Brie Larson em
pôster de "Capitã Marvel".
* Bruna Galani Silva
O filme “Capitã Marvel”, lançado
recentemente pela Marvel, traz em destaque uma mulher como super-heroína. Não é
o primeiro filme lançado com esse contexto. “Mulher Maravilha”, de 2017, da DC
Comics, e distribuído pela Warner Bros Pictures, fora o primeiro que estava em
planejamento em ser realizado desde 1996. No entanto, Capitã Marvel se destaca
por focar na história desta super-heroína, colocando as mulheres como protagonistas
de suas próprias histórias.
Já quando se trata de afirmação feminina,
vale ressaltar a escolha fenomenal da Marvel ao garantir a presença forte e
marcante de mulheres tanto na frente das câmeras (como Brie Larson, Lashana
Lynch e Annette Bening), quanto nos bastidores. Além da direção de Anna, que
marca a primeira vez que uma mulher assume um filme da Marvel, a trilha sonora
é assinada por Pinar Tropak.
Ao falar sobre Brie Larson, recebe destaque
toda a preparação que a atriz teve para protagonizar o primeiro filme solo de
uma super-heroína do MCU. Além do
condicionamento físico para as filmagens, ela se encontrou com
Jeannie Marie Leavitt, que foi a primeira piloto de caça feminina da Força
Aérea dos EUA (1993) e a primeira mulher a liderar uma ala de combate. A
general do 57º Comando Aéreo dos EUA foi a responsável por introduzir o mundo
da aeronáutica pra a futura Carol Danvers.
Brie Larson e Jeannie
Marie Leavitt na Base Aérea de Nellis, Las Vegas.
O filme “Capitã Marvel” é uma aventura
ambientada num período nunca visitado antes na história do Universo
Cinematográfico da Marvel, os anos 90, e, quando se trata da trilha sonora, esse
é um dos pontos altos do filme. Além de conter a clássica “Come As You Are”, do
Nirvana, o filme nos mostra músicas de várias bandas lideradas por mulheres,
como "Just A Girl" (No Doubt), "Celebrity Skin" (Hole) e "Only
Happy When It Rains" (Garbage).
Esse protagonismo feminino presente até na
trilha sonora do filme faz lembrar do movimento Riot Grrrl: um movimento punk
feminista underground que teve seu auge no início da década de 1990. Esse
movimento causou uma mudança real na cultura da música ao retratar temas como
estupro, sexualidade, racismo e patriarcado.
Os anos 1990 também está associado a
Terceira Onda do feminismo, que teve como foco na crítica a Ideologia de Gênero.
As pautas giraram em torno da legalização do aborto, equivalência no trabalho, violência
contra as mulheres, e a busca pela mudança de estereótipo nos retratos da mídia
e na linguagem usada para definir as mulheres.
A produção e direção do filme abordam, de
forma suave, o feminismo em diversas situações e fazem piada com as ideias
ultrapassadas que o machismo estrutural esconde. Como por exemplo, o que
conecta Carol com seu passado na Terra é amizade com Maria Rambeau (Lashana
Lynch). São nas lembranças de Maria que vemos a sororidade estre as amigas,
seja enfrentando os preconceitos como pilotas, ou no suporte para criação de
sua filha, Monica Rambeau (interpretada por Akira Akbar). A esperta e criativa
Monica se destaca ao representar uma nova geração de meninas que crescerão com
figuras muito além das clássicas princesas da Disney.
A primeira metade do filme é dedicada pela
busca da personagem em descobrir o seu passado. Sua verdadeira história é
revelada, aos poucos, por meio de flashbacks. Após descobrir quem realmente ela
é, torna-se consciente do seu passado na terra bem como a origem dos seus
poderes. A Capitã Marvel mostra, então, que não precisa provar nada a ninguém.
Mar-Vell, que era originalmente personagem um
masculino e que teria interesse romântico por Carol Danvers, foi mudada nas
telas para uma representação feminina. Interpretada por Annette Bening, Mar-Vell
é uma cientista que cria uma forma de energia, e é essa que, quando explode, acaba
dando os poderes à Carol. Vale ressaltar, agora esses poderes não vieram de um
homem, mas sim da criação de uma cientista!
Nas HQs como um
personagem masculino, no filme, Mar-Vell (Annette Bening) é uma cientista.
O ponto forte da personagem principal é o
seu lado humano, e isso é o que nos aproxima dela. Todos erramos, nos
decepcionamos, caímos, não uma, mas muitas vezes durante a vida. E a mensagem
que ela nos passa é que o mais importante, não importa a situação, é encontrar
forças para se levantar e tentar de novo, até conseguir.
Uma personagem, mas, acima de tudo, uma
mulher que não precisa de qualquer amparo masculino para fundamentar seu protagonismo.
Uma heroína extremamente poderosa e independente, e que decide os espaços que
pode (e deve) ocupar. Essa é Carol Danvers e esse é o objetivo de Capitã Marvel,
fazer o público conhecer e entender quem ela é.
Outro ponto importante retratado no filme são
as consequências de uma guerra. O
conceito de Segurança Humana, desenvolvida pelo PNUD em 1994, coloca a
relevância da segurança ser centrada no bem-estar do povo, assegurando sua
sobrevivência para que assim possam criar sistemas políticos (sociais,
ambientais, econômicos e culturais) que lhe permitam viver com dignidade tendo
seus direitos respeitados.
Encaixamos esse contexto com a civilização
“Skrull”, que não têm um lugar para viver, muito menos como garantir a sua
segurança comunitária, política, econômica, alimentar, da saúde, ambiental dos
seus. Acabam assim espalhados por toda a galáxia. Os Skrulls podem ser os
curdos, os palestinos, os sírios, os pobres e os refugiados, por exemplo.
Por mais que muitos acusem que haja certas
falhas de roteiro e direção, seu significado vai muito além; e, afinal, outros
filmes de super-heróis também apresentam problemas semelhantes e até piores...
Mas, nenhuma falha diminui o esplendor do que o longa representa: uma sutil,
poderosa e necessária mensagem sobre a importância do feminismo, a igualdade de
gênero e as consequências de uma guerra. Capitã Marvel vem para mostrar o que é
ser “apenas uma garota”.
* Bruna Galani Silva aluna do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba e monitora da disciplina de Instituições Internacionais ministrado pela Profa. Dra Janiffer Zarpelon.
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