Fonte da imagem: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45251779
O Grupo de Pesquisa sobre a Nova Lei de Migração* do Centro Universitário de Curitiba, acompanhou entristecido as notícias dos conflitos que ocorreram na cidade de Pacaraima - RR, onde através da internet, grupos da pequena cidade se organizaram e posteriormente atacaram o acampamento de migrantes venezuelanos utilizando armas, pedras e bombas caseiras.
Muitas pessoas e famílias viram no Brasil um país
que poderia lhes garantir um abrigo seguro ou até mesmo um novo lar para
começar sua vida do zero. Encontraram a violência, a desumanização e a xenofobia.
Segundo reportagem publicada recentemente
pela BBC News Brasil, o número de Venezuelanos ingressando no Brasil
aumentou 1000% nos últimos 3 anos. Esse aumento se
deu principalmente porque a Venezuela passa por uma crise humanitária - e faltam alimentos e medicamentos essenciais, expondo a população à diversas violações a sua dignidade. Os venezuelanos também sofrem com a hiperinflação e o país encontra-se imerso ao caos.
Entretanto, apesar no aumento expressivo no ingresso de migrantes, o Brasil está longe de ser o principal destino dos
venezuelanos em suas migrações. Segundo a OIM (Organização
Internacional para Migrações) o Brasil recebeu apenas 2% dos 2,3
milhões de venezuelanos que se viram obrigados a deixar o seu pais de
origem. Além disso, segundo a mesma agência das nações unidas, mais da
metade (52%) dos venezuelanos que cruzam a fronteira
com o Brasil estão apenas em trânsito e pretendem passar por aqui
apenas a fim de chegar a outros países latino-americanos - em especial, à Colômbia, principal país de acolhida dos venezuelanos.
Não obstante, em um país de dimensões continentais como o Brasil, a integração dos venezuelanos poderia acontecer sem maiores impactos à população local - e, inclusive, com ganhos econômicos, já que a maior parte dos imigrantes é jovem e tem ensino médio ou superior completo, sendo, portanto, uma mão de obra qualificada para agregar à economia local (como atesta esta reportagem da BBC).
O que parece ser o maior problema quanto a
esse influxo é a concentração dos migrantes em uma única
localidade, e mais do que isso, as características desta localidade.
Pacaraima, no estado de Roraima é uma cidade de cerca
de 12.000 habitantes e um índice de desenvolvimento humano (IDH)
semelhante ao do Iraque (0,650 Fonte: IBGE 2010). A cidade, que está
localizada no extremo norte do estado e faz fronteira terrestre com a
Venezuela, é um município com pouca infraestrutura básica
para os próprios moradores da região e que se viu extremamente afetada
com a chegada dos cerca de 3.000 venezuelanos que passaram a ali residir
(Dados de antes do confronto ocorrido no último sábado).
Todo este quadro atípico, deu ensejo a acontecimentos lamentáveis. Um exemplo disso foi a medida tomada pela
Governadora de Roraima Suely Campos que baixou um decreto
estadual fechando as fronteiras, alegando não estar recebendo a
contrapartida de responsabilidade da União na solução dos problemas de
fluxo migratório. Naturalmente, esta medida era evidentemente
inconstitucional por isso rapidamente foi derrubada pelo STF.
Todavia, o problema persiste. Certamente, o descaso da União em não
atender às reivindicações da Governadora contribuiu para criar um clima de evidente
xenofobia por parte de brasileiros descontentes com a presença de tantos
imigrantes. Pelo que consta o estopim destas
manifestações xenófobas teria sido o espancamento de um comerciante da
cidade, supostamente executado por um grupo de Venezuelanos.
Como resultado, mais de 1.200 migrantes venezuelanos lamentavelmente perderam seus já paupérrimos bens
na revolta em Pacaraima e tiveram que retornar para o seu país. Mais lamentável ainda, e
preocupante, é perceber a difusão do discurso xenófobo e autoritário,
que pode ser usado como combustível político, as vésperas de um processo
eleitoral.
Ademais, é preciso ressaltar que muito
recentemente entrou em vigor no Brasil uma Nova Lei de Migração - objeto
central de nossos estudos no Grupo de Pesquisa - que mudou o paradigma
da questão migratória no país, trazendo os direitos
humanos para o centro do debate. O combate ao racismo, a discriminação e
a xenofobia é um de seus princípios norteadores. É imprescindível que
tais princípios saiam do mero texto da lei e se concretizem na realidade
dos venezuelanos por meio de políticas públicas
que facilitem sua interiorização a outras cidades, propiciando-lhes a
concretização do direito de migrar e oportunizando-lhes um justo e
merecido recomeço.
*O
Grupo de Pesquisa "A NOVA LEI DE MIGRAÇÃO BRASILEIRA (LEI N°
13.445/2017) E AS MUDANÇAS NO TRATAMENTO DE MIGRANTES E REFUGIADOS NO
BRASIL" foi fundado em fevereiro de 2018 e é coordenado pela Professora
Michele Hastreiter.
Integram o grupo os acadêmicos abaixo listados:
Allana da Silva Oliveira
Anielle Araújo da Silveira
Blenda Melniski Severiano
Daniel Martins de Albuquerque
Davi Bremgartner da Frota
Giorgia Botelho Nascimento
Heloah Franze Gil
Isabella Louise Traub Soares de Souza
Isadora Fonseca Janiski
Louise Karoline Assis Magron
Maria Eduarda Torres Siqueira
Marina Raquel da Costa Marques
Matheus Felipe Silva
Paula DeMaria Corrêa Rocha
Rafael Yoshida Machado
Rafaella Pacheco do Nascimento
Sofia Sant’Anna de Faria
Thaís de Souza Soares
Suelyn Bidas da Silva
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