Por Alexandre Michel Gavronski e Suellen Barreto Foppa*
Moeda1,
no sentido teórico da palavra, é composta por três funções principais: ela
servir de meio de troca, de unidade de conta e reserva de valor. Por meio de
troca entende-se um commoditie qualquer e comum que é aceito pela sociedade
como o facilitador das transações, ou seja, o entreposto entre o desejo de um e
o desejo de outro, eliminando assim a necessidade do escambo. Por unidade de conta,
entende-se a moeda como a principal referência para se determinar o valor de
todos os produtos, uns em relação aos outros. Por último, por reserva de valor
entende-se que a moeda pode ser guardada para uso posterior e nem por isso ela
deixará de ter o valor intrínseco que a sociedade à designa.
Mas,
o que é um Bitcoin e quais são seus diferenciais? O Bitcoin é a primeira
cripto-moeda2 internacional funcional, gerada por um sistema
distribuído mundialmente pela internet, onde todos os computadores tem que
validar cada moeda para que ela possa fazer parte do sistema. Os programas para
computadores, tablets e celulares, que funcionam como uma carteira3
virtual, são equivalentes aos bancos, e são utilizadas para fazer todas as
transações em Bitcoin (Sigla: BTC). Fazendo uma analogia, é como se o programa
fosse um portal de ‘Internet Banking’ em que você faz suas transações, porém
não existe nenhuma instituição ‘por trás’ do Bitcoin, como, por exemplo, um
banco ou um governo, pois a comunidade de usuários é o próprio provedor do
sustento da moeda. Essa característica, ou seja, a falta de uma autoridade
monetária, faz com que esta seja a primeira moeda descentralizada de uso geral
da história.
As
moedas virtuais, diferentemente das cripto-moedas, são centralizadas. Isso quer
dizer que existe uma autoridade monetária por trás delas, mesmo que seja apenas
uma empresa de jogos cuidando da moeda virtual de um jogo, por exemplo. No
Bitcoin, portanto, não há tal autoridade específica que pode influenciar na
moeda e confiscá-la se desejar, pois o Bitcoin é descentralizado, portanto, não
tem regulação monetária.
Satoshi
Nakamoto é um nome japonês comum equivalente a ‘John Smith’ que os criadores
escolheram como pseudônimo. Este grupo desenvolveu os algoritmos e lançaram os
artigos que deram origem ao Bitcoin em 2007, em um site irrastreável. No
entanto, essa ideia de cripto-moeda foi descrita pela primeira vez em 1998 por
Wei Dai4. O Bitcoin, segundo seus criadores, nasceu da necessidade
de se fazer transações financeiras internacionais com um registro absoluto e
anonimidade inerente à todo processo transnacional financeiro. Os criadores
queriam criar uma moeda que fosse imune à políticas monetárias nacionais, ou
seja, que fosse completamente independente de qualquer banco central de
qualquer país soberano que seja5. Os formuladores do BTC são
programadores visionários neste sentido, pois eles queriam a existência de um
sistema financeiro “peer-to-peer”6, mais ou menos como funciona a
transmissão por meio de ‘torrent’ hoje na internet, onde o arquivo, ou nesse
caso a quantia, é repassada diretamente de uma pessoa para outra, sem
intermédios. Isso significa que pode-se receber Bitcoins de qualquer país sem
que haja qualquer tipo de fiscalização por parte das nossas instituições
financeiras. Existem outras cripto-moedas que surgiram após o Bitcoin, como o
Litecoin e o Dogecoin.
No
entanto, se os adeptos do Bitcoin acreditarem que ela não tem valor, ela
passará a não ter de fato, assim como com o papel-moeda. Hiper-inflação por
crise de confiança por exemplo, fato que aconteceu com o dólar zimbabuano e o
marco alemão, é uma das consequências disso.
A
transação do Bitcoin funciona por duas chaves, uma delas pública para a
sociedade te localizar e a outra privada para autenticação das transações. Cada
usuário, ou seja, cada dono de uma carteira de Bitcoins, para mover uma quantia
de sua carteira virtual para a carteira virtual de outrem, é necessário fazer o
seguinte, em ordem: requisitar a chave pública da pessoa à qual você quer
transferir o valor em BTC e autenticar a transação com a sua chave privada. A
transação, ao aparecer ao público, terá a sua chave pública e a chave pública
do recebedor sendo mostrado como garantia da veracidade do processo e também
como registro, já que absolutamente todas as transações por Bitcoin são
mostradas ao público, por meio da Blockchain. Esse método, segundo JERRY BRITO
e ANDREA CASTILLO (2013) não só impede que fraudes aconteçam como também
previne a existência de gastos em dobro, ou seja, duplicação de moeda7.
Existem três maneiras de se
conseguir Bitcoins: minerando, recebendo como método de pagamentos e comprando
com outra moeda. A novidade aqui é a mineração, pois é o método utilizado pelo
algoritmo inventado por Nakamoto para garantir ao mesmo tempo a introdução de
novos Bitcoins no mercado e a autenticação de todas as transações, ou seja,
garantir que os Bitcoins usados são verdadeiros. Esse método funciona assim:
imaginemos uma situação hipotética de uma transação entre duas partes, A e B.
Após a transação, os mineradores de Bitcoin, utilizando-se de poderio
computacional, começam a verificar a transação, que automatica e
instantaneamente apareceu na Blockchain. A Blockchain são diversas 'caixas'
virtuais onde ficam armazenadas as transações8 por BTC. O ponto aqui
é que estas caixas são fechadas por uma chave criptografada, criada pelo
algoritmo de Nakamoto, e a missão dos mineradores é justamente quebrar esta
chave9. Quem está familiarizado com Dan Brown certamente deve
conhecer o livro Fortaleza Digital. Resumidamente, a história gira em volta de
um supercomputador americano de dimensões bem consideráveis que consegue
quebrar a criptografia de todo tipo de chave digital. A analogia é
interessante, pois é como se todos os mineradores, interligados por meio da
internet, formassem um supercomputador, que ao mesmo tempo que verifica as
movimentações de Bitcoin recebe novos em retorno como recompensa pela
verificação. A Blockchain, nesta analogia, é uma chave gigante com diversas
etapas a serem quebradas, ou seja, blocos10 a serem
decriptografados.
O mecanismo que os computadores se utilizam para descobrir a chave é basicamente a tentativa e erro, sendo na aleatoriedade o achado. O ponto principal é que, como o supercomputador da ficção de Dan Brown, os computadores mais poderosos são os que calculam mais rápido, e por isso tem mais tentativas em menor tempo.
O mecanismo que os computadores se utilizam para descobrir a chave é basicamente a tentativa e erro, sendo na aleatoriedade o achado. O ponto principal é que, como o supercomputador da ficção de Dan Brown, os computadores mais poderosos são os que calculam mais rápido, e por isso tem mais tentativas em menor tempo.
Nesse
gráfico11 se vê o grau de dificuldade de mineração desde 2009 até o
presente. Mesmo não sendo exata, a curva está perto de ter um crescimento
exponencial, em um primeiro momento, para depois desacelerar um pouco, mas não
deixa de crescer. Isso significa que quanto mais perto se chega da meta final
de 21 milhões de BTC, maior é o poderio computacional mínimo necessário para
minerar Bitcoins. Isso explica o que porquê de, no ano subsequente à
inauguração do algoritmo, computadores normais conseguirem minerar Bitcoins
suficientes, enquanto a moeda valia, no final de 2012, $14 dólares americanos a
unidade. Hoje, em maio de 2015, a moeda vale $233 dólares12. e
computadores normais não conseguem mais minerar Bitcoins de uma maneira que
consiga suprir a depreciação dos produtos eletrônicos e o custo da energia
elétrica necessária no processo. Porém, ainda se encontra vantajoso numa escala
macro, pois deve-se levar em conta nessas horas a Lei de Moore13,
que previu em 1965 que a quantidade de transistores em um mesmo espaço dobraria
a cada ano, depois sendo corrigida em 1975, dizendo que seria a cada dois anos.
A segunda previsão se mostrou correta, o que quer dizer que a cada dois anos
dobra a capacidade dos processadores, trazendo mais velocidade e eficiência na
quebra de códigos criptografados, diminuindo a dificuldade relativa na
mineração.
Mas,
mesmo entendendo o método, diversas questões permanecem: há limite para a
criação de Bitcoins? Minerar em 2020 será tão fácil quanto foi em 2010? Se não,
por quê? Para responder essas perguntas, é preciso saber primeiro que o número
de Bitcoins é finito. Até o final do processo de criação serão 21 milhões de
BTC disponíveis. Segundo cálculos atuais, uma unidade de Bitcoin surge na rede
a cada 10 minutos14, e dessa informação é concluido que os Bitcoins
terminarão de ser criados ao redor de 2140. Isso nos remete à ideia de
escassez, assim como ocorre com o ouro e por consequência com o dinheiro real,
ou seja, a possibilidade de um dia a oferta de Bitcoin, quando for
cortada, gerar uma falta de moeda no mercado. Porém, essa possibilidade
não existe nesse caso, pois mesmo que possamos dizer que ela é finita em 21
milhões, a capacidade de utilização do Bitcoin como meio de troca é infinita
pelo fato de ser digital e, portanto, infinitamente divisível.
É
translúcida a quantia de coisas que o Bitcoin influencia ou tem capacidade de
influenciar no dia-a-dia dos Estados, indivíduos e algumas organizações
internacionais. Com um mundo cada vez mais mergulhado em globalização, as
fronteiras nacionais não tem mais tanta importância quanto tinham 50 anos
atrás, e a tendência geral é que continue a declinar. Além do tangível, a rede
mundial de computadores nos deu uma nova noção de espaço, desta vez muito mais
abstrato, e uma nova lógica monetária surgiu em decorrência disso. Foi nesse
cenário de liberdade cibernética e internacionalização de todas as áreas da sociedade
humana que surgiu o Bitcoin, basicamente como uma resposta aos anseios de um
Estado menos intrusivo na riqueza pessoal das populações e menos poderoso em
relação ás liberdades do indivíduo.
Algumas
considerações emergem desses fatos. Primeiramente, a queda completa e total de
qualquer tipo de fronteira nacional monetária, causada pela descentralização
completa do Bitcoin e pela inexistência de qualquer tipo de regulamentação ou
intrusão Estatal nas transações internacionais. Qualquer um pode, utilizando do
Bitcoin, comprar algo em qualquer outro país instantaneamente sem a ocorrência
de impasses governamentais. Isso ocorre devido à falta de legislação sobre o
assunto até a presente data deste artigo, mas também devido à dificuldade
intrínseca de se regulamentar qualquer coisa na internet. Por segundo, a perda
do monopólio das autoridades monetárias de cada país de gerenciar a parte
monetária de sua economia como bem entender. Enquanto o nosso Banco Central
pode influenciar a entrada e saída de dólares na maneira que desejar, não pode
fazer isso com o Bitcoin. Hipoteticamente, poderiam ocorrer situações na qual
existem mais Bitcoin circulando do que a moeda oficial de um país, em um
determinado território, e isso tem consequências drásticas, como por exemplo a
terceira consideração: o aumento cada vez maior da interdependência econômica.
Se o Estado já não possui mais o domínio da política monetária internacional
nesse cenário hipotético, já não tem em suas mãos todas as rédeas do curso
desejado para a economia nacional, e isso significa que cada vez mais também
estão sujeitos às mudanças no cenário internacional. Com o Bitcoin, a economia
deixa de ter um caráter nacional e passa ter pela primeira vez um caráter
verdadeiramente internacional, por causa da livre circulação mundial
não-regularizada de moeda digital. Uma quarta consequência em uma economia
global baseada em cripto-moedas é o fim da necessidade de se contabilizar dados
econômicos para métodos de interpretação e estatística, pois por terem absolutamente
todas as transações como sendo públicas e registradas, o Bitcoin é a sua
própria estatística, e em tempo real.
Porém,
o Bitcoin tem alguns fatos que podem ser vistos como negativos, como por
exemplo a grande flutuação em seu valor, demonstrada pelos registros da moeda,
mesmo que no presente momento esteja mais estável em relação ao dólar. Outros
pontos são a evasão de pagamento de impostos, por causa da anonimidade da moeda
e a facilidade com que se pode perder sua carteira virtual, pois sem a chave
original não há como acessá-la. Entretanto, a maior crítica se faz em relação à
falta de regulamentação, que ao mesmo tempo que é a maior crítica negativa ao
Bitcoin, também é a sua glória, fundamentada na liberdade individual.
Como
afirmação da crescente importância do Bitcoin no mercado nacional brasileiro, a
primeira loja física de corretagem (compra e venda) de BTC abriu suas portas em
Curitiba - PR no dia 17 de Junho de 201415, além das inúmeras lojas
virtuais já existentes por todo o país. É cada vez mais disseminado o uso do
Bitcoin e suas consequências nos trazem reflexões importantes. O objetivo deste
artigo é, em última instância, a apresentação dos conceitos e do funcionamento
do Bitcoin de uma forma introdutória e não aprofundada, e para o interessado é
recomendado uma leitura16 mais densa sobre o assunto.
*Alunos do terceiro período de Relações
Internacionais do UNICURITIBA.
REFERÊNCIAS:
16. Relacionados:
União
européia:
Como
os governos estão reagindo a BT
Declaração
de Imposto de renda
BTC
e o Banco Central norte-americano
Proteção:
Muito bom o artigo.
ResponderExcluircoompleto, ajudou muito meu trabalho.
ResponderExcluir@moeda__bitcoin
https://youtu.be/xkM3kUdTvFY
ResponderExcluirMago das moedas
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO Bitcoin revolucionou o mundo financeiro ao se tornar a primeira moeda digital descentralizada. Criado por Satoshi Nakamoto, ele eliminou a necessidade de intermediários como bancos e governos, permitindo transações diretas entre usuários. Essa inovação trouxe uma nova era de liberdade financeira e segurança, com todas as transações registradas na blockchain. O impacto do Bitcoin é inegável, e ele continua a influenciar o desenvolvimento de outras criptomoedas e tecnologias financeiras. https://jocifrandantas.blogspot.com/
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