do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, sob orientação da Profa Dra Janiffer Zarpelon.
* Por: Guilherme Schneider Gonçalves
O
conflito entre Israel e Palestina sobre territórios reivindicados é discutido
há anos e até hoje não foi encontrado uma solução pacífica para o caso. A ONU
como uma organização intergovernamental desenvolve discussões entre os países a
respeito de assuntos globais e também a intermediação de conflitos em que não
consenso entre as partes (países), assim como aplicar resoluções sobre os Estados
que não cumprem a “ordem”, tentando garantir a
estabilidade mundial. Nesse caso Israel sofre bastantes sanções pela ONU devido
aos seus assentamentos ilegais construídos em território palestino que também é
condenado por grande parte da comunidade internacional.
No
começo de seu discurso, Benjamin Netanyahu —
primeiro-ministro israelense — condena
essa “obsessão” da ONU com Israel citando que no último ano a ONU
aprovou 20 resoluções contra Israel, em que o primeiro-ministro chama de república
democrática (que busca legitimar as ações de Israel por ser uma democracia),
enquanto sancionou apenas 3 contra o resto do mundo.
Benjamin
teria vários interesses com esse discurso. Nos seus 40 minutos de fala buscou
legitimar as atuações de Israel e criticar as ações da ONU deixando claro que
está aberto ao diálogo e em busca da paz com os palestinos, porem não irá
permitir que a organização determine a segurança e os interesses nacionais de
Israel.
Desde
1991 quando por pressão de potencias mundiais foi realizada a conferência de
Madrid, acordo de Oslo e o protocolo de Paris nos anos seguintes, após
negociações aparentemente havia um consenso para a criação de um Estado
Palestino, porem mesmo através de diversas medidas que foram tomadas em âmbito
internacional nas décadas que se passaram, como o estabelecimento de uma
autoridade palestina, Israel manteve sua colonização sobre territórios
palestinos, para o cientista político israelense Neve Gordon (2008, p. 169-196),
Israel desde o começo não quis deixar da Palestina, por isso terceirizou a
administração da vida da população naquele território para a autoridade
palestina, assim como o seu sustento, mas ainda tinha total controle sobre o
território e os recursos, e é exatamente sobre isso que Benjamin fala em seu
discurso, que está disposto a paz, porem não irá abrir permitira a
interferência de outros atores no que diz a respeito da segurança e dos interesses
nacionais de Israel (incluindo o território da Palestina).
Para legitimar o interesse de Israel com a paz, Benjamin
falou sobre a aliança que tem com países importantes no cenário mundial como
EUA e Estados árabes como o Egito, mostrando que o problema de Israel não é com
os árabes, mas com os demais países que de alguma maneira estão tentando
impedir as políticas israelenses, e também atacar a ONU mostrando que os países
de maior relevância no cenário internacional estão do lado de Israel. Vemos que
diversos países contribuem para o agravamento desse conflito, na maioria deles
o discurso é a favor de uma solução para o problema, porém, na prática acabam
contribuindo para o agravamento do problema, como, por exemplo, com a exploração
de recursos em território palestino e compras de produtos que são produzidos em
indústrias de territórios de ocupação.
Falando em segurança nacional, desde o 11 de
setembro em que os países investem massivamente em sua segurança, a Palestina
serve como campo de demonstração em que os israelenses testam e mostram
(servindo como um marketing) para o
mundo a sua tecnologia militar para que a mesma possa ser adquirida pelos
países que buscam tecnologia de ponta para garantir a segurança de seu
território. Quando Netanyahu afirma do palanque da ONU que uma nova era para
Israel está chegando, é porque sabe que há uma rede que internacional que
sustenta e tem interesse na manutenção da ocupação dos territórios palestinos (HARTMANN
E HUBERMAN, 2016). A aliança
com os EUA abriram portas em diversos mercados para Israel, como a Europa,
Brasil, Índia e até um antigo inimigo como a Rússia, sendo assim esses países
acabam contribuindo para a manutenção do conflito.
O primeiro-ministro também buscou
legitimar a democracia de Israel, mostrando que a maioria dos países árabes que
são contra Israel não respeitam os direitos dos civis. Segundo o ministro,
Israel é um país em que as mulheres têm seus direitos garantidos, algumas delas
estão atrás de grandes corporações e até envolvidas na política nacional, um
país em que é desenvolvida uma alta tecnologia, é respeitado os direitos dos homossexuais, os
mesmos que são pendurados em guindastes no Irã, Israel também construiu
hospitais para atender os refugiados sírios, o conhecimento agrícola israelense
é aplicado para alimentar países que estão em desenvolvimento, tudo isso não é
mentira, porem o objetivo desse discurso do premier é mostrar que há muitos
países na ONU que nem sequer respeitam os direitos dos seus cidadãos, mas os
mesmo não são punidos pela ONU e ao mesmo tempo criticam Israel, vejam como
esse discurso é uma forma de legitimar as atitudes de Israel pelo fato de ser
uma democracia e tirar a legitimidade dos demais países que a ele se opõe.
Ao mesmo tempo, o premier israelense
buscou tirar a legitimidade do governo palestino, citando que o conflito entre
israelenses e palestinos não se da por conta dos assentamentos ilegais e sim
por não aceitarem a criação de um Estado judeu, como exemplo citou que mesmo
quando Gaza e Cisjordânia estavam sobre controle dos árabes, eles continuavam
atacando Israel. Quando crianças os palestinos são doutrinados com ódio e
instigados a matar os judeus, os palestinos exaltam os árabes que fazem
terrorismo enquanto os mesmos são julgados e condenados em Israel. Podemos ver
que no discurso ao mesmo tempo em se tira a legitimidade de um país por não ser
democracia e alimentar o terrorismo, as ações do outro se legítima por ser
totalmente o oposto, considerando que agora os países buscam a segurança
nacional e lutam contra o terrorismo, qualquer país que exalte o terrorismo não
deve ser bem-visto na comunidade internacional, e assim Benjamin buscou
justificar suas ações contra a Palestina.
O objetivo desse trabalho foi
analisar o discurso de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel e buscar
compreender os interesses por trás de seu discurso na 71° ONU 2016 assim como
entender o seu contexto histórico, e não busca um posicionamento sobre o
conflito.
Referências Bibliográfica
GORDON,
Neve. Israel’s Occupation. Berkeley: University of California
Press, 2008.
HARTMANN,
Arturo. HUBERMAN, Bruno. Israel ensina o mundo a reprimir, 2016.
Disponível em: http://www.outraspalavras.net/reginaldonasser/tag/onu/
TELESURENGLISH, Benjamin Netanyahu - 71° ONU 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KFOSMNpYVPA
* Guilherme Schneider Gonçalves: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
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