segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Viver a cotidianidade da violência: breve análise das contribuições de “Os condenados da terra” para pensar as Relações Internacionais



Gustavo Glodes Blum*
Referência da obra: FANON, Frantz. Los condenados de la tierra. Trad. para el español de Julieta Campos; trad. del epílogo Eliane Cazenave Tapie Isoard; prefacio de Jean-Paul Sartre; epílogo de Gérard Chaliand. 3ª ed. México: FCE, 2001.
 Cenas de protesto contra as forças policiais francesas em Argel, em 1960. Durante o período da Guerra da Argélia, as manifestações políticas nas principais cidades argelinas foram fortemente reprimidas pela ocupação francesa. No interior, colonos franceses faziam massacres contra argelinos das áreas rurais.

Qual seria o valor de uma vida? Como seria possível pensar, a partir da existência humana, a constituição de toda a constelação de instituições, de práticas, de organismos que, de certa maneira, organizam o Sistema Internacional? Seria possível, através de um tipo específico de experiência, constituir, de baixo para cima, uma compreensão de toda a política internacional a partir das maneiras de se organizar a vida das pessoas? Haveria alguém mais humano que alguém?

Esses, com certeza, são alguns questionamentos que surgem na cabeça de leitores do livro de Frantz Fanon, “Os condenados da terra”. Publicado em 1961 pela primeira vez, o livro faz parte de um movimento que parece só agora, em razão do engajamento de alguns autores e pesquisadores da América Latina, da África e da Ásia, em pensar-se a nossa realidade a partir de prismas diferentes. Um dos clássicos do movimento de crítica ao pensamento eurocêntrico e do uso tanto de categorias teóricas como práticas políticas de sobreposição dos interesses europeus com relação ao resto do mundo, esse é um dos livros seminais do chamado pós- ou descolonialismo.

Como afirmam Helen Gilbert e Joanne Tompkins (1996), há um certo problema em se definir algumas teorias ou maneiras em se definir o uso desses prefixos, “pós-“ e “des-“, em razão de uma multiplicidade de tentativas de aplicação numa época em que se pretende que tudo seja novo, inovador e quebre paradigmas sem necessariamente cumprir com essas funções. Assim, segundo elas, na introdução de seu livro “Post-Colonial Drama: Theory, Practice, Politics”:

O pós-colonialismo é muitas vezes definido de maneira estrita. O termo – de acordo com uma etimologia extremamente rígida – é frequentemente confundido com o conceito temporal que corresponde ao período em que a colonização cessou, ou o período que se segue a um Dia da Independência determinado politicamente no qual um país rompe sua relação de governança por parte de outro Estado. Sem ser uma sequência teleológica que suplanta o colonialismo, o pós-colonialismo é melhor definido como um engajamento com e uma contestação dos discursos do colonialismo, suas estruturas de poder, e suas hierarquias sociais. (GILBERT; TOMPKINS, 1996, p. 2)

 Enquanto prática teórica, portanto, o pós-colonialismo busca a criação de críticas às maneiras de pensar o mundo baseadas numa centralização excessiva naquelas estruturas de poder instaladas por aqueles que colonizaram o mundo, aqueles que estabeleceram uma prática sua como a mais elevada representação do “espírito humano”. Nos últimos trezentos anos, esse autointitulado pináculo da sabedoria tem sido, sabe-se bem, aquilo que nos acostumamos a chamar de “Ocidente”. E, é partir daí que as contribuições do pós-colonialismo em geral, e do livro de Frantz Fanon, em específico, podem contribuir para (re)pensar as Relações Internacionais.

“Os condenados da terra” reúne uma série de escritos de Fanon, que foram ou desenvolvidos em sua ação profissional ou em seu envolvimento político e militar na chamada Guerra de Liberação da Argélia, ou Guerra da Argélia. Esse momento histórico, de grande relevância para se compreender todo o processo de fim controle político e econômico da África e da Ásia, é peculiar, também pela sua própria definição: segundo nossos padrões políticos atuais, não pode ser considerada uma guerra em si, já que não ocorreu entre dois Estados de direito. 

A disparidade entre a França, potência colonizadora, e a Argélia, um de seus domínios no norte da África, e sua situação jurídica permitiu que uma série de desrespeitos às Convenções de Genebra sobre a Guerra e os direitos dos combatentes fosse posta em prática. Normalmente, relembramos o assombro dos campos de concentração ressurgindo na Europa durante as guerras de desintegração da ex-Iugoslávia, mas esquecemo-nos de que técnicas dessa natureza, assim como tortura, lavagem cerebral, execuções sumárias e outras práticas com as quais a própria França sofreu na Segunda Guerra Mundial foram largamente utilizadas pelas potências colonizadoras nas décadas de 50, 60 e 70 na África e na Ásia.

Esta obra de Fanon é dividida em cinco capítulos, dedicados a elementos específicos da situação colonial: a violência essencial da colonização; o papel das classes sociais quando estão sob o domínio da potência colonizadora e durante a luta pela independência; o papel da união nacional e da construção de uma nacionalidade própria dos colonizados; o papel da cultura nacional e suas incongruências iniciais; e os transtornos mentais causados pela guerra colonial, em pessoas que estão em situação de colonizados ou em agentes da colonização. Na edição produzida pela editora mexicana Fondo de Cultura Económica, tanto o prólogo escrito pelo filósofo Jean-Paul Sartre quanto o epílogo do geopolítico Gérard Chaliand apresentam uma reflexão profunda a respeito destes temas, também.

Assim como os trabalhos pós-colonialistas em geral, e por ter sido uma das obras fundamentais de constituição desta linha de pensamento, o livro de Fanon, ao abordar estes cinco temas, trabalha com alguns pressupostos básicos, que são de fundamental importância para pensar as Relações Internacionais: a primazia da centralidade e os meios utilizados para garantir que essa centralidade seja efetivada. E, no caso, a centralidade em questão é aquela do Ocidente e dos ocidentais.

Neste caso, é importante que nos recordemos do conceito de discurso, trabalhado, entre outros, por Michel Foucault (2012). Enquanto, algumas vezes, estamos acostumados com a ideia de que os grandes discursos são as formas que existem para divulgar valores e ideias, é importante termos em mente, como afirma Foucault, que o discurso vai muito além do seu simples enunciado. Ao realizar algum tipo de determinação, o discurso estabelece um padrão de ação, ao mesmo tempo que nega o seu inverso, silencia outras possibilidades e determina práticas. Tudo isso advém do processo de cessão da verdade a algum discurso, que o autor apresenta como um sistema de exclusão:

(...) essa vontade de verdade, como os outros sistemas de exclusão, apoia-se sobre um suporte institucional: é ao mesmo tempo reforçada e reconduzida por toda uma espessura de práticas como a pedagogia, é claro, como o sistema de livros, da edição, das bibliotecas (...). Mas ela é também reconduzida, mais profundamente sem dúvida, pelo modo como o saber é aplicado em uma sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e de certo modo atribuído. Recordemos aqui, e apenas a título simbólico, o velho princípio grego: que a aritmética pode bem ser o assunto das cidades democráticas, pois ela ensina as relações de igualdade, mas que só a geometria deve ser ensinada nas oligarquias pois demonstra as relações de desigualdade. (FOUCAULT, 2012, p. 17)


Correndo o risco de ecoar o ótimo TED de Chimamanda Adichie a respeito das histórias de um lado só, estabelecer os princípios da verdade é uma das bases do colonialismo, já que ele atua em duas escalas. Recuperando a definição de Gilbert e de Thompson, a colonização não se trata apenas de uma invasão, ou uma ocupação simples do território por um Estado estrangeiro, mas a criação de um conjunto de significados para esta ocupação. 

O colonialismo atua na área psíquica, gerando os discursos a partir do qual o domínio será instituído e garantido nas mentes das pessoas. Assim, é necessário justificar, criar uma lógica a partir da qual, por exemplo, a colonização europeia não é algo ruim nem para os europeus e muito menos para os colonizados, já que iluminar todo o mundo com os caráteres mais avançados do espírito humano é o “fardo do homem branco”, para utilizar as palavras de Rudyard Kipling. 

Assim, vão ser criadas formas “científicas”, “técnicas” de demonstrar a superioridade de uma raça sobre a outra, como bem demonstra Fanon no seu capítulo dedicado às psicoses da guerra total na Argélia: tanto colonizador como colonizado sofrem os efeitos, durante a guerra, de um encontro com um mundo que se esfacela à sua frente, que de repente não faz mais sentido, já que baseado nestes discursos de segregação. Fanon demonstra o caso de estudos psiquiátricos desenvolvidos na Argélia colonial que apresentam, por exemplo, a criminalidade do argelino como algo nato, como uma realidade incontestável já que fazia parte da evolução natural deste “tipo físico” específico. Ao serem questionados sobre isso, colegas de Fanon demonstram que uma teoria científica tem o poder demonstrado por Foucault de estabelecer os limites verdadeiros da diferença: ainda que incomodados com essas afirmações racistas, respondiam “É duro de engolir, mas está cientificamente comprovado” pelos estudos psiquiátricos (FANON, 2001, p. 276).

Nesse cartum do jornal americano Detroit Journal, de 1898, vê-se a demonstração clara do “fardo do homem branco”: levar os nativos à educação (ocidental), nem que seja à força. Na imagem, está representado o presidente estadunidense Theodore Roosevelt, quando da intervenção militar dos Estados Unidos da América nas Filipinas.

Partindo de pressupostos equivocados, a ciência acaba por garantir a continuidade e a comprovação de discursos de superioridade. Não foi isso que justificou o extermínio de comunistas, homossexuais, ciganos, comunistas e judeus, entre outros, durante o regime nazista como bem demonstrado pelo documentário “Arquitetura da Destruição”? E, ainda que os regimes nazista e fascista tenham gerado práticas abomináveis na Europa, elas ainda assim continuavam em outros lugares do mundo que estavam abaixo domínio europeu nas décadas seguintes à guerra. 

Por esse motivo, no prólogo, Sartre afirma que muitas vezes os discursos europeus de universalismo, da humanidade, do humanismo, eram entoados nos grandes centros, mas ouvido de maneira distorcida no resto do mundo. Nas metrópoles, constituía-se um discurso de igualdade entre os cidadãos, de fraternidade entre os povos, e de liberdade com justiça para a cidadania poder ser efetiva. Nas colônias, praticava-se a superioridade e a inferioridade, o fomento às disputas entre os povos colonizados (com outras etnias, outras religiões ou dentro das próprias comunidades), da reclusão, da tomada de terras e da circunscrição dos povos colonizados a determinadas áreas.

Neste último caso, as townships e bantustões regime de apartheid sul-africano é o melhor exemplo desta desigualdade levada ao extremo. Porém, é importante recordar que estas práticas ocorreram não apenas na África ou na Ásia, mas também nas Américas, na Irlanda, e na Oceania: a distinção é que temos que perceber que nós, que temos os acessos aos centros e compomos uma elite dentro de países independentes que foram colonizados também praticamos isso em alguma escala, seja com o nosso indígena ou com setores específicos da população de cada país.

E é aqui que o livro de Fanon pode representar um grande salto qualitativo nas análises das Relações Internacionais. Como ele analisa em seu capítulo dedicado às desventuras da consciência nacional. De forma diversa daqueles países que desenvolveram em sua economia as chamadas Revoluções Industriais, o desenvolvimento da burguesia nos países colonizados tem a ver com a manutenção das atividades econômicas desenvolvidas anteriormente à independência:

Dissemos que a burguesia colonizada que chega ao poder emprega a sua agressividade de classe para monopolizar os postos ocupados antes pelos estrangeiros. Imediatamente depois da independência tropeça, de fato, com as sequelas humanas do colonialismo: advogados, comerciantes, proprietários rurais, médicos, funcionários de nível superior. [Ela] Vai combater implacavelmente essa gente “que insulta a dignidade nacional”. Esgrime energicamente as ideias de nacionalização dos quadros, de africanização dos quadros. Em realidade, sua atitude vai ter cada vez mais matizes de racismo. Brutalmente, demanda ao governo um problema preciso: necessitamos desses postos. E não diminuirá seu mal humor, a não ser quando os tenha ocupado em sua totalidade. (FANON, op. cit., p. 142)

 No caso brasileiro, é notório o racismo com o qual a elite colonizada, a burguesia agroexportadora formada no país durante o período do Império e após a república, tratou, por exemplo, portugueses e africanos. Certo ódio à colonização ocorrida no Brasil se explica, em certa parte, por essa gana de controlar os postos principais da economia pós-colonial. Porém, o importante a se notar no caso destas burguesias é uma especialização extremada na área de serviços: como citou Fanon, serviços são a base destes postos. 

Advogados, médicos, engenheiros, que formam a constelação de profissões mais bem vistas no Brasil, por exemplo, são sintomas dessa situação: não são profissões caracterizadas pela intensidade de trabalho, ou pelo desenvolvimento de capacidades industriais, mas sim profissões destinadas ao serviço. 

São atividades dedicadas à manutenção das atividades econômicas, atividades de suporte, algo que irá bater à porta das nações recém tornadas independentes: esses serviços eram prestados à antiga metrópole; sem a metrópole, como prestar essas atividades? Como garantir a economia, se a elite econômica do país está galgada em atividades não-essenciais do ponto de vista industrial ou agrícola? Por esse e outros motivos, essa burguesia, para Fanon, se distingue da burguesia europeia, em quem busca algum tipo de inspiração:

Uma burguesia tal como se desenvolveu na Europa conseguiu, fortalecendo o seu próprio poder, elaborar uma ideologia. Esta burguesia dinâmica, instruída, laica realizou plenamente sua empresa de acumulação do capital e deu à nação um mínimo de prosperidade. Nos países subdesenvolvidos, temos visto que não há uma verdadeira burguesia, mas uma espécie de pequena casta com dentes afiados, ávida e voraz, dominada pelo espírito usurário e que se contenta com os dividendos que a assegura a antiga potência colonial. Esta burguesia caricaturesca é incapaz de grandes ideias, de inventividade. Se recorda do que leu nos manuais ocidentais e imperceptivelmente se transforma não na répilica da Europa, mas em sua caricatura. (FANON, op. cit., p. 160)
 
Há o desafio da economia, portanto, assim como o desafio de desconstruir essa relação de dependência com o capital estrangeiro. Assim, mesmo após a independência política, pode ocorrer a dependência econômica, uma vez que o relacionamento é com a centralidade construída, com base no Ocidente. Ele é a referência, ele é o objetivo e, muitas vezes, as elites nacionais juram estar par-a-par com seus correspondentes europeus ou norte-americanos. Porém, se isso pode ser crível dentro da sociedade colonizada, quando se veem na Europa ou nos Estados Unidos, são lembrados rotineiramente de sua origem “nas colônias”, como diriam os ingleses.

Da mesma forma, essa leitura nos permite compreender que não há nenhuma sociedade que seja 100% sequestrada de si, forçada a fazer algo, já que este jogo permite a cooptação de algumas forças sociais. Obviamente, este arranjo econômico e social beneficia a alguém, a algum grupo. Compreender essas relações de forças é o que permite compreender o elo de ligação entre o exterior e o doméstico, que tantas vezes escapa quando fazemos a análise das Relações Internacionais.
Se não compreendermos que Nelson Mandela e Mohandas Karamchand Gandhi tiveram educação ocidental – o primeiro na universidade de Witwatersand, onde era o único aluno negro, o segundo em seu período de estudos no Reino Unido – não compreenderemos o seu destaque com relação a figuras tão importantes quanto nos processos de independência da Índia e fim do apartheid na África do Sul. Steve Biko e Subhas Chandra Bose, por exemplo, são recorrentemente obliterados por Mandela e Gandhi, sobretudo por suas propostas mais beligerantes e afirmativas de quebra da relação colonial.

Aqui, apresenta-se o salto qualitativo abordado anteriormente. A dependência, a efetivação das Relações Internacionais, o desenvolvimento das centralidades e das hierarquias se dão através da vivência, através das práticas que as pessoas levam a cabo na sua existência.

Os Estados, os tratados internacionais, os organismos internacionais têm se distanciado, no quadro teórico das Relações Internacionais desde o início de seu desenvolvimento, da experiência humana. As preferências comerciais, porém, são baseadas nas opções que os agentes econômicos fazem. A efetivação de alguma norma internacional depende da aplicação das práticas previstas por elas no cotidiano das pessoas.

É possível explicar todo um Sistema Internacional através dos quadros psicóticos apresentados tanto por colonizados como por colonizadores, pois isso apresenta a realidade discursiva e material do mundo como um todo. Como diz Adichie, coloque a chegada dos europeus como “expansão” e você terá uma versão da história; apresente a mesma narrativa como “invasão”, e terá uma história completamente diferente. Como mostra Doreen Massey (2000), essa mudança de colocações é algo que deve ser compreendido para encarar o novo caráter da política na atualidade.

As Relações Internacionais dependem da forma como são representadas, como são efetivadas através do discurso e da violência. Quebrar o espírito e o corpo de uma pessoa ou de um grupo é a base da distinção racial e social. Criar o indígena é um esforço tão físico como psicológico. A reflexão de Sartre nos ajuda a compreender um pouco esta efetivação, quando ele apresenta a situação do indígena em contraponto à realidade do colonizador.

Se, no século XIX, era necessário liberar os homens das periferias de suas consignas monstruosas para que fossem cidadãos libres o suficiente para poder vender sua mão de obra, a universalidade da cidadania e, mais ainda, da humanidade não se refletia nas colônias. Lá, é a violência e a opressão que irão constituir a verve da organização social, e vai constituir a determinação da personalidade e da ação econômica e política.

Assim, compreender essas primazias, essas centralidades, é poder compreender, ainda hoje, por que terroristas muçulmanos são considerados como criminosos naturais, enquanto terroristas brancos são doentes mentais. Um se explica pela sua própria natureza, enquanto o outro não é representante de uma “raça” inteira. Um representa o seu coletivo enquanto indivíduo, o outro é apenas um indivíduo dentro de uma sociedade. 

E esse, infelizmente, é apenas um dos exemplos que poderiam ser aqui citados de sobreposição da visão ocidental sobre o resto do mundo, o que faz com que haja certa permanência da colonialidade em nosso pensamento. Quando usamos termos como “estados falhos”, como “estados incapazes”, “inseguros”, “rebeldes”, estamos estabelecendo esses patamares de distinção entre um tipo de existência humana e outra. Por isso, pode-se falar em uma esquizofrenia para se referir ao fato de que, para defender a vida humana, se mate cada vez mais humanos, como fez o governo do Nobel da Paz Barack Obama em países como o Iêmen.

Porém, apesar de seu tom negativo, o livro de Fanon não é de todo desanimador. Embora tensa, é uma obra que chama à ação, à reflexão sobre a realidade dos bilhões de pessoas do mundo que não estão no centro da política interestatal. E, num momento em que a Europa, sobretudo, se encontra fisicamente com a conta da sua dominação violenta do resto do mundo na figura dos milhares de refugiados chegados ao continente que fogem de problemas com raízes coloniais, parece uma obra de fundamental importância para compreender e questionar as Relações Internacionais.

Referências

FANON, Frantz. Los condenados de la tierra. Trad. para el español de Julieta Campos; trad. del epílogo Eliane Cazenave Tapie Isoard; prefacio de Jean-Paul Sartre; epílogo de Gérard Chaliand. 3ª ed. México: FCE, 2001.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. 22.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2012.
MASSEY, Doreen. Um sentido global do lugar. In: ARANTES, Antonio A. (org.). O espaço da diferença. Campinas, SP: Papirus, 2000.

* Gustavo Glodes Blum é Internacionalista e Mestre em Geografia. Professor do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), é especializado em Geografia Política e Política Internacional Contemporânea. E-mail para contato: blum.gustavo@hotmail.com.
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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Primavera Árabe! E os Emirados?

Por Amanda Marques da Silva*


“(...) capacidade para fazer ou resistir à mudança” ou em outras palavras, de “conseguir o que queremos”[1] são umas das possíveis definições de poder apresentadas por Joseph Nye Jr. E na Primavera Árabe conseguimos visualizar como as diferentes utilizações desse poder podem realmente garantir a manutenção de regimes políticos, ainda que com pressões internas e externas a esse território.



Emirados Árabes Unidos, localizado no Golfo Pérsico, é uma confederação composta por sete monarquias, equivalentes a principados, regidos por um Presidente eleito pelos emirati[2]. Uma monarquia, ainda que próxima cultural e geograficamente dos países em que a onda revolucionária foi mais intensa, não vivenciou com toda a plenitude as manifestações. Todavia, houve uma antecipação por parte do governo central em abafar qualquer possível foco de revolução interna, tanto com políticas mais brandas quanto com uma repressão mais violenta.
Os EAU não tiveram manifestações internas, mas se anteciparam concedendo benefícios à população por meio de políticas de bem-estar social. Assim como foram utilizadas de medidas sociais e econômicas, também foram colocadas em prática a repressão de forma exagerada, com prisões de potenciais influenciadores de revoltas, mostrando claramente o que passou a ser ameaça para o governo no poder. Uma pauta com demandas reformistas rejeitadas pelo poder central e a imensa desigualdade socioeconômica de Abu Dhabi e Dubai em relação aos outros emirados, poderiam ser a chave para o descontentamento generalizado, promovendo a oposição à monarquia. No entanto, nenhuma das tensões, ainda que regionalizadas, questionou o direito das famílias reais ao governarem o país.
Havia a necessidade em legitimar um governo monárquico, diante dos acontecimentos no mundo árabe, por parte dos emirados. E além das tensões citadas anteriormente, ainda existiam iniciativas de grupos islamistas radicais, possivelmente aliados com a “Irmandade Muçulmana”. Ainda que esses grupos islamistas não constituíssem uma ameaça real à manutenção da monarquia emirati, pois não contam com o apoio da sociedade, representavam uma tentativa de desestabilizar o regime, utilizando-se de ações internas e externas para perturbar as monarquias do Golfo Pérsico. Em reposta a essas ameaças, os EAU agiram com mais violência e praticaram dezenas de prisões de islamistas.
            O regime autocrático arrisca perder a legitimidade diante da população, quando se utiliza de demasiada repressão, e não se pode negar que os Emirados exageraram em políticas violentas. Se agiram com tamanha rigidez com movimentos que nem conquistaram a população local, até “onde” iriam as aspirações emirati em defesa do regime monárquico?




REFERÊNCIAS

CORREA, Humberto M. Legitimidade como estratégia: legitimação política nos Emirados Árabes Unidos (EAU). 67f. Monografia (Graduação) – Instituto de Relações Internacionais, Universidade de Brasília. Brasília, 2014.

NYE Jr., Joseph S., O Futuro do Poder. – São Paulo: Benvirá, 2012.

FONTE DA IMAGEM: disponível em: http://jronaldoleite.blogspot.com.br/2010/01/dubai-inaugura-maior-predio-do-mundo.html, acessado em 1 de outubro de 2015.






[1] NYE, Joseph S. (2012) página 26.
[2] Emirati – representantes de cada emirado, que se reúnem em conselho a cada cinco anos, para eleger o novo presidente e vice-presidente para os Emirados Árabes Unidos.




* Amanda Marques da Silva é graduanda do 7° período do curso de Relações Internacionais. Este texto foi desenvolvido como parte da disciplina de Análise das Relações Internacionais.
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sábado, 22 de agosto de 2015

A Crise Grega e a Renúncia de Alexis Tsipras




O Primeiro-Ministro grego Alexis Tsipras,que renunciou esta semana
                                                                                                
 Por Devlin Biezus*

Eleito em janeiro de 2015, Alexis Tsipras assumiu como primeiro ministro da Grécia, país vítima da crise de 2008 quando sua economia começou a entrar em depressão e assim precisou recorrer a empréstimos tanto do FMI quanto do Banco Europeu para solver suas dívidas. 
Para conseguir esses empréstimos o país teve que se submeter a políticas de austeridades de ajuste fiscal as quais influenciam negativamente no bem estar social de sua população como menores investimentos na área da saúde, cortes nos benefícios sociais, diminuição do salário mínimo e restrição à aposentadoria, medidas que são extremamente impopulares e tiveram como consequências protestos e manifestações que criticavam tais políticas.
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terça-feira, 21 de julho de 2015

O papel da cultura em uma negociação internacional



Camile Wiederkehr[1]

“Há muitos mundos. Cada um é diferente. Cada um é importante. E é preciso aprender com eles, porque esses outros mundos, essas outras culturas, são espelhos em que podemos ver a nós mesmos, e graças a isso, podemos nos entendemos melhor - porque não podemos definir a nossa própria identidade até tê-la confrontado a dos outros, como comparação” (tradução livre) — R. Kapuscinski, Travels with Herodotus, p. 264.


Diante da recente notícia do acordo com o Irã celebrado entre Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha com o objetivo de limitar o programa nuclear daquele país, após longos anos de negociação, destaca-se a importância do debate e da compreensão cultural na esfera diplomática.
Como profissionais das relações internacionais, sabemos que quanto mais informações tivermos sobre os países que estudamos, mais acurada será nossa análise, pois para melhor compreender um fato devemos analisá-lo sob diversos ângulos. Em um processo de negociação não é diferente: é importante compreender os aspectos culturais do país da pessoa com que você está negociando além de saber a língua que ela fala. Em um mundo globalizado, interagir com pessoas que são culturalmente diferentes é uma realidade cada vez mais presente.
SegundoTHOMAS e INKSON (2006), cultura é comportamento, inclui nossos valores, crenças, ética, linguagem, modelos de pensamento, normas, regras, estilos de comunicação; é o produto da interação entre pessoas, de determinado grupo que valida sua maneira de ser frente aos demais, portanto é dinâmica, interacionista e tem seus aspectos positivos e negativos. Ao entendermos nossa própria cultura, podemos fazer comparações iniciais com outras, para distinguir as áreas de possíveis acordos e desacordos.
Cabe mencionar que a cultura afeta tantos as negociações em âmbito público quanto privado, tanto indivíduos, como Estados.Para uma melhor compreensão das atitudes e valores das sociedades, vale mencionar pesquisa realizada por Geert Hofstede (1991) que analisou a cultura de sessenta países, ocidentais e orientais, abrangendo colaboradores de uma corporação multinacional norte-americana. Em seu estudo, Hofstede destacou a importância da cultura nacional na explicação das diferenças em atitudes e valores em relação ao trabalho. 
Desta forma, podemos afirmar que cada país tem um traço cultural muito forte que é percebido não somente no ambiente familiar de um indivíduo, mas também, no ambiente social e profissional. Em uma negociação internacional, é importante ter conhecimento das características (econômicas, políticas, culturais...) de cada mercado.
Destarte, não seria indicado a imposição de opiniões ou conceitos num debate entre pessoas de diferentes culturas; é preciso aprender a negociar com parcimônia e tolerância para evitar possíveis frustrações.
De acordo com MANZUR (2010), para uma negociação eficaz, deve-se estar aberto à diversidade e não se deve deixar que preconceitos ou estereótipos prejudiquem a negociação. Por exemplo, um negociador pode pensar que ser direto e enfático numa negociação seja algo positivo, pois em seu ponto de vista, isso significaria economia de tempo e dinheiro. Entretanto, algumas culturas prezam por longas conversas e cerimônias antes de chegar a um acordo.
Diante de todo o exposto, observa-se que para aumentar as chances de sucesso numa negociação intercultural, faz-se necessário estudo prévio com o objetivo de compreender melhor a outra parte. Deve-se realizar uma análise global, envolvendo as mais variadas esferas de uma sociedade, sejam elas econômicas, políticas, sociais, culturais, entre outras.


Referências:

 

HOFSTEDE, Geert. Culture and organizations.Intercultural cooperation and its importance for survival. New York, McGraw-Hill, 1991.

KAPUSCINSKI, Ryszard. Travels with Herodotus. Translated by Klara Glowczewska. Random House, 2007.

MANZUR, Tânia Maria Pechir Gomes. Negociações Internacionais:um conceito possível, eficácia e eficiência no processo.Boletim Meridiano 47, Vol. 11, n. 119, 2010.

THOMAS, David e INKSON, Kerr. Inteligência cultural. Rio de Janeiro, RECORD, 2006. 




[1] Pós-graduanda em Direito Público pela Escola da Magistratura Federal do Paraná.  Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Curitiba. E-mail de contato: camile_w@hotmail.com.
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terça-feira, 14 de julho de 2015

O Significado do Acordo Nuclear Iraniano



Chanceleres de China,França,Alemanha,União Europeia,Irã,Rússia,Reino Unido e EUA hoje em Viena : após muitas idas e vindas,o Acordo foi assinado.
                                                                                           
Por Andrew Patrick Traumann*

Hoje em Viena,após três prorrogações de prazo  finalmente o P5+1 (os 5 países membros do Conselho de Segurança mais a Alemanha),chegaram a um entendimento com o Irã acerca de seu programa nuclear.O numero de prorrogações de prazo  demonstravam  uma grande vontade política da dupla Obama/Kerry para que o Acordo saísse. A oposição norte-americana repetiu incansavelmente o mantra “No deal is better than a bad deal”, enquanto Obama com as bênçãos de Clinton, dizia que “A good deal is better than no deal at all”. Mesmo que o Senado ou a Câmara norte-americanos não aprovem o Acordo ,Obama poderá vetar o “Não” por se tratar de Acordo Executivo e não de um Tratado Internacional. Apenas se o “Não” obtiver dois terços dos votos no Senado o veto pode ser derrubado,o que é improvável,pois colocaria os EUA numa situação delicada frente a  Reino Unido,França,Alemanha,China e Rússia,os demais signatários do Acordo.

Mas o que está em jogo? Muita coisa : de um lado temos um país ansioso para sair de um isolamento internacional de 36 anos ,com mais da metade da população formada por jovens,muitos deles com nível superior e  que buscam emprego e estabilidade econômica. No Irã existe uma enorme expectativa acerca de como seria a vida sem as sanções. Os jornais iranianos diariamente noticiam a vinda de investidores ocidentais ansiosos pelas novas oportunidades que se abrem . 

Para começar o Irã receberá  de volta cerca de US$ 150 bilhões de dólares que estavam bloqueados em contas nos EUA e Europa,voltará a ser um player no mercado petrolífero mundial. Com a quarta  maior reserva de petróleo do mundo e a terceira de gás natural,as expectativas são altíssimas e tem sido alimentadas por um regime que vem sendo questionado pela jovem classe média urbana,que nem havia nascido quando houve a Revolução e que deseja uma política mais aberta no que tange as liberdades individuais. O governo,por sua vez, aposta na melhoria dos índices econômicos para conquistar essa parcela do eleitorado hostil ao regime,uma vez que quando a economia vai bem,a tendência é o enfraquecimento da oposição.

Para que as sanções contra Teerã sejam suspensas,o Irã aceitou descartar 98% do material nuclear que possui ,desativar dois terços de suas centrífugas,não enriquecer urânio por quinze anos,serão impedidos de comprar e vender armas por cinco anos e mísseis balísticos por oito.


Já para os EUA,os interesses são antes de tudo estratégicos : o Irã seria um aliado-chave de Washington para tentar solucionar a Crise na Síria,uma vez que são aliados do presidente Bashar Al Assad. Também seriam um parceiro na luta contra o Estado Islâmico na própria Síria e no seu ex-rival histórico e hoje aliado Iraque,poderia influenciar o Hezzbollah no Líbano (uma vez que é seu principal financiador) e levar a uma solução negociada no Iêmen,todos países onde há alguma forma de conflito envolvendo grupos xiitas. Um Irã sofrendo inspeções constantes da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) ,aceitando condições geralmente  impostas a países derrotados em guerras sem realmente ter tido a necessidade de levar o país a uma aventura militar,parece ser mais uma vitória da diplomacia de Obama. 

*Andrew Patrick Traumann,Doutor em História,Cultura e Poder pela UFPR é Professor de História das Relações Internacionais no UNICURITIBA.
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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Ir a campo: uma estratégia adequada e um esforço necessário dentro das Relações Internacionais


Gustavo Glodes Blum¹

A construção do conhecimento, tal qual conhecemos nos meios acadêmicos ou aqueles que estão para além da ciência ocidental, é algo muito complexo. Há que se ter em vista que,

o conhecimento, palavras derivada do latim cognescere, que significa ‘procurar, saber, conhecer’, partimos do pressuposto, como já afirma Japiassu² de que se trata ‘da apropriação intelectual de determinado campo empírico ou ideal de dados, tendo em vista dominá-lo e utilizá-lo. (SPOSITO, 2004, p. 14).

Desta forma, o conhecimento poderia ser debatido enquanto o processo de “produção intelectual (...) em suas mais diferentes investigações, na busca de realizar uma leitura da realidade objetiva” (SPOSITO, op. cit., p. 15). Reunião de dados, análise, investigação, estabelecimento da base bibliográfica, justificativa da pesquisa e de seus recortes: tudo isso faz parte da produção do conhecimento teórico, científico. Seria algo como buscar praticar uma leitura do mundo a partir das lentes estabelecidas pela ciência.

Porém, o conhecimento não está restrito apenas às leituras academicistas e científicas da realidade, como a própria Universidade enquanto instituição nos faz pensar. A busca pela análise da realidade não é feita apenas na academia. Falando a respeito da ciência geográfica, por exemplo, Paul Claval (2010) fala, a um público específico, mas que pode servir de metáfora para todas as ciências: todos os seres humanos são geógrafos, por desenvolverem conhecimento próprio a respeito de questões como orientação, localização, distância, percepção, entre outras.

As Relações Internacionais, por sua vez, também passam por esse problema: não apenas na questão da empregabilidade, que já pudemos expor e debater neste mesmo espaço, mas também em sua construção teórica, esse campo de conhecimento recebe influências das mais diversas áreas. A própria formação acadêmica dentro das RIs permite este debate, ou seja, a contraposição não apenas de várias ciências dentro do mesmo campo de conhecimento, como História, Direito, Economia, Ciência Política, a própria Geografia, entre outras, mas também, e muitas vezes, a contraposição de correntes teóricas dentro das próprias ciências que a compõem.

Muitas vezes, porém, esta discussão pode parecer isolada, sobretudo para os alunos que estão no início do curso e até mesmo para alguns profissionais que não estão familiarizados com as RIs. Afinal, infelizmente, esta ainda não é uma profissão vista como tendo uma “cadeira” específica (e, em minha humilde opinião, não deveria, pois seria cortar as possibilidades de ação e análise). O Bacharel em Relações Internacionais não é um economista, não é um historiador, não é um cientista político, não é um sociólogo.

E, muitas vezes, essa contraposição pode ser vista como uma falta de aprofundamento em determinadas questões. Porém, e acredito piamente nesta possibilidade, é a característica integralizadora do profissional de RI – sua capacidade de agregar uma série de informações e práticas dentro de um mesmo escopo – que permite a sua diferenciação. Talvez por isso, realizar campos nas RIs talvez seja uma boa estratégia e um esforço necessário, algo que tem sido pormenorizado e negligenciado dentro de nossa área.

Um dos grandes desafios em Relações Internacionais é justamente esta integralização. Ao utilizar este termo, me refiro à capacidade de experenciar e compreender uma série de informações na construção do devido conhecimento. Enquanto domínio das informações e utilização para algo, nas Relações Internacionais, o grande desafio é, justamente, criar a materialização dos anos de estudo e dos grandes debates teóricos. Materializa-se o estudo em Relações Internacionais numa possível perspectiva: a realização de aulas em campo ou trabalhos de campo.

As duas situações propostas são diferentes. Se, por um lado, a aula em campo depende de um trabalho de campo previamente realizado pelos organizadores, as duas têm dinâmicas muito diferentes: a aula em campo permite confrontar a teoria e a prática, enquanto que o trabalho de campo se baseia na busca, in loco, das informações, sensações e paisagens que compõem o objeto. E são estas duas alternativas que permitem integralizar, justamente, o ensino e a prática das Relações Internacionais.

Enquanto um curso com forte carga teórica, a oportunidade de confrontar a teoria e a realidade das RIs é algo essencial na formação de bons bacharéis para a área. A teorização, por si própria, é algo fundamental. Porém, se ela se vale por si própria, acaba criando uma das coisas mais fundamentais do curso: a possibilidade de criar uma ligação, uma ponte, entre a arregimentação de informações de diversas áreas diferentes, e a experiência da realidade cotidiana.

É apenas através desta análise que o acúmulo de diversas informações de integralizam. Para citar apenas um exemplo da área da geografia, o avanço da fronteira agrícola no Brasil, ou seja, a derrubada da Floresta Amazônica nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, está tão diretamente relacionada com a falta de água que tem recentemente se abatido por sobre os estados do Sudeste do Brasil quanto com o comércio internacional de commodities. Porém, se isso é possível de ser analisado na teoria, apenas com o encontro face-a-face com estes efeitos da globalização é que o conhecimento, então separado nas “caixinhas” das diferentes matérias da grade curricular, se integralizam.

Tornar as RIs mais reais, mais relacionadas à vivência das pessoas: aí está o desafio qualitativo para que a expansão deste campo de conhecimento possa ter impacto direto na vida das pessoas, e, inclusive, mais reconhecido como um âmbito relevante e importante de análise. Caso esse salto não seja dado, estaremos fadados a nos tornarmos uma área restrita à “Torre de Marfim”: tão distante da realidade humana que nos distanciaremos até da possível humanidade que há na ciência.

Referências

CLAVAL, Paul. Terra dos homens: a geografia. São Paulo, SP: Contexto, 2010.
SPOSITO, Eliseu S. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
¹ Gustavo Glodes Blum é professor de Geografia Política e Geopolítica do curso de Relações Internacionais do UNICURITIBA, Mestre em Geografia pela UFPR e Bacharel em Relações Internacionais pelo UNICURITIBA.

² JAPIASSU, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
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