Na semana em que o Brasil
ultrapassou o número de mil mortes pelo
novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro mais uma vez desrespeitou o
isolamento social e contrariou o ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta a
ponto de quase demiti-lo. Abraham Weintraub foi mais uma dor de cabeça nos
sintomas que acometem o país. O ministro da educação culpabilizou a China pela
pandemia e a acusou de se beneficiar economicamente da conjuntura. Weintraub
ainda ridicularizou o sotaque dos chineses que falam português, trocando os “R”
pelos “L”, como o personagem Cebolinha da Turma da Mônica. A imprensa internacional, quando não
noticiando novos casos e complicações da pandemia, pauta a outra crise
instaurada no Brasil: a política.
A revista inglesa The
Economist estampou Bolsonaro de joelhos diante da bandeira brasileira
mergulhando a cabeça numa representação do vírus. A edição traz uma lista de
atitudes presidenciais contra as recomendações das autoridades de saúde e chega
a cogitar “insanidade”. O tom do Economist é bastante forte quando
compara Bolsonaro à “déspotas” da Bielorrúsia, Turcomenistão e Nicarágua,
também negacionistas da pandemia. Quando ignora o isolamento social, Bolsonaro
se isola politicamente e isto pode ser o “começo de seu fim”, finaliza a
revista inglesa.
Ainda no Reino Unido, o The Guardian repercutiu
a primeira confirmação de morte pelo covid-19 de um índio ianomâmi, de 15 anos,
no Brasil. A reportagem lembra que os indígenas vêm sendo contaminados por
doenças trazidas pelo homem branco desde o século XVI e que o coronavírus tem o
potencial de dizimá-los. O contágio se deve ao avanço da mineração ilegal
realizada em áreas de reserva indígena, atividade estimulada pelo governo
Bolsonaro.
Atravessando o Canal da Mancha, a imprensa francesa agrupou
Jair Bolsonaro ao premiê húngaro Viktor Orbán e
ao presidente estadunidense Donald Trump como “líderes populistas”, que em seus
“esteriótipos” conseguem inventar “teorias da consipiração” para “negar a
realidade”. Le Parisien cita que tanto Bolsonaro quanto Trump vão tentar
a reeleição e que pensam mais em atribuir o colapso das economias aos
adversários do que em salvar vidas de seus próprios eleitores.
Público, jornal português, traz entrevista com o governador do
estado do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC) em que o ex-juiz trata Bolsonaro
como alguém passível de responder ao Tribunal Penal Internacional (TPI) por
desrespeitar as normas da Organização Mundial da Saúde. Witzel defende que o
presidente "tem-se oposto à posição assumida pela esmagadora maioria dos países no combate à pandemia” e que as
responsabilidades políticas da crise serão de Bolsonaro. O governador também
levantou suspeita, para o periódico, sobre sanidade mental do presidente da
república, mas diz não ser psiquiatra ou psicólogo. Público lembra que
Witzel e Bolsonaro eram aliados na campanha de 2018, embora agora já sejam
considerados rivais dentro da direita brasileira para 2022.
O vizinho La Nación foi outro veículo internacional a destacar a falta de
responsabilidade do presidente brasileiro que saiu pelo comércio brasiliense
"gerando aglomerações”. O jornal argentino foi o que mais deu destaque aos
rumores desta semana de que o ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta poderia
ser demitido por Bolsonaro. La Nación destaca que o bom trabalho do
sanitarista o rendeu grande popularidade, o que fez com que o governo desse
“marcha ré” na demissão do chefe da pasta de saúde.
O desrespeito do ministro da educação Abraham Weintraub para com o povo chinês foi pouco noticiado
nas manchetes internacionais fora do Brasil e da própria China. O Xinhua
trata o incidente como “um episódio desagradável” de declarações “absurdas e
desprezíveis” e de “conotação racista” que causaram influências negativas no
desenvolvimento saudável das relações bilaterais entre China e Brasil.
Repudiando fortemente Weintraub, é interessante perceber que a manchete da
notícia é bastante otimista e que a falta de educação ministerial é tratada
somente no meio da reportagem.
A mídia norte-americana
continua empregando suas notícias sobre a América Latina muito mais nas
questões venezuelanas, equatorianas e nicaraguenses que brasileiras. Ainda
assim, o Financial Times teve tempo de pincelar a crise brasileira.
Aqui, a pandemia é agravada pelas brigas políticas entre órgãos da saúde e a família
Bolsonaro, cujo patriarca é chamado de “líder populista” por ignorar as
recomendações de enfrentamento ao vírus, por procurar intrigas com o parlamento
e com seu ministro da saúde.
Longe do pico da doença e ainda
com menos casos do covid-19 que Itália, Espanha, Estados Unidos e China, as manchetes
internacionais mostram que a epidemia de ignorância ainda é a mais preocupante
no Brasil.
Referências:
https://www.economist.com/the-americas/2020/04/11/jair-bolsonaro-isolates-himself-in-the-wrong-way
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