Artigo apresentado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais I, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon. As opiniões contidas no artigo não representam a visão da instituição, mas sim dos seus autores.
* Léticia Niehues
Existe um aspecto comum à todos os
Estados: a busca pelo poder, seja ele em parâmetros internos ou internacionais.
Por muito tempo a definição de poder estava vinculada diretamente aos recursos
de um país, como por exemplo o potencial militar que o mesmo detém. Porém, essa
é uma visão crua e simplista do que realmente é o poder, o qual não se limita
aos recursos econômicos ou militares de um país.
O poder, em um aspecto amplo, é visto
como a capacidade que um detém para afetar o resultado de algo à seu favor, ou
seja, a habilidade de influenciar a ação do outro para conseguir atingir o
resultado que almeja (NYE, 2004). O soft power é mais do que apenas
persuasão, visto que, um líder que reconhece sua importância e faz uso do mesmo
para aumentar seu poder e de sua nação deve buscar conhecer os desejos e
vontades já existentes no outro, pois é muito mais fácil conseguir alguém que o
defenda e siga quando aquela pessoa já acredita previamente do que você prega
ideologicamente. O soft power, então, é a habilidade de moldar as
preferências dos outros (NYE, 2004).
Historicamente na
política mundial, a importância do alcance militar de um Estado como sinônimo
direto de poder foi sempre muito defendida. Entretanto, nos dias de hoje,
apesar de não ser descartada a funcionalidade da força armada e a guerra ainda
ser possível, é muito menos aceitável do que era há um século. É muito difícil
atualmente legitimar atos violentos perante o direito internacional, sendo
assim uma escolha pouco conveniente aos Estados.
Analisando o cenário
atual, podemos encontrar constantes exemplos de soft power no meio dos
países que são reconhecidos globalmente como poderosos, um exemplo claro, e
também o mais utilizado, para definir esse conceito é os Estados Unidos.
Reconhecido como potência internacional e detendo e uma imensa influência
cultural às massas populares, muitos sonham em viver a vida em um American-style.
Podemos notar através
de recentes pesquisas que a força do soft power estadunidense vem
diminuindo desde a entrada de Donald Trump na presidência, um reflexo
principalmente da sua campanha “America first”. Seus discursos nunca
foram voltados a aspectos globais, sendo um exemplo claro o repúdio sempre
apresentado por culturas latino-americanas e a busca incessante pela diminuição
de imigrantes no país, não sendo algo positivo aos olhares internacionais.
Um dos aspectos
principais do soft power é deixar seu país e cultura mais atrativos e
admirados por outros Estados e sociedades, para, assim, gerar a influência
desejada. Entretanto, o que ocorreu foi o reconhecimento negativo da política
de Trump em aspectos culturais, diminuindo a admiração de muitos pelo viés
político do país, não alterando simultaneamente a visão utópica que muitos
possuem sobre a cultura do mesmo.
Os Estados Unidos
continua com sua enorme influência no cenário internacional, tanto em visões
políticas quanto midiáticas, porém podemos observar que o soft power do
país continua declinando. Esse aspecto não tem previsão de mudanças se o atual
presidente do país continuar governando priorizando o hard power e
políticas estritamente internas, saindo de pactos internacionais e quebrando
acordos previamente propostos. Por um outro lado, tem-se observado o crescente
aumento do soft power da França desde a posse de Macron, que vem
agradando muito os olhares internacionais.
O atual presidente
francês já foi alvo de comparações com Donald Trump por alguns jornais ao redor
do globo, no sentido que, assim como o presidente estadunidense, sua política
vem sido voltada ao constante desejo de aumentar o reconhecimento da sua nação.
Em contrapartida, apesar de terem o mesmo objetivo, ao contrário de Trump que
possui investidas militares e agressivas, menosprezando a comunidade
internacional, Macron vem tomando medidas no governo extremamente diferentes,
com um viés mais diplomático e agradável.
Essas questões
puderam ser constatadas quando foi revelado o resultado do The Soft
Power 30 em 2017, um ranking realizado anualmente pela empresa midiática de
Portland, nos Estados Unidos. De acordo com a pesquisa deles, a França, que
antes estava estagnada no 5º lugar, se encontra atualmente em 1º, e com o
desenvolvimento ainda crescente, passando na frente dos Estados Unidos, que
perdeu o posto de país mais influente e caiu para o 3º lugar.
Essa mudança do
cenário mostra o que um novo líder com visão política internacional mais ampla
e revolucionária pode fazer com a popularidade e reputação do seu país. A
simpatia de Macron perante os outros governantes dos Estados tem sido um tópico
constantemente comentado por matérias a respeito do político, que ganha cada
vez mais popularidade, conquistando maioria dos representantes estatais.
Além disso, sua maior
arma tem sido a própria cultura francesa, como por exemplo quando, em Novembro
de 2017, ele voou para a abertura do Louvre em Abu Dhabi, museu criado com
algumas obras do arsenal nacional francês. Apesar da cultura da França já ser
disseminada pelo mundo, sendo um dos destinos mais desejados por muitos, Macron
tem sucedido em aumentar ainda mais sua popularidade, querendo inclusive
aumentar o alcance do idioma francês ao redor do mundo.
Essa comparação
mostra através de fatos a importância do soft power, afinal, líderes
globais montam políticas internacionais baseadas na percepção de outros países.
Um exemplo disso é o atual posicionamento da China como líder em políticas
ambientalistas, emergindo após a saída dos Estados Unidos do Acordo Climático
de Paris, medida tomada pelo presidente Donald Trump. A política feita através,
principalmente, do soft power, é extremamente relevante na realização de
objetivos milenares, tais como a promoção da democracia, direitos humanos e
livre comércio, aspectos muito pontuados na política de Macron atualmente.
Mesmo com o
presidente francês ter dado um salto consideravelmente grande no poder de
influência de seu país, governantes não estão em pleno controle do soft
power. Muito dele é realizado pela própria sociedade, o que ela produz e
transmite ao cenário internacional. Um exemplo disso é como o soft power estadunidense
está profundamente vinculado à Hollywood e à mídia do país. A política de
Macron, apesar de muito ligada à cultura francesa, não precisava
necessariamente fazer uso dela para conseguir ser mais influente, tendo em
vista o fato de que, o que mais impactou a comunidade internacional, foi sua
atuação perante outros governantes e o aumento da diplomacia francesa.
Ainda com 4 anos de
mandato pela frente, se Macron continuar pelo caminho que está seguindo,
sabendo trabalhar o soft power do país, podemos ver um futuro brilhante
para a política francesa perante os aspectos internacionais, com uma cada vez
mais crescente influência e poder de voz.
Sites consultados
France becomes the world No 1 for soft
power [https://www.weforum.org/agenda/2017/07/france-new-world-leader-in-soft-power/]
Macron helps
France become world leader in soft power. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2017/jul/18/macron-helps-france-become-world-leader-soft-power-survey-finds
France is
number one for ‘soft power’. Disponível
em: https://www.connexionfrance.com/French-news/France-is-number-one-for-soft-power
France knocks
US out of soft power top spot. Disponível
em: https://thepienews.com/news/france-us-soft-power/
France
ranked world’s top cultural trendsetter. Disponível em: https://www.thelocal.fr/20160120/france-is-worlds-top-trendsetter
Emmanuel
Macron: a modern master of the diplomatic gesture. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2018/jan/17/emmanuel-macron-proves-modern-master-diplomatic-gesture
Um ano de
Macron: entre salvador e vilão.
Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/um-ano-de-macron-entre-salvador-e-vil%C3%A3o/a-43677276
* Léticia Niehues é estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
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