Por Carlos-Magno Esteves Vasconcellos[1]
No primeiro semestre deste ano de 2016, o Curso de Relações Internacionais
do UniCuritiba realizou sua Semana Acadêmica, com um rico programa de
palestras e filmografias que contemplaram temas como: América Latina, Relações
Internacionais durante a Guerra Fria, Orientalismo, Diplomacia e Economia
brasileira, além de Transformações econômicas e desenvolvimento contemporâneo
da China.
Em uma das filmografias oferecidas, foi exibido La Jaula de Oro, do espanhol naturalizado mexicano Diego
Quemada-Díez, de 2013. O filme, primeiro longa do cineasta mexicano,
premiadíssimo em festivais internacionais de cinema em diversos países do
mundo, é uma preciosidade do cinema latinoamericano. Um ‘filmaço’!!! Com uma
fotografia belíssima, o filme fala pelas imagens. Ainda que fosse mudo,
expressaria sua mensagem. A história retrata um antigo fenômeno social
latinoamericano: a emigração de jovens latinoamericanos, humilhados pelo
subdesenvolvimento de seus países, rumo aos Estados Unidos, onde se espera desfrutar
o “sonho americano”.
O tema do filme é antigo, mas a história contada por Quemada-Díez se passa
no século XXI. Três jovens guatemaltecos (Juan, Sara e Samuel) e um jovem índio
mexicano (Chauk) abandonam as condições miseráveis em que vivem em seus
respectivos países de origem, põe o pé na estrada, e rumam para os Estados
Unidos em busca de uma vida com dignidade. O caminho é tortuoso e muito
arriscado: narcotraficantes, fome, policiais corruptos e ladrões, coiotes
(atravessadores de imigrantes), etc... Tudo conspira para o insucesso da
empreitada. As baixas se sucedem e apenas um deles (Juan) consegue pisar o solo
estadunidense (o índio Chauk também ultrapassa a fronteira, mas tem sua vida
ceifada por um atirador não identificado).
Poderia ser mais um filme sobre a imigração clandestina de latinoamericanos
nos Estados Unidos, mas não é! O filme se revela como um diagnóstico
melancólico e inquietante sobre o estado da sociedade internacional e
latinoamericana contemporânea.
No que tange os países latinoamericanos, o filme de Quemada-Díez testemunha
o fiasco do desenvolvimento socioeconômico das três últimas décadas. A miséria
insiste em habitar entre nós! A trajetória dos jovens latinoamericanos
remete-nos a uma fuga desesperada de um campo de concentração, que é o que a
América Latina parece estar se tornando. Além disso, o filme coloca o dedo em uma
ferida latinoamericana e obriga-nos a uma sincera reflexão: até quando vamos
continuar divididos dentro de casa? O índio mexicano Chauk, que sequer fala o
idioma espanhol, é o exemplo vivo da desintegração e da segregação social que
não conseguimos superar.
No que concerne à sociedade internacional, vemos, de um lado, a tolerância às
ignominiosas barreiras construídas entre os Estados Unidos e o México como mais
um exemplo da segregação social e racial internacional; de outro lado, o
colapso do sonho americano: no final do filme, a vida do único sobrevivente
daquela epopeia latinoamericana em solo norteamericano parece fadada à mediocridade. Por último, e fechando com chave de ouro a jaula latinoamericana,
temos um testemunho inequívoco do colapso da globalização neoliberal.
Repito. O filme é de 2013 e retrata uma realidade do início do século XXI. É
um filme focado na América Latina, mas poderia representar a vida de boa parte
da humanidade em qualquer continente do planeta. É isso que o torna absolutamente
imperdível.
[1] Doutor em Ciências Econômicas
pela Escola Superior de Economia de Varsóvia, Polônia; Professor titular das
disciplinas de Economia Política Internacional e Empresas Transnacionais do
Curso de Graduação em Relações Internacionais e Economia Política do
Capitalismo da pós-graduação em Diplomacia e Relações Internacionais do
UniCuritiba.
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