Camile
Wiederkehr[1]
“Há
muitos mundos. Cada um é diferente. Cada um é importante. E é preciso aprender
com eles, porque esses outros mundos, essas outras culturas, são espelhos em
que podemos ver a nós mesmos, e graças a isso, podemos nos entendemos melhor -
porque não podemos definir a nossa própria identidade até tê-la confrontado a
dos outros, como comparação” (tradução livre) — R. Kapuscinski, Travels with
Herodotus, p. 264.
Diante da recente notícia do
acordo com o Irã celebrado entre Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido,
França e Alemanha com o objetivo de limitar o programa nuclear daquele país,
após longos anos de negociação, destaca-se a importância do debate e da
compreensão cultural na esfera diplomática.
Como profissionais das
relações internacionais, sabemos que quanto mais informações tivermos sobre os
países que estudamos, mais acurada será nossa análise, pois para melhor
compreender um fato devemos analisá-lo sob diversos ângulos. Em um processo de
negociação não é diferente: é importante compreender os aspectos culturais do
país da pessoa com que você está negociando além de saber a língua que ela
fala. Em um mundo globalizado, interagir com pessoas que são culturalmente
diferentes é uma realidade cada vez mais presente.
SegundoTHOMAS e INKSON (2006), cultura é comportamento,
inclui nossos valores, crenças, ética, linguagem, modelos de pensamento,
normas, regras, estilos de comunicação; é o produto da interação entre pessoas,
de determinado grupo que valida sua maneira de ser frente aos demais, portanto
é dinâmica, interacionista e tem seus aspectos positivos e negativos. Ao
entendermos nossa própria cultura, podemos fazer comparações iniciais com
outras, para distinguir as áreas de possíveis acordos e desacordos.
Cabe mencionar que a cultura
afeta tantos as negociações em âmbito público quanto privado, tanto indivíduos,
como Estados.Para uma melhor compreensão das atitudes e valores das sociedades,
vale mencionar pesquisa realizada por Geert Hofstede (1991) que analisou a
cultura de sessenta países, ocidentais e orientais, abrangendo colaboradores de
uma corporação multinacional norte-americana. Em seu estudo, Hofstede destacou
a importância da cultura nacional na explicação das diferenças em atitudes e
valores em relação ao trabalho.
Desta forma, podemos afirmar
que cada país tem um traço cultural muito forte que é percebido não somente no
ambiente familiar de um indivíduo, mas também, no ambiente social e
profissional. Em uma negociação internacional, é importante ter conhecimento
das características (econômicas, políticas, culturais...) de cada mercado.
Destarte, não seria indicado
a imposição de opiniões ou conceitos num debate entre pessoas de diferentes
culturas; é preciso aprender a negociar com parcimônia e tolerância para evitar
possíveis frustrações.
De acordo com MANZUR (2010),
para uma negociação eficaz, deve-se estar aberto à diversidade e não se deve
deixar que preconceitos ou estereótipos prejudiquem a negociação. Por exemplo,
um negociador pode pensar que ser direto e enfático numa negociação seja algo
positivo, pois em seu ponto de vista, isso significaria economia de tempo e
dinheiro. Entretanto, algumas culturas prezam por longas conversas e cerimônias
antes de chegar a um acordo.
Diante de todo o exposto,
observa-se que para aumentar as chances de sucesso numa negociação
intercultural, faz-se necessário estudo prévio com o objetivo de compreender
melhor a outra parte. Deve-se realizar uma análise global, envolvendo as mais
variadas esferas de uma sociedade, sejam elas econômicas, políticas, sociais,
culturais, entre outras.
Referências:
HOFSTEDE, Geert. Culture and organizations.Intercultural
cooperation and its importance for survival. New York, McGraw-Hill, 1991.
KAPUSCINSKI,
Ryszard. Travels with Herodotus. Translated by Klara Glowczewska. Random House,
2007.
MANZUR,
Tânia Maria Pechir Gomes. Negociações Internacionais:um conceito possível,
eficácia e eficiência no processo.Boletim Meridiano 47, Vol. 11, n.
119, 2010.
THOMAS, David e INKSON, Kerr. Inteligência
cultural.
Rio de Janeiro, RECORD,
2006.
[1] Pós-graduanda em Direito Público pela
Escola da Magistratura Federal do Paraná.
Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Curitiba. E-mail de contato: camile_w@hotmail.com.
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