A
Colômbia Entrou para a OTAN?
Por
Andrew Patrick Traumann*
Na semana passada a América Latina foi surpreendida
com o anúncio da entrada da Colômbia na OTAN (Organização do Tratado do
Atlântico Norte). Neste artigo procuraremos abordar de forma breve as relações
entre Colômbia e EUA e em seguida no que consiste o ingresso colombiano na organização e suas
principais motivações.
Desde a década de 1920 quando a Colômbia do presidente
Marco Fidel Suárez adotou a política Respice Polum (Olhar para o Norte), o
país, num misto de pragmatismo e admiração pelo poderio norte-americano optou
por uma relação estreita com os EUA. O Respice
Polum têm suas origens logo após a separação do Panamá, quando o presidente
Rafael Reyes enviou um representante para falar com os EUA a respeito em termos
amigáveis. Tal gesto surpreendeu os norte-americanos que não podiam deixar de
aproveitar a oportunidade de restabelecer boas relações com o país mais afetado
pela independência panamenha, o que daria maior legitimidade á Construção do
Canal perante a Comunidade Internacional.
Assim, os EUA aceitaram “pedir
desculpas” por seu papel no separatismo panamenho e ainda pagaram uma indenização à Colômbia no valor de 25 milhões de dólares em troca de seu reconhecimento
definitivo da independência do Panamá. Desde então nenhum país sul-americano
tem adotado uma política de tamanho alinhamento com os EUA como a Colômbia. Em
1950, a Colômbia foi o único país latino americano a enviar tropas para a
Guerra da Coreia. Na década seguinte foi um dos articuladores da expulsão de
Cuba da OEA, enquanto, por exemplo, Brasil, Argentina e México se abstiveram.
Por fim, nos anos 2000, a Colômbia recebeu 7,5 bilhões de dólares em ajuda
militar norte-americana e permitiu a
criação de sete bases militares daquele país em seu território, sendo o único
país da América Latina a apoiar George W. Bush em sua “Guerra ao Terror”, que aliás, foi utilizada pelo então presidente Álvaro Uribe, que cunhou o termo
“narcoterrorismo” para caracterizar esta guerrilha como um grupo terrorista e
assim atrair a simpatia de Bush para o seu governo.
Agora, após negociações que vinham avançando desde
2013 (incluindo a cooperação colombiana numa operação contra a pirataria no
Chifre da África em 2015), o presidente Juan Manuel Santos oficializou a entrada
do país na OTAN, que no entanto, não será
considerado um membro pleno, mas sim um Global Partner, estando assim no mesmo nível que países não europeus
como Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia, e cooperando com a OTAN em
nível individual. Os Global Partners não
precisam enviar tropas em caso de guerra de um país membro da OTAN, nem recebem
auxílio militar imediato e irrestrito, mas suas tropas recebem treinamento
especial e acesso a tecnologias militar sofisticada, além de auxílio de serviços
de inteligência no combate ao narcotráfico e expertise em cibersegurança.
Já as razões específicas da entrada da Colômbia
estão totalmente ligadas ao já citado histórico de boas relações com Washington,
sua localização geográfica e a questão da Venezuela. Como sabemos o governo de Nicolás
Maduro, encontra-se isolado internacionalmente e está cada vez mais próximo de
China e Rússia, especialmente após as sanções impostas pelo governo de Donald
Trump. Imediatamente após a divulgação das sanções, o porta-voz do Kremlin,
Dmitri Peskov, anunciou uma reestruturação da dívida venezuelana enquanto o
chanceler Sergei Lavrov definiu as relações Moscou-Caracas como “mutuamente
benéficas”. Essa aproximação que vem se aprofundando paralelamente a crise
econômica e humanitária no país vizinho é vista por Washington como uma aliança
que pode se tornar estratégico-militar numa região que os EUA sempre viram como
o seu quintal.
Assim, utilizando a entrada da Colômbia na OTAN como
fator de dissuasão o EUA ficam menos expostos ao criticismo internacional,
enquanto a União Europeia por sua vez ao concordar com a entrada do país
sul-americano, encoraja Washington a permanecer na Organização do Tratado do
Atlântico Norte num período em que o desengajamento de organismos
internacionais têm sido um dos pilares da política externa norte-americana.
*Andrew Patrick
Traumann, Doutor em História, Cultura e Poder pela UFPR, é professor de
História das Relações Internacionais e História das Relações Internacionais do
Brasil no UNICURITIBA.
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