Por Amanda Marques da Silva*
“(...) capacidade para fazer ou
resistir à mudança” ou em outras palavras, de “conseguir o que queremos”[1]
são umas das possíveis definições de poder apresentadas por Joseph Nye Jr. E na
Primavera Árabe conseguimos visualizar como as diferentes utilizações desse
poder podem realmente garantir a manutenção de regimes políticos, ainda que com
pressões internas e externas a esse território.
Emirados Árabes Unidos, localizado
no Golfo Pérsico, é uma confederação composta por sete monarquias, equivalentes
a principados, regidos por um Presidente eleito pelos emirati[2].
Uma monarquia, ainda que próxima cultural e geograficamente dos países em que a
onda revolucionária foi mais intensa, não vivenciou com toda a plenitude as
manifestações. Todavia, houve uma antecipação por parte do governo central em
abafar qualquer possível foco de revolução interna, tanto com políticas mais
brandas quanto com uma repressão mais violenta.
Os EAU não tiveram manifestações
internas, mas se anteciparam concedendo benefícios à população por meio de
políticas de bem-estar social. Assim como foram utilizadas de medidas sociais e
econômicas, também foram colocadas em prática a repressão de forma exagerada,
com prisões de potenciais influenciadores de revoltas, mostrando claramente o
que passou a ser ameaça para o governo no poder. Uma pauta com demandas
reformistas rejeitadas pelo poder central e a imensa desigualdade
socioeconômica de Abu Dhabi e Dubai em relação aos outros emirados, poderiam
ser a chave para o descontentamento generalizado, promovendo a oposição à
monarquia. No entanto, nenhuma das tensões, ainda que regionalizadas,
questionou o direito das famílias reais ao governarem o país.
Havia a necessidade em legitimar
um governo monárquico, diante dos acontecimentos no mundo árabe, por parte dos
emirados. E além das tensões citadas anteriormente, ainda existiam iniciativas
de grupos islamistas radicais, possivelmente aliados com a “Irmandade
Muçulmana”. Ainda que esses grupos islamistas não constituíssem uma ameaça real
à manutenção da monarquia emirati,
pois não contam com o apoio da sociedade, representavam uma tentativa de
desestabilizar o regime, utilizando-se de ações internas e externas para
perturbar as monarquias do Golfo Pérsico. Em reposta a essas ameaças, os EAU agiram
com mais violência e praticaram dezenas de prisões de islamistas.
O
regime autocrático arrisca perder a legitimidade diante da população, quando se
utiliza de demasiada repressão, e não se pode negar que os Emirados exageraram
em políticas violentas. Se agiram com tamanha rigidez com movimentos que nem
conquistaram a população local, até “onde” iriam as aspirações emirati em defesa do regime monárquico?
REFERÊNCIAS
CORREA, Humberto M. Legitimidade como estratégia: legitimação política nos Emirados Árabes
Unidos (EAU). 67f. Monografia (Graduação) – Instituto de Relações
Internacionais, Universidade de Brasília. Brasília, 2014.
NYE Jr., Joseph S., O Futuro do Poder. – São Paulo: Benvirá, 2012.
FONTE DA IMAGEM: disponível em: http://jronaldoleite.blogspot.com.br/2010/01/dubai-inaugura-maior-predio-do-mundo.html, acessado em 1 de outubro de 2015.
[1]
NYE, Joseph S. (2012) página 26.
[2]
Emirati – representantes de cada
emirado, que se reúnem em conselho a cada cinco anos, para eleger o novo
presidente e vice-presidente para os Emirados Árabes Unidos.
* Amanda Marques da Silva é graduanda do 7° período do curso de Relações Internacionais. Este texto foi desenvolvido como parte da disciplina de Análise das Relações Internacionais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário