Haiti, uma breve análise da pobreza.
Eduardo Lema Mazzafera.
Estudante do primeiro período de Relações internacionais da Unicuritiba
Cinco países dividem
o arquipélago das Grandes Antilhas, destes, quatro usam espanhol como língua
oficial e, mesmo que dois deles falem inglês, apenas um tem como língua oficial
o francês ou o criolo haitiano.
A língua é apenas um
exemplo da dificuldade em encontrar paralelos quando se trata do Haiti: o
traçado geopolítico e histórico que resultam na situação atual é, como em
diversos casos na América Latina, um terreno de especialistas.
Geralmente após
apresentar o mais pobre país da América Latina, o noticiário internacional
revela um novo desastre natural à atingir a ilha (nos últimos 6 anos mais de
100.000 vítimas de acontecimentos do gênero), todavia, não parece caber à mídia
ressaltar qual foi a primeira nação negra independente da América, ou como um
líder negro organizou e, mesmo que por um alto preço, expulsou os colonizadores
de seu pais, tornando o Haiti o segundo país a conquistar independência nas
américas.
Entender porque
alguns países são ricos e outros pobres é parte da análise de qualquer
perspectiva geopolítica, este caso não é exceção. Alguns autores apontam que a
colônia francesa subsidiava um quarto da riqueza da metrópole, a “pérola das
Antilhas” um dia produziu cerca de 75% do açúcar do mundo. Após a independência
a ex-colônia foi obrigada a pagar algo em torno de 150 milhões de Francos (prática
comum em processos de independência) o pagamento da indenização foi o único
meio de obter reconhecimento diplomático de um ocidente que impôs diversos
embargos, comprometendo o próximos 100 anos da economia Haitiana.
No começo do século
passado a elite que controlava o país descobriria um novo mercado de exportação
explorando a própria terra, vendendo madeira e desmatando três quartos da mata
nativa antes do século XX, atualmente a população rural sofre com a terra quase
incultivável do Haiti fruto da erosão. Logo a economia dependente de recursos
naturais viria a decair, jogando o país em outra crise e aumentando a pobreza.
A história política
da ilha (aqui incluo a república dominicana) é, obviamente, mais complexa que o
resumo a seguir, mas para efeitos didáticos ela pode ser apresentada da
seguinte forma: de 1915 a 1934 os Estados Unidos ocupariam a ilha, em 1957 Papa
Doc instauraria sua ditadura através de uma polícia violenta chamada de Tonton
Macoutes. O Haiti viveria sob a sombra do ditador por 30 anos (15 deles
pertencentes ao seu filho, Baby Doc). Foi somente no ano da posse de Collor que
o Haiti teria sua primeira eleição democrática e, apenas para ressaltar a
dificuldade em se estabelecer uma democracia duradoura, a antiga milícia
corrupta tentou dois golpes contra o presidente eleito (num espaço de dois
anos) sendo que o segundo destes obteve êxito. Um presidente eleito
democraticamente só iria tomar posse durante período relevante em 2008.
Experimente agora um
exercício de perspectiva: A formação de seu país é marcada pela brutalidade
comum ao período colonial, empregando uma força de trabalho escrava que excede
o resto da população em milhares, após uma guerra sangrenta, finalmente
independência (não reconhecida). Agora com terras inférteis e economia em
frangalhos o país tropeça em direção à democracia, exceto pelo fato de ele
estar situado ao lado de Cuba (consequentemente, muito perto de um dos maiores
intervencionistas do mundo) e o medo do comunismo estabelecer uma longa relação
de interferência externa, empurrando e colocando no poder hora um ditador, hora
um primeiro-ministro ilegítimo, tornando impossível a consolidação de uma
democracia (é importante ressaltar: no começo de 2016, o senado tentou
sumariamente suspender o segundo turno das eleições. Cerca de 220 pessoas foram
presas pelas Forças de Paz da ONU). Conclua agora o exercício com aquilo que
normalmente se noticia a respeito do Haiti; sua lista interminável de desastres
naturais sempre agravantes de qualquer situação de pobreza e conflito que
deixam pilhas de corpos para trás.
É importante
compreender um país além dos problemas que o definem, porém. O Haiti é muito
mais que sua pobreza, com uma língua própria e tendo o Vodu haitiano (uma
mistura de religiões africanas e com elementos católicos) como uma de suas
religiões mais importantes, o país tem dois patrimônios mundiais reconhecidos
pela UNESCO (Sans-Souci Palace e Citadelle Laferrière), após tantas ocupações
sua herança cultural é uma rica mistura de aspectos africanos e ocidentais. É
um dos membros fundadores das Nações Unidas, sem contar no contingente de
intelectuais que, fugindo do regime de “Papa Doc”, deixaram sua marca nos
Estados Unidos.
Por fim, alguns
atribuem à Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti),
sob o comando do general Brasileiro Ajax Porto Pinheiro a diminuição da
violência que parece ocorrer, apesar dos incidentes nas últimas eleições e das
críticas que alguns relatam dos capacetes azuis (soldados engravidando mulheres
e a cólera, reconhecida como de responsabilidade das tropas nepalesas pela ONU
em 2010). O país talvez veja perspectiva de se reerguer.
Fontes:
Katie Traynor, Haiti: a brief history. Disponível em: http://crudem.org/haiti-a-brief-history/.
Acesso em: 19 de Outubro de 2016.
Karen Fragala Smith, Reasons Behind Haiti´s Poverty.
Disponível em: Http://www.newsweek.com/reasons-behind-haitis-poverty-70801.
Acesso em: 19 de Outubro de 2016.
João Paulo Charleaux, Gabrielle Apollon, O que faz do
Haiti um país de crises ininterruptas. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2016/10/13/O-que-faz-do-Haiti-um-pa%C3%ADs-de-crises-ininterruptas.
Acesso em 19 de Outubro de 2016.
João Paulo Charleaux, Mais um terremoto no Haiti Só
que agora é nas urnas. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/01/21/Mais-um-terremoto-no-Haiti.-S%C3%B3-que-agora-%C3%A9-nas-urnas>.
Acesso em 19 de Outubro de 2016.
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