Chanceleres de China,França,Alemanha,União Europeia,Irã,Rússia,Reino Unido e EUA hoje em Viena : após muitas idas e vindas,o Acordo foi assinado.
Por Andrew Patrick Traumann*
Hoje em Viena,após três prorrogações de prazo finalmente o P5+1 (os 5 países membros do
Conselho de Segurança mais a Alemanha),chegaram a um entendimento com o
Irã acerca de seu programa nuclear.O numero de prorrogações de prazo demonstravam uma grande vontade política da dupla
Obama/Kerry para que o Acordo saísse. A oposição norte-americana repetiu
incansavelmente o mantra “No deal is
better than a bad deal”, enquanto Obama com as bênçãos de Clinton, dizia
que “A good deal is better than no deal
at all”. Mesmo que o Senado ou a Câmara norte-americanos não aprovem o
Acordo ,Obama poderá vetar o “Não” por se tratar de Acordo Executivo e não de
um Tratado Internacional. Apenas se o “Não” obtiver dois terços dos votos no
Senado o veto pode ser derrubado,o que é improvável,pois colocaria os EUA numa
situação delicada frente a Reino
Unido,França,Alemanha,China e Rússia,os demais signatários do Acordo.
Mas o que está em jogo? Muita coisa : de um lado temos um
país ansioso para sair de um isolamento internacional de 36 anos ,com mais da
metade da população formada por jovens,muitos deles com nível superior e que buscam emprego e estabilidade econômica.
No Irã existe uma enorme expectativa acerca de como seria a vida sem as sanções.
Os jornais iranianos diariamente noticiam a vinda de investidores ocidentais
ansiosos pelas novas oportunidades que se abrem .
Para começar o Irã
receberá de volta cerca de US$ 150
bilhões de dólares que estavam bloqueados em contas nos EUA e Europa,voltará a
ser um player no mercado petrolífero
mundial. Com a quarta maior reserva de
petróleo do mundo e a terceira de gás natural,as expectativas são altíssimas e
tem sido alimentadas por um regime que vem sendo questionado pela jovem classe
média urbana,que nem havia nascido quando houve a Revolução e que deseja uma
política mais aberta no que tange as liberdades individuais. O governo,por sua vez,
aposta na melhoria dos índices econômicos para conquistar essa parcela do
eleitorado hostil ao regime,uma vez que quando a economia vai bem,a tendência é
o enfraquecimento da oposição.
Para que as sanções contra Teerã sejam suspensas,o Irã aceitou
descartar 98% do material nuclear que possui ,desativar dois terços de suas centrífugas,não
enriquecer urânio por quinze anos,serão impedidos de comprar e vender armas por
cinco anos e mísseis balísticos por oito.
Já para os EUA,os interesses são antes de tudo estratégicos
: o Irã seria um aliado-chave de Washington para tentar solucionar a Crise na
Síria,uma vez que são aliados do presidente Bashar Al Assad. Também seriam um
parceiro na luta contra o Estado Islâmico na própria Síria e no seu ex-rival
histórico e hoje aliado Iraque,poderia influenciar o Hezzbollah
no Líbano (uma vez que é seu principal financiador) e levar a uma solução negociada no Iêmen,todos países onde há alguma
forma de conflito envolvendo grupos xiitas. Um Irã sofrendo inspeções
constantes da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) ,aceitando
condições geralmente impostas a países
derrotados em guerras sem realmente ter tido a necessidade de levar o país a uma
aventura militar,parece ser mais uma vitória da diplomacia de Obama.
*Andrew Patrick Traumann,Doutor em História,Cultura e Poder pela UFPR é Professor de História das Relações Internacionais no UNICURITIBA.
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