Por Andrew Patrick Traumann *
A tentativa de assassinato da estudante paquistanesa Malala Yousafzai de 15 anos de idade no último dia 9 pode ser considerado um turning point nas relações entre a sociedade paquistanesa e a ideologia Talebã. Há muito não se via tamanha comoção no país. Malala, que desde os 11 anos de idade já escrevia num blog em urdu para a BBC sob o codinome Gul Makai (Flor de Milho em urdu) e que já foi indicada a diversos prêmios internacionais pela sua luta em nome da educação feminina no Paquistão é um símbolo de uma luta que ocorre não só naquele país,mas também no vizinho Afeganistão: a luta por corações e mentes. Num país onde 25 milhões de crianças estão fora da escola o nome da batalha é educação.
Na cultura afegã e paquistanesa a mulher é vista como o
depositário da honra de uma família e aquela que vai transmitir os valores
morais e religiosos aos filhos. Para impedir que os valores da família ou clã
sejam atingidos as saídas das mulheres de suas casas são restringidas ao máximo e assim como
a interação com homens que não sejam o marido ou parentes próximos. A educação
feminina não é bem-vista por muitos fundamentalistas pois em
sua visão a educação religiosa é a única que realmente importa e a mulher deve
se dedicar ao papel de mãe,esposa e dona de casa. Há um medo de que a transmissão
de valores não exclusivamente religiosos se dissemine e enfraqueça o papel da religião na sociedade.
O Talebã se alimenta do antiamericanismo
disseminado na região por conta das guerras ao Afeganistão e Iraque e procura
também dominar ideologicamente a sociedade por meio de suas madrassas, escolas
religiosas onde os alunos não são ensinados a raciocinar e interpretar o
Alcorão mas apenas a memorizá-lo. É
extremante comum em países como Índia, Afeganistão e Paquistão que jovens
memorizem o Alcorão inteiro mesmo sem falar uma palavra em árabe,ou seja
decoram apenas o som das palavras sem saber seu significado.
No momento enquanto Malala segue internada no Hospital Queen
Elizabeth na Inglaterra,o país segue dividido. Por um lado, a maioria da população,especialmente
nas grandes cidades como Lahore,Karachi e Islamabad apoia a causa de Malala e
faz manifestações e correntes de orações por sua recuperação, por outro o
Talebã tem tentado associar a imagem da menina a uma tentativa do imperialismo
norte-americano de dominar o Paquistão por meio da educação feminina (relembrando aqui o papel destinado a mulher como transmissora de valores). No
Paquistão e nos países islâmicos de um modo geral teorias da conspiração como
esta são muito populares,e o conservadorismo social faz com que muitos creiam que o Talebã é um dique de contenção
contra valores estrangeiros vistos como imorais.
O governo paquistanês está custeando o tratamento de Malala
e promete lhe oferecer um prêmio por sua coragem. Enquanto isso os dois homens
que invadiram seu ônibus escolar e a balearam continuam foragidos. A luta
continua.
* Andrew Patrick Traumann é professor de História das Relações Internacionais do UNICURITIBA e doutorando em História,Cultura e Poder pela UFPR.
É um atraso que sociedades desta natureza ainda resistam e incorporem por parte de alguns segmentos e ou membros, valores ancestrais baseados em ideologias religiosas, que não modificam e ou transformam com o passar dos séculos. Acredito que não é fácil nascer mulher nestes países infestados de fundamentalistas islâmicos que castigam com a morte seus supostos inimigos do Alcorão, que por uma ou outra razão contrarie seus preceitos religiosos. Em contrapartida é muita coragem desta criança "lutar" contra os fanáticos fundamentalistas islâmicos, que só tem uma visão reta da realidade e das transformações repentinas e mundanas. Mas não deixa de não ter sido proveitoso e vitorioso em partes, o ato desta garota que enfrentou não somente os fundamentalistas islâmicos do seu país e sim toda a conjuntura e a organização dos fanáticos religiosos que estão dentro do islã e que cultuam costumes e valores desta forma. Estes “valores” que sejam incorporados e repassados aos seus descendentes através das mulheres, é um todo conturbado porque deve ser um sacrifício você separar às mulheres do mundo onde habitam e da Sociedade contemporânea moderna que a cada espaço de tempo surge novas mudanças de comportamentos dos humanos, não que eu defendo certas mudanças, apenas estou citando aqui. É um sistema de isolamento, onde às mesmas só podem ter contato praticamente com os familiares, e de maneira alguma podem ter contato com pessoas de sexo oposto que não seja família, caso isto aconteça é um martírio blasfêmico, onde muitas vezes a vítima é punida com a morte ou castigos horrentos, onde é muito comum no Afeganistão e no próprio Paquistão as mulheres serem vítimas de ácidos no rosto e que o deformam as suas faces para resto de suas vidas, até o ponto de muitas mulheres suicidarem, por simplesmente perderem o gosto e o amor de viver. Mas a luta sempre é bem vinda em qualquer momento da História, sem luta não há vitória, a própria vitória é uma luta.
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