A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2018 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.
Ciberguerra - um novo campo de conflitos
Samuel W. S. Pelentrir *
A internet surgiu nos EUA em plena época de Guerra Fria com a União Soviética. Os estadunidenses possuíam sistemas de redes que interligam a ARPA (Advanced Research and Projects Agency) às suas bases militares. Porém, o sistema era extremamente vulnerável a qualquer ataque físico, e com o objetivo de evitar essa vulnerabilidade, foi criada a Arpanet em 1969, criada abaixo da superfície e sem centro definido ou única rota de informação.
Após sua criação, a internet só evoluiu e hoje é uma rede de computadores que compartilham informações em grande velocidade, se tornando indispensável. Sua utilização acontece em diversas área: desde o entretenimento com imagens, vídeos e todo tipo de documentos, até a quase total integração de Estados nesse espaço digital. Com essa integração, os conflitos políticos também marcam presença.
Um dos resultados de toda essa integração digital é a ciberguerra ou guerra cibernética, que vem se tornando mais frequente a cada ano. Seus alvos são, em geral, as infraestruturas críticas dos países, por exemplo. Serviços de energia, água e transporte se tornaram alvos preferidos destes ataques. Além disso, uma das suas principais vantagens, para quem ataca, é a dificuldade do rastreamento dos responsáveis.
Os ataques podem ser efetuado por netizens, ou "cibercidadãos". Ocorrendo a partir da sociedade civil, esses ataques podem acontecer por inúmeras razões, como o patriotismo e o ativismo, por exemplo. Os responsáveis pelo ataque muita das vezes não conseguem causar grandes danos pela falta de sofisticação de seu ataque, que pode se concentrar na negação de serviços ou apagar páginas de sites na web. Porém, eles podem ter, ainda assim, o suporte não formal de seu estado, levando em conta casos como o da Estônia em 2017.
Os países mais propensos a sofrer com ataques e não conseguir se defender rapidamente, são os mais integrados na internet e que não possuem capacidade de desligamento da rede no país inteiro ou limitação do uso para utilizadores não essenciais. Um país com capacidade de defesa elevada é a Coreia do Norte: ela não está integrada totalmente como outros países na rede mundial de computadores, e, por isso, não tem uma dependência cibernética muito alta.
Entre os ataques, os mais sofisticados necessitam de mais tempo para programação, e uma estrutura muito mais avançada para obter impactos mais profundos quando existe objetivos políticos subjacentes, tendo maior utilização na espionagem. Os prováveis fornecedores de todo esse aparato são os Estados. Exemplo disso é o ataque que ocorreu na Ucrânia em 2015 com a interrupção do fornecimento de energia: voltando a acontecer após 2015, os ataques foram atribuídos à Rússia pelo presidente ucraniano.
Porém, de todos, o mais conhecido é o que sucedeu no Irã, causado pelo vírus "stuxnet" em 2010. Esse vírus infectou pelo menos dois países, e que, segundo o que se suspeita, seu objetivo foi o controverso programa nuclear iraniano. O ataque a esse Estado não tem oficialmente autoria de outro país, mas se costuma atribuir a ação ao cibercidadão ou hackers patrióticos.
Por mais que não houvesse anúncio oficial, o que tem como certo é que o desenvolvimento veio da operação "Olympic Games" (jogos olímpicos), que foi criado no governo George W. Bush e contou com a ajuda de Israel. O vírus causou destruição física nas centrífugas de enriquecimento de urânio atrasando de forma significativa o programa iraniano. Outro Estado afetado foi a Índia, ainda que com danos menores.
A criação de armas não físicas que podem trazer danos reais em pequena ou grande escala podendo ser danos financeiros, materiais e sociais. Tendo como objetivo atingir entidades estatais, pode ser considerado não só uma guerra do futuro, mas uma guerra do presente. Não haverá, provavelmente, uma substituição do espaço geográfico pelo ciberespaço, mas a coexistência e cooperação entre eles, como já existe. A intensificação do desenvolvimento da cibersegurança e a sofisticação dos conhecimentos para criação de armas cibernéticas serão consequências de um maior aprofundamento nesse espaço no futuro.
* Samuel W. S. Pelentrir é acadêmico do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA) e participou do Grupo de Pesquisa "RPSI - Redes e Poder no Sistema Internacional".
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