terça-feira, 14 de julho de 2015

O Significado do Acordo Nuclear Iraniano



Chanceleres de China,França,Alemanha,União Europeia,Irã,Rússia,Reino Unido e EUA hoje em Viena : após muitas idas e vindas,o Acordo foi assinado.
                                                                                           
Por Andrew Patrick Traumann*

Hoje em Viena,após três prorrogações de prazo  finalmente o P5+1 (os 5 países membros do Conselho de Segurança mais a Alemanha),chegaram a um entendimento com o Irã acerca de seu programa nuclear.O numero de prorrogações de prazo  demonstravam  uma grande vontade política da dupla Obama/Kerry para que o Acordo saísse. A oposição norte-americana repetiu incansavelmente o mantra “No deal is better than a bad deal”, enquanto Obama com as bênçãos de Clinton, dizia que “A good deal is better than no deal at all”. Mesmo que o Senado ou a Câmara norte-americanos não aprovem o Acordo ,Obama poderá vetar o “Não” por se tratar de Acordo Executivo e não de um Tratado Internacional. Apenas se o “Não” obtiver dois terços dos votos no Senado o veto pode ser derrubado,o que é improvável,pois colocaria os EUA numa situação delicada frente a  Reino Unido,França,Alemanha,China e Rússia,os demais signatários do Acordo.

Mas o que está em jogo? Muita coisa : de um lado temos um país ansioso para sair de um isolamento internacional de 36 anos ,com mais da metade da população formada por jovens,muitos deles com nível superior e  que buscam emprego e estabilidade econômica. No Irã existe uma enorme expectativa acerca de como seria a vida sem as sanções. Os jornais iranianos diariamente noticiam a vinda de investidores ocidentais ansiosos pelas novas oportunidades que se abrem . 

Para começar o Irã receberá  de volta cerca de US$ 150 bilhões de dólares que estavam bloqueados em contas nos EUA e Europa,voltará a ser um player no mercado petrolífero mundial. Com a quarta  maior reserva de petróleo do mundo e a terceira de gás natural,as expectativas são altíssimas e tem sido alimentadas por um regime que vem sendo questionado pela jovem classe média urbana,que nem havia nascido quando houve a Revolução e que deseja uma política mais aberta no que tange as liberdades individuais. O governo,por sua vez, aposta na melhoria dos índices econômicos para conquistar essa parcela do eleitorado hostil ao regime,uma vez que quando a economia vai bem,a tendência é o enfraquecimento da oposição.

Para que as sanções contra Teerã sejam suspensas,o Irã aceitou descartar 98% do material nuclear que possui ,desativar dois terços de suas centrífugas,não enriquecer urânio por quinze anos,serão impedidos de comprar e vender armas por cinco anos e mísseis balísticos por oito.


Já para os EUA,os interesses são antes de tudo estratégicos : o Irã seria um aliado-chave de Washington para tentar solucionar a Crise na Síria,uma vez que são aliados do presidente Bashar Al Assad. Também seriam um parceiro na luta contra o Estado Islâmico na própria Síria e no seu ex-rival histórico e hoje aliado Iraque,poderia influenciar o Hezzbollah no Líbano (uma vez que é seu principal financiador) e levar a uma solução negociada no Iêmen,todos países onde há alguma forma de conflito envolvendo grupos xiitas. Um Irã sofrendo inspeções constantes da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) ,aceitando condições geralmente  impostas a países derrotados em guerras sem realmente ter tido a necessidade de levar o país a uma aventura militar,parece ser mais uma vitória da diplomacia de Obama. 

*Andrew Patrick Traumann,Doutor em História,Cultura e Poder pela UFPR é Professor de História das Relações Internacionais no UNICURITIBA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário