sexta-feira, 24 de março de 2017

Redes e Poder no Sistema Internacional: DARPA, a responsável pela produção de alta tecnologia militar dos Estados Unidos


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.

DARPA, a responsável pela produção de alta tecnologia militar dos Estados Unidos 

Felipe Dalcin* 

A “Defense Advanced Research Projects Agency” (DARPA) é uma das agencias responsáveis, há mais de cinquenta anos, pela produção de alta tecnologia voltada às demandas de segurança nacional dos Estados Unidos da América (EUA). O objetivo é desenvolver conhecimento e inovações em áreas que geralmente são consideradas impossíveis ou muito nebulosas, ligadas À questão militar. Vários desenvolvimentos dessa iniciativa, ainda que tenham começado no âmbito militar, puderam até mesmo depois beneficiar cotidianamente a sociedade – como por exemplo a internet e o GPS, que foram criados pela DARPA inicialmente para serem ferramentas de guerra (DARPA, 2017).

Sua origem remota aos tempos da Guerra Fria. A criação da DARPA se deu em 1958, por determinação do então presidente dos EUA Dwight D. Eisenhower, em resposta ao lançamento do satélite soviético Sputnik em 1957. Na visão norte americana, era fundamental a criação de uma agência com autonomia para desenvolver alta tecnologia militar, já que as experiências a cargo da aeronáutica, da marinha e do exército não estavam obtendo grande êxito.

Todavia, no mesmo ano de sua criação, a DARPA teve grande declínio de importância. Para Eisenhower, os programas espaciais deveriam ficar fora da alçada de quem ministrava projetos relacionados com temas militares, e é nesse contexto que nasce a NASA. Porém, a DARPA ainda seria capaz de mostrar sua pesada importância. Em 1961, a organização recebe um ultra computador de 250 toneladas, sobra de um projeto do Departamento de Defesa dos EUA. Com a ajuda dessa “sobra” criaram a ARPANET, de 1968: uma rede de computadores interligados, que foi o berço de origem da internet (ALMEIDA, 2012, p. 1,5-6). 

Entre as décadas de 80 e 90, a DARPA começa a focar na transformação dos combatentes estadunidenses em verdadeiras “máquinas de guerra”. Em 1985, a agência inicia o projeto “Super Troop”, cuja proposta era criar um superexoesqueleto, uma armadura, para proteger o soldado contra ameaças químicas, biológicas e eletromagnéticas. Esta armadura contaria com sistemas que apuram a capacidade de ouvir e olhar do combatente, climatizada e que além do mais, fornecesse superforça ao soldado. Porém, na época em que o projeto foi desenhado, ainda não existia tecnologia necessária para o seu desenvolvimento (JACOBSEN, 2015). 

Em 2001 a DARPA, com ajuda do Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos, começou a planejar a criação de um super exoesqueleto, chamado “Tactical Assault Light Operator Suit” (TALOS). O propósito é que essa armadura conte com: proteção balística total; sistema de climatização; sistema computadorizado; sistema de áudio 3D; visão ótica para variações diferentes de luz, controle de oxigênio e hemorragia; e, se espera ainda muito mais de TALOS. Em 2014, o então presidente dos EUA, Barack Obama, disse que se estava trabalhando, já a muito tempo, na criação do “Homem de Ferro”, alusão ao personagem da Marvel. É esperado que TALOS esteja totalmente pronto para uso em 2018 (JACOBSEN, 2015). 

Funcionamento da DARPA: 

Uma característica marcante da DARPA é que não possui um corpo fixo de funcionários, geralmente os contratos de trabalho duram por volta de três anos, no máximo cinco anos (DARPA, 2017). Os gerentes de projeto, pesquisadores, são desde jovens promessas até profissionais de grande renome, vindo de diversos ambientes como os setores privado e militar, universidades, entre outros. Esses centros muitas vezes ajudam a DARPA em suas mais diferentes empreitadas. Os projetos também penduram por um período mais ou menos de três anos, já que o grande foco da DARPA é iniciar pesquisas e criar um novo tipo de tecnologia, e não necessariamente terminar algo, o que seria pouco provável em um espaço tão curto de tempo (ALMEIDA, 2012, p. 1-2). A DARPA é na verdade um grande berço de novas tecnologias. São por volta de 250 projetos realizados pela agência no momento (DARPA, 2017). 

Depois desse período de “incubação”, um projeto pode ser encaminhado para que empresas privadas, forças armadas ou também universidades prossigam a pesquisa iniciada pela agência. Geralmente, é mais facilmente delegada a continuação de um programa específico a quem entrou em tal jornada como parceiro da DARPA; são muitas vezes aqueles contratam o pesquisador responsável pela criação de um determinado projeto, quando seu contrato com a agência acaba. Os resultados das propostas delineadas também são apresentados, tentando atrair alguém - que tenham autorização para saber da existência de tal projeto - que invista na continuação de alguma delas. Essas feiras expositivas geralmente ocorrem a cada dois anos (ALMEIDA, 2012, p. 1-2). De acordo com a revista Superinteressante (2012), 50% dos programas da DARPA são confidenciais, os outros 50% são semi-confidenciais. 

Os projetos efetuados pela DARPA possuem geralmente grande chance de não saírem do papel, pelo elevado risco de darem errado. Contudo esse quadro não representa um problema, na verdade é um trunfo. A cada “fracasso” uma série de novos conhecimentos podem surgir, com potencialidade de serem reaproveitados no futuro, até existe a perspectiva de alguns se tornarem produtos de uso comercial (ALMEIDA, 2012, p. 2). O orçamento disponibilizado para DARPA em 2016 foi de 2,87 bilhões de dólares, se espera que a agência tenha para 2017 cerca de 2,97 bilhões de dólares (DARPA, 2017). 

Alguns Projetos da Darpa

De forma ilustrativa, apresentamos alguns projetos criados ou iniciados pela Darpa:

· Falcon HTV-2 (Avião Hipersônico): se planeja que consiga atingir Mach 20, ou seja, 20 vezes a velocidade do som, podendo ir aproximadamente a 25 mil km/h – atravessaria o planeta em praticamente uma hora. O projeto agora está sob controle da força aérea dos Estados Unidos (SUPERINTERESSANTE, 2012).

· Robôs de batalha: é muito possível que os primeiros robôs que participem das ações com tropas terrestres sejam quadrúpedes, como o Alpha Dog, alta capacidade de adequação a terrenos diversos e capacidade de carregar por volta de 180 kg. Outro robô que segue a mesma linha é a Chita, que atinge por volta de 30 km/h, criado para carregar soldados. Robôs bípedes para batalha não devem tardar muito (SUPERINTERESSANTE, 2012).

· Broad Operational Language Translation (BOLT): super tradutor que permite pessoas que não falam a mesma língua terem uma conversa como se fosse em um mesmo idioma, simultaneamente (SZOLDRA, 2016).

· Shark: A ideia é praticamente criar um drone marítimo, autônomo, podendo atingir grandes profundidades, com capacidade de reconhecer submarinos inimigos e alertar a respeito, por exemplo, para navios aliados (SZOLDRA, 2016).

· Criação de armas: a DARPA também cria armas mais “simples”, uma delas, por exemplo, é uma bazuca que o projetil pode atingir Mach 5 (SZOLDRA, 2016). Outro projeto visa conceber um tipo de munição especial para atacar veículos blindados de maneira mais destrutiva (DARPA, 2017).

Conclusão

Almeida (2012, p.4) acredita que sem um ambiente de informação multidisciplinar, com uma rede de apoio advinda do setor privado, centros de pesquisa, militar e universitário, criando um verdadeiro “sistema nacional de informação”, os gols logrados pela DARPA seriam dificilmente atingidos. É importante manter atenção nessa agência, já que além de estar diretamente ligada com o futuro da guerra, também pode trazer inovações tecnológicas para o nosso dia a dia. 


Referências:

ALMEIDA, Masueto. Nota Técnica: A política de inovação e a política de defesa: o caso da agência de inovação DARPA dos EUA. IPEA. 2012. Disponível em: << https://mansueto.files.wordpress.com/2012/10/inovac3a7c3a3o-e-darpa.pdf>> Acesso em 20/03/2017. 
  
DARPA. Disponível em: <http://www.darpa.mil/>. Acesso em: 19/03/2017.

JACOBSEN, Annie. Engineering Humans for War. 2015. Disponível em: << https://www.theatlantic.com/international/archive/2015/09/military-technology-pentagon-robots/406786/>> Acesso em 20/03/2017. 

POSEL, Susanne. Scientists Denounce DARPA’s Johnny Mnemonic Experiemnt on Soldiers. 2016. Disponível em: << https://www.occupycorporatism.com/scientists-denounce-darpas-johnny-mnemonic-experiment-on-soldiers/>>. Acesso em: 22/03/2017.

SUPERINTERESSANTE. Conheça o laboratório secreto do Pentágono. 2012. Disponível em: << http://super.abril.com.br/tecnologia/conheca-o-laboratorio-secreto-do-pentagono/>> acesso em 19/03/2017.

SZOLDRA, Paul. These are the most exciting Technologies the US military is building right now. 2016. Disponível em: << http://www.businessinsider.com/darpa-projects-demo-day-2016-2016-5/#many-of-the-staples-of-modern-technology-we-take-for-granted-have-roots-at-darpa-the-militarys-research-and-development-arm-1>>. Aceso em: 21/03/2017.


* Felipe Dalcin é acadêmico do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA, e membro do Grupo de Pesquisa “Redes e Poder no Sistema Internacional”.

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