sexta-feira, 15 de abril de 2011

Aproximação com os chineses



Juliano da Silva Cortinhas

A atual visita da presidente Dilma Rousseff à China para a reunião do BRIC – grupo que reúne, além de Brasil e China, Rússia, Índia e, mais recentemente, a África do Sul –, tem vários significados importantes.
É necessário analisar a questão a partir de uma perspectiva mais abrangente, em que a presidente mantém uma linha de inserção internacional que apresenta similaridades em relação à anterior, ou seja, embasada na diversificação de parcerias, com foco nos países emergentes. O futuro da economia mundial, para muitos economistas, será definido pelo desempenho econômico dos BRIC. Se esses países consolidarem seus modelos de crescimento por mais algumas décadas, a economia mundial tende a acelerar sua recuperação após a crise iniciada em 2008 e a retomar seu forte padrão de crescimento dos anos anteriores. Se, por outro lado, os desempenhos piorarem, a estagnação econômica pode levar à necessidade de releituras mais profundas do equilíbrio econômico-comercial mundial.

A aproximação do Brasil com esses países é percebida por Dilma como fundamental para que o modelo de inserção internacional do país continue apresentando os bons resultados dos últimos anos. A aposta de Lula tem trazido bons ganhos e Dilma está disposta a continuar depositando fichas nas mesmas arenas.
Mais especificamente, a viagem da presidente à China indica outro ponto de continuidade em relação à política externa de Lula, que transformou a China no maior parceiro comercial do Brasil. A aproximação com a maior potência da Ásia, país que detém um terço das reservas globais em moeda estrangeira, é a segunda economia mundial e a que mais cresce entre os países poderosos é um dos principais focos da agenda exterior do Brasil. Apesar de não poder ser classificada como uma superpotência, pois militarmente ainda é muito fraca, não apresenta poder de atração à sua cultura e nem um modelo de inserção internacional, a China é um país com o qual todos os demais Estados precisam se relacionar.
O país asiático é a única potência econômica, atualmente, com grande capacidade de investimento no sistema internacional. A China tem investimentos em mais de 80 países, que somam cerca de US$ 59 bilhões e é uma das poucas opções de financiamento para o grande salto de desenvolvimento que o Brasil precisa realizar, com o intuito de consolidar o atual momento de crescimento econômico. Lula compreendia isso; Dilma também compreende.
Apesar dessas similaridades em relação à política externa de seu antecessor, Dilma Rousseff tem buscado ressaltar suas diferenças com Lula, o que se deve, dentre outros fatores, à necessidade política de dar uma marca própria à sua atuação exterior. Percebe-se essa intenção, por exemplo, nos constantes discursos que a presidente tem dado em relação aos direitos humanos, referindo-se aos regimes que não respeitam tais direitos como inaceitáveis. Mas o efeito prático dessas críticas deve ser nulo, pois se a mandatária acirrar o tom do discurso em relação à China, o que é improvável, a resposta dos chineses será óbvia: o Brasil também não é um grande exemplo de um país no qual os direitos humanos são devidamente respeitados. O discurso de Dilma, nesse sentido, é muito mais retórico e não trará grandes efeitos práticos em termos de melhora da posição internacional do Brasil.
Apesar das contrariedades de diversos setores nacionais, que criticam a aproximação do Brasil com a China, devido à incapacidade competitiva de suas indústrias, a aproximação com a mais importante economia dos BRIC é algo fundamental para que possamos garantir a manutenção de nosso desenvolvimento. As rusgas que surgirem durante o processo, seja devido à nossa incapacidade de competir com os chineses ou a posicionamentos ideológicos relacionados aos direitos humanos, precisam ser superadas para que o País acelere seu processo de desenvolvimento. Qualquer país do mundo que queira se inserir, em definitivo, nos mercados mundiais, precisa se aproximar dos chineses.


Artigo publicado no Jornal Gazeta do Povo, em 12/04/2011.


Juliano da Silva Cortinhas é coordenador de Relações Internacionais do Unicuritiba.

4 comentários:

  1. O dólar está enfraquecendo cada vez mais, e a China ultrapassará economicamente os EUA, não será uma superpotência como é os EUA hoje, mas irá assumir um papel mais importante no cenário mundial e com uma moeda mais forte. Esse enfraquecimento do dólar, está atrasando todo o desenvolvimento mundial, porém é muito importante para a reconstrução do Novo Sistema Financeiro Mundial, com a criação de uma nova moeda mundial mais forte. O dólar está condenado a morrer em prol de uma moeda global.
    Fiz esse comentário de acordo com o que está neste video: http://www.youtube.com/watch?v=JJVZ8sf6uBI, e acho que tem muito a ver com o texto.
    E de acordo com as notícias que li, os países integrantes do BRICS irão fazer seus acordos com a moeda local, devido aos problemas com o dólar.

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  2. do ponto de vista estratégico,a china está crescendo a passos largos mas este crescimento pode ruir a qualquer época,por vários fatores entre eles alguns se destacam:Taxas
    excessivamente elevadas de investimento, sistema financeiro com alto
    percentual de insolvência, ineficiência do setor estatal da economia,
    dependência de mercados externos, aumento da desigualdade social, atraso
    e insatisfação no campo,envelhecimento da população,políticas rígidas sonre a liberdade de expressão dos povos,precariedade dos sistemas de previdência e
    assistência social, corrupção em larga escala, grande passivo ambiental e
    escassez de recursos naturais e energéticos são os exemplos mais invocados
    quando se procura demonstrar que a China estaria crescendo sobre pés de
    barro.
    de uma certa forma é uma economia volátil,que pode ruir-se ao longo do tempo,pois sua sustentação perante o mundo ainda deixa muito a desejar,não deixa de ser uma parceira comercial com uma certa importância para o brasil,mas enquanto vendemos soja para eles somos induzidos a comprar suas bugingangas a preços de bananas e de péssimas qualidades,principalmente eletrônicos que não é nada legal para a indústria nacional,que produz os mesmos produtos com um custo bem superior ao deles,devido também a enxurrada de impostos contidos nestes mesmos produtos,mas vale lembrar que não escravisamos nossos trabalhadores para produzir e "respeitamos" os direitos sociais de cada um deles. mas na minha concepção a china se torna uma ameaça a nossa economia,devemos ficar de olhos abertos com esta nação,principalmente no mercado automotivo,onde a mesma comercializou em 2010 um patamar de mais de 13 milhões de veículos,superou todas as nações fabricantes de automóveis,até mesmo as potências automotivas européias,como é o caso da alemanha e frança. a sustentabilidade da ascensão da china como potência mundial depende muito da economia americana,pois o dólar é uma moeda comercial ainda insubstítuivel,nem mesmo o euro conseguiu tomar o lugar dele nos negócios internacionais,significa dizer que os USA é o trunfo do jogo capitalista e dita as regras de todas as nações,dificultando as aspirações de muitos países e sobrepondo pontes estreitas em estradas largas.

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  3. Olá, pessoal. Está instaurado o debate. Compreendo os dois pontos de vista e concordo com eles, mas acho importantes algumas relativizações. Quanto ao que colocou o Alexsander, é verdade que a desvalorização do dólar traz diversos desequilíbrios, mas, por outro lado, abre oportunidades para mudanças relevantes e, possivelmente, interessantes para a economia internacional. Porém, é importante destacar que isso também prejudica a China, que tem quase a totalidade das suas reservas em dólares. Um dos países do mundo mais prejudicados com a queda do dólar é a China.
    A posição do Manuzinho também considero interessante. Concordo com as vulnerabilidades apontadas. Porém, que país não tem vulnerabilidades? Que país pode ser considerado uma aposta segura? Penso que toda a relação bilateral traz, consigo, custos e riscos (alguns menores, outros maiores). Quanto à China, acho que as potencialidades de negócios e crescimento da relação bilateral superam, em muito, os custos e riscos. Mesmo uma economia mais sólida e diversificada, como o EUA, pode "ruir" e trazer prejuízos aos parceiros, como se viu em 2008. No sistema internacional, hoje, penso que a China é uma boa aposta. Abraços aos dois e obrigado pelos comentários.

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  4. valeu juliano,este tema postado aqui e demais outros são bem interesantes na nossa vida cotidiana e é sem dúvidas um combustível nas relações internacionais que permeiam entre as nações,provocando deslocamentos,interesses e ambições entre ambas as partes,sem falar das distorções e mudanças no cenário econômico mundial que é de suma importância para os estados que estão sempre entrelaçados uns aos outros buscando autonomia,fortalecimento de sua economia e prestígios no cenário mundial perante a comunidade internacional. abraço e boa páscoa!!!

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