A
seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos
integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que
desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em
rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A
seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e
descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade
entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder.
As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o
posicionamento da instituição.
14 anos da invasão estadunidense
no Iraque: impressões da “guerra ao terror” que parece sem fim
Henrique Santos de Albuquerque *
Na próxima semana, completam-se 14 anos da invasão estadunidense no
Iraque. Liderada pelo então presidente George W. Bush, a manobra militar
realizada em 20 de março de 2003 ainda gera discussões acerca de sua legalidade
e real finalidade. Mesmo após o fim da ocupação estadunidense no país, as marcas
deixadas no povo e no território Iraquiano continuarão vivas por muito tempo.
A invasão do Iraque, juntamente a invasão do Afeganistão, foram mobilizações
militares desencadeadas pela chamada “Guerra ao Terror” – estratégia ofensiva do
exército estadunidense contra o “terrorismo” daquilo que considerava como
grupos radicais islâmicos. Iniciada logo após os ataques às torres gêmeas, em
11/09/2001 e de autoria reivindicada pelo grupo radical Islâmico Al-Qaeda, a medida
foi tomada já que o governo de Bush se viu na necessidade de contra-atacar, tendo
em vista que, pela primeira vez em décadas, o país era atacado em seu próprio
território.
Primeiramente, ainda em 2001, os Estados Unidos iniciaram uma ofensiva no
Afeganistão, país de origem da Al-Qaeda e que abrigava o seu fundador e
mandante dos atentados, Osama Bin Laden. Apoiados pela organização armada
mulçumana “Aliança do Norte” e de países como Reino Unido, França e Canadá, os
norte-americanos visavam retirar o governo Talibã do poder, uma vez que apoiava
a Al-Qaeda, além de capturar Bin Laden e desmantelar a organização terrorista.
A segunda etapa da Guerra ao terror foi a invasão ao Iraque, iniciada
pouco menos de dois anos após os atentados ao World Trade Center. Afirmando que
o governo Iraquiano possuía vasto arsenal de armas químicas e que seu governo
ditatorial apoiava grupos terroristas pelo Oriente Médio, o governo Bush
desejava intervir no que chamava de “grande ameaça à paz mundial”. Antes de
invadir o país, os Estados Unidos foram ao Conselho de Segurança da ONU, que sem
obter provas concretas das acusações, não autorizou a invasão. Porém, mesmo sem
a aprovação da organização, o governo estadunidense, junto ao governo do Reino
Unido, deu início a invasão no dia 20 de março de 2003.
Através de um poderio militar muito superior ao iraquiano, a coalisão
anglo-americana em poucas semanas já tinha tomado a capital Bagdá, o que
facilitou o processo de desmantelamento do governo de Saddam Hussein. O
processo foi marcado pelo intenso bombardeio das cidades iraquianas e,
consequentemente, a morte de muitos civis. Já muito fragilizado pela ofensiva
estadunidense, o ditador Saddam Hussein foi capturado ainda em 2003, sofrendo
um processo criminal que levou a sua condenação à pena de morte, em 2006, por
diversos crimes contra a humanidade.
Com a queda do governo Iraquiano, a invasão deu lugar a ocupação
estadunidense do Iraque. As tropas norte-americanas se mantiveram no país a
mando de Bush, garantindo que os grupos insurgentes não ganhassem mais poder e
para que um novo governo iraquiano, aprovado pelos EUA, se formasse. Assim, em
2005, ocorreram eleições legislativas no país, no qual a população escolheu um
governo transitório que teve a função de criar uma constituição permanente com princípios
democráticos que não infringiam as tradições Islâmicas.
Porém, mesmo com a criação da constituição, a instabilidade somente
aumentou no Iraque. Durante os anos conseguintes, os insurgentes se organizaram
e deram início a uma sério de conflitos contra as tropas estadunidenses
presentes no país. Junto a isso, a violência sectária entre grupos xiitas e
sunitas iraquianos deram início a uma guerra civil extremamente sangrenta.
Seguiram então anos de conflitos, fazendo com que o Iraque se transformasse de
vez em uma praça de guerra. De 2003 até a retirada das tropas estadunidenses, estima-se
que mais de 100 mil civis Iraquianos perderam a vida.
A ocupação do Iraque foi se encaminhando para um fim em 2008, com a
eleição do novo presidente estadunidense Barack Obama, que tinha como promessa
de campanha a retirada das tropas do Iraque. Assim, em 2011, após 8 anos da
invasão, 150
mil soldados mobilizados – dentre eles 4.487 combatentes mortos - e cerca de
3 trilhões de dólares gastos com todas as despesas da guerra, os Estados
Unidos retiraram suas últimas tropas do território iraquiano e deram fim as
ocupações.
Contradições acerca da real causa
da invasão e a situação do Iraque hoje
Apesar das afirmações estadunidenses sobre a causa da invasão e
ocupação, se questiona muito a real razão para a guerra no Iraque. Ao passo que
nunca foi comprovada a existência de um arsenal químico por parte do Iraque e
de que o governo iraquiano patrocinava e apoiava grupos terroristas, outras
possíveis causas foram surgindo. Dentre essas, as mais aceitas são de que a
guerra no Iraque poderia ser extremamente vantajosa ao governo Bush tanto
economicamente quanto politicamente. O Iraque era o segundo maior produtor de
petróleo do mundo - insumo essencial para a economia estadunidense, que importava
de forma abundante para suprir as necessidades internas. Além disso, a ofensiva
no Iraque demostraria o poder estadunidense em uma escala global, e traria
aprovação interna de uma população assustada e com sede de vingança.
Enquanto hoje as atenções se voltam ao novo inimigo estadunidense, o
autoproclamado “Estado Islâmico” (ou “ISIS”, na sigla em inglês), a situação
Iraquiana, ao contrário do que o governo dos Estados Unidos tenta afirmar,
continua extremamente complicada. A instabilidade política do país persiste, já
que os insurgentes saíram da clandestinidade e voltaram a atuar fortemente no
país. Atentados e bombardeios continuam frequentes, principalmente através de
uma violência sectária por parte dos extremistas sunitas. Além disso, o grupo
terrorista Estado Islâmico avançou sob o território iraquiano, se aproveitando
da devastação deixada pelos estadunidenses.
Ao fim desta análise, percebe-se que a principal vítima de toda esta
situação sempre foi o povo iraquiano, que viu tudo a sua volta ser destruído e
hoje vive na miséria, com medo dos altos índices de violência, e sem poder
confiar no governo corrupto e instável.
Portanto, ao analisar toda a
conjuntura da invasão e ocupação, juntamente à situação Iraquiana nos dias de
hoje, torna-se evidente que as intenções estadunidenses nunca foram de
“libertar o povo Iraquiano” do terrorismo e trazer “ordem” ao país. O estado
caótico e degradante vivido pelo Iraque apenas reforça que a ocupação
estadunidense pode ter chegado ao fim, mas a instabilidade e a guerra, não.
* Henrique
Santos de Albuquerque é acadêmico do curso de Relações Internacionais do Centro
Universitário Curitiba – UNICURITIBA, e membro do Grupo de Pesquisa “Redes e
Poder no Sistema Internacional”.
O balanço do terror. Dar uma resposta ao inimigo rapidamente, destroçar suas bases, manter o mesmo em guerra com ele mesmo, diluir seu poder de ação e ainda ganhar financeiramente com isto, três trilhões de dólares não são gastos são lucros internos. O mesmo farão com o Isis logo que recuperem o fôlego. China e Rússia fazem o mesmo em menor escala.Gre
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