terça-feira, 26 de abril de 2011

Diário de Guantanamo



Por Andrew Patrick Traumann


O governo norte-americano tem mantido desde 2002 centenas de prisioneiros sem acusação formal,incluindo doentes psiquiátricos, idosos com deficiência física e adolescentes. Ali vigora um sistema cujo único objetivo era obter informações a qualquer preço,principalmente por meio da tortura. É esta a conclusão de 759 documentos secretos divulgados pelo site WikiLeaks na última  segunda-feira 25 de abril.

Professores e agricultores pacatos foram tratados da mesma forma que os autores dos atentados de 11 de setembro de 2001, escreve o diário madrileno "El País", que teve acesso aos arquivos secretos, assim  como "The New York Times",o  "Le Monde"  e  o "La Repubblica".Ao todo são 4759 páginas, escritas entre 2002 e 2009. Incluem as fichas de 759 prisioneiros, dos quais 170 ainda estão na base norte-americana localizada em Cuba.Alguns dos reclusos inocentes foram presos com base em informações  obtidas sob severas formas de tortura,como choques elétricos,agressões físicas,exposição a calor ou frio intensos,afogamentos e privação do sono. Segundo o  "The New York Times",um agricultor afegão, por exemplo, passou dois anos em Guantánamo por ter o mesmo nome que um comandante talibã.
 A prisão destina-se menos a julgar e punir culpados do que a tentar extrair informações a todo o custo, até de gente que não as tem para dar. Tanto assim é que, de todos os reclusos que por lá passaram, só sete foram julgados. Muitos  estão  detidos na base há mais de nove anos sem acusação formal algo que não sucederia sob um sistema penal normal que respeitasse a lei internacional. Como o presidente Bush transformou Guantánamo num “limbo jurídico” que não precisaria respeitar as leis norte-americanas, tampouco a Convenção de Genebra sobre prisioneiros de guerra, o presidente Barack Obama que assumiu prometendo o fechamento da prisão há mais de dois anos atrás tem ( mais) um problema nas mãos.
 O governo lamentou a publicação "infeliz" dos últimos documentos da WikiLeaks e afirmou ter "feito tudo o que podia para agir com o maior cuidado e o maior rigor na transferência de detidos de Guantánamo".
Para aqueles que querem se aprofundar mais no tema é recomendada a leitura de “Diário de Guantánamo” de Mahvish Rukhsana Khan, advogada norte-americana de origem afegã que recebeu autorização para trabalhar na prisão também como intérprete dos detentos e lá colheu diversos depoimentos. Recomendo também  o filme “Caminho para Guantánamo” de Michael Winterbottom que conta a história dos “Três de Tipton”, jovens britânicos de origem paquistanesa presos no Afeganistão e levados à Guantánamo sem qualquer acusação formal,sendo libertados após dois anos de torturas e privações graças a intervenção do Serviço Secreto Britânico.
Segue o trailer:




 
Andrew Patrick Traumann, mestre em História e Política pela UNESP e doutorando em História, Cultura e Poder pela UFPR é professor de História das Relações Internacionais do UNICURITIBA.

2 comentários:

  1. Um total desrespeito as leis e tratados internacionais contra os crimes de guerras,que estes americanos cometem,sem qualquer compromisso com a declaração universal dos direitos humanos e a comunidade internacional,ou seja,criaram um tribunal próprio,melhor dizendo uma prisão própria,para os quais prendem,julgam com sua spróprias leis,sorrateiam,torturam e cometem crimes,como se fossem eles o dono da verdade,como o próprio artigo descreve sobre seres humanos presos inocentemente e cumprindo penas,sobre crimes que supostamente não cometeram. não é atoa que os americanos não se submeteram aos tribunais internacionais de crimes de guerras,evidentemente por causa destas ações promovidas em guantánamo pelos americanos,ações estas que entristecem e envergonham as nações do mundo que "cumprem" de certa forma a legislação do direito internacional,como também dos direitos humanos. resta saber até quando estas atrocidades cometidas pelos EUA,vão continuar,é esperar para ver.

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  2. Adil Hadi al Jazairi Bin Hamlili, que esteve detido em Guántanamo entre 2003 e 2010, era um informante do MI6 (serviço secreto de inteligência britânico), por isso do esforço Britânico para tirá-lo da prisão. Será que os atentados no hotel de luxo e duas igrejas no Paquistão não foram a mando desse serviço secreto britânico? Porque alguém que trabalha para o serviço secreto mudaria de lado assim sem explicações? Qual será a desculpa dos britânicos? http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2011/apr/26/bin-hamlili-guantanamo-mi6

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