por Grabriela Prado
Na segunda-feira 17 de
Setembro, o Instituto de Política Externa sueco (Ui – Utrikespolitiska
Institutet) promoveu um seminário para discutir os resultados da pesquisa “Transatlantic
Trends 2012”, promovida pelo German Marshall Fund e organizações parceiras. A
pesquisa, que está na 11a. edição, entrevistou pessoas nos EUA,
Rússia, Turquia e outros 12 países da
União Europeia (UE12) e busca mostrar como os dois lados do Atlântico norte
percebem as questões atuais da política internacional como a crise do Euro, a
guerra no Oriente Médio e a liderança política mundial.
Alguns dos resultados
apresentados estavam dentro do previsto, outros foram particularmente
surpreendentes. De modo geral, a pesquisa demonstrou que a Europa e os EUA têm
visões congruentes das questões internacionais, mas apontou grandes divisões dentro do continente
europeu. As divisões entre os países se dão principalmente entre os mais e os
menos afetados pela crise do euro, e se por um lado a maior parte considera que
a União Europeia foi boa para o país (61%), uma fatia semelhante apresenta
opinião contrária em relação ao euro (57% dos entrevistados nos 12 países
europeus consideram que o euro foi negativo para a economia nacional). Portugal
e França apresentaram os maiores índices favoráveis a continuar com o euro,
apesar dos efeitos negativos (34% e 33%, respectivamente), enquanto 27% dos
espanhois e 26% dos alemães pensem que seria melhor voltar à moeda antiga. Ainda
que esses números não constituam a maioria, é significativo pensar que ¼ da
população considera que seria positivo abandonar o euro.
UE e gerenciamento da
crise
Apesar da relativa
satisfação com a UE, a maior parte dos entrevistados em todos os países exceto
a Alemanha considera que cada país deve ter autoridade sobre as finanças
domésticas (em média, 57%). Os maiores índices foram no Reino Unido e na Suécia
(79% e 75%), enquanto na Alemanha 53% defendem que a UE tenha mais autoridade
sobre a política econômica e orçamentária dos membros. Isso não é surpreendente
considerando que 63% dos alemães aprovam a forma como Angela Merkel tem
gerenciado a crise e 68% aprovam sua forma de gerenciar a economia nacional. Um
número significativo de europeus, no entanto, se sente particularmente afetado
pela crise: 65%, um incremento de 4% em relação ao ano anterior. Os maiores
índices estão na Bulgária e Portugal (89%), seguidos pela Romênia (88%), e os
menores na Suécia (36%) e Alemanha (45%).
Relações transatlânticas e
interesses nacionais
Nas relações
transatlânticas, tanto os europeus quanto os americanos desejam uma liderança
compartilhada nas questões internacionais (63% dos americanos desejam uma
liderança europeia e 52% dos europeus uma liderança americana, principalmente
entre os democratas). Segundo a responsável pela pesquisa, Constanze
Stelzenmüller, no entanto, essa liderança tem significados diferentes para cada
lado do Atlântico: os americanos a percebem a liderança europeia como um “fardo
compartilhado”, enquanto os europeus percebem a liderança americana como um
“ato imperialista”. A esmagadora maioria também percebe as relações entre as
duas regiões como “positivas”ou “mistas”, sendo que apenas 5% dos europeus e 7%
dos americanos consideram as relações “ruins”.
Há que se destacar a
percepção de ambos sobre os interesses nacionais. À luz da política americana
de “pivô para a Ásia”, em 2011 a maior parte dos americanos considerava que a
Ásia seria mais importante para os EUA do que a Europa. Essa percepção se
inverteu em 2012, e 55% consideram a UE mais importante, contra 34% para a
Ásia. Na UE, a maioria em ambos os anos considera os EUA mais importantes, com
61% em 2012. As percepções, no entanto, variam dentro do continente. A esmagadora
maioria na Alemanha considera os EUA mais importantes que a Ásia (68% contra
25%), enquanto a Suécia fica em cima do muro com 45% para os EUA e 43% para a
Ásia. Rússia e Turquia, como esperado, estão mais voltadas para a Ásia (40% e
46%, respectivamente) do que para os EUA (24% e 29%).
China
A percepção sobre a China
apresentou grandes variações entre os países pesquisados. Entre os que mais
consideram a China como uma “ameaça econômica”, encabeçam a lista França (65%),
EUA (59%), Portugal (54%) e Espanha (51%). Os maiores apoiadores da China como
uma “oportunidade” foram Holanda e Suécia (58%), seguidos por Romênia e Reino
Unido (56%). Na Rússia a diferença foi pequena (39% oportunidade, 30% ameaça),
assim como a média dos UE12 (42% oportunidade, 45% ameaça).
Intervenções militares e Irã
Perguntados
sobre se as intervenções no Iraque, Afeganistão e Líbia foram “a coisa certa a
se fazer”, foi possível perceber maior apoio à intervenção na Líbia e menor no
caso do Iraque, de forma geral. Entre os países da EU12, 48% consideraram que
foi a coisa certa a se fazer no caso da Líbia, mas apenas 38% pensam o mesmo
sobre o Iraque. O índice de aprovação das intervenções foi maior na Suécia (68%
na Líbia, 62% no Afeganistão e 56% no Iraque, bastante fora da média europeia)
e menor entre Rússia e Turquia (bem menos de 25% de aprovação para todas as
três intervenções nos dois países).
Quando
perguntados se a guerra é por vezes necessária para obter justiça, 74% dos
americanos responderam que sim, enquanto apenas 34% dos europeus (UE12)
concordam. Os números nos EUA apresentaram ligeira queda nos últimos anos, estando
no pico em 2003, com 84%. Em 2003 48% dos europeus concordavam com a afirmação,
número que caiu para menos da metade (23%) em 2009 mas que vem aumentando
levemente desde então.
De modo geral, a pesquisa permitiu perceber algumas
significativas divisões dentro da UE – tanto em questões internas quanto
externas, apesar da visão positiva das relações transatlânticas. Ficou
registrada também a influência da instabilidade econômica (na região) e
política (nos arredores) sobre as opiniões em relação a intervenção e
segurança, um fenômeno bastante significativo. A pesquisa pode ser vista no site www.transatlantictrends.org.
Países europeus
participantes em 2012: França, Alemanha, Itália, Holanda, Polônia, Reuni Unido,
Portugal, Turquia, Eslováquia, Espanha, Bulgaria, Romênia e Suécia.
Foi usada uma amostra de
1000 pessoas com 18 anos ou mais em cada país, e 1500 na Rússia. A pesquisa foi
realizada entre 2 e 27 de Junho de 2012.
Gabriela Prado é internacionalista formada pelo UniCuritiba, Mestre em International Business Negotiation pela ESC Rennes School of Business, França. Atualmente mora e trabalha na Suécia.
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