quarta-feira, 29 de junho de 2016

Seção Relações Internacionais: O poder além da ameaça: a educação como a nova arma de influência.

Artigo realizado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.



* Por: Mayara dos Santos

O poder de um Estado por muitos anos foi caracterizado por um poder bélico, focado no contexto militar, ou seja, aquele que ameaça, que causa medo. Porém, num mundo cada vez mais globalizado e interdependente, o poder passou a ser reconhecido também como poder brando, isto é, o soft power. Esse uso de poder das ideias e da cultura acaba por influenciar cooperações e amizade entre os povos de um modo não ameaçador, mas simpatizante. A educação, desde sempre, foi a ferramenta fundamental para o desenvolvimento. Atualmente a educação passa a ser um grande fator estrátegico de diplomacia,  sendo caracterizado pela capacidade de  influenciar ou persuadir sem o uso da força, ou melhor dizendo, é literalmente um meio de soft power. Este artigo tem por objetivo, mostrar como o poder brando por meio da educação de boa qualidade influencia não apenas num progresso interno, mas também na prosperidade internacional.
Introdução
Dentro da enorme abrangencia do campo das Relações Internacionais, há muitas teorias desenvolvidas com o intuito de explicar a realidade, no qual a teoria da interdependência, desenvolvida por Robert Keohane e Joseph Nye, é mais uma delas. Essa teoria, por sua vez, foi dissertada como uma crítica ao realismo moderno e trata da dependência mútua entre os Estados no mundo globalizado de hoje. Os autores expoem que a interdependencia não leva a um estado de paz mundial, pois os conflitos prosseguem, e o poder passa a ser considerado como a autosufucuencia em várias áreas no Sistema Internacional, já que a interdependencia gera uma sensibilidade, no curto prazo, e uma possível vulnerabilidade, no longo. Dentro do curso de aprofundamento da teoria, Joseph Nye discorre sobre uma nova modalidade de poder, como já citada acima, que não envolve força bruta ou bélica e sim cultura, educação e ideias, em outras palavras, o soft power.
A expressão de soft power foi desenvolvida por Joseph Nye, atualmente professor de Harvard, em sua obra Soft Power: The Means to Success in World Politics (Soft Power: Os Meios para o Sucesso na Politica Mundial), publicada em 2004. Segundo Nye, a definição de poder começou a perder enfâse no poder militar e conquista, que havia marcado épocas anteriores. Os fatores de tecnologia, educação e crescimento econimico começaram a se tornar mais significantes no poder internacional, enquanto geografia, população e matéria prima tornaram-se menos importantes. Em suma, o soft power é definido como a capacidade de uma nação, grupo político ou instituição representativa de influenciar comportamentos e tendências por meio do caráter ideológico e cultural, sem o uso da força ou coersão. A ideia, portanto, é conseguir aumentar a influência e poder, utilizando o patrimônio intelectual e cultural que se tem em um país, por exemplo.

Análise Crítica
Segundo Joseph Nye (2004), o soft power de um país se edifica principalmente em três recursos: “a sua cultura (em lugares onde é atraente para os outros), os seus valores políticos (quando se vive com eles internamente e no exterior), e suas políticas externas (quando eles são vistos como legítimos e tem autoridade moral) ”. Estes três pilares mecionados pelo autor, acabam sendo influenciados pela educação oferecida para a população que compõe o Estado.
Após logos anos de puros investimentos bélicos, para o mantimento de posições em conflitos mundias, os Estados viram-se necessitados de uma industrialização, progresso qual só viria a se tornar tangível através do desenvolvimento de habilidades, de conhecimentos. A educação é o melhor meio para qualquer tipo de desenvolvimento, pois é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades. Através de especializações, alguns países atingiram o desenvolvimento, porém alguns ainda estão em curso neste quesito.
      A partir dessa alta qualidade de educação aplicada nos países de primeiro mundo e em alguns de terceiro, os governantes viram uma oportunidade para disseminar seus ideias e culturas pelo mundo, se colocando em posições exemplos para o resto dos países.
Atualmente, países investem cada vez mais em políticas para expanção da diplomacia nacional por intermédio da educação. O Programa Fulbright – incentivado pelo Departamento de Estado dos EUA – é um excelente exemplo de diplomacia pública promovida por meio da educação superior, que consiste em um programa de bolsas de estudo, que acaba por incentivar a compreensão mutua entre povos e nações e aumenta o soft power norte americano. O programa britânico para essas oportunidades educacionais e relações culturais é o British Council que também oferece bolsas de estudos. A Alemanha também possui seu programa com as mesmas diretrizes, só que menos abrangente, o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (Deutscher Akademischer Austausch Dienst, DAAD). Já a China implantou o Instituto Confúcio como marca para a expanção da língua e cultura chinesa em outros países.
As nações realizam tais políticas de intecâmbio com o objetivo de expandir suas influências para o mundo, porém acabam fazendo mais que isso, elas acabam por dar oportunidades para os paises sub-desenvolvidos que atingirão resultados num longo prazo, por meio dos estudantes que poderão aplicar tais conhecimentos adquiridos no estrangeiro, em seus países natais.
Esse desenvolvimento de ligações duradouras com indivíduos-chave ao longo de muitos anos, através de bolsas de estudo, intercâmbios e conferencias é a terceira dimensão da diplomacia pública de Nye. As outras duas dimensões são as comunicações diárias e as comunicações estratégicas.
Países que nos dias atuais possuem uma educação de alto nível comparado ao resto do mundo, como por exemplo a Finlandia e os Tigres Asiáticos, são vistos como exemplo e acabam servindo de modelo para todos os outros, elevando seu soft power.
Infelizmente, nem todos os paises possuem programas parecidos, muito menos possuem uma educação básica de qualidade para seu povo. A exemplo disso, tomemos um país do continente mais pobre atualmente, o Quênia, que conseguiu atingir a educação básica para todos apenas no ano de 2003, devido ao imperialismo que controlava o continente. Essa conquista queniana é bem retrada no filme “The First Grader” dirigido por Justin Chadwick em 2010. Além do Quênia, também é possível observar a má qualidade de ensino numa dimensão bem próxima. O sistema brasileiro público de educação básica tem muito o que melhorar, pois se encontra entre um dos piores no sistema mundial. O ensino fundamental público de má qualidade em contraposição a um ensino privado de maior qualificação acaba por aumentar o abismo entre os estudantes de ambas as redes no momento da aplicação de provas para classificá-los para um ensino superior. Torna-se cada vez mais visivel a carência de investimentos públicos brasileiros no quesito da educação pública, pois seria muito mais justo a aplicação de classificações a iguas bases de conhecimento.
Essa falta de estrutura no ensino básico, acarreta um atraso na abertura de políticas para um ensino superior atraente diante do internacional. Se um país mal consegue gerir uma educação básica pública de qualidade, como poderá influenciar positivamente o setor externo e servir de modelo para outros Estados?
Em busca de diminuir essas diferenças relacionadas aos níveis educacionais entre os países desenvolvidos e os de terceiro mundo, ONGs cada vez mais se colocam em cena. E o que tem chamado a atenção é que muitas não são iniciativas de indivíduos de países de primeiro mundo, mas sim de pessoas que também provem de países em curso de desenvolvimento, pessoas que vivem o mesmo drama e buscam melhorá-lo ajudando o próximo.
Ainda há muitas desigualdades que assolam a educação no mundo, porém ela está sendo cada vez mais valorizada devido a sua alta recompensa, que é nada mais, nada menos que o progresso, e um progresso tanto no campo doméstico, quanto no internacional.
Talvez num futuro próximo, o sistema internacional seja realmente dominado somente pelo poder brando e que os governantes de países desenvolvidos parem de almejar apenas uma posição de pretigio no sistema internacional e busquem ajudar a elevar todos os Estados a uma igualdade de desenvolvimento.

Referencias:

BRITISH COUNCIL. BRITISH COUNCIL. Disponível em: <https://www.britishcouncil.org.br/>. Acesso em: 25 maio 2016.

DAAD. Disponível em: <http://www.daad.org.br/pt/>. Acesso em: 25 maio 2016.

FULBRIGHT. Disponível em: <http://fulbright.org.br/>. Acesso em: 25 maio 2016

KEOHANE, Robert O.; NYE, Joseph S. Jr. Power and interdependence, 1989.

NILLO, Weber da Silva. DIPLOMACIA PÚBLICA PROMOVIDA POR MEIO DA
EDUCAÇÃO: O USO DO SOFT POWER.Disponível em: <http://conic-semesp.org.br/anais/files/2014/trabalho-1000018572.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2016.

NYE, Joseph. Soft Power: The Means to Success in World Politics – Joseph S. Nye, Jr. Chapter 4 - Wielding Soft Power. Disponível em: <http://belfercenter.hks.harvard.edu/files/joe_nye_wielding_soft_power.pdf>. Acesso em: 30 maio 2016.

NYE, Joseph S. SOFT POWER. Disponível em: <http://faculty.maxwell.syr.edu/rdenever/PPA-730-27/Nye 1990.pdf>. Acesso em: 25 maio 2016.
PETERSON, Patti Mcgill. Ideal para expandir soft power, ensino superior é nova arma diplomática. Disponível em: <https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/international-higher-education/ideal-para-expandir-soft-power-ensino-superior-e-nova-arma-diplomatica>. Acesso em: 31 maio 2016.


ZULIAN, Andréia. CULTURA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS SOB O PRISMA DO CONSTRUTIVISMO. Disponível em: <http://www.nucleoprisma.org/wp-content/uploads/2015/03/TCC-Andréia-Zulian.pdf>. Acesso em: 31 maio 2016.

* Mayara dos Santos: aluna do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba. 

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