segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Mulheres de Destaque: Carola Rackete, a capitã do Sea Watch 3 que foi presa por resgatar refugiados


     






       A crise dos refugiados atinge níveis desesperadores e, ainda hoje, há países que se recusam a recebê-los. A bem da verdade, os países têm uma obrigação de não-devolução dos refugiados para seu país de origem - ou seja, quando um refugiado entra em seu território, o Estado deve permitir sua permanência. No entanto, ainda não há nada que os obrigue a auxiliar os refugiados, mesmo com necessidades básicas. Quem faz esse trabalho - que se estende de construção para moradias até resgate dos refugiados que fazem a travessia pelo mar - são ONGs. A Sea Watch foi fundada em 2015 e surgiu da indignação de alguns europeus com a hipocrisia da União Europeia que prega a democracia e a defesa dos direitos humanos, mas fecha os olhos para os refugiados, sendo pela instalação de seguranças nas fronteiras ou por acordos com outros países para a devolução de nacionais, como no caso da Turquia. 



            Sea Watch 3 e a Justiça italiana






Carola Rackete, a corajosa integrante da ONG e capitã do Sea Watch 3, foi presa no dia 29 de junho de 2019 por entrar em território italiano sem autorização. Na embarcação - que estava à deriva há 17 dias - se encontravam 42 refugiados que foram resgatados do Mediterrâneo. Mesmo em condições precárias, nenhum país europeu autorizou a entrada do Sea Watch 3 em suas águas. O vice-premier e ministro do Interior da Itália Matteo Salvini alegou que Carola violou a lei ao forçar a entrada no porto de Lampedusa, no sul da Itália. Prender a capitã alemã foi um ato de crueldade, tanto pelos refugiados que ela ajudou a resgatar, tanto pela própria Carola, que arriscou sua vida nesta jornada. Felizmente, uma juíza italiana pensou assim também. Alessandra Vella acredita que Carola estava cumprindo seu dever de salvar vidas e que sua única opção era atracar na Itália, mesmo que os portos da Tunísia fossem mais próximos, uma vez que não seria seguro para os refugiados desembarcarem neste país - coisa que o Salvini pareceu ignorar completamente (e não surpreendentemente, ele busca frear as imigrações no país). Salvini inclusive chamou o Sea Watch 3  de navio pirata e ainda multou a ONG de resgate.






Comandante fora-da-lei presa. Navio pirata capturado. Máxima multa para a ONG. Imigrantes distribuídos para     outros países europeus. Missão cumprida.



O Ministro do Interior anunciou publicamente que expulsaria Carola da Itália assim que ela fosse liberada. Além disso, Rackete começou a receber ameaças pelo seu ato de bravura. Por causa desses dois fatores, a capitã preferiu ficar, por um tempo, em um lugar secreto para se proteger. Tal situação nos faz refletir porque constantemente pessoas que praticam o bem são reprimidas dessa forma. Felizmente, no dia 19 de julho, a Sea Watch informou que  a capitã voltou ao seu país natal, porém sem detalhes, a fim de manter a segurança de Carola.



Carola Rackete




            Carola nasceu na Alemanha, na cidade de Preetz. Seu currículo acadêmico é bastante impressionante. Ela primeiramente estudou na escola marítima da Jade University of Applied Sciences, onde se graduou em Ciência, nas áreas de ciência náutica e transporte marítimo. Essa graduação deu a ela o título de capitã pela Agência Federal Marítima e Hidrográfica da Alemanha, que cuida da segurança marítima, monitora poluição dos oceanos e aprova instalações em alto mar. Por dois anos, Rackete navegou por dois anos pelo Ártico e a Antártida, em expedições científicas, como parte do Instituto Alemão Alfred Wegener para a Pesquisa Polar e Marinha. Depois disso, por um curto período de tempo, ela trabalhou como voluntária para o Parque Natural dos Vulcões de Kamchatka. Após trabalhar em uma linha de navios de luxo de Mônaco, ela acompanhou o Greenpeace em suas expedições e também a British Antarctic Survey, que conduz pesquisas científicas na Antártica. Em 2018, ela se tornou mestre em gestão ambiental. Atualmente, ela comanda a embarcação Sea Watch 3, da ONG homônima. Além de tudo isso, ela foi a primeira mulher a comandar um navio de resgate humanitário.


            Como se pode notar, Carola Rackete é uma mulher extremamente corajosa - usar mulher e corajosa na mesma frase é quase um pleonasmo, certo? Por certo que ela merece todo o devido respeito e admiração de todas as partes do mundo (alô, Matteo Salvini?). Como ela mesma disse em entrevista ao jornal italiano La Repubblica “[...]Senti a obrigação moral de ajudar aqueles que não tiveram as mesmas oportunidades que eu.” Carola mostra uma rara consciência de seus privilégios e mais raro ainda é usar deles para poder ajudar os mais necessitados. Carola, você não verá isso, mas obrigada por ser exemplo. Você é uma incrível Mulher de Destaque.



*A ONG Sea Watch se mantém por meio de doações. Se você deseja ajudá-los, acesse o link abaixo para fazer sua contribuição.




Referências

https://sea-watch.org/en/sw-and-cpt-enforce-human-rights-eu-failed/













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