A seção "Por onde anda" entrevista egressos do Curso de Relações Internacionais do UNICURITIBA sobre experiências acadêmicas, profissionais e de vida concretizadas após o término do curso e é coordenada pela Prof. Michele Hastreiter e pela Prof. Angela Moreira.
Nome Completo: Marcela
Milano
Ano de ingresso no
curso de Relações Internacionais: 02/2009
Ano de conclusão do
curso de Relações Internacionais: 02/2014
Ocupação atual: Empreendedora
Social – fundadora do Linyon I
Escola de Integração
Blog Internacionalize-se: Conte-nos um pouco de sua trajetória
profissional após a formatura no curso de Relações Internacionais.
Marcela Milano: Durante praticamente todo o curso de RI, trabalhei na Câmara Americana de Comércio – AMCHAM, e sempre me interessei pelo mundo corporativo, a ONU ou a diplomacia nunca foram minha ambição. Com a experiência na AMCHAM, pude, desde o início, estar em contato direto com grandes nomes do mercado, comecei a entender a dinâmica do business e aprender na prática com projetos com alto grau de responsabilidade. Após alguns anos de experiência trabalhando
na AMCHAM – Câmara Americana de Comércio, senti que precisava aliar meu
conhecimento teórico da faculdade, com a experiência prática profissional, e ao
mesmo tempo, com um propósito. A causa dos refugiados já me interessava muito,
meu bisavô foi um refugiado de guerra no Brasil, então já tinha uma ideia de
qual caminho queria seguir, mas não achava nada que fosse exatamente o que eu
queria. Em 2011 resolvi que precisava ter uma experiência internacional pro meu desenvolvimento profissional e me mudei para Dublin. Lá tive muitas dificuldades em conseguir um trabalho que não se resumisse à bares e restaurantes, mesmo com um bom currículo e contatos, e isso foi muito frustrante. Para piorar, ainda ganhei um calote do meu último empregador poucos dias antes de voltar pro Brasil, em 2012. A experiência como imigrante acabou me aproximando ainda mais da causa do refúgio e quando conheci um senegalês, já em Curitiba, com uma experiência profissional incrível, mas que trabalhava de chapeiro em uma lanchonete, foi que a ficha caiu.
A primeira vez que coloquei o Linyon no papel foi no último período da
faculdade, durante a aula de projetos. A partir disso, conheci muitas pessoas
que foram fundamentais praquela ideia virar realidade. Aos poucos fui descobrindo
o mundo do empreendedorismo social, da economia criativa, das startups e
negócios sociais e vi que era possível criar meu próprio trabalho. Seis meses
depois da formatura, já estava dando início ao processo de registro do nosso
CNPJ.
Blog Internacionalize-se: O que é o Projeto Linyon e como ele funciona?
Marcela Milano: O Linyon é uma organização de empoderamento econômico de migrantes e refugiados. Trabalhamos com capacitações voltadas ao mercado de trabalho, projetos de geração de renda e agora, temos também um programa de aulas de idiomas com professores migrantes e/ou refugiados.
Blog Internacionalize-se: Quais foram as principais dificuldades encontradas em sua fundação?
Marcela Milano: Eu não tinha experiência nenhuma em gestão e empreendedorismo, e não tinha quase nada de dinheiro pra investir no projeto. Por sorte, pude contar com muitos amigos que foram dando uma mão. Teve amigo que montou o site, outro que ajudou a desenhar o plano de negócios, outro que tirava fotos dos eventos, e assim as coisas foram acontecendo. No início eu tinha medo de contar minha ideia pois achava que alguém poderia copiar e nada mais daria certo. Mas foi exatamente o contrário, a partir do momento que eu comecei a contar pra todo mundo o que eu queria fazer, foi que as coisas começaram a acontecer de verdade. Lógico que eu também busquei me capacitar pra conseguir tocar o negócio, e esse é um aprendizado constante, mas os amigos foram fundamentais, sou muito grata a todos eles.
Blog Internacionalize-se: Como é o dia a dia do seu trabalho como empreendedora social?
Marcela Milano: Meu dia a dia é muito parecido com o de qualquer pessoa que trabalha em uma empresa. Porém, gostamos muito de estar em um ambiente descontraído, inspirador e flexível, e por isso, desde o início fizemos questão de manter nossa sede em um coworking. A troca de experiências com outras pessoas e organizações são muito ricas, e acabamos criando muitos projetos em conjunto.
Blog Internacionalize-se: Qual foi a experiência mais desafiadora que já teve profissionalmente?
Marcela Milano: O Linyon por si só é o maior desafio. Trabalhamos com uma causa polêmica, em um ambiente de crise econômica e política, não só no Brasil, mas em todo o mundo, e ainda com um modelo de negócio que está sendo descoberto, que são os negócios sociais. Há uma grande necessidade em levar a causa de migração forçada e da escravidão moderna como um debate urgente e necessário para todos os setores da sociedade. Não podemos mais enxergar o setor privado apenas como lucro. Há um movimento crescente de empresas, empresas globais, que estão reavaliando seu modelo de negócio e principalmente, questionando qual o impacto que elas querem gerar para a comunidade que está ao redor. Está se despertando a consciência de que melhorando o seu entorno, você melhora o seu business também, a ideia de valor compartilhado. A Artemisia, uma das pioneiras no fomento aos negócios sociais no Brasil tem um a frase que resume bem esse novo momento da economia, “entre ganhar dinheiro e mudar o mundo, fique com os dois”. Esse é o nosso desafio.
Blog Internacionalize-se: O que você aprendeu no trabalho com migrantes e refugiados?
Marcela Milano: Eu vejo muitas vezes as pessoas tratarem a crise de refugiados com um certo romantismo. Lógico que a causa sensibiliza e a sua dimensão é assustadora, mas o dia a dia tem muitas dificuldades, a principal delas, sem dúvida, são as diferenças culturais. Nós já atendemos 13 nacionalidades diferentes, como Haiti, Síria, Cuba, Marrocos, Palestina, Congo, Angola e Costa do Marfim, e há questões envolvidas que nos incomodam muito, o machismo talvez seja a principal delas. Também tomamos cuidado em não deixarmos nos envolver muito nas histórias, isso pode gerar um desgaste emocional muito grande na equipe, e consequentemente, prejudicar as atividades para os demais. Apesar de trabalharmos para melhorar a vida dessas pessoas, não temos um papel assistencialista e frequentemente, temos que deixar claro os limites dessa relação. Porém, não há reconhecimento maior em ver pessoas reconstruindo suas vidas com dignidade, voltando a fazer planos e sonhar. Nós mostramos os caminhos, e a partir disso, eles escolhem por onde seguir.
Blog Internacionalize-se: Quais as aptidões e conhecimentos desenvolvidos no curso de Relações Internacionais que mais o ajudam na gestão do Projeto Linyon?
Marcela Milano: É raro encontrar internacionalistas que seguiram o caminho do empreendedorismo, e isso nos dá uma vantagem muito grande. Entendendo o contexto geral que estamos inseridos, conseguimos criar soluções reais para os problemas do mundo, sejam eles quais forem.
Blog Internacionalize-se: Qual a lembrança mais marcante do período
de faculdade?
Marcela Milano: Acredito que uma lembrança muito
marcante foi durante o último ano da faculdade, aquela fase em que começa a
bater a crise existencial, de ver que o curso está acabando e a
responsabilidade começa a pesar na consciência com mais força. Lembro que
frequentemente os professores tinham que dar uma pausa na matéria e fazer uns
discursos motivacionais pro pessoal se animar. O consolo é saber que essa crise
passa e pode trazer muitos frutos se você souber tirar o melhor proveito. Foi
durante esse período que a ideia do Linyon surgiu.
Blog Internacionalize-se: Qual conselho deixaria para os nossos
alunos?
Marcela Milano: Ousem sonhar e ousem criar. Há um universo de
possibilidades que não são exploradas por medo de errar ou por achar que não é
possível. E você não precisa criar um negócio pra isso, cada vez mais as
empresas e organizações buscam pessoas que arriscam, que erram, mas erram
rápido e encontram novos caminhos. As RIs dão a oportunidade de ter o mundo,
basta a gente saber onde quer chegar.
Blog Internacionalize-se: Como nossos alunos podem ajudar o Projeto
Linyon?
Marcela Milano: Frequentemente recebemos currículos de alunos
querendo trabalhar com a gente, e a vontade é contratar todo mundo. Mas
enquanto esse momento não chega, a divulgação espontânea sobre o projeto é
super importante. Quanto mais pessoas souberem o que estamos fazendo, mais
vidas conseguiremos impactar. E não só de migrantes e refugiados, todos que
convivem com eles são impactados, e nunca mais verão o mundo do mesmo jeito,
você passa a valorizar muito a paz e o próprio Brasil, mesmo com todos os
problemas. Temos também uma sessão de investimentos em nosso site, com valores
mensais variáveis que cabem no bolso de todo mundo. E nos próximos meses
iniciaremos cursos de inglês e francês com professores migrantes. Será uma
ótima oportunidade para os alunos melhorarem o currículo e ao mesmo tempo,
vivenciarem uma troca cultural única!
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